O anúncio feito por John Grotzinger, chefe científico da missão, de que o rover da NASA que explora a Cratera Gale em Marte teria realizado uma descoberta descrita como “para os livros de História” tem não somente incendiado a imaginação de internautas como levado a muitas discussões entre a propria comunidade científica.
O achado foi realizado com a utilização do instrumento SAM [Analisador de Amostras de Marte], composto por lasers e espectrômetros, e destinado a analisar a composição química das amostras colhidas na superfície do planeta pelo braço mecânico do robô. As palavras de Grotzinger foram: “Estamos recebendo dados do SAM, e essa descoberta será para os livros de História. Parece realmente muito bom”.
Do que se trate essa descoberta é motivo de polêmica entre a comunidade científica. Chris McKay, do Centro de Pesquisa Ames da NASa, afirma: “Será um desapontamento. A descrição que a imprensa tem feito dizendo que será algo que abalará o mundo é um exagero. Não encontramos nada com o SAM que já não conhecêssemos de missões anteriores como a Phoenix e a Viking”.
James Garvin, cientista-chefe da NASA no Centro de Voo Espacial Goddard e membro da equipe de ciência do MSL [Laboratório de Ciência de Marte], a designação técnica do Curiosity, é mais otimista: “O que Grotzinger disse é exatamente o caso. A carga científica do MSL tem feito medições sem precedentes de amostras sólidas, com incríveis implicações para nosso conhecimento sobre Marte. Mas evidentemente, como tudo em ciência, é necessário que os resultados sejam reproduzidos e validados”. Garvin ainda comenta que a equipe do rover pretende estar segura das informações que obteve antes de liberar a notícia ao mundo.
Já Gilbert Levin, professor da Universidade do Estado do Arizona, vai mais longe: “Acredito que o mínimo que se poderia chamar de \’histórico\’, conforme dito por Grotzinger, seria encontrar compostos orgânicos complexos”. Levin fala com conhecimento de causa, pois foi parte da equipe das sondas Viking da NASA, que pousaram em Marte em 1976, na primeira procura por vida extraterrestre em outro planeta. Ao lado da colega Ann Straat foi o responsável pelo experimento LR [Viking Labeled Relase]. As duas naves, pousadas em locais diferentes no planeta, apresentaram os mesmos resultados que pareciam confirmar a presença de vida marciana.
O LR misturava nutrientes às amostras colhidas do solo, e as emissões posteriores eram consistentes com estes sendo metabolizados por microorganismos. Outro instrimento, o PR [Viking Pyrolytic Release], que trabalhava com amostras aquecidas, também exibiu dados interessantes, como Levin explica: “Já apontei que o PR indicou a formação de orgânicos simples em Marte, então o Curiosity os encontraria com facilidade muito maior. Duvido que o SAM tenha detectado provas de microorganismos vivos. Mas lenta e relutantemente, a NASA está sendo forçada a admitir a existência de vida em Marte, e finalmente acabará tendo que rever sua opinião a respeito dos resultados das Viking”.
Os resultados inconclusivos de outro instrumento das sondas de 1976, o GCMS [Viking Gas Chromatograph-mass Spectrometer] que não conseguiu encontrar sinais de matéria orgânica, fez os resultados serem atribuídos a uma complexa química no solo de Marte. Levin afirma: “A falha do GCMS é o único obstáculo para a aceitação do fato de o Viking LR haver descoberto vida microbiana. Esse obstáculo será removido pelo Curiosity se o achado se tratar de compostos orgânicos complexos. Se isso vai alterar o atual consenso em favor da vida não sei, mas argumentar contra seria muito difícil”.
A descoberta história, se de fato tratar-se disso, deve ser anunciada durante a reunião da AGU [União Geofísica Norte-Americana], que acontecerá em San Francisco entre 03 e 07 de dezembro. Até lá, o mundo e os cientistas estarão em suspense.
Saiba mais:
Livro: UFOs na Rússia