O fenômeno chupa-chupa ou luz vampira, como também era comumente chamado pelos ribeirinhos do Pará e Maranhão, foi detectado inicialmente ao longo do Rio Gurupi, que corta ambos os estados. A denominação é originada do fato de que os objetos atacavam as vítimas com raios paralisantes e delas extraíam sangue, deixando-as anêmicas — depois esse fato foi documentado. Tais raios de luz também eram conhecidos como “desvitalizadores” pelos populares, que alegavam que eles também lhes removiam a força e o vigor, em muitos casos de maneira definitiva. “Todo o fenômeno estava claramente direcionado a atingir seus próprios objetivos”, declarou o ufólogo e biomédico Daniel Rebisso Giese, autor do livro Vampiros Extraterrestres na Amazônia [Edição particular, ano 1991].
Na opinião de outros pesquisadores, tratou-se de uma missão alienígena muito bem planejada, cujo ápice, em 1977, deu-se quando as manifestações evoluíram da Baía de São Marcos, no Maranhão, em direção ao estuário do Rio Amazonas, atingindo principalmente a ilha de Colares. Nos meses de setembro a dezembro daquele ano, os casos atingiram a Baía do Sol, ali próxima, especialmente os municípios de Vigia, Santo Antônio do Tauá, Ananindeua e Belém. Foram detectados ainda focos esparsos do chupa-chupa na região de Santarém e Monte Alegre — e alguns casos na Amazônia. Ao longo da segunda semana de julho de 1977, não apenas Viseu passou a ser o centro das observações, mas também os municípios de Pinheiros, São Bento, São Vicente de Ferrer e Bequidão, todos na Baixada Maranhense. Naquela região, os contatos eram principalmente com objetos luminosos emitindo raios paralisantes.
UFO em forma de Y
As primeiras notícias se tornaram manchetes de O Estado do Maranhão, que deu grande destaque a fatos que estimularam, semanas depois, a criação da Operação Prato. O Estado, em sua edição de 20 de julho de 1977, já dimensionava a gravidade do assunto ao publicar que o aparecimento nos céus de Pinheiro de um objeto voador não identificado estava causando suspense e pânico na população. “As pessoas chegam a ponto de afirmar que o aparelho não identificado se aproxima delas para estonteá-las com um jato de luz e retirar-lhes o sangue”, dizia o texto. O jornal assinalava ainda que o UFO visto por milhares de pessoas na área tinha a estranha forma de Y e emitia uma chama na parte inferior. O clima na região era de temor generalizado e as pessoas não ousavam sair de casa à noite, com medo de serem atacadas — tal sensação se confirmaria com o aumento dos episódios.
A partir de documentos da Operação Prato vazados em 1977 dos quartéis da Aeronáutica, e depois pelos arquivos liberados oficialmente pela arma como resultado da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, conduzida desde 2004 pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) através da Revista UFO, foi possível ter uma ideia das lesões causadas pela luz vampira aos moradores da Baixada Maranhense, antes de o fenômeno atingir o Pará. As vítimas do “aparelho” — outra designação popular — confessaram que, ao serem atingidas pela luz, sentiam que seus movimentos eram neutralizados. Em seguida, tinham uma sensação de intenso calor e podiam chegar ao desfalecimento. Os objetos não identificados optavam pelas pequenas comunidades rurais, atacando pessoas isoladas ou grupos pequenos.
“Era tão forte que me encadeou”
As lesões eram geralmente pequenas queimaduras de superficiais a intensas, cujas consequências só puderam ser avaliadas mais tarde. O Estado do Maranhão é uma boa fonte também para se estimar o impacto do chupa-chupa sobre a população. “Quem viu o objeto misterioso foi o lavrador Vicente Gomes, às 03h00 de 14 de julho de 1977, quando transitava de carroça por uma estrada no lugarejo Guarapiranga, no município de São Bento”, publicou o periódico. Montando em seu cavalo, Gomes viu surgir repentinamente em sua direção uma luz misteriosa com formato de uma pipa. “Era tão forte que me ‘encadeou’ e desmaiei”, declarou — “encadear” é sentir-se preso, segundo os moradores do local. Às 12h00 do dia 08 daquele mês, o empregado da Fazenda Arequipa, Raimundo Corrêa, foi queimado por uma misteriosa tocha que causou lesões em seu corpo. “O objeto tinha a forma de uma grande bola”, disse.
Mais um interessante caso grave aconteceu com a senhora Coucima Gonçalves da Silva, residente em Bom Jardim, também no Maranhão. E outro, descoberto recentemente, se deu com a senhora Carmem Vale, ainda viva e com 82 anos, residente nos arredores de Colares [Veja matéria nesta série]. Dona Coucima avistou uma estranha bola de fogo de cujo interior surgiu um raio que a lançou por terra. “Daí para frente não sei de mais nada do que aconteceu”, declarou. Foram seus familiares que explicaram que a encontraram desmaiada e a conduziram para o interior da casa — quando ela voltou a si, pronunciava coisas desconexas. Coucima foi internada na Casa de Saúde Santo Antônio, em Santa Inês, e graças aos cuidados do médico Pedro Guimarães, recuperou a saúde. Não houve descrição de queimaduras, apenas o registro de comprometimento psicológico e amnésia.
Abertura de investigações
Os atingidos pelas radiações emanadas do chupa-chupa eram lavradores, donas de casa, caçadores e pescadores. O medo e o pânico causados pelo aparecimento incessante dessas naves no espaço aéreo maranhense, e depois paraense, determinou a mobilização de líderes comunitários, religiosos e autoridades municipais — especialmente prefeitos e delegados de polícia — para pedirem formalmente à Força Aérea Brasileira (FAB), estabelecida no 1 Comando Aéreo Regional (COMAR), em Belém, a abertura de investigações. Foi isso que levou a Força Aérea Brasileira (FAB) a constituir a Operação Prato.
Antes, em julho de 1977, uma patrulha da própria Polícia Militar maranhense foi perseguida por um UFO quando efetuava o percurso entre o vilarejo de Paca e a sede do município de Pinheiro. No veículo estavam o soldado Mário Pontes Filho e vários outros, que chegaram a trocar sinais luminosos com o artefato. Isso teria levado o tenente Amujacy Araújo Silva, então delegado de Pinheiro, a destacar uma diligência para o local, na esperança de detectar novamente o UFO. O prefeito do município, Manoel Paiva, também confirmou a existência do aparelho, do qual foi testemunha ocular.
Já os casos envolvendo a observação de tripulantes dos aparelhos — seres humanoides geralmente de 1,5 m de altura — foram mais raros durante a onda chupa-chupa, mas ainda assim registrados. Sobre isso O Estado relata a experiência do senhor João Bat
ista Souza, proprietário da Fazenda Nova Meliá, no interior do Maranhão. Segundo Souza, na madrugada de 17 de julho de 1977, ao perder o sono, resolveu dar uma volta em sua propriedade. A certa altura do passeio observou uma bola de fogo que sobrevoava o terreno, a 200 m de distância. Assustado, ele se escondeu atrás de uma moita, de onde observou o pouso da esfera.
Uma luz arroxeada
A testemunha pôde notar que o objeto tinha a forma de um chapéu de palha e que do seu interior, através de uma porta, saiu uma pequena criatura de aproximadamente um metro de altura. Trazia na mão esquerda uma espécie de lanterna, da qual era emitida uma luz arroxeada — na outra mão conduzia um equipamento não identificado pelo fazendeiro. Não foi possível ver a face do humanoide, apenas um capacete com antenas, sendo o restante do corpo totalmente peludo.