
Muitos serão unânimes em afirmar que a Ilha de Páscoa é um dos lugares mais belos do mundo. Sabe-se que em quase todas as ilhas habitáveis dos mares do sul encontram-se restos de impressionantes culturas desconhecidas, porém em Rapanui [Que no idioma local significa ilha grande, é o nome que os moradores deste paraíso deram ao fantástico arquipélago de pedra vulcânica no sul do Pacífico, localizado a 3.200 km do litoral Chileno] tudo parece ser ainda mais fascinante. Tal local é controlado pelo Chile e o único aeroporto fica no pequeno vilarejo de Hanga Roa, onde os nativos recebem os turistas com a tradição polinésia oferecendo colares de flores. A região foi descoberta na noite do dia 05 de abril de 1722, um dia antes do domingo de páscoa, pelo almirante neerlandês Jacob Roggeveen, no galeão De Afrikaanske Galei. O capitão e sua tripulação aproximavam-se naquele momento de um fantástico lugar que não constava nos mapas conhecidos da cartografia da época. Desembarcaram somente no dia seguinte, pois haviam ficado com medo dos estranhos gigantes que podiam ser vistos no litoral, só percebendo que se tratavam de estátuas pela manhã. Infelizmente, após sua descoberta, a Ilha de Páscoa nunca mais seria a mesma, tendo deixado de ser o que foi por muitos séculos: um magnífico paraíso perdido.
Após a chegada dos europeus, que trouxeram consigo doenças, desgraças, violência e saques – fatos comuns em todas as conquistas do período em nome de reis e da igreja – começava a se perder a história do local. Sabe-se que os padres jesuítas que ali aportaram nos anos seguintes destruíram a grande maioria das tábuas com a escrita hieroglífica original, onde provavelmente estaria registrada e poderia ser contada a história do povo Rapanui. Além disso, poderia ser desvendada grande parte de seus mistérios. Em 1888, o Chile anexou a ilha a seu território. Nela havia somente 111 pessoas, a maioria doente e já sem a lembrança de seu passado glorioso e sua história fantástica. Porém, alguns costumes ainda puderam ser preservados, assim como lendas, como a do rei Hotu-Matua, que chegou em duas canoas gigantes com sua rainha e mais de 7 mil súditos. Os habitantes locais relatam que cada “canoa” era do tamanho de uma praia, ou seja, de mais ou menos 180 m. Mas o maior de todos os mistérios da localidade é, sem dúvida, os Moais [Estátuas gigantes feitas de pedra vulcânica, mundialmente famosas. O maior deles, Paro, tem 20 m e está inacabado], sendo que parte da comunidade científica e historiadores acreditam que foram confeccionados pelos ancestrais dos atuais moradores.
As principais alegações para o fato foram às informações obtidas através do explorador holandês Thor Heyerdahl, que no livro Aku Aku – Segredo da Ilha da Páscoa [Editora Albin Michel], descreve como encontrou, durante sua expedição à ilha, centenas de cunhas de pedra em volta de algumas das esculturas ainda inacabadas na montanha ou mais especificamente uma cratera de um vulcão, que leva o nome de Rano Raraku, de onde se acredita ter sido extraído todo o material para a confecção das mesmas. Mas, sabe-se que tal trabalho não poderia ter sido realizado pelos antigos, pois não existia mão-de-obra suficiente para dar cabo desse trabalho, bem como não havia madeira suficiente para locomover após a “fabricação”, cada uma das estátuas.
Lendas históricas — Uma outra lenda polinésia relata que o poder sobrenatural do rei fazia as imagens flutuarem até o local escolhido. Na verdade não se sabe como foi feita a separação da matéria-prima de rocha vulcânica, extremamente dura, a qual comprovadamente foi usada para o feitio das estátuas. E até mesmo atualmente se vê na cratera de Rano Raraku um canteiro de obras abandonado, onde repousam dezenas de esculturas inacabadas, algumas já prontas e outras apenas começadas. Não se explica até hoje o porquê de algumas centenas de polinésios estarem dispostos a “fabricar” as mais de 600 imagens que se encontram na ilha. A característica e o aspecto de cada uma também são alguns dos mistérios de Rapanui, visto que as feições – narizes longos e retos, bocas com lábios cerrados e estreitos, olhos profundos e testas abaixadas –, não são de aspectos conhecidos de nenhum morador ou mesmo tribo do local. Quando os primeiros estrangeiros puseram os pés na Ilha de Páscoa ainda existiam centenas de placas gravadas com hieróglifos, onde possivelmente havia sido registrada a história, em uma língua desconhecida, até mesmo pelos habitantes. Talvez, a explicação sobre o porquê e para que foram construídas as estátuas e qual seria sua utilidade, desapareceram juntamente com as placas.
Existem também em toda a ilha petroglifos e símbolos indecifráveis. Inscrições e desenhos dos mais diversos, além de esculturas bastante pitorescas, hoje infelizmente espalhadas por museus de todo o mundo. Segundo uma outra lenda Rapanui, há na região muitas esculturas em forma de ovos gigantes, pois os deuses que visitavam o local vieram transportados em um ovo, ou quem sabe, em um objeto voador em formato de oval. Existe ainda a crença da maioria dos moradores da região de que ainda existem seres na ilha, por eles chamados de Aku Aku, que foram os responsáveis pela criação, manutenção e transporte das estátuas no passado, bem como a preservação da cultura Rapanui até os dias de hoje. Cada morador já viu ou ouviu falar da aparição de uma dessas criaturas. Alguns os definem como malévolos, outros como protetores. Porém, sempre os mencionam como se fossem fantasmas, seres místicos ou sobrenaturais e, por que não dizer, extraterrestres? Segundo as lendas, nos tempos antigos a Ilha de Páscoa era repleta deles, sendo que através de sua força e poder é que foram erguidos os Moais. Os polinésios afirmam que havia Akus Akus femininos e masculinos, bons e maus. Aqueles que conseguiram falar com alguns deles, afirmavam que tinham a voz estridente e sibilante. Os nativos confirmam que até hoje muitos vivem na região, aparecendo sempre e “somente” para os nativos, ficando escondidos nas dezenas de cavernas.
Há ainda locais da Ilha de Páscoa onde os nativos jamais põem os pés, principalmente à noite, pois temem os Akus Akus. Além disso, afirmam que são lugares sagrados onde ainda vivem os deuses. Não é preciso exercitar demais a imaginação para vislumbrar o que podem ser estes seres responsáveis pela “fabricação” e por erguer e transportar com muita facilidade os Moais. De que outra forma os nativos do passado poderiam chamar criaturas com poderes sobrenaturais, capazes de levantar o peso fantástico das estátuas, que em alguns casos chegavam a 20 toneladas e as locomoveram com facilidade, além de ajudar e protegerem o povo Rapanui? Imaginemos que extraterrestres totalmente desconhecidos dos nativos tivessem chegado e com o auxílio de uma tecnologia muito avançada erguiam e
transportavam com facilidade os enormes Moais? Como seriam classificados pelos nativos, senão de sobrenaturais ou de deuses tais indivíduos? Mas existe uma outra lenda que nos leva a imaginar o que seriam os chamados Homens Pássaros do passado. Por volta do século XV, os nativos passaram a se interessar pelo Tangata Manu, um ritual anual para o deus Makemake. No início do inverno, nadadores representado os chefes tribais da ilha disputavam para ver quem pegaria o primeiro ovo posto pela andorinha negra, a Manu Tara, em uma ilhota a 1.600 m da costa.
“Guerreiros Alados” — O vencedor dava o título de Homem Pássaro a seu líder e durante todo o ano ele era o soberano absoluto do local. As competições aconteciam em Orongo, cidade cerimonial de formato triangular no cume do vulcão Rano Raraku. Estas cerimônias aconteceram até 1886, quando os religiosos missionários católicos as proibiram com a intenção de acabar com os cultos considerados por eles pagãos. Novamente vemos uma possível analogia à história do “Homem Pássaro” que vem sendo passada de geração em geração para os habitantes de Rapanui e através de diversas representações, como peças de artesanato e petroglifos por toda a ilha. Em alguns casos são relatados como guerreiros alados que habitaram a região em um passado remoto. Eles governaram por um período, trazendo muita luz, prosperidade e conhecimento ao povo e depois partiram, criando assim o culto ao homem pássaro, um deus místico voador, com poderes e conhecimentos que posteriormente poderiam ter sido adaptados pelos Rapanui para a escolha de seus novos líderes. Qualquer semelhança com a história de outras civilizações e de adorações a deuses alados, em dezenas de outras culturas do mundo, talvez, não seja mera coincidência.
Os Moais, alheios aos questionamentos dos homens, parecem fitar o infinito, desafiando a nós, pobres mortais, a tentar entender sua história, que se confunde com a da humanidade. Os Akus Akus, seres místicos e sobrenaturais, ou quem sabe de outros planetas, continuam protegendo os Rapanui e sua história destruída pelos jesuítas. O culto ao homem pássaro, ainda existe na lembrança de todos e assim alguns séculos se foram e outros virão, mas eles estarão sempre ali a desafiarem a compreensão do homem. O fato é que o mistério permanece sem solução e a Ilha de Páscoa ainda é um dos grandes enigmas de nosso planeta, nos levando novamente a conjecturas sobre nosso passado e nossa história ao lado dos milhares de deuses que acompanharam e, porque não dizer, ainda acompanham a humanidade…