Está sendo cada vez mais comum encontrar em um congresso de Ufologia militares dispostos a fazer pequenas aberturas ou revelações sobre como tratam a questão ufológica. Isso pode ser uma indicação de que, se antes os oficiais eram completamente arredios às reuniões de ufólogos, que consideravam exóticas e contraproducentes, hoje vêem que tais pesquisadores têm algo a contribuir para o esclarecimento do Fenômeno UFO. De fato, é consenso geral, nas forças armadas de vários países, que a problemática em torno dos discos voadores só poderá ser completamente compreendida através de uma união de forças entre dedicados ufólogos civis, que trabalham por amor à causa, e militares, pagos para pesquisar o assunto como parte de suas atribuições.
Um exemplo claro disso foi o que aconteceu durante o 8° Simpósio Mundial sobre Objetos Voadores Não Identificados, realizado em San Marino nos dias 03 e 04 de junho passado. O evento é um dos mais tradicionais do mundo, sendo mantido oficialmente com recursos do Ministério da Cultura daquele país, desde 1993. Logo no primeiro dia do conclave – cujo tema foi a relação entre UFOs, política, Ciência e informação –, o coronel aviador Aldo Olivero ocupou a tribuna e, diante de uma estupefata platéia de mais de 500 pessoas, revelou que o governo italiano está alinhado à várias outras nações européias em busca de uma explicação para a questão ufológica. Olivero não é apenas um oficial interessado no assunto, mas o chefe do Departamento Geral de Segurança do Ministério da Defesa italiano, ocupando o cargo de encarregado no acompanhamento das manifestações de discos voadores no país. San Marino, apesar de ser uma república independente – é o menor país do mundo, com 25 mil habitantes –, está encravada no nordeste da Itália e tem com ela uma forte simbiose. Eis a razão da presença italiana no evento.
O coronel aceitou o convite do coordenador do evento, Roberto Pinotti, a comparecer formalmente na ocasião e trazer uma posição oficial do governo italiano sobre o assunto. “Não tínhamos certeza se aceitaria o convite, e muito menos esperávamos que viesse de uniforme”, disse Pinotti à Revista UFO, que representa em seu país. “Mas o fato é que seu comparecimento deixa clara a preocupação das autoridades italianas, principalmente quando buscam um relacionamento com os ufólogos civis sobre essa delicada questão”, adicionou. Na verdade, a presença de Olivero no simpósio abriu muitas portas, especialmente quando, em sua palestra, o coronel mostrou detalhadamente como são registrados e analisados os casos de avistamentos de objetos voadores não identificados no espaço aéreo italiano. O país, assim como outros, não descuida do assunto e o acompanha desde os primórdios da Era Moderna dos Discos Voadores, iniciada logo após a Segunda Grande Guerra.
Os procedimentos de registro dos fatos ufológicos na Itália dão prioridade para os casos envolvendo aeronaves civis ou militares, que inúmeras vezes são seguidas por objetos estranhos durante seus vôos. “A segurança do tráfego aéreo é uma das principais razões que nos levam a acompanhar os acontecimentos com UFOs em nosso território”, declarou Olivero. Segundo sua apresentação em San Marino, a Aeronáutica italiana tem registrado entre 200 e 300 casos ufológicos por ano, número também relatado por autoridades inglesas e espanholas. Além desses fatos, são considerados de grande importância as ocorrências ufológicas nas grandes cidades, acompanhamento de automóveis, pousos e avistamentos por múltiplas testemunhas. Todas estas ocorrências são detalhadamente descritas, valorizando-se o relato dos depoentes. Depois, seguindo um fluxo burocrático muito simplificado, tais registros são encaminhados para departamentos específicos, que têm analistas qualificados para cada caso. “Uma minoria desses acontecimentos resultam legítimas observações de UFOs, e são da maior importância”, disse Olivero.
Em momento algum o coronel falou em abduções ou mesmo observações de tripulantes de UFOs – tema ainda considerado tabu por muitos militares. Nos bastidores do evento, os ufólogos presentes em San Marino compartilharam a opinião de que os oficiais temem expor-se demais ao admitirem que, além dos UFOs existirem e serem extraterrestres, estariam realizando seqüestros de humanos. “É evidente que, estando tão bem informados, os militares têm absoluto conhecimento da gravidade da situação. Mas é prudente que não se manifestem sobre abduções”, disse o ufólogo Pinotti. Olivero confirmou que o Ministério da Defesa de seu país está em contato com outros órgãos, de demais nações européias e outros continentes. Pelo que declarou se conclui que, em maior ou menor grau, alguns países têm um fluxo de intercâmbio de informações ufológicas bem estabelecido e sólido há muito tempo. Na Europa, França, Bélgica e Espanha já se posicionaram favoráveis à questão ufológica.
A França foi o primeiro país a admitir oficialmente a existência dos UFOs e que pesquisas sérias deveriam ser mantidas a respeito do assunto. Isso ocorreu em 1976, quando o ex-ministro da Defesa Maurice Gallo foi à televisão francesa, a pedido do então presidente Alain Giscard d’Estaing, para admitir não somente que os UFOs eram reais, mas tinham procedência extraterrestre e que o governo iniciaria um projeto de pesquisas do assunto. Ato contínuo, a França fundou, dentro do Centro Nacional de Pesquisas Espaciais (CNES), um organismo que se dedicou a examinar cuidadosa e cientificamente a questão. É o Groupe d’Étude des Phénomènes Aérospatiaux Non-Identifiés (GEPAN), que existe até hoje. A entidade passou por várias fases, mais ou menos produtivas, e hoje se resume a um escritório nos arredores de Paris, onde um grupo de cientistas conduz estudos sobre ocorrências recentes. O GEPAN é presentemente dirigido pelo engenheiro Jean-Jacques Vélasco.
Relatório Bombástico – Em julho passado, o país foi novamente sacudido por uma informação bombástica. Um grupo de notáveis – cientistas, acadêmicos e literatos – reuniu-se para intensos estudos da situação ufológica mundial e formou o Comité d’Études Avancés [Comitê de Estu
dos Avançados], sigla Cometa. O grupo elaborou o resultado de seus trabalhos emitindo um relatório bombástico sobre o assunto, conhecido como Relatório Cometa [Veja matéria nesta edição]. “Todos já aguardávamos este momento há tempos, mas imaginávamos que tal documento viria do GEPAN, que é governamental”, disse o representante da Revista UFO no país, Gildas Bourdais, também presente no simpósio de San Marino. “Ninguém imaginava que um relatório com tal impacto viesse de um grupo não oficialmente estabelecido pelo governo”, finalizou Bourdais, insistindo no fato de que era atribuição do GEPAN fazer as revelações que o Relatório Cometa fez. De qualquer forma, o documento recebeu aceitação popular e mais uma vez colocou a França em posição de vanguarda quanto à questão ufológica, em todo o mundo. Até o coronel Olivero reconheceu a importância do país vizinho ter se posicionado dessa maneira.
A segurança do tráfego aéreo é uma das principais razões que nos levam a acompanhar a questão ufológica em território italiano. Alguns casos são de grande importância ”
– Coronel Aldo Olivero
Mas isso não é só. A Espanha também brilhou recentemente, quando o Ministério do Ar abriu seus arquivos sobre o assunto. Em setembro de 1998, o governo espanhol disponibilizou 83 arquivos antes secretos sobre avistamentos de UFOs no país. O total não passa de 20% das ocorrências ufológicas investigadas pela instituição, mas já é um começo e tanto! O destino dos arquivos foi a Biblioteca Geral da Força Aérea, em Madri, que pode ser consultada por qualquer pessoa. A intenção do governo em revelar tais documentos vinha desde 1990, mas os mesmos estavam classificados como ultra-secretos e, assim, impedidos de se tornarem domínio popular. “É sabido que todos os países desenvolvidos do planeta mantêm pesquisas oficiais e sigilosas sobre UFOs. Mas poucos tiveram governantes responsáveis o suficiente para admitirem os fatos, como agora fez a Espanha” , declarou o ufólogo Vicente-Juan Ballester Olmos, um dos poucos privilegiados a ter acesso aos documentos antes que se tornassem públicos – e por isso mesmo acusado de ter sido envolvido numa política de acobertamento ufológico espanhol.
A atitude do Ministério do Ar causou surpresa em muitos ufólogos, mas não em todos. E muito menos nos militares de países vizinhos, que já conheciam a intenção da Espanha de abrir seus arquivos. “O governo já vinha liberando informações e documentos desde uns cinco anos atrás, mas somente fragmentos de notícias eram revelados, ainda assim desconexos”, informou Salvador Freixedo, um dos mais ativos estudiosos de UFOs do país. É quase consenso geral na Espanha que os casos mais importantes não estão sendo revelados à população, o que significa, para alguns, que o governo apenas quer confundi-la. De qualquer forma, não deixa de ser notável que as autoridades daquele país cheguem a ponto de permitir que civis leiam centenas de páginas de relatórios sobre discos voadores seguindo aeronaves comerciais e, às vezes, até impondo algum risco às mesmas, segundo alguns dos documentos liberados. Olivero considera a atitude acertada e gostaria que em seu país isso já estivesse ocorrendo neste exato instante.
Por fim, a Bélgica, entre os países europeus, também admitiu publicamente – embora de forma mais discreta – que o Fenômeno UFO preocupa as autoridades do país. Isso aconteceu há alguns anos, quando uma intensa e continuada onda ufológica atingiu o país durante vários meses. Cidades de todos os cantos do país se viram envolvidas em acontecimentos marcantes, nos quais objetos voadores não identificados chegaram a aproximar-se de maneira inédita de grandes centros populacionais. “Quase sempre os objetos observados tinham formato triangular, e sua capacidade de manobra era espetacular”, disse em San Marino o ufólogo belga August Meesen, também vinculado à Revista UFO. Tamanha quantidade de incidentes levou o então ministro da Defesa local, Claude de Brower, a comparecer a uma rede de televisão e admitir os fatos à nação. Assim como no caso francês, também se viu a formação de uma entidade oficial de pesquisas do assunto. Mas esta, infelizmente, não se mostra disposta a revelar mais informações sobre o acontecido…
Todos estes fatos confirmam inequivocamente que a situação da Ufologia Mundial está rapidamente mudando. Em menos de uma década vários países passaram a se interessar em investigar o assunto ou começaram a admitir que o pesquisam. A própria Rússia, embora fragmentada após a Glasnost, também resolveu admitir que a questão merece maior consideração. Mesmo que isso não seja de qualquer prioridade no país, imerso em uma interminável crise política e de identidade, a Rússia tem gradualmente aberto seus arquivos para a Imprensa e à população. Militares antes reservados hoje admitem terem tomado parte de eventos de grande significado envolvendo UFOs – alguns deles generais de quatro e cinco estrelas. Vários cosmonautas vão pelo mesmo caminho e, ao contrário de seus colegas norte-americanos, admitem terem tido encontros com UFOs no espaço. “Os cosmonautas viviam antes num clima de tensão e impedidos pelo governo de revelarem suas experiências”, conta o ufólogo e estigmatizado italiano Giorgio Bongiovanni, que faz freqüentes visitas ao país e tornou-se amigo de inúmeros militares. “Hoje estão descompromissados com certas hierarquias retrógradas, vivem quase à mingua com baixíssimos salários e estão dispostos a revelar o que sabem”, concluiu. Isso é verdade. Na Rússia, país que hoje lidera o ranking das nações onde a máfia tem maior controle, tudo tem um preço.
Contrabandear um automóvel BMW para dentro do país significa investir poucas centenas de dólares em subornos a funcionários públicos. O mesmo pode-se dizer em relação aos arquivos ufológicos antes secretos da KGB, que podem ser milagrosamente abertos conforme a carteira do interessado também se abra para injetar propina à pessoa certa. “Pode-se comprar todo tipo de informação sobre UFOs ho
je em meu país. Mas tem que se tomar cuidado para não se adquirir material falsificado”, explica Boris Shurinov, o ufólogo número 1 da Rússia. Ele sabe o que diz, já que mantém conexões com os mais variados setores da burocracia do país. Shurinov se refere ao fato de que, assim como se pode comprar documentos e informações sobre UFOs – e qualquer outro assunto – em seu país, também é muito fácil falsificá-los.
Como se vê, grandes nações, pertencentes ao seleto Primeiro Mundo, estão alertas à questão ufológica. Mas países em desenvolvimento ou pobres, considerados do Terceiro Mundo, não ficam muito atrás. Na América do Sul, Uruguai, Argentina e Chile já tomaram passos importantes na investigação do assunto. Nosso vizinho Uruguai é pioneiro, tendo fundado há mais de 20 anos um órgão misto de civis e militares, dentro das instalações da Força Aérea Uruguaia. Trata-se da Comisión Receptadora y Investigadora de Denuncias de Objetos Volantes No Identificados (Cridovni), a única entidade oficial militarizada de que se tem conhecimento hoje no planeta, dedicada à pesquisa ufológica de forma aberta e pública – aparentemente sem nada a esconder.
Critérios Ultrapassados – Fundada há duas décadas pelo próprio presidente do Uruguai, a Cridovni é composta por engenheiros, pilotos, psicólogos, químicos e variados outros profissionais – além, é claro, de militares voluntários para trabalhar com o assunto. Seus critérios de investigação são fortemente influenciados pelos métodos, já ultrapassados, criados pelo falecido doutor Joseph Allen Hynek, consultor da Força Aérea Norte-Americana (USAF), e se baseiam na avaliação da credibilidade das testemunhas e no índice de estranheza dos fatos em si. “O registro de ocorrências ufológicas no Uruguai segue uma constante já observada em outros países”, disse à Revista UFO o major Ariel Sanchez, que apresentou uma descrição de seu trabalho durante um evento na Argentina, em 1998.
No Uruguai também se dá prioridade para fatos envolvendo aeronaves civis ou militares, justamente por envolverem a estrutura da Força Aérea de forma mais direta. “Estes são casos que podem ser analisados de forma objetiva e científica, pois envolvem testemunhas treinadas e os objetos observados podem ser detectados por instrumentos apropriados”, completa Sanchez, que no entanto descarta a possibilidade dos UFOs estarem abduzindo pessoas. Com essa atuação, os integrantes do Cridovni se alinham com militares italianos chefiados por Olivero: sabem que os seqüestros estão acontecendo, conhecem a gravidade da situação, mas não querem que a população conclua que sua atividade de investigação esteja conectada a estudos sobre supostos marcianos ou coisas do gênero. Para alguns analistas isso pode significar que, embora dando os passos certos na direção de um tratamento adequado e do reconhecimento da presença extraterrestre em nosso planeta, às vezes os militares parecem não saber onde sua caminhada os conduzirá.
“Se foi uma imensa surpresa encontrar uma comissão ufológica militar num congresso de Ufologia civil, foi surpresa ainda maior constatar que a mesma, apesar de todo o esforço e de ser governamental – o que implica em verbas, pessoal, meios de transporte, locomoção, etc –não aceite a hipótese das abduções”, desabafou o físico nuclear Stanton Friedman, também presente no evento que se realizou na Argentina, no qual chegou a debater com os militares do Cridovni pontos críticos da fenomenologia ufológica. Neste mesmo evento, instados por este autor a apresentarem pelo menos um caso uruguaio que consideram absolutamente inegável, após fazerem uma breve explanação de seus métodos, os membros civis da Cridovni foram taxativos: “Não estamos aqui para contar histórias. Estamos aqui para mostrar nosso método de pesquisa”. Além de evasivo, isso é o equivalente a reunir médicos oftalmologistas em um congresso da área para discutir seus métodos, sem mostrar exemplos de como os mesmos levam à cura de seus pacientes. Em Ufologia, os métodos de pesquisa são tudo, mas sem conhecer sua aplicação prática, nada valem.
Felizmente, o exemplo chileno parece ser bem mais prático. Lá, motivado por uma grande onda ufológica que atingiu o país durante quase seis meses, em outubro de 1997, o governo criou o Comite de Estudios de Fenómenos Aereos Anómalos (CEFAA), uma entidade igualmente mista cuja sede é dependente da Diretoria de Aviação Civil do país. O CEFAA tem o propósito de compilar antecedentes de relatos de fenômenos aéreos, criar uma base de dados que permita analisar eventos naturais e, por fim, caracterizar de forma objetiva como funcionam os fenômenos anômalos – categoria na qual se encaixam os UFOs. Durante a realização do 3° Congresso Chileno Internacional de Ufologia, em Santiago, abril de 1999, os militares que coordenam a entidade – chefiados pelo general Ricardo Bermudez – abriram suas portas para os conferencistas e ufólogos presentes, recebendo-os para uma visita oficial em que mostraram seus métodos e discutiram seus objetivos.
Recursos Fartos – A entidade, por utilizar as instalações da Força Aérea Chilena, tem recursos admiráveis. Funcionando quase totalmente dentro da Escola Técnica Aeronáutica, responsável pelo treinamento dos controladores de vôo que atuam nos aeroportos do país, o CEFAA mantém uma linha de atuação constante, sempre vigilante ao que acontece na vasta área territorial do país. “O Chile, por ser um país que vai da Patagônia até a linha do Equador, tem muitos contrastes, o que força a entidade a usar métodos distintos para acompanhar os fatos em cada região”, afirmou Rodrigo Fuenzalida, representante da Revista UFO no país. Na região próxima à Antártida, a Força Aérea Chilena despende bem mais recursos para registrar fenômenos ufológicos.
Já ao norte do país, no Deserto de Atacama, por exemplo, as condições de visibilidade e detecção de UFOs são mais amenas. “No entanto, parece que os discos voadores se concentram mesmo é na capital, Santiago, semanalmente assediada por estranhos avistamentos&rd
quo;, finaliza Fuenzalida. A direção do CEFAA quer agora formalizar uma parceria com instituições universitárias, organizações civis de pesquisas ufológicas e até com governos de outros países, segundo informou o general Bermudez, um militar simpático à causa ufológica e escolhido pelo presidente para chefiar a entidade por ser considerado moderado – até os ufólogos do país mantêm bom relacionamento com ele. “O Centro pretende criar ferramentas de trabalho que possibilitem uma melhor análise dos casos registrados”, disse Bermudez, reservado. “O presidente Eduardo Frei nos instruiu para que fizéssemos um trabalho sério e coerente, sem jamais esconder os fatos da população do país”, finalizou, garantindo que não pretende realizar trabalho de amador, já que a entidade possui pessoal e instrumentos suficientes para desenvolver um trabalho profissional. Disso ninguém duvida…
Política Obscura – Assim, numa pequena volta ao mundo, vê-se como variadas nações, de maior ou menor importância no contexto político internacional, já são receptivas à questão ufológica. Resta agora que os Estados Unidos, cada vez mais acossados por seus parceiros internacionais, desistam de manter sua obscura e já quase ineficiente política de acobertamento ufológico – que, aliás, tenta impor a todo o mundo. Numa das seções mais importantes e polêmicas do já citado Relatório Cometa, o grupo de notáveis franceses faz uma recomendação expressa para que os países da Comunidade Européia se esforcem para pressionar os EUA a abrir seus arquivos, de forma a dar ao mundo informações absolutamente preciosas sobre a presença de seres não terrestres em nosso meio. A Imprensa norte-americana quase não tomou conhecimento das sugestões do Relatório Cometa, mas é certo que os militares do país, cada vez mais pressionados pela opinião pública, anseiam tornar a questão um assunto aberto. “A expectativa nas forças armadas do país é de que algo muito grave, muito visível e bastante inegável ocorra a qualquer instante, talvez envolvendo uma observação em massa que não possa ser desmentida pelo governo”, disse à Revista UFO o ufólogo residente em Nova York Antonio Huneeus, também presente no memorável simpósio de San Marino e atento observador do que acontece na Ufologia Mundial.
Enquanto tudo isso ocorre pelo mundo afora, no Brasil quase nada de concreto se faz para tornar o assunto reconhecido. Nossos militares, com raras exceções, continuam a insistir que os UFOs sejam mantidos à margem da população. Embora em épocas passadas tenhamos sido pioneiros no mundo no tratamento sério da questão ufológica, hoje nossos valorosos militares se fingem de mortos quando o assunto é disco voador. Nos tempos da ditadura e antes dela, o posicionamento da Força Aérea Brasileira (FAB) parecia ser bem mais objetivo que agora, quase 30 anos depois. Por exemplo, em 1969 a FAB chegou a fundar, dentro do 4° Comando Aéreo Regional, em São Paulo, o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), cujas atribuições era acompanhar o acontecimento de ocorrências ufológicas pelo Brasil afora, dando a elas tratamento científico prestado por especialistas de primeiro time de nossas forças armadas. Antes disso, em 1952, o coronel João Adil de Oliveira já fazia conferências para os militares brasileiros sobre o assunto, alertando para a forma como a Força Aérea Norte-Americana (USAF) o tratava. E depois, nos anos 80, a FAB voltou a envolver-se com UFOs na Amazônia, quando erigiu e designou o coronel Uyrangê Hollanda para conduzir a chamada Operação Prato [Veja UFO 55].
Mas duas novidades, no entanto, trouxeram um pouco de alento aos ufólogos recentemente. A primeira partiu do deputado federal João Caldas, de Alagoas, que propôs um Projeto de Lei que, se aprovado, garantirá à Ufologia um status bem mais oficial do que tem hoje. Seu projeto – de número 2324 –, a ser votado no Congresso em agosto, prevê que todos os registros ufológicos feitos no país sejam encaminhados à Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados e, depois disso, veiculados de forma apropriada. A outra novidade partiu do general Alberto Mendes Cardoso, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que numa entrevista à revista Veja, de 31 de maio passado, declarou ter total crença no fato de que civilizações extraterrestres estariam visitando a Terra. Cunhado na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), onde teve estreito relacionamento com o falecido general Alfredo Moacyr de Mendonça Uchôa, um de nossos principais pioneiros ufológicos, o general Cardoso mostrou-se sensível àsquestões que envolvem a Ufologia.
Minimização – No caso de Caldas, sua luta já teve um revés [Veja entrevista na página 8]. Ao enviar correspondência para o Ministério da Defesa, Geraldo Quintão, pedindo informações sobre UFOs no país e requisitando abertura dos arquivos governamentais sobre o assunto, o deputado foi informado de que muito pouca coisa existe para ser revelada, numa clara tentativa de desqualificar ou minimizar a importância do assunto, talvez para dissuadir Caldas de continuar com seu projeto. O tenente Henrique Marini e Souza, do Comando Geral do Ar, informou a Caldas que o órgão responsável pelo acompanhamento de “tráfegos desconhecidos” no país é o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra) que, no entanto, só havia registrado até o momento irrisórios oito casos ufológicos. “No Comdabra, as informações [Desses casos] são analisadas, catalogadas e arquivadas, compondo um banco de dados de referência”, escreveu Marini. Isso se choca frontalmente com o documento intitulado Diretriz Específica 04, revelado em nossa edição 67. Tal documento, emitido em 1989, dá instruções específicas para militares e civis envolvidos com o controle do tráfego aéreo no país, sobre como acompanhar a alarmante quantidade de casos registrados em nosso Território.
Ação Efetiva – Talvez o caso do general Cardoso possa ser um alento maior para ufólogos de todo o país, esperançosos em ver o governo tomar alguma ação efetiva quanto à intensa, diversificada e espantosa casuística ufológica nacional, tão amplamente comprovada. Em sua entrevista à revista Veja, o general, que admite ser kardecista praticante e alega ter condições de curar pacientes de várias enfermidades, afirmou que os “…extraterrestres são essas energias todas que se deslocam instantaneamente, e têm facilidades que nós ainda não temos”. Ele realmente sabe o que está dizendo!
Para um militar de carreira como ele, fartamente condecorado e amplamente reconhecido, acumulando funções seríssimas que vão desde o comando do serviço de informações da República, a articulação da política de segurança pública nacional, o combate ao narcotráfico e o assessoramento do presidente Fernando Henrique Cardoso em assuntos militares, declarações como essa não podem ser ignoradas. E não serão, se os ufólogos brasileiros souberem ler as entrelinhas…