De teorias de conspirações – tramas envolvendo terrorismo, atentados a presidentes e outras figuras de estado, corrupção, espionagem industrial, manobras de multinacionais ou vendas escusas de armamento, escândalos na indústria farmacêutica, arquivos secretos do Vaticano etc – já se falou e ainda se fala muito. Tanto na Ufologia quanto fora dela. Mas, em nosso caso específico, isto é, no estudo do Fenômeno UFO, é quase impossível se aprofundar no assunto sem ao menos esbarrar na idéia do cover up, termo que define uma política de acobertamento por parte das autoridades e dos governos mundiais, principalmente dos Estados Unidos.
Nem mesmo a Lei de Liberdade de Informação [Freedom of Information Act, FOIA] nos garante que o governo daquele país – ou órgãos a ele ligados – revela ao grande público tudo o que sabe e detém sobre a existência de objetos voadores não identificados de possível origem extraterrestre e sua ação em nosso planeta. Das alegadas quedas e resgates de alguns desses objetos aos casos de contatos com seres de outros mundos, passando por casos de abdução de pessoas por parte de seres alienígenas – com ou sem a participação de autoridades terrestres envolvidas –, tudo é motivo de acobertamento.
No Brasil, durante o memorável encontro de 20 maio de 2005, entre alguns dos mais respeitados ufólogos brasileiros – A. J. Gevaerd, Rafael Cury, Claudeir Covo, Marco A. Petit, Fernando Ramalho e Robert A. Beck, todos da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) – com autoridades da Força Aérea Brasileira (FAB), não só se falou sem ressalvas de Ufologia, como também foram expostos importantes documentos que revelam o envolvimento da Aeronáutica na pesquisa ufológica [Ver UFO 111].
Tema fugidio — Na ocasião foi dado um grande passo no sentido de abrir as portas para o diálogo e a troca de informações entre os ufólogos civis e as forças militares. Mas mesmo deixando de lado os exageros que possa m haver numa conspiração do silêncio, fica a impressão de que há algo mais no ar, que muita coisa permanece oculta e que ainda poderá vir à tona. Dentre os temas que vêm se desdobrando na Ufologia desde o fim da década de 40 – e são muitos, desde o mistério do Triângulo das Bermudas até aparições marianas, passando por contatos com seres intraterrestres, mutilações de animais, os enigmáticos círculos nas plantações inglesas etc, – um dos mais fugidios e passíveis de controvérsia são, sem dúvida, os homens de preto, men in black ou simplesmente MIBs, figuras estranhas que desde os primórdios da Era Moderna dos Discos Voadores parecem perseguir testemunhas de aparições de UFOs ou pesquisadores do fenômeno. Figuras que, inevitavelmente, alimentam a tese de conspiração.
Escrever sobre os MIBs é perigoso. Não porque o autor corra o risco de ser assediado por um deles – embora, segundo alguns escritores, isso aconteça –, mas porque se ele não tomar cuidado cairá na armadilha da fantasia, num emaranhado de depoimentos e histórias às vezes inverossímeis. Enfim, um verdadeiro novelo embaralhado onde não se encontra mais o fio da meada. Se raros são os casos na Ufologia em que se conseguiu colher algum material físico proveniente de um UFO – embora menos raras sejam as marcas físicas deixadas no solo por aproximação e aterrissagem, e nas testemunhas, como queimaduras, sinais estranhos no corpo e outros efeitos colaterais às vezes nocivos, como irritação nos olhos, inchaço de determinados órgãos, perda de apetite etc –, muito mais difícil seria oferecer uma prova, mínima que seja, da visita de um suposto homem de preto.
Hollywood e conspiração — De fato, quem afinal já tirou uma foto de tal visitante ou dos carros pretos, antigos e fora de linha que parecem usar? Quem já colheu um pedaço de tecido de suas roupas, que, segundo alguns, parece ser feita de material lustroso desconhecido? Que se saiba, também nunca foi gravada uma conversa entre as testemunhas e tais visitantes intimidadores, que às vezes falam com sotaque estrangeiro, noutras com voz vagarosa ou metálica. A evidência aqui é zero. E, no entanto, há casos que não podem ser simplesmente descartados pelo pesquisador, nos quais a credibilidade da testemunha não deve ser questionada, principalmente quando demonstra, em seu comportamento após um encontro com supostos agentes desconhecidos, um pavor genuíno, uma quase fobia por qualquer conversa que envolva UFOs e ETs. Ou ainda a reação oposta: resolve falar e se expor, denunciando seu assédio, apesar do medo e mesmo sem poder apontar o dedo para esse ou aquele órgão específico como responsável pela indesejável visita.
Parece, então, que ao ufólogo interessado em desvendar esse mistério dentro do mistério maior, do próprio Fenômeno UFO, resta apenas a fé, na falta de uma expressão melhor. É, no entanto, uma fé instintiva, uma útil ferramenta para o pesquisador que quiser peneirar entre as pilhas de informações, historietas e rumores até encontrar algo que, em seu íntimo, mereça atenção. Sem essa ferramenta, muito pouco trabalho pode ser feito. Como acontece com freqüência, Hollywood e seus efeitos especiais prestam ao mesmo tempo um serviço e um desserviço à Ufologia. Se os dois longa-metragens – Homens de Preto [1997] e Homens de Preto II [2002] – oferecem ao público a divulgação do tema, talvez levando muita gente a procurar mais informação sobre o assunto, por outro lado, apresenta uma versão fechada do problema, não permitindo margem para elucubração.
Além da ficção — Aficionados das conspirações, sem grandes conhecimentos de Ufologia, correm o risco de levar a sério e interpretar quase literalmente a idéia de que possa existir uma organização chamada Homens de Preto, que quer limpar a Terra “da escória do universo”, segundo expressão muito usada nos referidos filmes. Os céticos, por sua vez, que viram as produções e nada mais as consideraram além de ficção – como de fato são –, têm agora mais argumentos para descartar qualquer depoimento de alguém que se envolveu com o Fenômeno UFO e que tenha sofrido algum tipo de assédio ou ameaça por parte de um agente desconhecido, de caráter oficial ou extra-oficial – bem como de pesquisadores que não medem esforços para conscientizar a população sobre o assunto. Se há ou não uma conspiração para acobertar a verdade sobre os UFOs, não podemos afirmar com plena convicção.
Mas, em caso afirmativo, certamente o cinema estaria passível de ser usado como veículo dessa política. Ficção e conspiração à parte, minhas fontes de pesquisa não incluem nenhuma vítima pessoal de assédio por MIBs ou outros visitantes ameaçadores. Se estão por aí, uma conversa em primeira-mão com tais pessoas seria muito bem-vinda. E eu me comprometo, caso alguém me procure com uma história séria a revelar, a redigir uma matéria sobre o episódio.
Para preparar esta edição especial revirei livros e mais livros, na maioria antigos, até compilar material que fosse digno do primor com que os editores convidados até aqui vêm escrevendo suas revistas, com seus temas específicos. É encontrar na internet páginas e páginas de leitura a respeito dos MIBs, mas é difícil escolher o que é sério. A literatura ufológica convencional, a boa literatura impressa, está muito mais equipada. Quero agradecer ao editor de UFO Especial, A. J. Gevaerd, amigo e figura inspiradora, pela paciência quanto à demora na preparação dos textos e pelo incentivo inabalável no decorrer não só deste trabalho, mas de tudo o que escrevo – ou tento escrever – para a Ufologia. Agradeço também a Guillermo Giménez, da Argentina, por sua brilhante contribuição a esta edição especial. Eu não poderia deixar de agradecer também a Rafael Cury, amigo, conselheiro especial de UFO e presidente do Núcleo de Pesquisas Ufológicas (NPU), por ter me apresentado ao simpaticíssimo Fabio Zerpa, outro argentino, grande expoente da Ufologia e pesquisador muito bem informado acerca dos homens de preto. Embora, por absoluta falta de tempo e alguns desencontros, nossa entrevista não tenha se concretizado, as conversas de bastidores e nos jantares ufológicos durante o mais recente Diálogo com o Universo, em Curitiba (PR), me inspiraram de maneira extraordinária.
Finalmente, agradeço à minha grande amiga e colega de jornada ufológica, Silvana Orbite, pelo incentivo durante a redação deste trabalho e por sua colaboração com material de referência. Aos leitores, peço abertura de espírito e ao mesmo tempo um olhar crítico antes de mergulhar nas páginas seguintes. Quando se lê sobre os MIBs, a sensação é a de tentar agarrar uma pedra de gelo: você acha que está segura, e quando menos espera, ela escorrega de novo. Como na Ufologia de um modo geral, aqui também ninguém tem a palavra final. E quanto mais se pesquisa, mais forte é a impressão de que quase nada se sabe. Boa leitura.