Vênus tem o mesmo tamanho da Terra, uma composição semelhante ao nosso planeta e aproximadamente a mesma proximidade do sol. Mas os paralelos praticamente terminam aí. O planeta vizinho é muito mais quente – 460 graus Celsius na superfície – devido a um efeito estufa descontrolado causado por uma atmosfera densa e rica em dióxido de carbono e um manto de nuvens composto principalmente de gotículas de ácido sulfúrico.
O planeta gira na direção oposta da Terra (o Sol nasce no oeste), e sua superfície nunca foi vista pelo olho humano, pois é completamente obscurecida por suas margens de nuvens opacas e altamente refletivas. E agora, um grupo de cientistas conseguiu estabelecer a ligação entre as estranhas “manchas” que absorvem a radiação presentes nas nuvens de Vênus e os padrões climáticos na atmosfera do planeta.
Os investigadores que estão tentando descobrir os mistérios de Vênus conseguiram alcançar mais um avanço, recebendo informações pormenorizadas sobre como as formações misteriosas nas nuvens do planeta afetam o clima. Segundo um artigo científico publicado no The Astronomical Journal, as nuvens de Vênus possuem enigmáticas manchas escuras, chamadas de “absorventes desconhecidos” devido à sua capacidade de absorver grandes quantidades de radiação solar, o que foi descoberto pela primeira vez há um século.
Um estudo já havia concluído que as condições químicas nas nuvens de Vênus estavam dentro dos limites da habitabilidade, na camada entre 48 e 52 quilômetros, onde as temperaturas oscilam entre os zero e os 60ºC, a pressão atmosférica varia entre 0,4 a 2 atm e as nuvens são salpicadas com compostos amigáveis à vida, como enxofre, aerossóis ácidos e dióxido de carbono.
“Supõe-se que as manchas escuras sejam formadas por partículas de cloreto de ferro, alótropos sulfurosos, dióxido de enxofre e outras, mas nada disso é suficiente para explicar a sua formação e as suas capacidades de absorção”, diz Yeon Joo Lee, cientista do Centro da Astronomia e Astrofísica da Universidade Tecnológica de Berlim e autora principal do novo estudo.
Estudando as mudanças na capacidade de reflexão da luz de Vênus ao longo de “mais de uma década de observações ultravioletas do planeta” pelo telescópio espacial Hubble e pelas sondas planetárias Vênus Express, Akatsuki e Messenger, os cientistas determinaram que as nuvens do planeta absorvem a radiação solar, causando mudanças de temperatura que afetam os padrões do vento, influindo na quantidade de energia que está sendo refletida no espaço.
Prudentemente, Limaye observa que as partículas são do mesmo tamanho e têm as mesmas propriedades de absorção de luz que os microorganismos encontrados na atmosfera da Terra, e os cientistas, começando com o notável biofísico Harold Morowitz e o astrônomo Carl Sagan, especulam há muito tempo a possibilidade de que as manchas sombrias nas nuvens de Vênus sejam, de fato, vida microscópica.
Qualquer que seja sua composição, os “absorventes desconhecidos” de Vênus, de acordo com as novas medições do albedo do planeta estão afetando o clima de Vênus. Lee e seus colegas, incluindo Limaye, estudaram mudanças no albedo de Vênus usando mais de uma década de observações ultravioletas do planeta a partir de instrumentos a bordo das sondas planetárias Venus Express, Akatsuki e Messenger, além do Telescópio Espacial Hubble.
Sanjay Limaye, cientista da Universidade de Wisconsin–Madison e coautor do novo estudo citado pela revista, sublinhou também que estas partículas superabsorventes realmente se assemelham a microrganismos presentes na atmosfera da Terra. Essa observação, mais uma vez, dá a esperança de identificarmos vida no planeta misterioso.
Mais informações: Yeon Joo Lee et al. Variações de longo prazo do Albedo de 365 nm de Vênus, observado por Venus Express, Akatsuki, MESSENGER e pelo Telescópio Espacial Hubble, The Astronomical Journal (2019). DOI: 10.3847 / 1538-3881 / ab3120 Astronomical Journal
Fonte: Phys.org