Cientistas europeus anunciaram a descoberta de placas de gelo similares às que são observadas nas regiões polares da Terra em pleno equador de Marte. O feito, conduzido com imagens da sonda Mars Express, representa a primeira vez que se detecta a presença de grandes quantidades de gelo no subsolo do planeta vermelho em uma latitude tão baixa. Formações similares já haviam sido vistas nos pólos marcianos.
Segundo os pesquisadores, liderados por John Murray, da Open University, no Reino Unido, o oceano congelado sob o solo deve ter dimensões de 800 por 900 quilômetros, com uma profundidade de 45 metros. O gelo não está exposto em contato direto com a atmosfera porque, se estivesse, sublimaria — se converteria direto do estado sólido para o gasoso, sem passar pelo líquido, por conta da baixa pressão atmosférica de Marte —, sem deixar rastros de sua presença. Mas os cientistas acreditam que uma camada de poeira com alguns centímetros de espessura impediu a sublimação.
O estudo foi apresentado ontem pelo próprio Murray na I Conferência Científica da Mars Express, na Holanda. Os resultados também serão mostrados em 18 de março deste ano, num evento nos Estados Unidos. A análise foi obtida antecipadamente pela revista de divulgação científica britânica New Scientist. Os cientistas já desconfiavam que a região equatorial de Marte havia tido grandes quantidades de água em sua superfície no passado, por conta dos canais supostamente escavados por rios presentes na paisagem do planeta. Mas agora a desconfiança passou a certeza, com as imagens da Mars Express. E essa é apenas a primeira de outras descobertas que a sonda deve oferecer no futuro.
Em maio, a ESA irá ativar o dispositivo de radar da nave, há um ano em órbita de Marte, que permitirá a detecção de traços de água congelada no subsolo marciano a uma profundidade de dezenas de metros. Os dados complementarão o que já foi observado com a própria Mars Express e com a sonda americana Mars Odyssey, que detectaram traços de gelo nos primeiros dois ou três metros de profundidade do solo. Nos dois casos, a substância concentrava sua presença, na forma de permafrost — gelo misturado a solo —, nas altas latitudes, ou seja, perto dos pólos. O oceano congelado recém-descoberto deve estar bem perto da superfície, o que o torna um sítio ideal para o envio de sondas de pouso que buscassem sinais de vida antiga em Marte, como a fracassada britânica Beagle-2. Os pesquisadores envolvidos no estudo sugerem agora que a região seja o alvo da próxima missão européia enviada ao solo marciano.