Além de nosso Sistema Solar, o sistema estelar mais próximo é Alfa Centauro, que está à cerca de 40 trilhões de quilômetros de distância, ou 4,3 anos-luz. Utilizando a tecnologia terrestre mais avançada atualmente, levaríamos aproximadamente 73 mil anos para chegar até este sistema triplo, isso se fosse possível carregar todo o combustível necessário para tal jornada. Um fóton, que é um bóson que transporta a força eletromagnética ou luz, possui a maior velocidade conhecida no universo. Com esta velocidade – 299.792.458 metros por segundo –, uma nave poderia chegar a Alfa Centauro em cerca de quatro anos.
Para expedições intergalácticas “de rotina”, como as efetuadas pela espaçonave USS Enterprise de Jornada nas Estrelas, um veículo espacial teria de viajar várias vezes mais rápido que a velocidade da luz. Ninguém sabe ao certo se algum dia isso será possível. De acordo com a Teoria da Relatividade de Albert Einstein, a velocidade é uma barreira imposta às partículas materiais, o que é bem expresso em seus trabalhos. Infelizmente, esses trabalhos, embora famosos, são pouco compreendidos pelo público em geral. Segundo os mesmos, viajar na velocidade da luz ou além dela seria impossível para objetos com massa. Aqui é importante destacar que estamos falando da massa relativística ou inercial de um objeto e não dela em repouso. Massa é uma propriedade relacionada com a “quantidade de matéria” de um corpo e também designa a medida da inércia do mesmo.
Assim, quanto maior for a velocidade de um corpo maior será sua inércia, ou seja, maior será sua oposição em modificar seu estado de movimento uniforme ou de repouso, e assim podemos dizer que maior será a massa inercial deste corpo. Por exemplo, quanto mais rápido um objeto material se mover, maior será a quantidade de energia necessária para continuar a acelerá-lo. É isso que indica a fórmula E = m.C2, ou seja: quando um objeto material se aproxima da velocidade da luz, a energia cinética fornecida para aumentar sua velocidade se converte em massa relativística de acordo com a equação de Einstein.
Se continuarmos a acelerar este objeto até que este chegue, hipoteticamente, na velocidade da luz, sua massa relativística tornar-se-ia infinita e, portanto, seria necessária uma energia infinita para atingir essa velocidade. Como nunca poderíamos suprir tal quantidade de energia, nunca se poderia alcançar a velocidade da luz! Isso demonstra que a inércia de uma partícula ou corpo tende ao infinito quando a velocidade se iguala a da luz. Sendo assim, podemos concluir que ao acelerarmos uma partícula ou corpo, este jamais alcançará a velocidade da luz. Podemos, porém, nos aproximar da velocidade da luz – até 99,99% – desde que possamos dispor da energia suficiente para atingir este ponto.
Reflexões sobre a velocidade — Também é importante destacar que o corpo material não vai “aumentar de tamanho” – pois sua massa de repouso continuará a mesma –, como se costuma pensar, e sim, que ficará cada vez mais “pesado”, até ser incapaz de ser movido. Ainda segundo Einstein, somente a radiação eletromagnética, cujas partículas constituintes não possuem massa de repouso, podem viajar na velocidade da luz. Sendo assim, quais seriam nossas alternativas?
Fazendo algumas reflexões, quando há quase 500 anos o navegador português Fernão de Magalhães deu a volta ao redor da Terra, gastou cerca de três anos para empreender esta jornada. Com o advento do avião e da tecnologia aeronáutica, passamos a realizar o mesmo percurso em aproximadamente 12 horas e, mais recentemente, utilizando a tecnologia aeroespacial, podemos realizar o mesmo trajeto em menos de 1 hora. E ainda construímos espaçonaves que podem chegar a velocidades espantosas de 28.000 km/h, como o Space Shuttle em órbita da Terra, e de 63.000 km/h com a sonda Voyager I. Podemos perceber que no período de 500 anos de avanços, continuamos utilizando um veículo para nos transportar, diminuímos o tempo gasto na viagem, mas o espaço percorrido continua sendo o mesmo e assim, o que realmente mudou? Simplesmente o meio ou a dimensão que utilizamos para realizar o mesmo percurso.
Nos primórdios, utilizávamos o mar, onde enfrentávamos a resistência das águas e limitação dos ventos. Depois passamos ao ar, em que encontramos o atrito da atmosfera, as limitações da altitude e a necessidade de aceleração e, finalmente, chegamos ao espaço, onde utilizamos a ação da força da gravidade para nos deslocarmos. Podemos assim concluir que a cada troca do meio pelo qual o percurso é realizado, podemos alterar significativamente o tempo gasto para fazê-lo. Isso nos mostra que através da tecnologia é possível descobrir e identificar outras vias e rotas alternativas que nos possibilitem vencer enormes distâncias em menor tempo.
Se, hipoteticamente, imaginarmos uma nave que pudesse alcançar a velocidade da luz de 299.792.458 m/s, e nos encaminharmos para a estrela mais perto da Terra, a Próxima Centauri – que está em média 4,2 anos-luz –, ela levaria teoricamente 4,2 anos para chegar até ela, sendo que, conforme a Teoria da Relatividade Especial de Albert Einstein, o tempo na Terra seria quadruplicado e, somando-se ainda o percurso de regresso, teriam se transcorrido no total oito anos para o viajante e mais de um século para as pessoas que aqui ficaram! O objetivo da viagem estaria obviamente perdido, defasado e tecnologicamente superado bem como o mundo estaria totalmente modificado. Isso, sem lembrar do fato que uma nave cruzando o espaço na velocidade da luz necessitaria de um computador inimaginavelmente rápido que teria de processar trilhões de informações, e curiosamente teria de funcionar mais rápido que a luz, contando ainda com sensores de rastreamento também mais rápidos que a luz, pois a detecção de um obstáculo para a nave teria de ser processada num tempo absurdamente curto para permitir uma manobra evasiva.
Tecnologias para as viagens espaciais — Lembrando também que um simples obstáculo do tamanho de uma bola de gude seria o suficiente para acabar com a es
paçonave e seus ocupantes. Naves e satélites em órbita da Terra já foram danificados por minúsculos objetos, o perigo sem dúvida é real. Com esta exposição, podemos concluir que viajar na velocidade da luz ou acima dela talvez não seja a alternativa correta para vencer o obstáculo das distâncias. A resposta a esta questão poderia estar na rota e no meio que teria de ser utilizado para realizar o percurso.
A Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA), é a agência do Governo dos Estados Unidos responsável pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e programas que viabilizem a exploração espacial e atividades relacionadas. Uma de suas divisões ligadas a Space Sciences [Ciências Espaciais] apoiou, de 1996 a 2002, um projeto intitulado Breakthrough Propulsion Physics [Física de Propulsão Inovadora ou BPP], conduzido por Marc Millis, cujo objetivo seria de tornar viáveis e confiáveis tecnologias que quebrassem o atual limite dos sistemas de propulsão espacial. Tais estudos deveriam mostrar as possibilidades a curto, médio e longo prazos, em teoria e prática, que permitissem construir sistemas de propulsão para atingir o espaço e viabilizar viagens pela galáxia e além. Sendo assim, o foco principal estaria nos sistemas de propulsão para impulsionar uma espaçonave de forma mais rápida, distante e com maior eficiência do que as tecnologias atuais. Para responder a esta fundamental questão, os objetivos principais seriam:
MASSA — Encontrar novos métodos de propulsão que eliminassem ou reduzissem dramaticamente a necessidade de propelentes. Isso implica em descobrir novos meios de criar impulso, presumivelmente manipulando a inércia, gravidade, ou através de qualquer outra interação entre matéria, campos e espaço-tempo.
VELOCIDADE — Descobrir como atingir velocidades que reduzissem de forma dramática o tempo de uma viagem. Tal recurso deve encontrar meios de se mover um veículo a velocidade máxima ou próxima do limite para trajetórias através do espaço ou do próprio espaço-tempo.
ENERGIA — Achar novos modos de gerar energia a bordo de espaçonaves para alimentar os novos sistemas de propulsão. Este terceiro objetivo é necessário desde que os dois primeiros precisam de inovadoras fontes de energia.
Estudos sérios a respeito de viagens espaciais galácticas começaram em 1960, quando o físico norte-americano Robert Bussard sugeriu uma espaçonave dotada de um escudo de 3.200 km de diâmetro, que recolheria o abundante hidrogênio do espaço interestelar para fornecer energia a um motor baseado em fusão nuclear. Este projeto ficou conhecido como “Jato de Guerra Bussard”. No mesmo ano, vários cientistas sugeriram a construção de uma nave que seria impulsionada pela detonação de bombas nucleares na parte traseira. A idéia ficou conhecida como Projeto Órion e Projeto NERVA, de Nuclear Engine for Rocket Vehicle Application [Motor Nuclear para Uso em Foguetes].
Utilização de energia nuclear — Em 1970, a Sociedade Interplanetária Britânica idealizou o Projeto Daedalus, que funcionaria com um sistema de propulsão baseado na fusão nuclear, tecnologia hoje em fase experimental. Infelizmente, nenhuma destas idéias saiu do papel. Os custos proibitivos e o tratado de não-realização de testes nucleares de 1963, acabaram por determinar o fim desses projetos. Nos últimos anos, estudam-se alternativas para romper as limitações dos foguetes atuais. Como exemplo, podemos citar as espaçonaves gêmeas Voyager I e II, lançadas em 1977, que estão deixando os limites do Sistema Solar na velocidade de 58 mil e 63 mil km/h, respectivamente, altíssimas para os padrões humanos. Só que nesta velocidade, chegaríamos ao sistema de Alfa Centauro em cerca de 80 mil anos! Sem falar que não existiria combustível suficiente para alimentar um sistema de propulsão de foguetes baseado em reações químicas convencionais.
Nos foguetes atuais, existe a necessidade de se carregar seu próprio combustível e oxidante. Não importando o quanto o mesmo seja eficaz, atualmente é impossível carregar o material necessário para empreender uma viagem intergaláctica. Isso se falando naquelas que não são tripuladas, que não necessitam levar as condições necessárias para a sobrevivência humana. Para uma missão tripulada, obviamente é imprescindível levar uma parte do ambiente terrestre junto, água, oxigênio, alimentos, entretenimento, atividades físicas etc. Por isso o ser humano ainda não explorou pessoalmente outros planetas como fez com a Lua. Temos toda a tecnologia necessária para levar um homem a Marte, por exemplo, mas ainda não podemos mantê-lo lá e o mais importante: trazê-lo de volta com vida! Uma ou duas décadas ainda serão necessárias para se realizar esta tarefa.
Marc Mills, do programa BPP da NASA, sugeriu sete formas hipotéticas de sistemas de propulsão para viagens interestelares. Três destes recursos especulativos são baseados nos conceitos de “velas espaciais” – indução, diodo e diferencial. Os outros quatro motores para propulsão são denominados de: disjunção, diamétrico, anel de indução e bias. Vamos a seguir conhecer um pouco desses conceitos.
Motores de empuxo movidos a laser
Existem basicamente dois tipos de sistemas de propulsão baseados em raios laser, estacionandos em terra ou a bordo da espaçonave. Nos sistemas a bordo da espaçonave o laser faria parte de um sistema baseado na propulsão nuclear, por fissão ou fusão. Já nos baseados em terra ou em órbita terrestre possuem grandes vantagens, pois eliminam a necessidade de se carregar propelentes. Isso faria com que a nave tivesse um tamanho e massas reduzidas, refletindo numa ótima performance. O cientista norte-americano Robert Forward foi o primeiro a sugerir veículos espaciais movidos a raios laser. O princípio de funcionamento consistiria no lançamento de duas espaçonaves ou uma nave e um sistema baseado em terra. Uma carregaria um potente laser e poderia ficar na órbita da Terra e enviaria um raio constante para um imenso disco coletor (ve
la espacial) atracado a outro veículo. A pressão causada pelo laser poderia impulsionar esta nave à cerca de 20% da velocidade da luz.
Graças aos estudos realizados durante o programa dos EUA denominado Strategic Defense Initiative (SDI) ou Guerra nas Estrelas, o cientista Leik Mirabo do Rensselaer Polytechnic Institute, em conjunto com a NASA e Força Aérea Norte-Americana (USAF), desenvolveram um sistema de propulsão a laser que, utilizando um gerador de pulsos de 10 KW de laser infravermelho, conseguiu impulsionar uma pequena espaçonave em forma de disco voador com 12,2 cm de diâmetro e massa de 50 gramas, a uma altitude de 71 m. Para lançar uma pequena espaçonave de um quilo em órbita da Terra seria necessário um laser pulsado com potência de 1 MW. No lugar dos raios laser, também poderia ser utilizado o MASER, termo derivado de Microwave Amplification by Stimulated Emission of Radiation [Amplificação de Microondas por Emissão Estimulada de Radiação]. Este, ao contrário do laser, utiliza um feixe de microondas direcional para gerar o empuxo necessário.
Motor de empuxo de dobra (warp drive)
Em 1915, Albert Einstein publicou sua Teoria da Relatividade Geral, que postulava como o espaço e o tempo são distorcidos ou “dobrados” próximos a objetos massivos. A espaçonave USS Enterprise consegue viajar várias vezes mais rápido que a luz impulsionada por motores de antimatéria que distorcem ou “dobram” o espaço-tempo, diminuindo assim as distâncias, mas mantendo as relações de causalidade inalteradas. O cientista mexicano Miguel Alcubierre Moya se inspirou nesta série de ficção para investigar se seria realmente possível construir um motor de dobra ou warp drive. Alcubierre descobriu uma solução para as equações de Einstein que possui muitas das características desejáveis da dobra espacial. Tal engenho deveria ser capaz de contrair o espaço a frente da espaçonave e expandi-lo atrás. Uma nave com esse tipo de motor criaria um campo ou bolha ao seu redor e poderia viajar bem abaixo da velocidade da luz, para quem estivesse dentro da proteção.
Devido a criação deste campo que geraria a contração e expansão do espaço-tempo, o veículo espacial, na verdade, estaria viajando centenas ou milhares de vezes acima da velocidade da luz em relação ao exterior. A exigência para isso funcionar adequadamente seria possuir a chamada energia negativa, que seria utilizada nas laterais da bolha e contrairia o espaço a frente da espaçonave reduzindo assim a distância até o local de destino. Atrás da nave o espaço seria expandido, deixando o local de partida cada vez mais distante. Na verdade, seria como ficar parado e deslizar pelo espaço-tempo, que passaria como uma correnteza pela nave. A teoria quântica permite a existência da energia negativa. Porém, também impõe várias restrições quanto a sua geração, existência e utilização. Como ainda não temos uma compreensão geral de tudo o que envolve a mecânica quântica, ainda precisamos esclarecer várias questões para saber se algum dia poderemos utilizar a energia negativa para construir motores de dobra e os chamados wormholes ou “buracos de minhoca”.
Motores movidos a antimatéria
Mais uma vez a ficção inspira a ciência! A idéia vem dos motores de dobra da USS Enterprise, que utilizam a aniquilação total entre matéria e antimatéria para impulsionar a nave a velocidades vária vezes superiores a da luz. Este processo é estudado há anos pela NASA, pois é o sistema de propulsão mais eficiente que se pode imaginar. A mais eficiente reação química para propulsão conhecida atualmente produz cerca de 1 x 107 Joules/kg. Um sistema baseado em fissão nuclear poderia produzir cerca de 8 x 1013 Joules/kg. Se for baseado em fusão nuclear cerca de 3 x 1014 Joules/kg. Já a completa aniquilação entre matéria e antimatéria, de acordo com a fórmula E = m.C2, desenvolveria cerca de 9 x 1016 Joules/kg. Comparando, a aniquilação matéria e antimatéria produz 10 bilhões de vezes mais energia do que a mistura de hidrogênio e oxigênio utilizada para impulsionar a lançadeira espacial Space Shuttle, e 300 vezes mais do que a fusão nuclear que ocorre no interior do Sol.
Entretanto, existem alguns impedimentos técnicos que ainda necessitam ser solucionados. A antimatéria não existe em quantidades significativas na natureza e assim, necessita ser fabricada. Os gigantescos aceleradores relativísticos de partículas do European Organization for Nuclear Research (CERN) e do Fermilab são por enquanto os únicos locais onde isso pode ocorrer. Atualmente já foi conseguido produzir cerca de 10 nanogramas de antimatéria. Calcula-se que uma viagem interplanetária necessitaria de 1.000 gramas e uma viagem tripulada, de meros 30 dias, até Marte necessitaria de 140 nanogramas! Outro problema seria o armazenamento. A antimatéria não pode ser armazenada pelos sistemas convencionais, pois reagiria com o material imediatamente. Uma solução já em teste se chama de Penning Trap, que consiste em uma garrafa eletromagnética super-resfriada onde as partículas de antimatéria podem ser mantidas em suspensão. Existem atualmente três sistemas de propulsão baseados em antimatéria em estudos. Um denominado de ACMF, outro de ICAN-II e o por fim o AIM.
Utilizando cerca de 30 a 130 microgramas de antimatéria, uma espaçonave não tripulada com tecnologia AIM poderia atingir a Nuvem de Oort, à cerca de um trilhão de quilômetros da Terra, em menos de 20 anos, e se a tecnologia de “velas espaciais” for agregada a esse sistema, uma nave poderia atingir o sistema triplo de Alfa Centauro em cerca de 40 anos, utilizando alguns gramas de anti-hidrogênio. Algum dia engenhos que funcionem pela aniquilação entre matéria e antimatéria serão os motores padrão para naves espaciais. Ainda não viajarão na velocidade da luz, mas poderão chegar muito próximo disso.
Velas espaciais
São sistemas que utilizam a pressão da luz solar, de raios laser, microondas ou qualquer outra forma de radiação de energia para impulsionar um veículo espacial, assim como um navio é direcionado pela vela e o vento. A vela espacial consiste basicamente numa estrutura que suporta uma extensa área formada por painéis de material reflexivo que coletam material que gerará a pressão necessária para impulsionar todo o sistema.
Atalhos espaço-temporais (wormholes)
Foi no final da década de 80 que os físicos norte-americanos Michael S. Morris e Kip S. Thorne, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (CalTech), cunharam o termo e estabeleceram os conceitos teóricos dos “buracos de minhoca” ou de “vermes”, wormhole em inglês. Eles seriam atalhos através do espaço-tempo, criados artificialmente ou que podem existir de forma natural. Um buraco de v
erme seria como um túnel interligando duas localizações diferentes do espaço. Uma nave viajando do ponto A ao B poderia entrar por uma das aberturas, passar pelo interior do túnel e sair pelo outro lado, num tempo que demoraria muito menos do que se tivesse que percorrer o trajeto de forma convencional. Para formar e manter as paredes internas do túnel seria preciso utilizar energia negativa, cujo campo gravitacional repulsivo permite que exista uma força capaz de distorcer o espaço-tempo a ponto de quase uni-los.
Para que um túnel assim criado possa ser percorrido por objetos materiais macroscópicos, ele precisa permitir que fótons possam atravessá-lo. Assim, os fótons que entram por uma das aberturas convergem no interior do túnel pela ação do campo de gravidade produzida pela energia positiva (convencional), e são então divergidos pelo campo da gravidade da energia negativa (repulsivo). Como este túnel estaria distorcendo o espaço-tempo, algo que o atravesse estaria viajando milhares de vezes mais rápido do que a luz. Depois, em 1994, que Miguel Alcubierre aproveitando estes conceitos esboçou, teoricamente, o conceito de “dobra espacial”.
O método Vasimr
A expressão significa Variable Specific Impulse Magnetoplasma Rocket ou foguete de magnetoplasma de impulsos específicos variáveis. Trata-se de um engenho baseado em plasma que está sendo desenvolvido pelo astronauta Franklin Chang-Diaz, da NASA, cujas pesquisas começaram em 1979, quando ainda era um estudante do MIT. Desde então Chang-Diaz e colegas continuam o trabalho no Advanced Space Propulsion Laboratory, localizado no Johnson Space Center. Os motores de foguete convencionais funcionam com uma mistura de combustível e oxidante para gerar empuxo. O sistema Vasimr usa uma série de campos magnéticos para criar e acelerar o plasma, ou gás ionizado a altas temperaturas.
O processo começa quando é injetado gás de hidrogênio neutro na primeira de três câmaras magnéticas, que é ionizado arrancando o único elétron de cada átomo de hidrogênio. O gás é enviado então para a câmara magnética central onde ondas de rádio aquecem o gás a temperaturas de mais de 50.000° C, transformando-o em plasma, que é então injetado na última cela magnética, um bocal magnético que dirige o fluxo para um sistema de exaustão, provendo empuxo. Uma vantagem fundamental deste engenho é que o impulso gerado pode ser variado em vôo para mudar a quantidade do empuxo. O impulso específico pode ser utilizado tanto para acelerar como para desacelerar uma nave. Um motor deste tipo poderia realizar a distância Terra-Marte em apenas três meses. Além disso, um motor Vasimr permitiria que uma missão seja abortada em qualquer posição e retorne ao nosso planeta com segurança.
O método M2P2
O termo significa Mini-Magnetospheric Plasma Propulsion ou propulsão de plasma mini-magnetosférica. É um conceito de propulsão em estudo pela Universidade de Washington, Seattle, em parceria com a NASA. O dispositivo M2P2 usaria o vento solar para acelerar uma nave envolta em uma versão miniatura da magnetosfera da Terra, gerada a bordo. O bombardeio de plasma vindo do Sol em um campo magnético artificialmente gerado arrastaria o campo magnético, formando uma bolha de 30 a 60 km de diâmetro, dependendo do campo produzido. Uma nave com esta tecnologia poderia ser de 10 a 20 vezes mais eficiente que o motor principal do ônibus espacial. Tendo somente um tanque com 3 kg de Hélio como plasma combustível, a bolha magnética poderia ser mantida por três meses, e o tamanho da bolha cresceria e diminuiria conforme a variação do “vento solar”. Cálculos mostraram que existe bastante fluxo de vento solar para acelerar uma sonda de 136 kg a velocidades de até 80 km/s, ou 6,9 milhões de quilômetros por dia. Para comparação, o ônibus espacial viaja a meros 7,7 km/s ou 688.000 quilômetros por dia.
Propulsão nuclear
A liberação de energia através de reações nucleares é distinta da propulsão elétrico-nuclear. A propulsão nuclear é um sistema baseado na fusão ou fissão nuclear, e foi estudado de forma séria a partir de 1944, por Stanislaw Ulam e Frederick de Hoffman, que trabalharam no Projeto Manhattan. Durante 15 anos, após a Segunda Guerra Mundial, a Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, transformada no Departamento de Energia, a partir de 1974, trabalhou em conjunto com várias agências em inúmeros projetos baseados na propulsão nuclear culminando no NERVA. Todos os projetos foram abandonados pelo elevado custo e pelos acordos de não-proliferação de dispositivos nucleares no espaço. Recentemente, em 2003, a NASA retomou o interesse na propulsão nuclear através do Projeto Prometheus. Um dos possíveis sistemas que serão desenvolvidos será a missão JIMO [Jupiter Icy Moons Orbiter ou Orbitador das Luas Congeladas de Júpiter], que utilizará a propulsão elétrica nuclear. Outra tecnologia baseada na energia nuclear será a propulsão por fusão por indução de microondas. Para uma idéia comparativa, uma viagem até Marte com a tecnologia convencional levaria cerca de seis meses. Com a propulsão nuclear este tempo pode ser reduzido para dois meses ou menos.
Propulsão iônica
É uma forma de propulsão elétrica na qual íons são acelerados através de um campo eletrostático e produzem um jato de partículas com alta velocidade (30 km/s). Um motor iônico possui um impulso específico altamente eficiente, mas de baixo poder de empuxo, não sendo útil para o ambiente atmosférico e o transporte até o espaço. Porém, no ambiente espacial é extremamente eficiente, pois pode gerar empuxo constante por meses ou anos. Será e está sendo utilizado de duas formas: motores para transferência de órbita, deslocamento de satélites e sondas para exploração do espaço profundo em missões de longa duração. O modelo atualmente utilizado em duas sondas – Deep Space 1, da NASA, e SMART-1, da Agência Espacial Européia (ESA) –, é o empuxo por bombardeamento de elétrons, sendo o modelo XIPS [Xenon-Ion Propulsion System ou Sistema de Propulsão Xenon-Ion], considerado o mais eficiente.
Essas são algumas das possibilidades atualmente sendo pesquisadas com potencial de nos levar as estrelas. Várias das mesmas foram exploradas a exaustão pela Ficção Científica, como a velo
cidade de dobra de Jornada nas Estrelas, os saltos pelo hiperespaço presentes em Galactica ou Star Wars, e os buracos de minhoca de Stargate e Contato. E várias dessas e outras produções serviram de inspiração para projetos e estudos em nossa realidade. É muito fácil lembrar da nave de Viagem a Lua, de Júlio Verne, muito similar a Apollo e que também foi lançada da Flórida. A própria ESA mantém um grupo de pesquisas para estudar novas idéias apresentadas em obras da ficção.
Tomando emprestada a frase do grande e saudoso Carl Sagan, mesmo que tais projetos e especulações acabem se revelando muito distantes dos sistemas efetivamente construídos, quase como o projeto de helicóptero de Leonardo da Vinci em relação aos atuais, é importante que tais estudos prossigam, pois será dessa forma que desvendaremos os segredos do universo, viajando até os limites da imaginação, costumeiramente explorados primeiro pela Ficção Científica!