
Muito já foi comentado a respeito das manifestações folclóricas e suas semelhanças com o Fenômeno UFO. Em todo o mundo, lendas e histórias de povos antigos relatam acontecimentos fantásticos e experiências envolvendo seres de natureza misteriosa, que aos olhos do homem moderno podem ser interpretados de diversas maneiras. No Brasil, nossas lendas e mistérios mais antigos estão relacionados com os povos indígenas nativos. Quando os portugueses aqui chegaram, se espantaram ao encontrar uma terra tão rica e povoada por homens e mulheres que, a princípio, foram julgados como selvagens, como se fossem verdadeiras bestas humanas. Porém, esses povos possuíam uma cultura riquíssima e uma sociedade estruturada, com língua própria baseada no conhecimento da natureza.
Esse contato íntimo dos índios com o meio ambiente ia muito além da mera sobrevivência. Eles entendiam a natureza como uma entidade viva, um panteão permeado por deuses, demônios, espíritos benignos e malignos com os quais possuíam estreita relação e convivência. Nos dias atuais, contudo, a crença geral é de que as entidades cultuadas e temidas por nossos índios eram apenas fruto da imaginação, fantasias criadas por mentes tacanhas desprovidas de conhecimento científico. Mas, se analisarmos sob um ponto de vista menos crítico no aspecto materialista, não poderemos negar que existem fenômenos inexplicáveis pela ciência que ainda nos dia de hoje causam assombro ao homem moderno. Então, por que não poderiam nossos índios estarem relatando fatos reais, ainda que inexplicáveis cientificamente? Hoje em dia uma luz anômala no escuro da mata logo é associada ao Fenômeno UFO. Seria uma nave extraterrestre, uma sonda enviada para analisar nosso ambiente? São as primeiras perguntas que surgem. Mas, e no passado, o que diriam os índios ao avistar a mesma luz misteriosa?
A situação é ainda mais complicada quando surgem no cenário seres bizarros. Ainda hoje existem aqueles que atribuem essas visões a demônios, ou até anjos em determinadas situações, mas novamente a crença geral moderna se volta para o Fenômeno UFO e qualquer ser humanóide de origem desconhecida é logo relacionado aos extraterrestres. Em Varginha, os estranhos seres avistados em 1996 logo receberam a alcunha de ETs. Mas ainda hoje há muita controvérsia sobre o caso. Os ufólogos mais cautelosos preferem usar termos com “as criaturas”. As três principais testemunhas do caso, as irmãs Valquíria Aparecida Silva e Liliane Fátima Silva, mais a amiga Kátia Andrade Xavier, descreveram a visão como um demônio. E o que diria um indígena da época do descobrimento ao se deparar com um ser como os de Varginha, com pele marrom oleosa, veias saltadas no pescoço, protuberâncias na cabeça e grandes olhos vermelhos? Provavelmente seria a aparição do Caipora, Anhangá ou mesmo Curupira.
UFOs no século XVI? — No litoral sul de São Paulo foram registradas as primeiras manifestações folclóricas do Brasil, mais especificamente na Capitania de São Vicente, a primeira a ser fundada pelos colonizadores, onde se estabeleceu a primeira vila e, conseqüentemente, a primeira cidade brasileira. Graças a esse pioneirismo, a região guarda a história das primeiras aparições que tanto amedrontavam os indígenas da época. Em documento datado de 1560 e intitulado Carta de São Vicente, o padre José de Anchieta, insigne pioneiro evangelizador, a quem muitos pesquisadores atribuem a fundação da cidade de São Paulo, descreve em detalhes a natureza da nova terra, destacando a exuberância de nossa hoje quase extinta Mata Atlântica. Ele também relata detalhes dos moradores daquelas paragens, seus aspectos, hábitos e costumes.
É na carta que encontramos pela primeira vez detalhes de fenômenos misteriosos que atingiam os indígenas, que os atribuíam a demônios e espíritos malignos. Algumas destas aparições são muito semelhantes, quando descritas oralmente, a fenômenos luminosos hoje tidos como manifestações de origem extraterrestre. Já dizia Anchieta: “Há também nos rios outros fantasmas a quem chamam Igpuiára, isto é, que moram na água, que matam de medo aos índios. Não longe de nós há um rio habitado por cristãos e que os índios atravessaram outrora com pequenas canoas, que fazem de um só tronco ou de cortiça, onde eram muitos afogados por eles antes que os cristãos para lá fossem”. Ele fala ainda de formas amorfas de difícil descrição: “Há também outros espectros do mesmo modo pavoroso que não só assaltam os índios, como lhes causam dano, o que não admira quando, por estes e outros meios semelhantes, que longo fora enumerar que o demônio torna-se formidável a estes Brasis, que não conhecem a Deus, a exercer contra eles tão cruel tirania”.
“Facho cintilante” — Podemos notar nesses e em outros trechos da carta detalhes interessantes para o estudo ufológico. Principalmente na parte referente ao Baetatá, onde é dito: “Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo daqui para ali” e “Vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios”. Aqui temos que levar em consideração não apenas as luzes anômalas que voam de um lado para outro, como também a relação delas com os meios aquáticos, também recorrentes no Fenômeno UFO – já que muitos relatos da casuística ufológica acontecem nas proximidades de lagos, rios, represas, açudes e mares. O cenário da onda do Chupa-Chupa, por exemplo, foi a Ilha de Colares, no Pará, sendo que a maioria dos ataques ocorria à beira de praias e igarapés. No livro O Caso Varginha [Veja o LIV-008, da Biblioteca UFO], o pesquisador e consultor de UFO Ubirajara Franco Rodrigues dedica um capítulo inteiro a essa estranha relação, abordando casos registrados em Minas Gerais. Ele explica que o próprio Caso Varginha aconteceu próximo a um rio que corta a cidade.
Durante a onda de ataques do misterioso Chupacabras, entre 1997 e 1998, o pesquisador paranaense Carlos Alberto Machado constatou que as aparições das criaturas ocorriam sempre próximas à água. Machado, inclusive, registrou em sua excelente obra Olhos de Dragão – Reflexões Para Uma Nova Realidade [Editora Chain, 2001] um caso ocorrido no bairro de Caruara, em Santos, aos pés da Serra do Mar. Ainda com poucos habitantes, a regi&atild
e;o de Mata Atlântica abundante preserva os costumes caiçaras, incluindo a propagação de lendas e mistérios. O caso foi pesquisado pelo Grupo de Estudos Ufológicos da Baixada Santista (GEUBS), que constatou a existência de um rio próximo ao lugar da aparição da criatura, onde também é comum o avistamento de UFOs.
Apesar da grande semelhança com outra lenda, a Mãe d’Ouro, existem diferenças a serem consideradas. A princípio chamada M’bae-tatá – do tupi M’bae, coisa, e Tatá, fogo – foi denominada pelos portugueses de Baetatá. Já no sul do país, por influência do guarani, virou M’boi-tatá – M’boi, cobra –, dando origem à grafia popular atual de Boitatá. A manifestação dessa lenda era explicada pelos europeus como sendo Fogo-Fátuo – luzes provenientes da combustão espontânea de gases originários de plantas ou corpos em decomposição, comuns em pântanos e cemitérios. Os índios consideravam o fenômeno como a manifestação de um espírito maligno, assim como o Curupira, ao qual faziam oferendas na floresta para não serem atacados.
Lendas semelhantes, detalhes diferentes — Já a Mãe d’Ouro, parece ser uma lenda mais recente, uma variação da anterior – não confundir com a Mãe d’Água, que é originária do litoral paulista e acabou se popularizando pelo resto do país. Diz-se que se trata de uma luz que vem do céu e fica ziguezagueando pela mata até encontrar um veio de ouro sobre o qual fica pairando. Diziam os antigos que aquele que tivesse coragem de cavar o local onde a Mãe d’Ouro se “aninhou” encontraria o precioso metal. Essa versão da lenda levou os ufólogos a considerar a possibilidade de tal fenômeno se tratar da manifestação de sondas, pequenas naves não tripuladas, de origem extraterrestre, que estariam pesquisando nossas riquezas minerais e até extraindo do solo algum tipo de metal ou energia desconhecida por nós. Os indígenas atribuem à Mãe d’Ouro a manifestação de entidades protetoras da natureza.
Tal fenômeno é ainda muito comum em regiões de mata, sejam no litoral ou no interior do país. Em sua extensa pesquisa, inclusive realizando vigílias na Serra da Beleza, Rio de Janeiro, o ufólogo e co-editor de UFO Marco Antônio Petit já registrou centenas de fotografias de luzes que se encaixam nas descrições da Mãe d’Ouro ou mesmo do Baetatá, que também já foi documentado pelo veterano pesquisador e também co-editor de UFO Claudeir Covo na região de Iporanga, ao sul do estado de São Paulo, próximo à divisa com o Paraná. O local é famoso por possuir centenas de cavernas, muitas jamais exploradas, com quilômetros de extensão, em que foi registrada a presença de luzes misteriosas. Iporanga está localizada bem próxima à Serra da Juréia e à cidade de Peruíbe, que também são áreas de grande incidência de UFOs. Foi justamente nesta última que tive a oportunidade de observar, junto com amigos do GEUBS, em 2001, uma dessas luzes, que pelos moradores são chamadas de Mãe d’Ouro.
Seres bizarros na natureza — Além de fenômenos luminosos e aéreos, nossas antigas lendas folclóricas falam de seres bizarros da natureza, como vimos na carta de Anchieta. A existência de tais criaturas pode ter algum fundo de verdade, afinal de contas encontramos relatos de seres fantásticos até hoje. Exemplos disso são o próprio Chupacabras, o Mothman [O Homem-Mariposa, encontrado na Inglaterra e nos Estados Unidos], os Homens-Morcegos relatados em diversos países da América do Sul e Central e outras criaturas que surgem esporadicamente, como o próprio ET de Varginha. Independentemente dos relatos serem ou não comprovados, o fato é que existem, o que, por si só, já é espantoso. Afinal, estamos no século XXI, uma época em que os avanços tecnológicos e científicos já deveriam ter extinguido qualquer tipo de crendice. Ainda assim, as pessoas continuam vendo tais criaturas.
A diferença entre as descrições do que era visto no passado e as atuais pode ser resultado apenas da evolução cultural. No passado nossos índios não imaginavam a existência de extraterrestres, portanto, para eles, restavam os seres da natureza. O Curupira era tido pelos índios como um espírito protetor das florestas, que tanto podia ser benéfico quanto maléfico. Relatos de missionários e viajantes europeus apontam os ferimentos físicos sofridos pelos índios, que comprovam que se tratava de um fenômeno real. Outra lenda semelhante é a do Anhã – Ã-nhã, alma errante – também conhecida como Anhangá, ou Anhanguera, que significa “espírito velho”. Esse mito foi descrito por vários escritores que passaram por nossas terras no século XVI, entre eles padre Manoel da Nóbrega, antecessor de Anchieta, André Thevet, Jean de Léry. Todos já haviam feito suas observações antes da carta de Anchieta, mas foi o navegador alemão Hans Staden quem talvez chegou mais perto da realidade. Explorador aventureiro, foi aprisionado em 1554 por índios Tupinambás, mais especificamente os Tamoios, em Bertioga, no litoral de São Paulo. Levado pelos indígenas para a aldeia na região de Ubatuba, o alemão passou por momentos aterrorizantes sob ameaça de ser devorado pelos canibais. Durante os nove meses em que viveu entre os indígenas, assistiu às cerimônias antropofágicas e conheceu de muito perto a cultura daquele povo, até que conseguiu carona num navio de volta ao velho continente – o dele naufragara durante a viagem de retorno de Santa Catarina, entre Peruíbe e São Vicente.
Durante o convívio com os indígenas, muito ouviu falar do Anhangá ou Ingange, um espírito malfazejo muito temido pelos indígenas e descrito por Staden no livro Viagem ao Brasil [Publicado na Europa em 1957. Mais de 50 edições foram lançadas em alemão, flamengo, holandês, latim, francês e português, sendo a última no Brasil este ano, pela editora Martin Claret]. Na obra o autor explica: “Os indígenas não gostam de sair das cabanas sem luz, tanto medo têm do diabo, a quem chamam Ingange, o qual freqüentemente lhes aparece”. A descrição mais comum dada pelos índios para o Anhangá difere um pouco das lendas anteriores, com as quais possui parentesco, tais como o Curupira. Nesse caso a aparência da entidade hora tida como um espírito protetor das florestas, hora como um demônio, está relacionada com animais. A principal representação é a de um veado com olhos de fogo, mas pode ser a de um boi, uma paca, um tatu ou mesmo uma tartaruga ou um peixe, como o pirarucu. Por isso diziam ser o terror dos caçadores, pois protegia os bichos perseguidos.
Seres aquáticos em São Vicente
por Rodrigo Branco
Lendas envolvendo seres aquáticos também eram comuns em São Vicente, sendo descritas nos textos do padre jesuíta José de Anchieta em 1564. Ele relata a atuação da Igpupiára, um monstro que atraía e matava os homens. “Um animal marinho gigantesco, com cerca de três metros de altura, com uma grande cabeça, bigode, braços longos, dentes pontiagudos e pés de barbatanas”, diz o padre. Os índios logo o denominaram Igpupiára, que significa “O Demônio da Água”, e afirmavam que tal ser habitava o espaço entre a velha Casa de Pedra – a primeira construção de alvenaria do Brasil – e a Praia de São Vicente – também conhecida como Gonzaguinha. O mito ganhou outros contornos na região amazônica e muito provavelmente deu origem às lendas da Iara e da Mãe d´Água.
A estranha criatura também foi descrita pelo cronista português Pero de Gândavo e pelo jesuíta Fernão Cardim, segundo o qual “parecem-se com homens propriamente, de boa estatura, mas têm os olhos muito encovados. As fêmeas parecem mulheres, têm cabelos compridos e são formosas”, relata. Porém, matavam suas vítimas as abraçando fortemente. Gândavo e Cardim também diziam que os supostos monstros devoravam os olhos humanos, narizes, ponta dos dedos dos pés e das mãos e as genitálias. Segundo os cronistas, eram seres “bestiais, famintos, repugnantes, de ferocidade primitiva e brutal”. Atualmente, existe um monumento em homenagem à Igpupiára em São Vicente, na Praça da Biquinha.
Outros seres estranhos também foram avistados nas águas do litoral paulista. Dentre várias histórias fantásticas contadas pelos antigos há relatos alusivos aos Homens-Peixe. Segundo a lenda, os índios que residiam ao longo das praias do litoral sul, onde hoje estão as cidades de Itanhaém e Peruíbe, observavam estranhas criaturas constantemente. Eles evitavam sair à noite, pois tinham medo dos humanóides que saíam do mar e que possuíam escamas em todo o corpo. Vale lembrar que na extensa casuística ufológica mundial já foram relatados outros casos de seres com aparência de peixe. O mesmo pode-se dizer a respeito das antigas lendas dos Dogons, povo que atualmente vive na região de Mali, na África Ocidental. De acordo com a tradição, eles mantinham contato com os Nommos, seres de aparência anfíbia e repulsiva, provenientes de um planeta da constelação de Sírius. Tais criaturas teriam inventado a raça humana há milhares de anos, o que, aliado à descrição dos seres, nos remete às lendas sumérias – outro povo da Antigüidade que possui lendas a respeito da suposta criação humana por ETs. A favor dos Dogons, assim como acontecia com os Sumérios, estaria o avançado conhecimento astronômico.
Antigas lendas — Em 1931, quando os Dogons foram pesquisados pelo antropólogo francês Marcel Griaule, conheciam não só a estrela Sírius, como a Sírius B, ainda não descoberta na época, e ainda falavam da existência de uma terceira estrela no mesmo sistema. Além de outros fatos, sabiam, por exemplo, das quatro luas principais de Júpiter, dos anéis de Saturno e que outros planetas orbitam ao redor do Sol. Era um conhecimento extraordinário e inexplicável para um povo que jamais havia tido contato com um instrumento óptico. Enfim, não é minha intenção afirmar que as antigas lendas folclóricas fossem necessariamente manifestações ETs, pois sabemos que muitas delas podem ser explicadas por fatores culturais, obras do imaginário popular, erros de interpretação de fenômenos naturais etc.
Porém, não podemos ignorar que tais relatos eram semelhantes em povoados de diversos locais do mundo, que jamais tiveram contato entre si, e possuem semelhança com acontecimentos bizarros ocorridos nos dias de hoje. Talvez o excelente filme O Segredo do Abismo [Lançado em 1989, dirigido por James Cameron e vencedor do Oscar de Melhores Efeitos Especiais. O orçamento do filme foi estimado em US$ 69,5 milhões] possa ter fundamento real. Como vimos, são comuns os relatos de seres provenientes do mar, com aparência de peixe, além de luzes e objetos que surgem das águas. Se nossos oceanos ainda guardam tantos segredos, a possibilidade da existência de bases subaquáticas de origem extraterrestre não pode ser descartada, mas, ao contrário, amplamente investigada.
Lenda indígena deu origem ao nome Vale do Anhangabaú
O famoso Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, tem este nome devido a uma lenda indígena. Segundo os primeiros moradores da região, a área era morada do espírito errante Anhangá. Outrora um profundo vale coberto de floresta densa, no fundo do qual corria um rio, a região era considerada pelos indígenas sombria e misteriosa, por onde evitavam passar a qualquer custo para não se deparar com a horripilante figura.
Com o tempo, o vale foi ocupado por chácaras e sítios que deram lugar ao asfalto de grandes avenidas. Atualmente revitalizado, possui uma grande praça com fontes e jardins, porém a maioria das pessoas ainda evita passar pelo local, preferindo utilizar os viadutos do Chá e Santa Ifigênia, que atravessam o vale. O perigo hoje é a violência urbana, principalmente à noite, quando a região fica deserta. Ainda assim, há quem acredite na presença do Anhangá perambulando pelo lugar.