A Astronomia segue dando passos extraordinários rumo à confirmação de que a vida não é privilégio da Terra. A NASA anunciou no último dia 18 de abril a descoberta de três mundos alienígenas considerados os mais parecidos com o nosso já detectados. São os mais novos achados do telescópio espacial Kepler, que já localizou mais de 2.700 exoplanetas candidatos desde o princípio de sua missão em 2009.
Um dos achados é designado como Kepler-69c, um mundo 1,7 vezes maior que a Terra, que orbita uma estrela similar ao Sol, a 2.700 anos-luz de distância na constelação Cygnus. É o menor exoplaneta a ser encontrado em uma estrela semelhante à nossa e tem como vizinho o planeta 69b, com o dobro do tamanho da Terra e situado mais próximo a seu sol, sendo quente demais para ser habitável.
Já no sistema Kepler-62, uma estrela laranja com somente 20% da luminosidade do Sol situada a 1.200 anos-luz daqui, foram localizados cinco planetas. Os mais interessantes são 62e e 62f, os dois mais externos e que orbitam dentro da região habitável de seu sol. Kepler 62e é 1,6 vezes maior que a Terra, levando 122 dias para completar uma órbita, enquanto 62f é somente 1,4 vezes maior que nosso planeta e seu ano dura 267 dias terrestres. Graças aos modelos estudados em computador, os cientistas afirmam que os dois mundos são rochosos e com vastas áreas de suas superfícies cobertas por oceanos. De fato alguns dos astrônomos dizem que podem ser inteiramente cobertos por água.
De acordo com Bill Borucki, principal cientista da missão Kepler: “Os mundos 62e e 62f são excelentes candidatos para procurarmos vida extraterrestre. Estes achados mostram que nos movemos rapidamente no sentido de encontrar um planeta análogo da Terra em uma estrela como o Sol”. Encontrar uma Terra alienígena é um dos grandes objetivos da Astronomia na atualidade e a NASA deve lançar em 2017 um novo telescópio, o Transiting Exoplanet Survey Satellite, ou Satélite de Vigilância de Trânsitos de Exoplanetas, a fim de vasculhar sistemas estelares próximos à caça desses mundos.
O próprio Borucki afirma, a respeito da vida no sistema Kepler-62: “Vejam nossos oceanos, são absolutamente repletos de vida. Aliás, acreditamos que a vida na Terra começou nos oceanos”. O cientista levantou a possibilidade de existirem organismos alados nos dois planetas, mesmo se forem inteiramente cobertos por água: “Aqui na Terra, temos peixes voadores e arraias que costumam planar fora da água. Peixes voadores fazem isso para escapar de predadores. Então, talvez até seres similares a pássaros tenham evoluído nesses mundos alienígenas”.
Borucki e outros cientistas dizem que em ambientes aquáticos a vida não teria muitas chances de evoluir para seres inteligentes com tecnologia, visto que não haveria acesso ao fogo, metalurgia ou eletricidade. Contudo, se um ou ambos os planetas tiverem terra firme, podem então existir as condições para o desenvolvimento de civilizações. Como os dois mundos são maiores que a Terra e a gravidade também é mais elevada, existem dúvidas se seres bípedes poderiam surgir nesses ambientes.
Kepler-62e é descrito como mais quente e possivelmente lamacento, ao passo que 62f seria mais frio, possivelmente com atmosfera mais densa, com dióxido de carbono e efeito estufa, condições talvez necessárias para manter líquido seu oceano global. Borucki afirmou até mesmo que se algum escritor de ficção científica desejar descrever uma viagem até lá, deve se assegurar de manter seus personagens utilizando equipamento de respiração na atmosfera densa.
Já Lisa Kaltenegger, do Instituto Max Plank para Astronomia e do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, participante da pesquisa responsável pela descoberta dos planetas em Kepler-62, pergunta: “Pode existir vida nesse sistema, mas seriam seres tecnológicos como nós? A vida em Kepler-62 e e 62f seria aquática e dificilmente existiria fogo, metalurgia ou eletricidade. Mas de qualquer forma devem ser belos mundos azuis circulando uma estrela alaranjada e talvez a inventividade da vida para chegar a um estágio tecnológico poderia nos surpreender”.
As extraordinárias descobertas tornam ainda mais urgente o planejamento para lançar novas missões, com o intuito não somente de caçar planetas mas de estudá-los com profundidade. Equipamentos capazes de cobrir o brilho ofuscante de sóis distantes, a fim de poder analisar a composição de mundos alienígenas adequados à vida, como os que estão sendo descobertos. Conforme o próprio Borucki comentou, há uma década a NASA propôs o Localizador de Planetas Terrestres (TPF), um estudo que previa duas maneiras de estudar atmosferas exoplanetárias, com um alcance de 30 anos-luz.
Infelizmente o financiamento para o desenvolvimento nunca se tornou realidade, mas Borucki expressa confiança de que a revolução acontecendo na Astronomia pode reavivar o projeto em um novo formato: “Com certeza em algum ponto no futuro próximo algo similar terá que ser construído. Conforme progredimos na exploração da galáxia, procurando por vida extraterrestre, temos que começar a analisar as atmosferas desses mundos alienígenas. Todos reconhecem isso”. Ele ainda acrescenta que nas atmosferas dos exoplanetas podem estar as pistas para confirmar a presença de vida, tais como dióxido de carbono, água e oxigênio. E acrescenta que compostos ainda mais complexos podem representar a maior descoberta de todos os tempos: “Se encontrarmos freons, por exemplo, estas são substâncias artificiais. Obviamente, nesse caso, trata-se de vida inteligente”.
Vídeo dos planetas oceânicos encontrados
Galeria dos sistemas Kepler-62 e Kepler-69
Infográfico detalhando as descobertas
Página oficial do telescópio Kepler
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