
Ainda nem havia acalmado o furacão midiático causado pela publicação no Diário Oficial da União da Portaria 551/GC3, do comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Juniti Saito, em 10 de agosto, quando a Comunidade Ufológica Brasileira foi novamente surpreendida com outra notícia de grande impacto. Logo na sexta-feira seguinte, 13 de agosto, mais um lote de documentos ufológicos havia sido enviado pelo Governo ao Arquivo Nacional, em Brasília, procedimento que virou padrão desde que teve início a abertura ufológica no país. Agora, eram os registros secretos gerados pela Força Aérea Brasileira (FAB) entre os anos de 1990 e 1999.
O primeiro ufólogo a conferir a papelada, no mesmo dia da liberação, foi o membro da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e presidente da Entidade Brasileira de Estudos Extraterrestres (EBE-ET), Roberto Beck. No entanto, os papéis — quase 800 páginas — haviam acabado de chegar ao órgão e ainda estavam sendo digitalizados para disponibilização ao público, o que ainda não havia sido concluído até o fechamento desta edição. A coordenadora do Arquivo Nacional, Vivien Ishaq, estima que os trabalhos estejam finalizados em algumas semanas, e então os documentos serão publicados do Portal da Ufologia Brasileira [ufo.com.br].
No entanto, um resumo do conteúdo dos novos arquivos, de 68 páginas, foi fornecido à CBU e dá conta de que o material está dividido em 10 envelopes ou pastas contendo transcrições de conversas entre pilotos e torres de controle de tráfego aéreo, comunicados, relatórios de ocorrência e despachos oficiais. Há também muitos documentos originários da área civil, como cartas, revistas, jornais e boletins de grupos ufológicos. Mas o que mais chama a atenção é que no lote há dezenas de questionários com depoimentos de testemunhas de avistamentos ufológicos.
Atraso e más condições de trabalho
O que causou certa estranheza foi a data de remessa dos papéis ao Arquivo Nacional pelo Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica (CENDOC), como vem sendo feito até então. A primeira página do resumo tem a anotação “13 de maio de 2010”, o que significa que há três meses as pastas já estavam à disposição, mas ainda não haviam sido vistoriadas por ninguém e muito menos os documentos tinham sido convertidos para formato eletrônico. Mais estranho ainda é que, por “coincidência”, mesmo que os documentos já estivessem no Arquivo Nacional há meses, foi justamente após a publicação da Portaria 551/GC3 que se soube disso.
De qualquer forma, a demora é lamentável, mas podemos entender, pelo menos em parte, os motivos — caso não haja “coincidência” entre os fatos. Neste caso, a demora reflete a grande carga de serviço a que têm sido submetidos os servidores do Arquivo Nacional, subordinados à Casa Civil da Presidência da República. Em fevereiro, a FAB enviou à essa mesma repartição pública 50 toneladas de documentos originados no período da Ditadura. Isso, aliado às más condições do local de trabalho dos servidores e da manutenção dos arquivos, certamente contribuiu para a morosidade em disponibilizar informações tão importantes sobre a história do país. Mas os problemas não param por aí.
O Arquivo Nacional fica sediado num prédio antigo, nos fundos da Advocacia Geral da União, longe dos luxos do Palácio do Planalto, recém reformado com um gasto estimado em R$ 100 milhões. Sem ar condicionado e convivendo com problemas como goteiras e infiltrações, o ambiente força os servidores e os documentos à exposição aos rigores climáticos do Planalto Central. Essa situação já foi, inclusive, alvo de denúncia da Associação dos Servidores do órgão.
Exclusividade da Aeronáutica
Apesar da grande quantidade de material liberado pelo Governo, ainda persiste o fato de que a Aeronáutica é quase a única arma a entregar seus documentos. Ao que tudo indica, da década de 90, novamente só foram enviadas ao Arquivo Nacional informações daquele órgão. Não existe, pelo menos no resumo oferecido aos ufólogos, informação que indique material procedente da Marinha ou do Exército. Isso já era previsível, tendo em vista que, nas respostas dadas pelo Ministério da Defesa ao Requerimento de Informação da Câmara dos Deputados, o RIC 4470/2009, solicitado pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), a Marinha diz que “não possui informações referente ao assunto”. E o Exército, apesar de admitir pela primeira vez que gerou documentos sobre o Caso Varginha, em 1996 e 1997, informou que eles estão na Justiça Militar, e não em seus arquivos.
Essa questão dos documentos da Marinha e do Exército será, futuramente, alvo de novas contestações da CBU junto ao Poder Executivo. Mas, agora, o fato é que, conforme foi informado pelo ministro da Defesa Nelson Jobim, pelo menos parte do material está seguindo para o Arquivo Nacional dentro do prazo determinado, que é 31 de agosto de 2010 — na verdade, a década de 90 foi antecipada para 13 de agosto, e faltam ainda as informações da década de 2000, que certamente estão sendo preparadas pelo CENDOC.
Inventário 01/2010 (Década de 90) foi o documento do Ministério da Defesa fornecido pelos servidores do Arquivo Nacional para pré-consulta dos ufólogos, enquanto todo o conteúdo estava sendo digitalizado. Suas 68 páginas estão, de forma resumida, divididas conforme o quadro acima. Dos casos mais importantes relacionados nesse lote de documentos merecem destaque o Caso Papuda, de 1991, incluindo um relatório da Universidade de Brasília (UnB), dezenas de avistamentos com questionários feitos pela Aeronáutica durante o período do Caso Varginha, de 1996, e a Carta de Brasília, entregue pelo editor A. J. Gevaerd ao então líder do Governo Fernando Henrique, durante o I Fórum Mundial de Ufologia, em 1997, para ser entregue ao presidente. Está até hoje em resposta…
Agora aguardamos ansiosamente o fornecimento dos arquivos em sua totalidade e no formato eletrônico, para dispô-los à toda a Ufologia Brasileira.