O cosmonauta soviético Aleksei Arkhipovich Leonov foi o primeiro homem a “caminhar” no espaço. Um dos grandes nomes da exploração espacial soviética e mundial, Leonov subiu à órbita terrestre pela primeira vez em 1965, a bordo da nave Voskhod 2, e realizou, em 18 de março daquele ano, o primeiro passeio fora de uma nave. Ele passou 12 minutos flutuando no espaço, ligado ao veículo por um tubo, como um cordão umbilical. O passeio de Leonov tornou-se ainda mais emblemático devido às dificuldades que o cosmonauta enfrentou para retornar à nave, pois seu traje pressurizado inflou de tal forma que ele não passava pela escotilha pela qual havia saído. O retorno seguro só foi possível após uma manobra arriscada, em que ele diminuiu apressãodentro da própria roupa para que ela voltasse a um tamanho que permitisse sua reentrada, ficando nessa situação por aflitivos 15 minutos.
Mas se sua consagrada carreira especial lhe conferiu o status de herói da então União Soviética, atual Rússia, foi sua posição quanto à presença alienígena na Terra que lhe deu a imagem de ser o grande porta-voz do governo quando o assunto eram os discos voadores — e raramente para admitir sua existência. Ao longo de sua trajetória, Leonov participou de centenas de seminários e concedeu inúmeras entrevistas nas quais a questão ufológica sempre esteve presente de uma forma ou de outra. Neste artigo, vamos mostrar as variações de opinião do cosmonauta sobre a ação de outras inteligências cósmicas na Terra, e, independentemente de suas verdadeiras crenças, revelar algumas informações anteriormente indisponíveis no Ocidente sobre esse ser humano ímpar, corajoso, inteligente e muito complicado — um dos primeiros cosmonautas soviéticos, um dos últimos remanescentes dos exploradores espaciais originais.
Nossa pesquisa sobre o cosmonauta e seus pontos de vista sobre UFOs começa com um relatório liberado pelo Departamento de Inteligência dos Estados Unidos (DIA). Embora o relatório número 2.723.209-70 seja datado de 19 de agosto de 1970, as informações contidas no documento remontam a 18 de maio daquele ano. Seu tema é o desenvolvimento do espaço soviético e o país em questão é o Japão. Lá, na Universidade Tokai, em Kanagawa, Leonov estava proferindo uma palestra quando falou sobre as experiências soviéticas no espaço e os futuros planos da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em relação à exploração do Sistema Solar, incluindo uma estação espacial gigantesca que se planejava colocar em órbita. Ele tratou sobre diversos assuntos naquele dia, um dos quais tinha a ver com a melhoria do equipamento de freio da cápsula espacial soviética. Outro, com a confirmação dos dados sobre a Lua informados pelos norte-americanos, que pisaram pela primeira vez no satélite em 20 de julho de 1969, quase um ano antes da palestra de Leonov no Japão.
Negativa de fatos evidentes
Curiosamente, sem que seja arguido, Leonov também expressou no Japão certa descrença nos UFOs durante aquela conferência, naturalmente por ter sido instruído a desinformar o mundo sobre avistamentos de discos voadores na URSS. O fato era parte de seu padrão de comportamento em encontros públicos — ora negar, ora admitir coisas relativas ao tema. Hoje se sabe que, dois anos antes de seu discurso na Universidade Tokai, uma tentativa organizada por cientistas e investigadores militares soviéticos para conduzir uma pesquisa sobre UFOs de forma independente fora esmagada impiedosamente no país, aparentemente com a participação de Leonov, que não queria ver o tema público. Assim, UFOs continuaram a ser um assunto tabu na União Soviética, enquanto sua manifestação ocorria de forma cada vez mais crescente e em plena luz do dia, com minucioso acompanhamento dos fatos pela agência espacial do país, à qual, obviamente, Leonov era ligado.
Ao longo de sua palestra, após declarar que “os astronautas norte-americanos que pousaram na Lua só confirmaram o que já sabíamos”, Leonov novamente se dirigiu ao público japonês falando sobre os UFOs de maneira mais clara. Mas o orador apenas disse que não acreditava na existência deles e questionou por que, se realmente existissem, eram vistos apenas sobre os Estados Unidos, França e Itália? Aleksei Arkhipovich Leonov então afirmou que não havia registros de UFOs feitos em qualquer um dos observatórios soviéticos, mantidos por técnicos altamente treinados. A verdade, no entanto, é bem diferente disso, como hoje se sabe: astrônomos e técnicos trabalhando em estações de radar, postos de radioastronomia e observatórios astronômicos soviéticos, hoje russos, registraram incontáveis casos de avistamentos ufológicos dos anos 60 aos 90. Leonov sabia disso, evidentemente, mas fazia seu papel de desinformante.
A maneira com que os soviéticos esconderam o fato de que astrônomos e técnicos viram e detectaram UFOs em abundância é prova da capacidade política do acobertamento ufológico no país. O livro UFOs na Rússia, Antes e Depois da Queda do Comunismo [Biblioteca UFO, 2010], destes autores, tem um capítulo que lista inúmeros relatos de discos voadores observados por astrônomos soviéticos, todos cientistas que receberam formação superior na área. Algumas de observações importantes haviam sido publicadas na mídia soviética na década de 60, bem antes de Leonov embarcar para o Japão em seu périplo antiufológico. No entanto, para tentar sepultar o assunto, o jornal Pravda afirmou, em 29 de fevereiro de 1968, que os astrônomos que observavam cuidadosamente o céu do país dia e noite nunca tinham visto discos voadores. O fato é que tanto o cosmonauta quanto o jornal esconderam o verdadeiro estado das coisas — e a história da pesquisa soviética do Fenômeno UFO prova que os astrônomos estavam interessados sim em discos voadores vistos e relatados na União Soviética.
Revelações décadas depois
Aquela foi uma tentativa de brutal desinformação, mas intencional? Sendo um funcionário de alto escalão do programa espacial soviético, Leonov sabia o que realmente estava acontecendo nos observatórios e estava simplesmente seguindo ordens. Acredita-se que, mesmo em 1970, ele já tinha amplo conhecimento de avistamentos de UFOs relatados por seus colegas cosmonautas. Em 23 de março de 2005, por exemplo, 14 anos após a desintegração da URSS, Leonov foi entrevistado pela publicação Drugoye Vremya, em homenagem ao 40º aniversário de sua caminhada no espaço. Na ocasião, ele disse que “todos os humanos querem muito que haja alguém além de nós no universo, mas que, infelizmente, não há vida extraterrestre inteligente no Sistema Solar”. E acrescentou: “Eu declaro isso com toda a responsabilidade. Como militar, presidi uma comissão para a investigação de fenômenos espaciais anômalos e garanto que nem mesmo uma ocorrência foi estabelecida como real por nós”.
Aleksei Arkhipovich Leonov disse ainda que objetos não identificados observados em nosso planeta, em geral, tinham a ver com fenômenos meteorológicos especiais ou com lançamentos de foguetes, quando seus escapamentos tomavam formas extremamente peculiares nas camadas superiores da atmosfera. “Cruzes com anéis gigantescos ao seu redor, especialmente no clima claro de inverno, podem ser observadas por um período prolongado de tempo na área do Cosmódromo de Plesetsk, na região de Saratov e sobre Baikonur após o lançamento dos veículos lançadores Soyuz. Muitas pessoas as viram e acharam que os anéis eram UFOs. A história foi passada adiante e, assim, lendas nasceram”, esclareceu o cosmonauta.
Monumentos na Terra demonstram que alguém visitou nosso planeta há muito tempo (…) A religião tem uma base comum, que é a iluminação. Do Hinduísmo ao Cristianismo, vemos histórias de alguém que chegou voando e depois subiu aos céus
Esta longa entrevista foi a primeira em que o cosmonauta mencionou uma “comissão” que ele havia presidido para investigar os UFOs. Mas, ao contrário do que se imaginou inicialmente, ele não estava falando do Projeto Setka, um programa militar oficial supersecreto para a pesquisa acadêmica dos UFOs, mantido pela então URSS por quase uma década. Não, Leonov estava falando de outra iniciativa soviética de investigar a ação na Terra de outras espécies cósmicas. Mas que comissão era aquela que ele encabeçou? Quais casos foram investigados por ela e quais foram as conclusões a que chegaram seus membros? E quem eram eles? Estas são perguntas que estes autores passaram a perseguir a fim de terem-nas respondidas.
Em 2006, o cosmonauta foi entrevistado novamente, desta vez pela revista Biznes, na qual pareceu ter emitido palavras cuidadosamente escolhidas — outra vez ele afirmou que havia presidido, muitos anos antes, uma comissão que pesquisava objetos voadores não identificados. Leonov disse à Biznes que, com certeza, no Sistema Solar não havia vida inteligente além da Terra. “Pode haver vida microbiana, já que água foi descoberta em Marte, mas não humana ou inteligente”. Ele também afirmou que existe vida no universo, mas fora do Sistema Solar, e que ela estava fora de nosso alcance. “A estrela mais próxima de nós fica a quatro anos-luz de distância. Imagine viajar quatro anos na velocidade da luz para se chegar lá, coisa que não estamos qualificados a fazer”. Mas, surpreendentemente, ele afirmou pela primeira ter certeza de que extraterrestres já visitaram a Terra. “Todas as religiões do mundo têm depoimentos deles. Para os católicos, por exemplo, um ser iluminado chegou voando, deixou seguidores e depois subiu, ou seja, voou para longe”. Não poderia ter sido mais claro, mas por que a mudança de postura?
A entrevista de 2009
Em 29 de abril de 2009, o site russo Kaleidoskop publicou uma nova entrevista com Aleksei Arkhipovich Leonov, em que ele novamente oscilou em suas respostas. As informações veiculadas ali eram intrigantes porque o entrevistado estava claramente tentando desacreditar Marina Popovich, distinta piloto de testes, cientista e ufóloga russa, e também contradisse outros cosmonautas, colegas seus, que relataram avistamentos de UFOs. Entre outras coisas, afirmou o seguinte à Kaleidoskop: “Quando trabalhei no Centro de Treinamento de Cosmonautas, dirigi uma comissão de pesquisas de UFOs e colhemos todas as evidências que pudemos. Mas, infelizmente, não houve um só episódio ufológico que não levantasse dúvidas. No entanto, quando ouvimos Marina Popovich, temos uma noção animadora de que não só os discos voadores voam em torno de nós, como também que humanoides extraterrestres andam por aí”. Era claro o sarcasmo de Leonov para com aqueles que ele não considerava à altura da pesquisa científica do fenômeno.
Em seguida, Leonov reiterou à Kaleidoskop que não havia vida inteligente no Sistema Solar. “Há vida que pode ter formas mais simples, mas, em nosso entendimento, não em nível inteligente. Existem vários testemunhos, mas nenhuma comprovação científica quanto à sua existência. Ao mesmo tempo, há inúmeros monumentos construídos na Terra que demonstram que alguém visitou nosso planeta há muito tempo”. E completou, para surpresa de todos: “No meu entendimento, a religião tem uma base comum, que é a iluminação, a ascensão. Do Hinduísmo ao Cristianismo Ortodoxo Russo, vemos histórias de alguém que chegou voando, juntou discípulos e depois subiu aos céus entre trovões e relâmpagos”. Leonov tratando da Teoria dos Antigos Astronautas? Sim, ele teria vasto conhecimento do assunto, mas como isso se encaixa em seu repertório de porta-voz governamental para desinformação ufológica?
Embora claro quanto à manifestação extraterrestre no passado da Terra, mostrando uma mudança gradual de seu discurso com relação a 1970, Leonov foi ainda mais objetivo quando tratou de casos de avistamentos ufológicos por seus colegas cosmonautas. “Fala-se muito que [Georgii Mikhailovich] Grechko tenha visto UFOs durante um voo da Soyuz. E alega-se também que [Vladimir] Kovalenok viu e acenou para extraterrestres durante uma missão da Salyut”, disse referindo-se a casos clássicos da Ufologia Espacial Soviética. Mas Leonov mostrou-se contraditório quando questionado sobre o grande número de avistamentos de UFOs na atualidade. O entrevistado afirmou que, “na verdade, quando se começa a olhar o tema em profundidade, verifica-se que esses objetos são nossos, feitos por seres humanos. Em alguns casos, são recipientes e garrafas de alumínio duro polido que foram jogados para fora da estação espacial, e que, vistos a distância, poderiam ser confundidos com UFOs”.
Em seguida, Leonov mencionou novamente Marina Popovich de forma pouco elegante, contando um caso que teria ocorrido dez anos antes. “Marina, que hoje é a presidente do colegiado de ufólogos da Ásia Central e do Cazaquistão, me acordou às 03h00 em certa noite e me alertou para que olhasse para um UFO sobre meu bairro. Corri para a varanda e lá havia uma luz que se movia sobre a floresta. Eu disse a Marina que estavam construindo um prédio lá e que estavam usando um grande guindaste horizontal de 22 andares de altura, mas ela insistiu que era um objeto voador não identificado”. E continuou: “Um mês depois, houve um congresso ufológico em São Petersburgo, após o qual eu li as declarações de Marina na revista Znaniye. Ela insistiu que o que havia surgido sobre minha região era um artefato de origem não terrestre”.
Mais perguntas surgem após se ler a entrevista de Leonov à Kaleidoskop. Por exemplo, por que ele ataca a credibilidade de Marina e silencia quanto a de seu ex-marido, Pavel Popovich, também um dos cosmonautas mais famosos da Rússia, ex-colega do próprio Leonov e ufólogo proeminente que chefiou a Souyzufotsentr, entidade que reúne tripulantes das missões Soyuz que alegam ter tido avistamentos no espaço? O que quer Leonov com essa seletividade? Ele sabe que Pavel Popovich testemunhou um UFO e ajudou a coordenar um grupo expedicionário civil de pesquisa de fenômenos anômalos. Mas por que Leonov permanece em silêncio sobre Popovich e foi duro contra Marina? A resposta é que parece que a pesquisa dela revelou algo que o incomodou de maneira muito profunda, enquanto Pavel apenas compartilhava informações com seus colegas, sem fazer afirmações mais contundentes sobre UFOs.
Outras entrevistas
Em 29 de maio de 2009, uma nova entrevista com Leonov foi publicada pelo jornal Izvestiya. Nela, o jornalista lhe perguntou se ufólogos já haviam tentado se comunicar com ele, ao que Leonov respondeu com habitual dureza: “Sim, e estou farto deles. Hoje não existe sequer uma ocorrência dita ufológica para a qual não se possa encontrar uma explicação natural. Mas as pessoas não querem crer nisso”. Enfático, continuou: “Não excluo a possibilidade de existência de extraterrestres e acho que tenham visitado a Terra há algum tempo, pois há muitos sinais de interferência de seres mais desenvolvidos do que nós em nosso planeta”. Mais uma vez vemos um Leonov contraditório, como se fosse o porta-voz de uma política de desinformação ou contrainformação sobre os UFOs, que ora nega, ora admite com ressalvas o fenômeno.
Não excluo a possibilidade de existência de civilizações extraterrestres e acho que algumas delas tenham visitado a Terra há algum tempo, pois há muitos sinais de interferência de seres mais desenvolvidos do que nós em nosso planeta
No dia seguinte, 30 de maio, outra entrevista foi publicada no jornal ucraniano Fakty i Kommentarii. Nela, perguntaram a Leonov se havia visto UFOs quando esteve no espaço, e ele voltou a mencionar a comissão de pesquisas que dirigiu no passado, mas novamente sem dar detalhes — também reiterou que não houve um único fato supostamente ufológico que não levantasse dúvidas, mas não forneceu uma só resposta direta às perguntas do entrevistador. Entretanto, acrescentou que estava certo de que no Sistema Solar não havia vida inteligente, com exceção do planeta Terra. “O ser humano é o ápice da obra do Criador e, evidentemente, o nosso planeta também é”, declarou. Leonov foi entrevistado igualmente pelo Russia Today em 20 de julho de 2009. Quando novamente perguntado sobre os UFOs, o cosmonauta respondeu de forma ainda mais áspera: “A crença em UFOs é tão estúpida quanto a alegação de que os norte-americanos nunca pousaram na Lua”.
Mas, curiosamente, Aleksei Arkhipovich Leonov disse que, em sua opinião, ainda há um fenômeno que não pode ser explicado: “São esses círculos nas plantações — eles não são uma farsa e não se pode fraudá-los. Mas que são eles, ninguém até hoje foi capaz de explicar”. Esta afirmação impactou a opinião pública da Rússia, mesmo já habituada às contradições do cosmonauta, chegando a haver um alento de que ele fosse, enfim, fazer alguma revelação bombástica sobre a presença alienígena na Terra. Não fez.
Experiências de Marina Popovich
Reconhecida piloto de testes, Marina Popovich é também cientista com doutorado em tecnologia de voo pela Universidade de Leningrado. Além disso, é tenente-coronel e aviadora altamente condecorada na antiga URSS e atual Rússia. Hoje Marina Popovich Lavrentyevna, novamente casada, dirige uma empresa de aviação privada. Ela também é jornalista e autora de seis livros, e foi justamente por causa de seus esforços que os ufólogos russos conseguiram descobrir muitos fatos ocultos da pesquisa governamental de seu país. Isso parece irritar Leonov, pois se contrapõe ao seu papel.
Marina observou UFOs pessoalmente três vezes em sua vida, uma delas durante uma expedição às Montanhas Pamir — havia 40 pessoas na expedição, incluindo sua filha, e todos viram um UFO a partir de uma altitude de 4.000 m sobre uma das montanhas. Era um objeto esférico que navegava sobre um desfiladeiro emitindo um raio de luz. Outra vez, ela e seu ex-marido, Pa
vel Popovich, observaram um UFO gigante sobre a área de Mitino — era um artefato enorme e alongado de cerca de 250 m de comprimento. “Um avião voando abaixo dele quase nem podia ser visto”, disse. Marina estimou que o objeto estivesse a uma altitude de 20 km. O UFO deixou para trás um rastro de fumaça.
A observação ufológica de Marina Popovich a qual Leonov se referiu sarcasticamente em suas entrevistas é a que narramos a seguir. Nossa informação sobre o avistamento veio de uma entrevista da piloto ao jornal Anomaliya, em 1996. A última vez que Marina observou um UFO foi em junho daquele ano, às 03h00. O artefato não produzia som algum, mas fazia manobras complexas. Ele também emitia rajadas pulsantes de luz. Marina acordou seu marido e convidados e todos também observaram o objeto. Foi quando ligou ao colega Leonov para alertá-lo da presença da nave nas imediações e pedir que ele também a observasse.
Um contador de histórias?
Marina Popovich era uma observadora experiente. Pilotou todas as aeronaves soviéticas, desde aviões AN-22 de transporte até jatos supersônicos Mig-21, e tem 90 registros de voo. Quando estes autores a conheceram, em 1991, ela tinha certeza de que os arquivos secretos soviéticos sobre UFOs se tornariam públicos um dia. Na época, Marina tornou-se um tipo de porta-voz dos grupos de estudos ufológicos soviéticos, o que contribuiu para os desentendimentos com Leonov. Ela declarava abertamente que não levaria muito tempo para que todos os documentos secretos sobre discos voadores no país fossem abertos para inspeção pública. Ela tinha conhecimento de mais de 14.000 avistamentos de UFOs que ocorreram na URSS entre 1966 e 1991.
Enquanto escreviam este artigo, os autores pesquisaram dezenas de fontes russas e ucranianas para obterem mais informações sobre a icônica figura de Aleksei Arkhipovich Leonov, que certamente sabia tanto quanto escondia sobre discos voadores antes e depois da Cortina de Ferro. Um dos fatos determinantes para se afirmar isso foi que Leonov disse ao jornal russo Izvestiya, em 29 de maio de 2009, que ele voltava a ter dúvidas sobre a existência de discos voadores. Dizendo-se não se considerar uma personalidade no país, afirmou que já tinha tido crença na existência dos UFOs, mas que a abandonou por falta de evidências físicas. A afirmação vai de encontro a muitas que ele havia feito no passado, alegando justamente o oposto. Sua habitual oscilação, mesmo em tempos de democracia e modernidade…
Apesar de sua ilustre carreira e posição na hierarquia militar e espacial em seu país, Leonov não era apenas um homo sovieticus. Ele nasceu na Sibéria, em maio de 1934, e seu pai foi preso em 1937 acusado de ser “inimigo do povo”. Dois anos mais tarde foi absolvido, mas aqueles foram anos muito duros para o cosmonauta e sua família de sete irmãos — eles eram “membros da família de um inimigo do povo”, os mais baixos da sociedade da época. Já crescido, os familiares esperavam que Leonov se tornasse artista, mas ele amava a aviação e decidiu estudar engenharia aeronáutica. Em 1959, com 25 anos de idade, foi escolhido como um dos 20 primeiros cosmonautas da então URSS. Além de ter sido a primeira pessoa a sair de uma nave espacial e andar no espaço, o cosmonauta também foi comandante da Soyuz, que participou do primeiro encontro entre uma nave espacial soviética e uma norte-americana, em 1975. Herói em seu país, astronauta, cientista, escritor, artista e pintor talentoso, ele é, sim, uma lenda viva.
Já idoso e um tanto esquecido pela população que o consagrou, o cosmonauta hoje aceita a existência alienígenas, mas acredita que seja uma ameaça. Apesar de sua idade, ele continua a ser um pioneiro em muitos campos e altamente respeitado por todos que o conheceram ou trabalharam com ele. Aleksei Arkhipovich Leonov é um verdadeiro ícone da Rússia em todos os sentidos da palavra. Não restam dúvidas de que este homem foi encarregado pelo governo comunista de ser o repositório de informações altamente confidenciais sobre a ação de discos voadores e seus tripulantes na Terra. Sua trajetória, ora admitindo saber algo a respeito, ora negando, mostra que ele balançou ao vento das administrações que se sucederam, mas, inquebrantável, mantém com ele o maior segredo da espécie humana.