A Operação Prato, que neste ano completa quatro décadas, foi a maior ação militar de investigação ufológica do mundo, cujos desdobramentos rendem manchetes até hoje. Ocorrida na Região Norte do país, principalmente no noroeste do Pará e oeste do Maranhão, a movimentação de 30 a 40 integrantes da Aeronáutica comandados pelo coronel Uyrangê Hollanda durou de setembro a dezembro de 1977, com o objetivo de elucidar relatos da população em relação às estranhas luzes que eram vistas e às vezes atacavam os moradores da região, nestes casos extraindo-lhes sangue. Na verdade, as investigações oficiais tiveram início meses antes, com uma diligência do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), atual Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), para checar a estranha manifestação de luzes na área, em especial na ilha de Colares.
Esse estranho comportamento rendeu ao fenômeno o nome de chupa-chupa, como é conhecido até hoje no norte do país, além de termos como aparelho, luz vampira e objeto. A investigação da Operação Prato e todas as suas descobertas sempre foram tratadas pela Revista UFO em detalhes e em várias edições — e nem poderia ser diferente, uma vez que a Operação é mais do que um caso ufológico, mas um acontecimento de proporções oceânicas para a Ufologia Brasileira e Mundial. Foi justamente a UFO a publicação que primeiro e mais se engajou em revelar à sociedade os fatos relativos àquela missão militar, até mesmo antes de seu editor A. J. Gevaerd ser escolhido por Hollanda para receber seu relato inédito dos fatos, em entrevista feita em 1997, o que se deu em companhia do coeditor Marco A. Petit, na própria residência do militar, em Cabo Frio.
Desde que o militar à frente de todas as ações da Operação procurou a UFO para contar sobre sua história, muitos outros detalhes têm vindo à tona, e ainda hoje, quatro décadas depois dos fatos, pesquisadores buscam novas informações, testemunhas e documentos para apoiar e dar mais corpo àquilo que todos sabemos: que a Força Aérea Brasileira (FAB) conhece, estudou e teve contato direto com UFOs na Amazônia. Entre a entrevista de Hollanda a Gevaerd e Petit e os dias correntes, também foi a UFO quem lançou, em 2004, conjuntamente com a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), a campanha “UFOs: Liberdade de Informação Já” para obter documentação oficial sobre UFOs no país, resultando na abertura de centenas de páginas e fotos da Operação Prato.
Pesquisa contínua
Para além dos fatos bombásticos que a missão militar levantou na Floresta Amazônica durante aqueles quatro meses de 1977, mais de 500 fotografias de naves e sondas ufológicas foram obtidas oficialmente pela Aeronáutica, assim como cerca de 2.000 páginas de documentos foram produzidos com relatos de testemunhas e vítimas, detalhes da investigação e outras informações, e ainda 16 horas de filmes em formato de película de 8 e 16 mm. Enfim, a Operação Prato é um fato icônico que mostra exatamente como funcionou a pesquisa ufológica feita pelos militares — para cada resposta que era descoberta, surgiam dezenas de novas perguntas a serem averiguadas. Por sorte, ainda hoje, também surgem sempre novos pesquisadores, dispostos a descobrir a verdade.
Nesse espírito de pesquisa, e porque é função da Revista UFO manter os seus leitores sempre bem informados, estamos divulgando neste artigo novas descobertas feitas sobre aquela importante missão, veiculadas no site recém-lançado Operação Prato [Endereço: operacaoprato.com], mantido por cinco pesquisadores independentes, cujo objetivo é “uma produção independente e sem fins lucrativos destinada ao estudo, investigação e divulgação de tudo [O que for] relacionado ao maior evento ufológico mundial”, conforme eles próprios. Tais descobertas agregam mais peças ao grande quebra-cabeças que se tornou a investigação do assunto, especialmente pelo tempo decorrido.
Para situarmos o leitor e seguirmos a lógica das novas informações que foram divulgadas pela equipe do operacaoprato.com, apresentamos alguns trechos do site, lembrando que se tratam de transcrições, ou seja, a redação do texto é do próprio site e não da Revista UFO. Isso é feito aqui em razão de a equipe de pesquisadores à frente daquele espaço da internet — Luiz Fernando, Raphael Pinho, P. A. Ferreira, M. A. Farias e Hélio Amado Rodrigues Aniceto — não ter respondido nenhuma das várias mensagens de e-mail enviadas pedindo-lhes diretamente um artigo sobre seus novos achados.
O site, no texto Relatório Inédito da Operação Prato e Entrevista Exclusiva com Militar que Participou da Missão, foca na saúde das testemunhas e vítimas do chupa-chupa. “Considerando que um aspecto que sempre esteve intrinsecamente ligado ao fenômeno se tratou da condição médica das pessoas que haviam se tornado supostas vítimas do ‘aparelho’ — um dos nomes dados pelas populações das áreas afetadas para o que consideravam se tratar de um objeto voador que emitia luzes capazes de lhes causar danos físicos —, a avaliação dessas possíveis vítimas por alguém habilitado e capacitado para o exercício da atividade médica é algo de grande valor para a compreensão do fenômeno. Apesar deste ter afetado pessoas presentes ao longo de uma ampla extensão territorial, até o presente momento as únicas informações mais precisas referentes ao estado clínico das supostas vítimas de ataques foram divulgadas no decorrer das últimas décadas pela médica que na época prestava seus serviços junto à população do município de Colares”.
Profissional corajosa
A médica a que se refere o site é a doutora Wellaide Cecim, que à época, apesar de bastante jovem e estar em seu primeiro trabalho após formar-se em medicina pela Universidade Federal do Pará (UFPA), já era diretora da Unidade Sanitária de Colares, a ilha onde houve o maior número de casos de ataque por parte das luzes misteriosas. A moça recém-formada se deparou com um cenário indescritível, pois os fenômenos que ficaram conhecidos como chupa-chupa passaram a acontecer assim que ela chegou à ilha, e não pararam mais. Wella
ide atendeu centenas de vítimas dos ataques e vivia cada dia mais apavorada, temendo ser também ameaçada pela luz vampira — o que terminou acontecendo, felizmente sem violência para ela. Ela deu longa entrevista à Revista UFO quando seu paradeiro foi conhecido, com declarações impressionantes sobre sua função de médica à frente aquele fenômeno. “As pessoas chegavam à unidade sanitária com queimaduras horrorosas e profundas”, disse.
Mas hoje se sabe que Wellaide Cecim não foi a única profissional de saúde a atender às vítimas do chupa-chupa. Segundo o operacaoprato.com, “o envio de uma equipe médica da Aeronáutica para as localidades afetadas pelo fenômeno está registrado nos relatórios oficiais da Operação Prato já divulgados pelo Governo Brasileiro. Essa participação, que é a única realmente comprovada, ocorreu nos dias 26 e 27 de outubro de 1977”. E é aqui que os pesquisadores do site conseguiram dar um novo passo em relação à descoberta de novos fatos, localizando e entrevistando um dos médicos citados nos relatórios da Força Aérea Brasileira (FAB), o tenente-coronel médico Pedro Ernesto Póvoa.
A Operação Prato resultou em mais de 500 fotografias de naves e sondas ufológicas, que foram obtidas oficialmente pela Aeronáutica, assim como cerca de 2.000 páginas de documentos foram produzidos com relatos de testemunhas e vítimas
Ainda sobre Wellaide, é bom que se diga que seu relacionamento nunca foi dos melhores com os militares que ocuparam a ilha de Colares, especialmente com o então capitão da intendência da Aeronáutica Uyrangê Hollanda, depois aposentado coronel. “O Hollanda não queria que eu desse atendimento às vítimas e me pedia para dizer a elas que o que as atacou era algo da natureza”, revelou à Revista UFO, acrescentando que nunca obedeceu tais ordens — que, inclusive, eram de dar remédios tranquilizantes e soníferos às pessoas atacadas, para que se acalmassem e, atordoadas, não comentassem os fatos. Wellaide Cecim, corajosamente, nunca fez isso.
Segundo o site, “nos dias atuais, o tenente-coronel médico Pedro Ernesto Póvoa exerce funções administrativas no Hospital da Aeronáutica, em Belém. Na época da missão militar, ele já possuía especialização em psiquiatria e examinou algumas das supostas vítimas do fenômeno denominado chupa-chupa. O doutor Póvoa nos recebeu e, apesar de ter estranhado que o assunto a ser tratado referia-se a fatos ocorridos há quase quatro décadas, foi bastante cortês e atencioso, e aceitou nos conceder uma entrevista a fim de esclarecer nossas dúvidas”. A entrevista abaixo foi obtida pelos pesquisadores em 31 de maio. Veja sua íntegra:
Entrevista inédita
Qual a patente do senhor hoje? Quais as funções que o senhor ainda desempenha na Aeronáutica?
Eu sou tenente-coronel médico da Reserva. Hoje trabalho com administração de assuntos de saúde do COMAR [I Comando Aéreo Regional]. Só na administração, não tenho mais atividade, até porque decidi me aposentar.
Na época da missão militar no interior do Pará, em 1977, qual era a função que o senhor desenvolvia da Aeronáutica?
Eu era tenente médico psiquiatra. Tinha acabado de ser transferido para Belém para trabalhar como psiquiatra no hospital [Hospital da Aeronáutica, na capital paraense].
Como o senhor tomou conhecimento do aparecimento de luzes no céu e de pessoas sendo “atacadas” no interior do Pará?
Bom, na realidade eu tomei conhecimento disso pela imprensa. O que aconteceu foi que eu fui convocado pelo COMAR, que é o órgão central da Aeronáutica aqui em Belém. E o COMAR me mandou para que eu fosse como psiquiatra, junto com o médico de lá, investigar a veracidade disso. Foi assim que eu tomei conhecimento.
Qual foi o objetivo da equipe médica?
Avaliar a veracidade desses fatos, do que as pessoas sentiam. Dois médicos foram na missão [O próprio doutor Póvoa e o doutor Augusto Sérgio] junto com outros militares que foram investigar outras coisas da área de Inteligência. Verificar o que estava acontecendo com as pessoas lá.
Quais as localidades em que o senhor chegou a ir e quais as condições de saúde em que as pessoas viviam na época naquela região afetada?
Eu só me lembro de Colares. Lembro-me de que teve a travessia em uma balsa [Provavelmente se tratou da travessia hidroviária por balsa entre Penhalonga e Colares] para alguma localidade de algum nome que eu não me lembro. Me chamou atenção que era um local na época sem luz elétrica, que as pessoas acendiam fogueiras na frente das casas. Bom, condições de saúde eu não vi nada que me chamasse atenção, eram pessoas do interior do Brasil. Enfim, não me lembro de ter verificado nenhuma situação de doença específica.
Que equipamentos foram levados pela equipe para a missão?
Alguns medicamentos, estetoscópio e aparelho de pressão.
Quantas pessoas o senhor chegou a atender? Quais os principais sintomas que as pessoas apresentavam?
Realmente eu não me lembro de quantas pessoas foram atendidas. Não foram muitas. As pessoas acendiam fogueiras na frente das casas para, segundo elas, espantar o “chupa-chupa”. Elas achavam que se estivesse tudo escuro elas poderiam ser atacadas. Os sintomas eram ligados ao estresse. Algumas pessoas mostravam até marcas no pescoço que poderiam ter sito causadas por qualquer outra coisa, até picada de inseto. Elas diziam que aquilo era alguma coisa que vinha do céu, mas no céu não víamos nada, só essas pessoas que viam.
O senhor chegou a examinar alguma vítima que possuía ferimentos feitos pelas luzes?
Não eram “ferimentos feitos pelas luzes”. Elas é que diziam isso. Como falei antes, a gente via algumas marcas de picada no pescoço, mais nada, e a pessoa muito estressada, com taquicardia.
O senhor tomou conhecimento de algum caso de falecimento decorrente de algum ataque?
Não, acho que ninguém tomou conhecimento de falecimento de ninguém, nem a impressa sensacionalista.
Pelo menos quatro mortes
Uma importante observação deve ser feita neste momento da entrevista. A citada médica Wellaide Cecim relatou à Revista UFO ter constatado, entre as centenas de atendimentos que prestou, pelo menos quatro óbitos em decorrência dos ataques, sendo que ela, como profissional, acompanhou três dos corpos
até Belém, um trajeto de cerca de 120 km, para o Instituto Médico Legal (IML). Aliás, foi Wellaide quem também fez outras importantes revelações acerca da onda ufológica conhecida como chupa-chupa. Primeiro, que as luzes não atacavam apenas pessoas, mas também animais, como cachorros, cavalos e bodes. E segundo que, colhendo amostras de sangue das vítimas, ela de fato constatou um quadro de anemia em quase todas elas, confirmando assim o que os populares diziam — após os ataques, por terem seu sangue sugado pelas luzes vampiras, alguns ficavam desfalecidos por alguns minutos, horas e até dias.
Disse Newton de Oliveira Cardoso: ‘Hoje eu não consigo mais pescar, plantar, subir em árvore, nada, desde que aquela coisa me atacou. Parece que aquilo sugou também minha energia, meu vigor, porque nunca mais fui o mesmo homem de antes’
O editor da Revista UFO, que fez inúmeras viagens de pesquisas a Colares e região, sempre reencontrando as antigas vítimas dos ataques, ouve deles a estarrecedora informação de que, além de sangue, o chupa-chupa parecia extrair a energia vital de suas vítimas, e de maneira permanente. Um caso clássico é o do ex-pescador Newton de Oliveira Cardoso, também conhecido como “Tenente”. “Hoje eu não consigo mais pescar, plantar, subir em árvore, nada, desde que aquela coisa me atacou. Parece que aquilo sugou também minha energia, meu vigor, porque nunca mais fui o mesmo”, declarou a Gevaerd em várias ocasiões. Mas voltemos à entrevista com o doutor Póvoa.
“Como se fosse uma epidemia”
O senhor chegou a conversar com algum médico das regiões visitadas pela missão?
Não.
O que estava por trás das reações de estresse demonstradas pelos habitantes daquelas localidades?
Acredito que nessas localidades, lá no interior, que têm pouco acesso à informação, uma pessoa relata um fato e aquilo corre como se fosse uma epidemia. Vai passando e todos os outros acabam participando dessa angústia, desse estresse. Isso acho que é muito comum em comunidades muito isoladas.
Quais atividades o senhor desenvolveu durante a missão, além da atenção médica? O senhor participou de vigílias observando o céu noturno?
Sim, ficamos lá acordados por um bom tempo. Eu devo admitir que teve um determinado horário que acabei cochilando, mas a equipe toda ficou acordada a noite inteira. A partir de um determinado horário a gente fez uma escala para que ficasse sempre alguém acordado. Como eu disse, o máximo que nós vimos foram satélites passando no céu.
O que a equipe militar achava na época? O que se contava na sede do I COMAR a respeito do aparecimento de luzes no céu e ataques a pessoas no interior do Pará?
Bom, eu não sei responder essa pergunta. Eu acho que eles achavam a mesma coisa que a gente, que aquilo não existia, mas foram lá para checar se realmente existia.
Qual o número estimado de militares que participaram da missão que ainda podem ser encontrados?
Na minha missão não foi muita gente, porque eu lembro que fomos de Variant [Carro antigo da montadora Volkswagen]. Tinha umas cinco ou seis pessoas só.
O senhor se lembra de quais são os militares que participaram da missão que ainda podem ser encontrados?
Não, porque eu tive contato com eles somente naquela missão, depois não tive mais. A não ser com o Augusto, que eu conhecia, com quem tive contato depois. Ele era médico também e a gente trabalhou em outras missões da Aeronáutica; não desse tipo. Mas os outros que eram do setor de Inteligência eu realmente não me lembro se tive contato e nem sei se ainda estão vivos ou não.
O senhor teve contato com o coronel Hollanda?
Sim, mas o coronel Hollanda não foi nessa missão; foi um outro coronel que não me lembro o nome.
Seria o coronel Camilo Ferraz de Barros?
Exatamente. Ele era do setor de Inteligência, foi chefe do A2 antes do Hollanda. Na missão foram ele [Coronel Camilo Ferraz], talvez um ou dois sargentos, eu e o Augusto. Eu só fui nessa missão. Depois eu soube que houve outras missões, mas eu não participei. Então não sei nem o que aconteceu, nem os relatórios dessas outras missões.
A permanência da equipe médica nas localidades foi inferior a 24 horas. Qual o motivo do retorno a Belém? Foi uma decisão da equipe ou foi uma ordem de algum superior?
A decisão não foi minha. Havia um coronel no comando, e como já havíamos passado uma noite lá, ele decidiu que retornaríamos a Belém.
A sequência dos fatos
Segundo os estudos da equipe de pesquisadores do site e seguindo as informações constantes em um relatório inédito obtido, a equipe médica da Aeronáutica “chegou ao povoado de Santo Antônio do Ubintuba, pertencente ao município de Vigia (PA), às 15:20 do dia 26 de outubro de 1977, acompanhada do chefe da seção de Inteligência do I Comando Aéreo Regional (COMAR) em Belém, coronel Camilo Ferraz de Barros”. Por volta das 16:00 a equipe seguiu “para um povoado ainda menor que ficava localizado nas proximidades, denominado Vila Nova do Ubintuba, onde manteve contato com pessoas que alegaram terem sido atingidas pela luz”.
‘Não havia como correr, não tinha onde se esconder, porque os aparelhos vinham e atacavam mesmo’, disse a Gevaerd a senhora Maria Firmina, agredida várias vezes pelo chupa-chupa, que também atacou inúmeros de seus vizinhos
De Ubintuba a equipe médica se deslocou para a ilha de Colares, às 19:45. Os pesquisadores ressaltam que, “durante o trajeto, às 20:05, os militares operacionais que se encontravam na mesma viatura que a equipe médica avistaram e registraram a passagem de um meteoro, o que sugere que são altas as chances de que os médicos militares também tenham presenciado essa cena”. A equipe chegou a Colares às 21:21 e após alguns minutos o coronel e os componentes da equipe médica seguiram para uma localidade chamada Pacatuba, no interior da ilha.
Pânico generalizado
Pouco depois da chegada dos médicos da Aeronáutica, um militar da equipe operacional teve contato com a senhora N. P. A, de 25 anos, que estava sob forte crise nervosa. “Ela alegou que se encontrava com uma irmã menor na cozinha da sua residência, lendo um livro de orações, quando observou a claridade [Luz] já mencionada pelas demais pessoas, sofre
ndo então a referida crise. O horário registrado para o suposto contato com a luz se deu às 22:15 e o militar, tão logo possível, fez contato com a equipe médica da Aeronáutica, que realizou o imediato atendimento da possível vítima”. Este caso, a propósito — exceto pela presença de militares no local e do atendimento médico da vítima —, é clássico na história da onda ufológica chupa-chupa.
Em geral, os ataques começaram com pessoas isoladas e mais afastadas do centro de Colares, que eram as presas mais fáceis. As agressões tiveram início no ano de 1974, escalando para proporções mais graves nos anos seguintes. Já no primeiro semestre de 1977, antes de ocorrer a Operação Prato, os ataques já eram diários, constantes, mais ousados e envolviam pessoas que inclusive residiam em áreas do pequeno centro da vila. “Não havia como correr, não tinha onde se esconder, porque os aparelhos vinham e atacavam mesmo”, disse a Gevaerd a senhora Maria Firmina, agredida várias vezes. Para tentarem se prevenir de um ataque, as pessoas, como descreveu o doutor Póvoa e outros, se reuniam em volta de grandes fogueiras, na expectativa de que assim escapassem, mas era em vão — o destino final dos poucos moradores que não fugiram da ilha por causa dos ataques era a igreja à frente da Praia de Humaitá, por ser de alvenaria. Ali o padre Alfredo de La Ó, um xerife texano que ali se instalou, recebia a todos.
A passagem de uma luz
Seguindo com o que os pesquisadores de operacaoprato.com apuraram nos novos documentos, duas horas depois, às 00:15, “ocorreu a passagem de uma luz a baixa altura, que desapareceu nas proximidades de um pequeno campo de aviação existente na ilha”. Porém, conforme está no relatório, os militares não testemunharam o avistamento, mas foram informados sobre ele por populares. Logo depois, às 00:35, e menos de três horas após os fatos envolvendo a senhora N. P. A, outra testemunha, uma mulher de 42 anos chamada M. B. L. F., “também foi atendida pela equipe médica militar por, conforme registrado pelos militares operacionais, também se apresentar sob crise nervosa”.
O relatório militar mencionou que a senhora M. B. alegou que, quando se preparava para dormir, “pressentiu uma luminosidade, conforme já descrito por outras vítimas, de forma que após a presença dessa luminosidade ela foi acometida pela mencionada crise nervosa”. A senhora foi prontamente atendida pelos médicos. Às 04:05 do dia 27 de outubro, populares observaram o deslocamento de uma intensa luz à altura das árvores. Às 08:00, os militares se deslocaram para a cidade de Vigia e, às 09:45, o coronel Camilo Ferraz contatou o prefeito da cidade. Por fim, às 09:45, ocorreu o último registro da participação de médicos militares no âmbito das investigações do fenômeno, que foi o deslocamento da equipe para a localidade de Santo Antônio do Ubintuba, de onde retornaram em seguida para Belém, juntamente com o coronel.
Documento autêntico
A equipe do site fez uma minuciosa análise nos relatórios recebidos de uma pessoa descrita como “de total confiança”, concluindo que se trata realmente de um documento autêntico, embora não original — o que o grupo tem em mãos seria a cópia de um arquivo da Força Aérea Brasileira (FAB). O documento informa que o objetivo da citada missão à área dos acontecimentos era “verificar o estado médico e psicológico das populações examinadas na Operação Prato”, que os médicos responsáveis pela elaboração do documento estiveram presentes nas localidades de Santo Antônio do Ubintuba, Colares e Vigia e que os dois médicos da equipe foram o “primeiro tenente médico da Aeronáutica doutor Pedro Ernesto Póvoa e o aspirante a oficial médico da Aeronáutica doutor Augusto Sérgio Santos de Almeida”, falecido em 2014.
O relatório também descreve o atendimento que a equipe médica realizou nas duas possíveis vítimas das luzes vampiras, e embora seus nomes não estejam disponíveis, os pesquisadores acreditam que “é extremamente provável que se tratassem das senhoras N. P. A e M. B. L. F.”. Eles analisaram o arquivo e complementam dizendo que, “se por um lado os relatórios operacionais militares foram abrangentes o suficiente para forneceram importantes informações pessoais sobre essas duas senhoras, por outro suas condições de saúde após os supostos ataques foram registradas de maneira generalizada, através do uso do termo ‘crise nervosa’”.
“Crise nervosa”, aliás, era termo que os militares comandados por Uyrangê Hollanda, e em especialmente este, gostavam de usar para definir os ataques, a despeito de estes resultarem em impressionantes cicatrizes — muitas vezes parecendo ter dias de ocorrido quando, na verdade, passaram-se apenas algumas horas do fato. A doutora Wellaide Cecim fala disso com muita firmeza: “As pessoas chegavam ao meu consultório com aquelas feridas horrorosas e eu lhes perguntava: ‘Por que demorou tanto para vir até aqui? Por que não veio no dia que isso ocorreu?’ E elas respondiam: ‘Mas doutora, isso aconteceu apenas há algumas horas. Eu vim o mais rápido que pude depois de me levantar do ataque’”, declarou a médica em entrevista à Revista UFO.
“Clima de histeria coletiva”
Vale a pena também ressaltar que o relatório descoberto indica que as duas citadas mulheres mostraram sintomas semelhantes entre si e os descrevem de forma parecida. Como ressalta o site, “tais registros, na prática, representam os únicos diagnósticos médicos individualizados de possíveis vítimas do fenômeno de que se tem conhecimento”. Os dois médicos fizeram uma análise comparativa entre os sintomas das mulheres e os de outras vítimas do fenômeno e concluíram que todos tinham a mesma origem, que eles creditaram ao que definiram como “clima de histeria coletiva”.
O texto no site ressalta ainda que “deve haver cautela no momento de se avaliar o parecer da equipe médica sobre o fenômeno luminoso. Apesar da presença das tais luzes não ter sido literalmente negada no relatório, [Os médicos] claramente descartaram que aquelas pessoas estivessem sofrendo qualquer tipo de ataque pelos supostos OVNIs, indicando que não acreditavam no fenômeno”. Isso fica claro quando lemos a entrevista do doutor Póvoa. Mas há de se levar em conta que a equipe ficou pouquíssimo tempo na região e que toda a Opera&cc
edil;ão Prato durou meses — além do que, aparentemente, o médico teve pouco ou nenhum contato com a equipe da missão militar comandada por Hollanda.
Não podemos também nos esquecer de que há outros relatórios oficiais e já amplamente conhecidos da Comunidade Ufológica Brasileira, após terem sido liberados como resultado da citada campanha “UFOs: Liberdade de Informação Já”, que confirmam sem sombra de dúvidas o avistamento de luzes por parte do pessoal militar acampado na região, e que até o próprio Hollanda deixou isso muito claro em sua entrevista a Gevaerd e Petit, dizendo, inclusive, que houve um contato próximo entre ele e um comandado seu e um ser alienígena em dezembro de 1977. Portanto, por mais sólidas e importantes que sejam essas novas informações, elas por si só não definem ou elucidam o que realmente ocorreu na região. Mas, como já foi dito, servem como novas peças deste imenso quebra-cabeças.
Quadro de forte tensão
Ainda como escreveram os pesquisadores em seu site, “apesar de ser muito provável que o referido ‘clima de histeria coletiva’ identificado pela equipe médica militar talvez não fosse o único responsável pelas inconcebíveis notícias surgidas em meio às regiões afetadas pelo fenômeno, fica claro que esta condição influenciou os habitantes locais, agravando o quadro de tensão existente. Não é possível identificar com precisão nem a proporção nem a quantidade de pessoas cujos relatos ou sintomas foram influenciados por esse aspecto, mas é certo que tal interferência ocorreu. Um ambiente social envolto por medo e pânico esteve presente durante um período significativo do fenômeno”.
Segundo estimativas não oficiais, mas próximas, a ilha de Colares, em cuja porção norte estava a vila, hoje cidade, homônima, teria na época da onda ufológica chupa-chupa cerca de 10 mil habitantes. Para Wellaide, pelo menos 90% das pessoas fugiram dali ou por medo de serem atacadas ou por não terem como sobreviver, sem poderem plantar, caçar ou pescar, igualmente com medo da luz vampira. Assim, e também na avaliação de outros pesquisadores da Operação Prato, apenas cerca de mil pessoas permaneceram na localidade — inclusive autoridades municipais abandonaram Colares com medo.
Uma comprovação explícita do pânico que tomou conta das pessoas pode ser constatada na lista de sintomas encontrados pelos médicos em seus pacientes, todos eles compatíveis com a descarga de adrenalina causada pelo medo: taquicardia, abalos musculares, taquisfigmia [Pulso rápido e cheio], taquipneia, crises de choro, sensação de calor, distúrbios da fala e encolhimento em posição fetal. Isso, claro, sem falar do mais grave: as horrorosas queimaduras que ocorriam nas pessoas em consequência dos ataques, geralmente no peito, ombros ou pescoço das vítimas. Foi contabilizado que cerca de dois terços das agressões se davam a mulheres e um terço em homens. Não há estimativa dos casos ocorridos com animais.
A importância dos dados
A Revista UFO concorda com os pesquisadores do operacaoprato.com quando estes escrevem que, “quando lemos os relatórios produzidos pelos militares operacionais da Aeronáutica, devemos observar que, apesar da existência de referências à extração de sangue e a queimaduras decorrentes de raios emitidos pelo dito ‘aparelho’, os militares geralmente se limitavam a transcrever as alegações das vítimas, não significando propriamente que estavam atestando ou confirmando aqueles acontecimentos. Até mesmo quando afirmavam existir algum tipo de marca incomum na pele de uma possível vítima, isso não significava que estavam atestando que tal marca havia sido gerada a partir da ação do dito aparelho”.
Quanto a isso, nos parece que a postura adotada pelos militares brasileiros é condizente com aquilo que fazem os militares de praticamente todas as nações — eles observam, anotam e enviam os dados para análises, sem tomar muito partido. Uma exceção, para sorte da Ufologia Brasileira, foi justamente o coronel Uyrangê Hollanda, que não se omitiu e revelou seu pensamento sobre o chupa-chupa desde o princípio. “No início eu praticamente tinha certeza de que deveria haver uma explicação para aquelas luzes; não pensava em nada extraordinário. Mas, com o passar do tempo, acampados lá nas praias de Colares, todos fomos vendo a evolução do fenômeno e nos conscientizando de que aquilo não era coisa deste mundo”, disse o militar. Enfim, as queimaduras aconteceram, os casos de anemia se repetiram, conforme atestou a doutora Wellaide Cecim, e há fotos e documentos em abundância que mostram que algo de muito sério e totalmente inexplicado aconteceu nos estados do Maranhão e Pará.
Um Brasil muito diferente
Dizem os donos do site que “a análise minuciosa dos relatórios militares claramente demonstra que uma quantidade significativa de testemunhas que se autodeclararam vítimas, alegando terem sido atingidas pela tal ‘luz’ proveniente do referido ‘aparelho. Relataram padrões bastante semelhantes, geralmente descritos como se tratando do aparecimento repentino de um objeto voador a baixa altitude, quase sempre cilíndrico e com movimentação que apresentava irregularidade, que emitia um foco luminoso na direção das testemunhas, de maneira que, após isso, costumavam dizer que sentiram sintomas compatíveis com aqueles descritos pelo relatório médico-psiquiátrico em questão”.
Lembramos, assim como também disseram os pesquisadores do operacaoprato.com, que os fatos ocorreram no final da década de 70, em uma região pobre e com pouco contato com grandes centros, em um Brasil muito diferente do de hoje. Vivíamos em um mundo muito menos tecnológico, onde mesmo em locais mais avançados as comunicações e deslocamentos não tinham as facilidades atuais. Isso também significa que, quando pessoas que vivem em regiões distantes umas das outras relatavam a mesma coisa, a chance de estarem mentindo ou expressando opiniões contaminadas é infinitamente menor, para não dizer nula. E, além disso, há testemunhos de indivíduos que, mesmo não tendo sido atacados, viram seus amigos e familiares serem vítimas dos aparelhos. A Operação Prato tratou de um fenômeno real, que atingiu pessoas reais e somente a pesquisa e persistência poderão, talvez, nos trazer as respostas que tanto buscamos.
Agradecemos a Luiz Fernando, Raphael Pinho, P. A. Ferreira, M. A. Farias e Hélio Amado Rodrigues Aniceto por res
gatarem mais estas informações e as compartilharem com a Comunidade Ufológica Brasileira.