O interesse do Vaticano pela Ufologia e a vida extraterrestre começou a chamar a atenção do mundo a partir do dia 18 janeiro de 1997, quando a revista oficial da Conferência dos Bispos da Itália publicou uma entrevista com o padre Piero Coda, um dos mais importantes teólogos da instituição. Em suas declarações, padre Coda afirmou que, “criados por Deus e tendo suas falhas, os extraterrestres também precisam de redenção através das palavras salvadoras de Jesus Cristo”. Respondendo as perguntas do repórter da revista, do clérigo afirmou que se existirem seres inteligentes e livres em outros lugares do universo, a solidariedade religiosa exigirá que a eles também seja oferecido o caminho da salvação. O religioso ainda disse que “pode até haver algum enriquecimento cultural, exatamente como aconteceu no passado, quando a cultura européia entrou em contato com mundos que eram até então absolutamente desconhecidos”.
Meses antes da entrevista do padre Coda, outros teólogos do Vaticano haviam declarado ao respeitado jornal italiano Corriere Della Serra que os extraterrestres também devem ser considerados filhos de Deus. Além disso, a Santa Sé admitiu ter incluído a expressão objeto voador não identificado na última edição do Dicionário do Vaticano, que na obra é expressa em latim Res Inexplicata Volans [Algo como coisa voadora sem explicação]. Visando ampliar suas pesquisas nesse assunto, o Vaticano construiu no ano de 1981, um novo centro de investigação astronômica, o The Vatican Observatory Research Group (VORG). Tal empreendimento é considerado um dos maiores e mais modernos centros de observação e foi construído em Tucson, Arizona, nos Estados Unidos. Em 1993, com a colaboração com o Steward Observatory, a instituição completou a montagem do Vatican Advanced Technology Telescope (VATT), no Monte Graham, Arizona, um dos melhores lugares astronômicos no continente norte-americano.
Os planos do Vaticano são de que o observatório venha a ser um dos mais bem equipados do mundo, para que possa contribuir intensamente na busca de outros planetas com condições de sustentar a vida. Apresenta possantes telescópios, capazes de identificar sinais distantes dos mais diversos tipos de gases e até de rastros de poeira cósmica em torno de estrelas e sistemas planetários em situações propícias para o aparecimento e evolução da vida – ao menos dentro dos parâmetros conhecidos. “Procurem as digitais de Deus”, disse o finado papa João Paulo II aos 20 padres astrônomos que estão trabalhando no projeto e a toda a equipe que o está desenvolvendo. Aparentemente complementando as declarações do pontífice, o diretor do observatório, frei George Coyne, comentou: “Acreditamos que a igreja tem de se juntar a esse esforço científico internacional na busca por vida no espaço. A graça trazida pela encarnação de Cristo estende-se a todos os campos da atividade humana”.
Envio de missionários — Entretanto, na época do início das construções do empreendimento, o jornal inglês The Sunday Times afirmou que o projeto do novo observatório traria consigo alguns riscos teológicos. “Um dos maiores deles seria a descoberta de formas de vida extraterrestres, principalmente se dotadas de inteligência. Se isso ocorrer, a igreja enfrentaria a delicada questão de definir se a crucificação de Jesus, que na crença católica é atribuída à redenção dos pecados de toda a humanidade, teria redimido também seres de outros planetas”, finaliza o artigo do periódico. Uma maneira de contornar o problema seria converter os extraterrestres, idéia que já é considerada pelos astrônomos papais. A conversão ainda não teve seus procedimentos e rituais definidos pela Santa Sé, pois o assunto não está sacramentado, mas dificilmente seria idêntico aos realizados com humanos. “Se for possível encontrar civilizações em outros planetas, e se for factível comunicar-se com elas, deveríamos tentar enviar missionários para salvá-los, como fizemos no passado quando novas terras foram descobertas”, afirmou Coyne.
Atualmente, a agitação está por conta de monsenhor Corrado Balducci, teólogo do Vaticano. Monsenhor Balducci já compareceu inúmeras vezes à televisão e congressos em todo o mundo para falar sobre ETs e UFOs em nome da instituição religiosa. Segundo ele, a Santa Sé vem recebendo muitas informações sobre os extraterrestres e seus contatos com os terráqueos. Essas informações, de acordo com o monsenhor, vieram principalmente do México, Chile e Venezuela. Balducci tinha estreita ligação com o falecido João Paulo II e tem sido há muito tempo porta-voz da igreja em conclaves que se discute tal assunto. O teólogo reafirmou que a Igreja Católica está analisando o tema com muito interesse, lembrando que os encontros com extraterrestres “não são demoníacos, nem provenientes de problemas psicológicos ou, muito menos, de casos de possessão por entidades. Este assunto deve ser estudado com muito cuidado”. Recentemente, durante um congresso na Itália, afirmou que o universo é cheio de vida e “estamos sendo observados por seres pertencentes a civilizações mais avançadas. A questão está em entender o que querem aqui nossos misteriosos e curiosos visitantes”. O que chama atenção de modo especial é que o monsenhor Balducci é um exorcista consagrado no Vaticano, cujo hábito é extirpar do meio católico todas as práticas consideradas estranhas ou desconhecidas – o que, entretanto, não fez com a Ufologia.