
Podemos ter mudanças em breve no mais ambicioso projeto de pesquisa de sinais de vida inteligente no universo, o SETI. Recentemente houve remanejamento na direção do programa, que agora passa às mãos de Gerry Harp, que substituirá a astrônoma norte-americana Jill Tarter no posto de diretor de pesquisas. Ambos têm visões distintas sobre a forma de encontrarmos vida extraterrestre e talvez tenhamos novas expectativas quanto a este processo. No final de julho, Jill publicou na internet o texto Por que não Estou Desistindo da Busca por Vida Extraterrestre [Why I’m Not Giving up on the Search for Extraterrestrial Life], dizendo que sai da função, mas não abandonará sua busca. O texto, em que a astrônoma também revela detalhes de seus últimos anos à frente do SETI, levanta algumas questões.
Os leitores talvez se lembrem de Jill como sendo a pessoa que inspirou a personagem Ellie Arroway do filme Contato [1997], baseado no livro homônimo de Carl Sagan. Aos 68 anos, ela se aposentou das responsabilidades técnicas do SETI, mas não se afastará totalmente do programa — agora ela se dedicará a levantar fundos para mantê-lo em funcionamento, o quem vem sendo uma difícil missão. Sua carreira à frente do SETI certamente deve ter sido emocionante. Afinal, quantos não gostariam de participar de uma iniciativa como ele, apesar de não ter dado qualquer resultado até hoje? Sobre isso, quando lhe perguntaram se ela se aposentava decepcionada por não ter encontrado o que buscava com tanto afinco — justamente os sinais de vida extraterrestres —, disse que não é esta a sua sensação agora e que sua vida dedicada a tal busca a enriqueceu muito.
Choque de tecnologias
Mas será que receber e tentar decodificar um sinal de rádio de outra civilização mudaria nossa vida? Esta é, afinal, a proposta do SETI, mas que nunca foi alcançada, para desconforto dos meios científicos. Acredito que o que realmente geraria uma enorme mudança em nossa vida seria o anúncio, por parte dos poderes constituídos, e em escala global, de que o planeta recebe visitas de extraterrestres há muito tempo — ou de que certas nações têm contato com tais seres. Ou seja, se fosse admitido que há comunicação com inteligências alienígenas bem diante de nossos olhos, tudo mudaria em nosso mundo, e talvez assim começássemos a mudar nossos hábitos primitivos. A aposentadoria de Jill Tarter de sua função e a entrada de Gerry Harp no programa têm suscitado estas questões [Veja entrevista com Harp nesta edição]. Não é para menos, considerando-se que o tema toca profundamente a Comunidade Ufológica Mundial.
Na realidade, o padrão de varredura do espaço pelos radiotelescópios do SETI, em busca de sinais inteligentes do espaço, está sempre sendo duramente questionados. Ele se baseia na pressuposição de que existe vida inteligente na galáxia, e que ela também usa transmissões de rádio para enviar mensagens à Terra. O que os cientistas do programa não respondem é por que motivo tais avançadas espécies usariam meios tecnológicos compatíveis com nossa primitiva radiotecnologia, se certamente teriam sistemas imensamente mais avançados? Ora, presumir que eles possam entender nossas transmissões, se efetivamente as receberem, e que as responderão da mesma forma é algo inconsistente. Tais noções ficam ainda mais abstratas quando se observa a enorme quantidade de dados que indicam que os extraterrestres nos visitam aqui na Terra há milênios — o que é imensamente mais significativo do que captar os desejados sinais de rádio que o SETI procura há mais de 50 anos.
Para não fazer tal discrepância soar alarmante, os defensores do programa usam em abundância o comentário de um de seus fundadores mais ilustres, Carl Sagan, de que “afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”, para aludir à suposta dificuldade que é provar que estamos sendo visitados por outras inteligências cósmicas — como se captar os pretendidos sinais fosse algo fácil. A afirmação de Sagan costuma ser citada sempre que se quer atacar a noção da realidade dos UFOs, mas o próprio SETI se atém a afirmações extraordinárias sem fornecer a menor evidência do que postula. Desde as pesquisas iniciais de Frank Drake, em 1960, que levaram à implantação do programa, nunca houve qualquer sinal identificado como sendo de origem extraterrestre inteligente.
Casos interessantes e confiáveis?
Sagan chegou a admitir as dificuldades de êxito do SETI quando, certa vez, junto do doutor Paul Horowitz, da Universidade de Harvard, observou que o programa já tinha examinado 37 sinais, que seriam fortes candidatos a terem origem extraterrestre inteligente, mas que nenhum deles foi provado como tal, apesar do grande otimismo da dupla. Em contraste com as presunções do SETI, no entanto, mais de 20% dos 3.201 casos explorados e apresentados no chamado Relatório Especial 14 do Projeto Livro Azul nunca foram explicados satisfatoriamente e permanecem inconclusivos — muitos ufólogos sustentam que a maioria destes mais de 600 eventos pode ser de disco voador. E veja o leitor que o Livro Azul era uma iniciativa governamental que tinha o propósito de “esclarecer” o Fenômeno UFO acobertando-o ou distorcendo-o.
Apesar desse contraste, para a equipe de engenheiros e técnicos do SETI é patente e assumido que não existe qualquer evidência válida da existência de UFOs. O próprio Sagan, quase cedendo às evidências, ao proclamar que de fato existiam alguns avistamentos interessantes a ser considerados, logo emendou seu discurso e concluiu dizendo que “eles não eram exatamente tão confiáveis assim”. É interessante ver que esse é o padrão de comportamento dos membros do programa quanto à Ufologia. Para eles, ora os avistamentos são interessantes, mas não confiáveis, ora os avistamentos são confiáveis, mas não interessantes. O que nunca lhes ocorre admitir é que existam avistamentos que sejam ao mesmo tempo interessantes e confiáveis — pois aí teriam que ser forçados a abandonar seu ceticismo. O que eles desconhecem, como provou o maior estudo já feito sobre os UFOs pelo governo norte-americano, é que quanto mais confiáveis são os avistamentos, mais inexplicáveis se apresentam.
Em seu texto na internet, a doutora Jill Tarter diz que, após décadas de confusão com UFOs e outras “pse
udociências”, além de tentativas do Congresso dos Estados Unidos de acabar com a verba para a pesquisa de vida extraterrestre enviada ao SETI, “as surpreendentes descobertas de exoplanetas hoje legitimam sua exploração científica”. Em parte ela tem razão, pois hoje sabemos, graças ao observatório espacial Kepler, que não há dúvida da existência de incontáveis planetas orbitando outros astros, muito além do Sistema Solar. Mas Jill peca ao chamar os UFOs de “pseudociência”, pois ignora a substancial quantidade de informações de qualidade a respeito do fenômeno. Quanto à parte em que acerta, é naturalmente sensato presumir que existam outras espécies inteligentes na galáxia, considerando nossa idade tão jovem em comparação com os astros da vizinhança cósmica. Mas uma coisa não pode invalidar a outra, ou seja, a busca de sinais dessas espécies pode ocorrer sem que ignoremos a realidade ufológica.
Em um exame atento da vasta literatura que existe a respeito das atividades do SETI, percebemos que não se encontra nela nenhuma discussão científica válida sobre as evidências acumuladas nestas seis décadas de Ufologia sobre a materialidade do Fenômeno UFO — nem mesmo estudos publicados por astrônomos são discutidos pelos membros do programa. Avistamentos detectados por radar, pousos com evidências físicas, abduções alienígenas e estudos sérios sobre viagem interestelar são solenemente ignorados, bem como as indicações claras da existência de uma política de acobertamento de informações por parte do governo dos Estados Unidos. Nada parece demover os engenheiros e técnicos do SETI de seu ceticismo.
A ciência fechada à verdade
Em resposta a tantas alegações dos ufólogos, Seth Shostak, astrônomo do programa, e Neil Tyson, um de seus astrofísicos, argumentam simplesmente que “os governos não podem guardar segredos do público”, como se isso significasse que não existe segredo algum sendo guardado. Nenhum dos dois reconhece a farta documentação existente sobre discos voadores liberada até mesmo pela CIA, pelo FBI e até pela Agência de Segurança Nacional (NSA), sob pressão da Lei de Liberdade de Informações. Eles simplesmente nada falam das abundantes evidências da ação na Terra de outras espécies cósmicas, tal como a doutora Jill Tarter, que agora se aposenta. Ao contrário, ironizam a seríssima situação.
Talvez a explicação para tamanho ceticismo da comunidade astronômica quanto aos UFOs, em especial dos membros do SETI, venha do fato de que eles parecem ter a impressão de que somente universidades e academias de ciência sejam os lugares em que ocorrem pesquisas sérias sobre qualquer assunto — e como tais locais não tratam de Ufologia, é como se o tema não merecesse atenção. O comportamento do programa é justamente esse, mas ainda pior, uma vez que ele tem os recursos necessários e poderia estar engajado na pesquisa dos discos voadores, e não o faz. Ou seja, ele é um dos ambientes descritos, que poderia produzir informações que fossem consideradas pela comunidade astronômica, levando-a a demover seu ceticismo.
Investimentos certos?
Em seu artigo, Jill comentou ter tido um interessante diálogo com sua neta — e nele mostra o tamanho de sua presunção de que o SETI seja o único programa a oferecer respostas para a vida extraterrestre. Ela disse à menina, e reproduziu em seu texto na internet, que sua geração poderia aprender mais sobre vida em Marte ou nos oceanos cobertos de gelo das luas de Júpiter e Saturno se os Estados Unidos continuassem sua exploração dos corpos do Sistema Solar. Isso é verdade. “Já quanto à vida inteligente no universo, para isso temos o SETI para nos dar as respostas”, declarou. Como assim? E o trabalho de um exército de ufólogos no mundo todo, cunhando, analisando e difundindo um volume considerável de informações, não conta?
Pelo visto, ainda precisamos de um grande esforço para vencer os preconceitos e fazer os cientistas investigarem seriamente a enorme quantidade de evidências de que somos frequentemente sobrevoados por espaçonaves de origem extraterrestre. E é preciso mostrar não apenas à comunidade científica, mas também à jornalística, que sua cegueira decepciona a sociedade, que quer informações e explicações para o Fenômeno UFO. A doutora Jill Tarter, que agora se aposenta da direção de pesquisas do SETI, é uma mulher inteligente e uma oradora persuasiva e carismática, que pode ter muito sucesso em sua nova função de angariar fundos para o programa. Foi ela, aliás, quem enfatizou à sociedade norte-americana que os recursos usados nas pesquisas não vêm dos contribuintes, mas de doações de pessoas e entidades civis. Porém, isso não é totalmente verdade e, de fato, o cidadão financia as atividades de uma iniciativa que não mostra qualquer resultado desde sua fundação — à exceção do Sinal Wow [Uau], que foi um forte candidato a ocupar o posto de primeira comunicação recebida pelo SETI, mas que nunca se confirmou.
A prova de que o contribuinte paga as ações do programa está no fato de que, quando o bilionário Paul Allen doou 35 milhões de dólares para a construção de radiotelescópios para o SETI no norte da Califórnia, ele teve redução no pagamento de impostos. Isso é normal nos Estados Unidos, pois o programa é uma organização sem fins lucrativos e, como tal, os doadores de recursos a tais entidades podem ter parte desses valores deduzidos de seu imposto de renda. Mas, indiretamente, os contribuintes estão sim pagando as atividades de busca por sinais de inteligências extraterrestres sem serem consultados se verba semelhante poderia ser destinada também à pesquisa ufológica. E aqui está inserida uma questão crucial: deve-se repensar a destinação de investimentos públicos diante da ausência de resultados positivos do SETI, especialmente em meio a tantas iniciativas de estudos sobre discos voadores, que deviam receber algum incentivo.