Desde sua publicação um pouco antes do qüinquagésimo aniversário da alegada queda de um UFO perto de Roswell, no Novo México, o livro do coronel Philip Corso, The Day After Roswell, foi tanto considerado verdadeiro e sem fantasias quanto condenado inerentemente como inacreditável, pelos mais antigos membros da Comunidade Ufológica Mundial. Quatorze anos após a polêmica queda, Corso sustenta que obteve um arquivo contendo o “segredo mais bem guardado do Exército Norte-americano”, como ele define. Tal segredo seriam os dados relativos ao acidente em Roswell, ou seja, o esconderijo dos destroços da nave, além de informações de um grupo de recuperação das forças armadas, o 509° Grupo da Força Aérea. Este grupo, ao que tudo indica, tratou de dar fim ao disco voador que caiu em julho de 1947.
Após as declarações extraordinárias de Corso, investigadores de todo o mundo aguardaram-no pacientemente, para que este pudesse esclarecer algumas dúvidas sobre o incidente. Por exemplo, em que dia teria ocorrido? Qual o local exato? Corona, as planícies de San Agustin, ou os arredores de Roswell? Quantas naves estavam envolvidas? Quem eram os oficiais encarregados da recuperação?
Logo no início do livro, surgiu o primeiro questionamento acerca da credibilidade de Corso. Apesar dele afirmar ter trabalhado durante dois anos com os documentos, não podemos ter a idéia exata de onde ou quando teve lugar a queda, ou quais foram os oficiais envolvidos no recobro dos destroços, visto que o coronel não fez todos os apontamentos necessários a esse respeito. De fato, suas declarações sobre os detalhes mais importantes do caso parecem confusas, tanto como de qualquer um de nós. Porém, não afirmamos ter tido acesso aos arquivos secretos.
Na polêmica saga de Corso, os ocupantes do UFO só tiveram um papel secundário. Além disso, embora seu livro esteja centrado na conduta dos seres humanos, qualquer leitor inteligente e atento é capaz de julgar a sua probabilidade. O primeiro e mais essencial resultado deve ser examinado nesta questão hipotética: se uma espaçonave extraterrestre tivesse caído perto de Roswell, dois dias após a 2ª Guerra Mundial, o que poderia ter sido feito aos fragmentos recuperados? Simplificando: o relato de Corso sobre o recolhimento dos destroços soaria como verdadeiro?
Podemos dizer que esses pedaços foram vistos por pessoas que tinham sido informadas da mais importante coleção de artefatos alienígenas de que temos conhecimento. Será que o incidente era o precursor de uma iminente invasão extraterrestre? Com uma crise global tecida no meio da Guerra Fria, o estudo dos restos do UFO deveria ser imediatamente empreendido, utilizando todos os recursos científicos disponíveis. Deveríamos procurar saber tudo o que fosse possível acerca da Biologia e intenções dos membros da tripulação extraterrestre.
Como também examinado minuciosamente todos os aspectos da tecnologia das naves, do possível armamento alienígena etc. Um tesouro como esse, uma espaçonave extraterrestre quase intacta (a prova física da existência dos UFOs), influenciaria qualquer pessoa a falar sobre sua recuperação. Será que em decorrência da crise global, todos os cientistas, engenheiros aeronáuticos, físicos e peritos militares ignoraram os resultados que poderiam vir, devido apenas a um tipo de competição colegial, supostamente sem considerar a importância desse trabalho científico sem precedentes?
Em conseqüência, fazer parte de um grupo de investigação dos artefatos extraterrestres – mesmo que isso significasse um compromisso de anos de trabalho secreto – teria custado sacrifícios pessoais gigantescos para a maior parte dos pesquisadores envolvidos. Como tal projeto esteve no topo de provavelmente todas as prioridades científicas e laboratoriais, membros do governo e militares de altas patentes desejavam estar presentes em tal descoberta. Tudo isso é certamente hipotético, mas provavelmente lógico e razoável.
Desastre aéreo – Sabemos o que acontece após um desastre de relativa importância (por exemplo, a grande repercussão da explosão arrasadora de um avião da TWA em 1996 em Long Island, EUA). Nesta colisão, com vítimas fatais, um grupo de cientistas especialmente treinados e investigadores foi reunido no local. Uma área enorme foi isolada para receber os destroços e não se evitaram despesas nas investigações. A segurança na região foi reforçada enquanto as ruínas do avião eram reconstruídas. O aparelho foi examinado minuciosamente por um longo espaço de tempo, porém até hoje não há respostas científicas para a explosão do avião.
Como extensão, imaginem o que teria acontecido se os destroços quase intactos de um caça russo MIG tivesse sido recuperado no apogeu da Guerra Fria, e um grupo de cientistas, engenheiros aeronáuticos e peritos militares também tivessem sido convocados imediatamente. O grupo trabalharia contra o relógio, no hangar de segurança do aparelho, até que o MIG reconstruído revelasse cada um dos seus segredos militares e aeronáuticos.
Em confronto com as ameaças que representam a forças aéreas da antiga URSS, o tempo teria sido primordial. A história testemunha a capacidade dos cientistas, oficiais governamentais e membros militares de trabalharem juntos, em harmonia perfeita, sob tais condições de emergência. Exemplos da 2ª Guerra Mundial, como o Projeto Manhattan, que produziu a bomba atômica, e o Projeto Enigma, o qual rompeu os códigos secretos da Nasa, demonstram cabalmente nossa capacidade e eficiência.
A versão de Corso, da maneira como cada um atuou quando a nave extraterrestre caiu em nossas mãos, é radicalmente diferente. Em 1961, Philip Corso era um jovem oficial no Pentágono. Após 14 anos, um período crítico subseqüente ao UFO de Roswell ter sido recuperado, pôde-se admitir que os últimos filamentos de metal tinham sido estudados cuidadosamente. O coronel descreve que naquele ano recebeu um arquivo com fragmentos e peças da nave, como também alguns papéis relacionados a esse assombroso acontecimento. O general Trudeau, seu superior, deu-lhe instruções para que tentasse obter alguma conclusão daquilo tudo.
Quando Corso perguntou ao general sobre o restante do material, foi informado de que os destroços, bem como os corpos dos ETs, tinham sido divididos para análise e disputados pelos serviços competentes. Ou seja, não houve qualquer lugar que contivesse todos os fragmentos para se tentar uma reconstrução precisa da nave. Este fato causa a impressão de que, por confusão nos altos comandos e pela rivalidade entre os órgãos, cada um dos departamentos militares trabalhou em desacordo com o outro, isso para não citar incompetência.
O impulso do livro de Corso está na maneira como ele, praticamente sozinho, começou a decifrar os artefatos de Roswell, iniciando um programa de engenharia reversa. Todos antes dele, afirma o coronel, esqueceram-se do fato de que nós possuíam
os uma nave extraterrestre, pois foi somente após seus esforços e técnicas perspicazes que, em 1961, finalmente empreendeu-se um estudo sério do caso. Devido às atividades secretas de Corso, iniciadas com oficiais e organizações civis, novos tipos de aparelhos militares foram desenvolvidos através dos destroços de Roswell.
Finalmente, em decorrência de seu trabalho, ganhamos a Guerra Fria. Entretanto, uma enorme discussão surgiu, especialmente porque Corso não forneceu nomes nem documentação adequada para reforçar o seu papel no processo de engenharia reversa lá utilizado. Após 36 anos e uma vitória contra o comunismo, qualquer um suporia ter havido dezenas ou até mesmo centenas de pessoas fora dos complexos industriais militares dispostos a avançar, confirmando parte da história de Corso, e assim compartilhar sua publicidade.
Desde que Corso serviu na Seção de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército, é possível que algumas das suas afirmações sobre engenharia reversa sejam verdade. Talvez tenha sido o último elo de um processo iniciado logo após o incidente. Porém, jamais poderemos dar seu verdadeiro papel – se de fato houve algum –, a não ser que outras testemunhas o apoiem e contem suas versões sobre a história daquela técnica de reversão.
Mas, por ter enumerado dúvidas a respeito da credibilidade de Corso, deveríamos talvez rejeitar todo o seu testemunho. As dúvidas foram agravadas por seus hábitos na hora de apresentar o caso. Ele descreve a conduta precisa e as palavras exatas de pessoas como Harry Truman, Josef Stalin, general Nathan Twining, almirante Roscoe Hillenkoeter e outros, apesar de admitir não ter estado presente naquele momento.
Reportagem detalhada – Um exemplo do estilo melodramático de Corso e sua presumível agudeza de memória: “O presidente Josef Stalin estava furioso. Face congestionada, sem tentar esconder a raiva que iria sair violentamente, como um vulcão em explosão. Stalin exibiu uma cópia do jornal Roswell Daily Record, de 08 de julho de 1947, e o lançou ao centro da mesa, para os cientistas que sabiam ler em Inglês”.
Será que alguém ficou espantado por Stalin apresentar um jornal do Arizona, apesar de existir uma reportagem detalhada dos serviços secretos, escrita em Russo, que relatava a queda do UFO? Será que esse trecho do depoimento de Corso levanta alguma suspeita?
Para saber o motivo de detalhes íntimos das ações de Stalin, no livro há uma explicação. Segundo o coronel, a cena foi-lhe descrita por um amigo que trabalhava na NKVD, igual à KGB, o serviço secreto russo. Nenhum informante teve seu nome incluído na lista, embora se tenha passado no mínimo 36 anos desde que Corso recebeu esta informação e, agora que os arquivos da KGB foram abertos, não há como comprometer alguém. De importância crucial, no entanto, é o fato do coronel crer nesta fonte.
“Winchell iria me crucificar se descobrisse por outros o que estava fazendo”. Esta foi a declaração de Harry Truman, descrita por Corso. “Não me perguntem como consegui saber disso tudo”, diz Philip com relação à exatidão da conversa, mas logo tenta responder à indagação: “Foi um velho amigo da KGB que me informou”.
Enquanto Corso subentende absoluta crença nos espiões com os quais teve uma relação íntima, ele mesmo poderia estar implicado num dos departamentos da polícia americana, que o Kremlin controlava com astúcia. Nessa situação perigosa, pode-se escolher entre duas alternativas. Mas, qualquer uma prejudica sua credibilidade e não tem solução. Por outro lado, como o autor de uma novela inventa estórias fantásticas para seus trabalhos de ficção, visando dar mais ação à sua obra, talvez Corso tenha feito isso com sua própria vida. Ou então tudo o que os espiões russos lhe disseram ele engoliu.
Aqueles que o apoiam mencionam o grande número de nomes e locais familiares, dando referências à sua narrativa. Como a lista dos envolvidos no Projeto Majestic, a organização que deu total cobertura, levantada em 1947 para manusear o material de Roswell. Mas Corso pode ter aprendido tudo isso com um estudo minucioso na bibliografia de Roswell e artigos de Stanton Friedman, Don Berliner, Korin Randle e outros.
Mãos de ETs – Ou seja, será que ele praticou a reversão dos destroços de Roswell, ou de sua literatura. Em apoio a essa idéia, notamos com suspeita que, em The Day After Roswell, o coronel descreve o ET e alega ter visto mãos com quatro dedos. Depois esses mesmos seres têm seis. Será que a descrição dos quatro dedos aparecia no primeiro rascunho do seu livro e, mais tarde, assistindo ao filme de Ray Santilli, as mãos dos ETs com seis dedos provocaram revisão do texto para fazer alterações, esquecendo-se de uma delas?
O autor faz tantas declarações inconsistentes e erros de acontecimentos históricos e descreve tantos procedimentos que violam o senso comum, que nem poderíamos enumerá-los. Mas todos esses equívocos são mínimos perto de suas afirmações desencontradas. Ele afirma que a técnica de engenharia reversa que efetivou com a invenção do SDI (Strategic Defense Innitiative) – uma iniciativa da Defesa do governo de Ronald Reagan –, apesar de afirmação científica contrária, venceu a Guerra Fria.
O SDI também teria neutralizado de fato a ameaça extraterrestre. Com essa típica fanfarronada “a la Rambo”, Corso diz que agora temos “mais armas poderosas para abater UFOs do que aquelas empregadas no filme Independence Day. Amanhã poderemos abater esses seres”. Ele indica ainda que, como resultado das armas desenvolvidas após seu trabalho sobre os destroços de Roswell, a ameaça das mutilações de gado e abduções de humanos por ocupantes de UFOs teria terminado em 1980.
Essa declaração de vitória viria como uma surpresa, devido às centenas de recentes abduzidos no mundo. Além disso, no entanto, podemos julgar a credibilidade de seus relatos examinando precisamente sua premissa central. Se uma nave ET foi recuperada em Roswell anos antes de Corso dizer que possuía os arquivos e destroços alienígenas, podemos estar seguros de que os cientistas que estudaram previamente este material tinham produzido inúmeros documentos: relatórios sobre metalurgia, estudos com microscópio eletrônico, análises laboratoriais, bem como fotografias, desenhos, medidas, teorias e outros.
Presumivelmente, nenhum cientista permitiria manejar os artefatos até que tivesse dominado os relatos e fotografias, localização, função, análises laboratoriais e outros. Parece haver apenas duas interpretações para as afirmações de Corso. Ele está contando a verdade, todos que diz terem sabido da queda – os presidentes Harry Truman e Dyrigth Eisenhower, o secretário de defesa James Forrestal, o cientista Vannevar Bush, o engenheiro de foguetes Werner von Barun, comandantes da For&cc
edil;a Aérea e da CIA etc – ignoraram totalmente, ou se “esqueceram” dos fatos. Essa é a lista na qual ele se baseia para creditar seu conto.
Outra alternativa é ter inventado a narrativa como parte de uma saga glorificante de como ele e seu falecido superior, general Trudeau, salvaram o mundo. Na expectativa da decisão mais provável, é importante a penúltima sentença do livro, uma auto-estima de sua coragem, inteligência e lugar na história: “Algumas vezes, num longo período de tempo, você tem a oportunidade de salvar seu país, seu planeta e as espécies ao mesmo tempo.”
Se Corso diz a verdade, Truman, Eisenhower e muitos cientistas americanos de vanguarda são culpados de incompetência. Além de Trudeau, que deu crédito ao fato, só um único homem merece a imortal gratidão de todo o planeta: o tenente-coronel Philip J. Corso. Ele salvou a Humanidade, enquanto aqueles que estavam no topo das estruturas políticas, científica e militares, entre 1947 e 1961, e souberam acerca de Roswell, bem cedo a ignoraram. Além disso, Corso não apresentou um simples testemunho de qualquer outro ser vivo que apoie sua pretensão virtualmente megalomaníaca.
Confiança inata – Ainda pior, o senador Strom Thurmond, que fez o prefácio da obra, mais tarde exigiu retratamento com base em o autor tê-lo induzido em erro quanto à espécie do livro. Os advogados do senador obrigaram o editor a desistir de sua introdução nas futuras edições e afirmar que ele nada sabia sobre as pretensões de Corso. Thurmond recusou-se a endossar sua veracidade. Uma indicação nada encorajadora a respeito da inata confiança do coronel.
A obra deve ser vista, então, como a história de acusação mais prejudicial à inteligência e ao senso comum, divulgada para nós nos difíceis anos após guerra? Ou é apenas uma versão moderna de A Vida Secreta de Walter Milty, história de James Thurber, dos ultrajantes e egoístas sonhos de um homem tímido e ordinário? The Day After Roswell seria a revelação completa, assombrosa e secreta da história de Roswell? Ou é um ato de centralização, uma inacreditável ficção de auto-glorificação, dirigida justamente aos crédulos? Leia o livro, e decida você mesmo.