A idéia de ETs perversos invadindo a Terra, destruindo nossas instalações militares, de energia e outras, e arrasando nosso modo de vida, foi já aproveitada em incontáveis produções. Vale destacar algumas, especialmente aquelas que, de tão divertidas, acabam incentivando o espectador a torcer pelos invasores. Marte Ataca [1996] foi uma maravilhosa paródia aos filmes de invasão, especialmente aqueles que insistem em patriotadas e clichês mais do que gastos. Apela fortemente para estereótipos, como o militar paranóico e guerreiro, o cientista otimista e até ingênuo, o político esperto e malandro, e o assessor ambicioso desse último, que em nome de uma noite de prazer, deixa tudo a perder. O forte dessa divertidíssima produção é mostrar o lado boçal e medíocre dos seres humanos, e somos levados até a nos solidarizar com a velhinha, que gargalha gostosamente diante da destruição do Congresso norte-americano. Cena, sem dúvida, que é um forte testemunho do prestígio da classe política em geral.
As duas produções de MIB, Homens de Preto [1997 e 2002], subiram um degrau na paródia de uma invasão, mostrando com um humor muito mais refinado os alienígenas vivendo entre nós, e a ação de um grupo secreto de agentes que luta para manter tudo em segredo. Destaque para a fenomenal atuação dos atores Tommy Lee Jones e Wil Smith, para as celebridades citadas como sendo alienígenas – incluindo o cineasta Steven Spielberg, que alguns ainda teimam, infelizmente, em classificar como um contactado –, e para uma particular cena no segundo filme. É muito simbólica e sutil a situação dos pequenos alienígenas no armário, e poucas pessoas imaginam o que aqueles extraterrestres podem representar, por incrível que pareça, a nós mesmos. Quem quer que seja esse “nós”, deixo para cada leitor decidir, por conta da imaginação e interpretação de quem estiver lendo.
Outras produções mostraram de diversos pontos de vista a tragédia que seria uma invasão alienígena. Arquivo-X [1998], por exemplo, em seu filme mostrou a possibilidade de um misto de colonização e invasão de forma assustadora e realista, digna da mitologia desse clássico, que está de volta a televisão aberta brasileira graças a excelente iniciativa da Rede 21, sendo apresentado nas noites de domingo. Outra famosa produção, de 1996, sequer merece ser aqui citada, devido ao roteiro absolutamente banal, e um dos exemplos mais primários de patriotada de quem sempre se apresenta como salvador do mundo. A melhor e mais trágica história sobre a invasão alienígena da Terra segue sendo A Guerra dos Mundos, clássico de H. G. Wells publicado ao final do século XIX, famoso por sua transmissão, realizada por Orson Welles em 30 de outubro de 1938.
A transmissão, feita no formato de um noticiário, mesmo anunciada previamente como adaptação de uma obra de ficção, causou pânico. As pessoas que mudavam de estação e subitamente ouviram que meteoros estavam caindo nas proximidades de Nova York, para onde a ação foi transferida, no lugar da Inglaterra vitoriana do texto original. Os “meteoros” continham cilindros de onde saíam as máquinas marcianas com seus raios de calor, destruindo tudo que estivesse na frente. Na verdade, o pânico não foi tão grande como o sugerido, mas Welles de qualquer forma teve que se explicar às autoridades. Essa transmissão de Welles e da rede de rádio norte-americana CBS foi alvo de vários processos judiciais, gerou o programa de Defesa Civil dos Estados Unidos, e até foi citada por Hitler como prova da fraqueza dos americanos. Foi também objeto do primeiro estudo acadêmico sobre histeria de massas. A narrativa dos invasores imbatíveis que ao final são destruídos por germes terrenos foi para os cinemas em uma brilhante adaptação em 1953. Mais recentemente, no segundo volume da história em quadrinhos As Aventuras da Liga Extraordinária [1999], os clássicos personagens Allan Quatermain, capitão Nemo, Homem Invisível, Dr. Jekyll e Sr. Hyde, e Mina Murray enfrentam a invasão marciana imaginada pelo gênio de H. G. Wells.
Finalmente, o cineasta cujo nome mais está ligado a Ficção Científica, Steven Spielberg, produziu A Guerra dos Mundos [2005], nova adaptação cinematográfica da obra de Wells, com Tom Cruise como um homem comum atingido, como incontáveis outros, pela invasão alienígena, e Dakota Fanning, a Allie de Taken [2002], como sua filha. Sabe-se pouco sobre os intrusos, apenas que nessa adaptação eles não vêm de Marte. Mas o encontro de uma das histórias mais extraordinárias já imaginadas com o cineasta mais prolífico da Ficção Científica, só poderá render um novo marco no cinema.