
Há exatamente 40 anos, a humanidade dava seus primeiros passos na compreensão do emaranhado de enigmas sobre a existência ou não de uma civilização em Marte. Ainda que tal caminhada tenha se iniciado algum tempo atrás – mais precisamente em 1960, com o lançamento da sonda Marsnik 1 pela então União Soviética –, foi somente quatro anos depois que nós, aqui na Terra, pudemos tomar conhecimento do que ocorria de fato na superfície marciana. Batizada de Mariner 4 e lançada pelos Estados Unidos em 1964, a sonda norte-americana foi na época a maior das proezas científicas humanas no espaço. Precedida por uma série de lançamentos fracassados por parte das duas superpotências, a despeito das suas limitações técnicas, a Mariner 4 conseguiu passar a uma distância de “apenas” 9.800 km da superfície de Marte. Ela trouxe à luz uma quantidade limitada de fotos, mas que foram suficientes para reacender o debate sobre a possibilidade de encontramos outras formas de vida espalhadas pelo universo.
Mais tarde, à medida em que progredia nossa tecnologia, aumentava também nossa curiosidade acerca dos mundos distantes e tornava-se urgente uma nova investida ao planeta vizinho. No tempo em que URSS e EUA rivalizavam na demonstração do poderio científico, era impensável perder a corrida espacial. Assim, já em 1971, depois de mais algumas tentativas infrutíferas, a URSS fez chocar-se contra a superfície de nosso vizinho uma pequena sonda denominada Mars 2.
Erros do passado
Tentando polarizar a atenção do mundo, logo em seguida a Mars 3 pousava suavemente em Marte. Infelizmente, por problemas técnicos não totalmente esclarecidos, esta sonda interrompeu sua comunicação com a equipe que a monitorava desde a Terra. No mesmo ano, chegava a Marte a Mariner 9, enviada pelos EUA, acirrando ainda mais a disputa pelo domínio espacial.
Desconsolados pelo fracasso das missões anteriores, os soviéticos sabiam que uma grande chance de superação frente aos norte-americanos havia sido desperdiçada, uma vez que os programas espaciais de tal envergadura custavam tanto que quase fizeram ruir, já naquela época, a economia da URSS. Aprendendo com os erros do passado e do próprio “inimigo”, os EUA deixaram estupefatos todos aqueles que duvidaram da capacidade científica na época. E assim fizeram chegar, em 1976, as duas sondas Viking 1 e 2. Além de chegarem intactas e de também terem sofrido um pouso relativamente suave, foi a Viking 2 que fez aumentar exponencialmente e em pouco tempo o número de perguntas que até então fazíamos acerca da natureza de nossa existência, nosso papel no universo.
Além de ser a primeira sonda a orbitar o equador marciano e fotografar em cores o solo do planeta, a Viking 2 pegou todos de surpresa quando revelou imagens do que parecia ser um enorme rosto humano erigido como um monumento sobre uma planície distante de Marte, além de algumas pirâmides tais quais as existentes no Egito. Algumas, porém, eram destacadamente diversas, com cinco lados e de altura muito superior às existentes na Terra. Já em terra firme, os primeiros experimentos levados a cabo pela própria sonda constataram ligeiros traços de matéria orgânica microscópica, que poderiam ser interpretados como resquícios de um processo que denotaria o sinal da existência de alguma forma de vida simples. Mais tarde, os resultados foram rechaçados pela comunidade científica, pois, segundo os especialistas, numa atmosfera tão tênue e formada basicamente por dióxido de carbono, nenhuma forma de vida poderia existir. Além do mais, as temperaturas medidas naquele ponto fariam congelar qualquer intenção de existência de vida, por menor que fosse.
Concluíram os cientistas que, se houvesse qualquer sinal de vida por lá, deveria ser por algum erro no processo de estudo e levantamento dos dados, ou ainda, por haver ocorrido alguma contaminação na própria sonda durante os procedimentos de manuseio e lançamento do artefato. Hoje em dia, todos os cuidados são tomados para que uma eventual contaminação não ocorra, desde a montagem dos aparatos até o seu lançamento, para que não sejam comprometidos os resultados dos estudos que são feitos no espaço. Se o objetivo é justamente descobrir se há vida fora da Terra, seria muito inconveniente levar ao espaço uma tripulação microbiana indesejada.
Atualmente, segundo o cientista norte-americano Andrew Schuerger, há uma grande possibilidade de haver mesmo vida inferior em Marte. “Existe, sim, vida em Marte, e ela está lá porque nós a mandamos”, disse em entrevista à revista New Scientist. Tais formas primitivas seriam esporos e bactérias, viajantes espaciais originárias da Terra, de carona em nossas próprias naves. Se isso for de fato confirmado, então de certa forma será desmentida a informação de que durante as missões Viking houve falha na leitura e processamento dos dados. Por outro lado, se for comprovado que as formas de vida por lá existentes forem mesmo originárias da Terra, o que já seria muito difícil de conferir, uma enorme discussão acerca do assunto será levantada. Será que são mesmo daqui? Desde quando estão lá? Multiplicaram-se? Antes delas, havia alguma outra forma original de vida? Será que elas se reagruparam e formaram uma nova forma de vida adaptada ao meio hostil? Se um pequeno meteorito marciano foi encontrado na Antártida, algum fragmento de rocha terrestre poderia também, em algum momento, ter feito o caminho inverso?
Vida sem oxigênio
As perguntas que se sucederão serão tantas que, mesmo que sejam terrestres os indícios de vida marciana, uma geração inteira de cientistas não será suficiente para responder a essas e outras interrogações. Muitos se indagariam nesse momento como tais criaturas sobreviveriam por tanto tempo no vácuo espacial e numa atmosfera tão diferente da nossa? Uma bactéria ou outra forma de vida poderia realmente resistir a essas duras provas? Estamos acostumados a ouvir que qualquer manifestação de vida, por menor que seja, não vive sem oxigênio. Devemos nos lembrar, no entanto, que o oxigênio é um gás venenoso e chega a ser mortal para alguns tipos de organismos. Mas, no entanto, nos adaptamos
e sobrevivemos a ele. Não fosse a mistura de gases de nossa atmosfera, nós não existiríamos.
Certos cientistas falam até que não há motivo para acreditarmos na impossibilidade da existência de algum organismo vivo em ambientes com atmosferas bem diferentes da nossa. Como exemplo, citamos os extremófilos, seres unicelulares assim batizados por viverem em ambientes que para qualquer outro tipo de ente vivo seria impossível se manter. Desde as fossas abissais dos oceanos, onde a pressão é muitas vezes maior do que na superfície, até à beirada de vulcões, em que a presença de gases venenosos mataria qualquer outra criatura, existe uma série de minúsculas espécies vivas que sequer podemos imaginar.
Ao longo de milhões de anos, adaptaram-se e por lá continuam vivendo. Qualquer outro ambiente, que não estes, seria mortal para tais espécies. Portanto, por que a resistência de alguns cientistas em aceitar que em qualquer outro ponto de nosso Sistema Solar possa haver vida? E por que não mesmo em Marte? Em nosso próprio planeta temos os exemplos de que precisamos, mas não nos damos conta disso e acreditamos ser os donos da verdade no universo. Continuamos a ser as únicas criaturas vivas em meio a bilhões de outros mundos.
Apesar de todo esse debate, a pergunta, considerada por alguns como bastante simples, é: existe vida hoje em Marte? Há muito tempo essa interrogação ronda a cabeça dos cientistas. Mas, na verdade, não está claro se a vida já existiu alguma vez no Planeta Vermelho. Se depender das recentes descobertas, tudo leva a crer que sim. Segundo uma matéria publicada há três anos na revista Science, já houve em Marte um oceano com cerca de 30 m de profundidade, mas do qual restariam atualmente apenas 4% em forma de gelo. A sobra deste gigantesco depósito de água teria se evaporado, por razões ainda não totalmente esclarecidas, decompondo-se em moléculas de hidrogênio. A liberação desse composto contribuiria de forma direta para a estabilidade da atual atmosfera do planeta, hoje rica em dióxido de carbono, segundo dados colhidos pela antiga sonda Mariner 5, há várias décadas.
Erupções vulcânicas
O dióxido de carbono dominaria cerca de 95% de toda a atmosfera do Planeta Vermelho, enquanto uma mistura de outros gases, inclusive o oxigênio, seria responsável pelos outros 5% de sua composição. Devido às baixas temperaturas marcianas, de cerca de 80º C negativos, em algumas regiões o clima do planeta é extremamente seco e de baixíssima pressão, o que impede a formação de vapor de água. Nas camadas superiores, entre 20 e 50 km de altitude, essa mistura rarefeita de gases incluiria hidroperóxidos e moléculas de hidrogênio. Após muitas análises e testes laboratoriais, constatou-se que a combinação seria originária justamente da evaporação, num passado distante, do antigo oceano que havia em Marte, quando o clima do planeta ainda era quente e úmido.
Milhões de anos atrás, uma mudança no clima de Marte teria estimulado a evaporação de quase a totalidade da água existente, permitindo que apenas uma pequena parte dela permanecesse acumulada nos pólos e talvez no subsolo, há cerca de um metro ou mais de profundidade. Não se sabe ao certo o que teria feito imensa quantidade de água evaporar. Talvez um superaquecimento global ocasionado por erupções vulcânicas ocorridas em cadeia ou, quem sabe, impactos de asteróides. Agora que já se fala em extintos oceanos de água salgada, e que não restariam dúvidas de sua existência num passado remoto, resta descobrir se ainda há também indícios de alguma forma de vida. Sabemos que, por ter possuído uma atmosfera semelhante à nossa, Marte pode ter abrigado algum tipo de vida inferior. Mas quem teria construído as pirâmides e o rosto humano, se é que eles são de fato artificiais e não obra de erosão?
Talvez não demore muito para que a sonda Opportunity se depare com resquícios deixados por formas de vidas em eras passadas. Caso isso ocorra, é bem provável que ela encontre algum tipo de fóssil crustáceo, já que o robô está comprovadamente sobre o leito seco de um oceano. Ou, em se tratando de vida vegetal, é possível que encontre algum tipo de alga microscópica. Em 29 de março, cientistas da Agência Espacial Européia (ESA) anunciaram através do canal de notícias BBC a descoberta de depósitos de gás metano na atmosfera do planeta. Detectado pelos telescópios da sonda Mars Express, responsável por ter levado a Beagle 2 até Marte, o metano seria produto da existência de micróbios e de pequenos organismos, ou então, expelido do interior do planeta por intermédio da atividade vulcânica. O que vai de encontro a esta hipótese é que até o presente momento não foi confirmada nenhuma atividade do gênero em Marte. Já a favor da existência dos micróbios há o fato de que na Terra tais seres seriam os responsáveis pela maior quantidade de metano em suspensão na atmosfera, produzindo-o através do processamento do hidrogênio e do dióxido de carbono. Mas, infelizmente, a Beagle 2, que carregava os equipamentos necessários para a detecção definitiva do material em suspensão, acabou perdendo-se num possível choque contra a superfície marciana.
Algumas pessoas acreditam que há muito mais em Marte do que apenas os microorganismos previstos pelos cientistas. Há quem diga que a favor de tal anúncio estariam os indícios já observados da existência dos tais fósseis. Uma imagem obtida pela própria Opportunity causou polêmica entre os aficionados pelo planeta e estimulou mais ainda a imaginação daqueles que enxergam conspiração em tudo. Uma estranha formação de aproximadamente 4 ou 5 cm e de coloração bem diferente do solo e das pedras ao redor destacava-se na foto. Certamente não se tratava de nenhuma rocha, mas é estranho que a NASA tenha demorado tanto para se pronunciar a respeito, lançando algumas pérolas que, na verdade, já são comuns em situações do tipo. A primeira delas era que o objeto detectado seria somente uma parte do robô que havia se desprendido e ficado pelo caminho.
Toneladas de combustível
No entanto, devemos levar em consideração algumas objeções em relaç&ati
lde;o ao que foi ou ainda é divulgado oficialmente pela NASA. Basta saber que tais missões custam milhões de dólares aos cofres públicos e aos contribuintes norte-americanos. Com isso, desde o início do projeto, inúmeras dificuldades tiveram que ser transpostas. Apenas para ilustrarmos uma delas, senão a principal de todas as complicações, está a eliminação dos componentes desnecessários à sonda que seria enviada ao espaço, pois cada quilo de equipamento é traduzido em quase uma tonelada adicional de combustível no foguete que irá lançar o objeto atmosfera afora. Então, imagine agora cada componente, cada pequena peça fixada num pequeno robô, correndo o risco de ir se desprendendo por aí, em algum terreno poeirento, distante cerca de 54,4 milhões de quilômetros da Terra (em sua órbita mais próxima). É de se pensar se algum artefato continuaria funcionando em plena atividade, valendo-se de todo o seu arsenal tecnológico, sem comprometer qualquer uma das suas habilidades e tarefas mesmo com “um pedaço” a menos…
Também se falou de uma parte do airbag que ainda se prendia ao pequeno jipinho marciano – o rover –, mas tampouco esta hipótese se sustenta se analisarmos que uma série de sensores estão instalados por todos os lados do robô e que em nenhum momento falou-se que havia qualquer objeto atrapalhando sua marcha pelo solo. Além do mais, os airbags jamais seriam presos diretamente ao jipe, e sim na cápsula que o continha, que permaneceu aberta no local do pouso. Rapidamente, como não poderia deixar de ser, a imagem levantou sérias discussões na comunidade científica, e mais ainda entre as milhões de pessoas que acompanhavam o desenrolar dos fatos. Sendo assim, o estranho artefato ficou mais conhecido como o “coelho de Marte”, por lembrar, em função do seu formato, o pequeno animal. Através dos cálculos e emprego de diversos programas de análise espectral e fotográfica, foi dado o parecer dos técnicos: não era algo vivo, como supunham os curiosos. Um grande arsenal científico e tecnológico foi utilizado e renomados pesquisadores da instituição ficaram de prontidão para observar um eventual movimento do “coelho” pela superfície. Sem sucesso.
Nós não sabemos dizer exatamente de onde veio aquele ‘coelho’. Mas podemos trabalhar com algumas possibilidades, tais como isoladores de algodão, cobertura ou retalhos do airbag da sonda, tiras de tensionamento ou até mesmo um pedaço de feltro isolador dos geradores de gás
— Steven Squyres, principal investigador da Missão Marte
Que mundo é esse?
Jeff Johnson, respeitável cientista norte-americano, responsável pelas pesquisas geológicas realizadas em Marte, ficou estupefato ao se deparar pela primeira vez com a imagem na tela de seu computador. Vendo aquilo, ele se perguntou “em que mundo a nave havia pousado”. Outra grande equipe de estudiosos juntou-se aos primeiros pesquisadores com a finalidade única de descobrir a origem da anomalia, e não faltaram palpites como “restos do airbag” ou “pedaços de fita adesiva usada em programas espaciais”. Como já exposto anteriormente, tais definições não se coadunam com a complexidade do projeto, pois implicaria num total desacordo com as normas de segurança para a salvaguarda da aeronave. O caso foi, então, levado adiante, para que Steven Squyres, principal investigador da missão, pudesse intervir. Junto com Johnson e demais integrantes da equipe, Squyres não conseguiu chegar a uma conclusão definitiva. “Nós não sabemos dizer exatamente de onde veio aquilo. Mas podemos trabalhar com algumas possibilidades, tais como isoladores de algodão, cobertura ou retalhos do airbag, tiras de tensionamento ou até mesmo um pedaço de feltro isolador dos geradores de gás”.
Sabemos por experiências anteriores que o fato será relegado a um segundo plano e forçadamente esquecido pelos controladores da missão. Por outro lado, alguns cientistas mais exaltados e desejosos de novidades continuarão jurando que uma criatura viva foi fotografada – ou, no mínimo, os restos fossilizados de uma. No entanto, sabemos que quando o objetivo primordial é manter algo em sigilo, na tentativa de justificar algo injustificável ou desmascarar um possível acobertamento de informações, a criatividade corre solta e uma série de “explicações” gravitam em torno destas causas, como sempre sem qualquer sustentação. Resta saber agora quem está dizendo a verdade. E em termos de corrida espacial, isso sempre será um grande problema.