Como dono de cinco cães, sempre aguardo ansiosamente o Westminster Dog Show realizado anualmente em fevereiro em Nova York. Esse evento atrai milhares dos mais excelentes cães de todo o globo para disputar o cobiçado título “Best in show”. O céu também promove seu próprio show canino nesta época do ano. Por volta das 22h00, no início do mês, e 1 h mais cedo a cada quinzena, se estivermos voltados para o norte, veremos Canes Venatici, os Cães de Caça, nascendo no nordeste; Canis Minor, o Cão Menor, bem elevado, já caindo para o oeste; e Canis Major, o Cão Maior, menos elevado, também caindo para o oeste.
Cão Maior, lar da estrela noturna mais brilhante, Sirius, ganha com facilidade o título “Best in show” no céu. Prepare-se para ficar estarrecido quando observar Sirius pela primeira vez através de um binóculo. Não, você não irá ver sua famosa companheira anã-branca, mas ainda assim é um verdadeiro deslumbramento! Sirius, uma estrela branca do tipo A, se encontra a apenas 8,6 anos-luz.
Para explorar o Cão Maior é mais confortável voltar-se para o oeste. Desloque Sirius para a borda direita (norte) do campo visual e, então, dê uma olhada num ajuntamento de fracas estrelas perto da borda esquerda (sul). É o aglomerado aberto M41. Para os entusiastas de astro-história, o filósofo grego Aristóteles (384 a.C. -322 a.C.) descobriu M41 em 325 a.C.
Binóculos de 50 mm revelam cerca de 20 fracas estrelas cintilando como grãos de pó de diamante. Usando binóculos de 70 mm ou maiores, você poderá notar que uma das estrelas no centro do grupo brilha com um sutil tom avermelhado, enquanto as outras têm tons de amarelo e laranja.
Faça uma varredura mais para o sul (para a esquerda), seguindo o corpo imaginário do cão, até chegar ao triângulo formado por Wezen, Adhara e Aludra. Wezen assinala a base da cauda; Adhara uma perna traseira e Aludra a ponta da cauda. Embora a região seja apinhada de estrelas, uma estrela avermelhada singularmente espetacular se destaca na cauda, perto de Adhara. Tomm Lorenzin, autor de um guia de observação online (www. 1000plus.com/2000plus), descreve-a como um “kumquat (designação chinesa de uma minilaranja) maduro e brilhante”. O kumquat de Tomm, conhecido oficialmente como (sigma) do Cão Maior, contrasta maravilhosamente com as estrelas brancas e branco-azuladas ao redor.
Meio campo binocular ao sul (à esquerda) de Aludra, procure um triângulo retângulo de três estrelas brilhantes acompanhadas de muitos pontos de menor brilho. Esse aglomerado estelar, não muito conhecido, é um fácil alvo através de um simples binóculo. No entanto, seu tamanho grande e a dispersão das estrelas mascararam sua verdadeira natureza até que o astrônomo sueco Per Collinder o incluiu com o número 140 em seu catálogo de aglomerados estelares dispersos. As 30 estrelas em Collinder 140 brilham entre as magnitudes 5 e pouco mais que 9, e formam um triângulo.
Por fim desloque mais um campo binocular para o sudoeste (para a esquerda e para baixo) para encontrar o aglomerado aberto Collinder 135 após apenas cruzar os limites com a constelação da Popa. Seu membro mais brilhante, p (pi) da Popa, de 3a magnitude, é classificado como uma supergigante laranja que se destaca belamente entre outras estrelas azul-esbranquiçadas do aglomerado. Collinder 135 também inclui a estrela dupla 1 (ni 1) e 2 (ni 2) da Popa, ao norte de p, e uma estrela solitária de 5a magnitude a oeste. Juntas elas dão ao aglomerado a forma característica de uma ponta de flecha.
De certa forma a observação de M41 por Aristóteles pode ser chamada a primeira maratona Messier. Claro, a maratona de Messier hoje é um bocado mais complicada, como meu amigo Glenn Chaple mencionou em sua coluna deste mês. Anualmente, perto do equinócio de março, astrônomos amadores de todo o mundo tentam sua sorte: observar numa única noite o maior número possível dos 109 objetos de Messier. É uma maneira lúdica de anunciar a chegada da nova estação.
Todo ano Glenn me desafia para disputar a maratona com ele. E todo ano eu aceito. Mas ultimamente a cada ano o céu nublado não tem faltado.