A fria atmosfera de Netuno, o planeta mais afastado do Sol, tem uma atividade surpreendente, anunciou nesta semana uma equipe internacional de astrofísicos em um estudo publicado pela revista “Astronomy and Astrophysics”. A descoberta foi possível graças ao telescópio do Observatório Europeu Austral de La Silla (Chile), dotado de um instrumento de observação infra-vermelho. Os astrônomos sabiam que a atmosfera de Netuno, situado a 4,5 bilhões de quilômetros do Sol, contém altas quantidades de metano em seu pólo sul, oito vezes superiores às de seu pólo norte. Graças às imagens produzidas pelo instrumento VISIR, os astrônomos envolvidos no projeto decifraram o enigma dessa diferença.
Segundo eles, o fenômeno procede das diferenças térmicas da atmosfera de Netuno, cuja temperatura média é de -220ºC, sendo o pólo sul do planeta o ponto mais quente. Assim, o metano se encontra congelado na atmosfera [camada inferior da atmosfera] em outras latitudes, se converte em gás e se filtra para a a estratosfera [camada superior da atmosfera]. Isso se deve ao fato de que, em Netuno, onde o ano dura 165 anos terrestres, o pólo sul recebe constantemente energia solar há 40 anos, afirmaram os autores do estudo, citado num comunicado do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França.As observações permitiram localizar um ponto “quente”, cuja temperatura é 3ºC superior à das zonas contíguas. Os movimentos que isso produz indicam que a atmosfera de Netuno talvez seja mais ativa do que de Júpiter e Saturno, também planetas gasosos, mas mais próximos do Sol. “Podemos esperar que, dentro de 80 anos, quando o pólo norte de Netuno estiver no verão, haja uma inversão da situação e aconteça uma transferência do excedente de metano do pólo sul para o pólo norte”, afirma o estudo.