Na noite de 19 para 20 de maio de 1986 aconteceu uma das ocorrências ufológicas mais espetaculares de todos os tempos, quando um total de 21 UFOs, alguns de enormes proporções, invadiram o espaço aéreo brasileiro sobre o sudeste do país. A região é estratégica, concentrando as maiores cidades e parques industriais brasileiros, e onde acontece também o mais intenso tráfego aéreo. Este foi, naturalmente interrompido, enquanto a Força Aérea Brasileira (FAB), diante da detecção dos intrusos por mais de 50 radares em todo o território nacional, acionou caças Northrop F-5 e Dassault Mirage III a fim de interceptar os objetos desconhecidos.
O mais extraordinário foram os acontecimentos dos dias seguintes. Cada Arma possuía seu próprio ministério, não sendo agrupadas no atual Ministério da Defesa, e o próprio Ministro da Aeronáutica, o saudoso Brigadeiro Otávio Júlio Moreira Lima, participou de uma coletiva de imprensa ao lado de vários dos pilotos e controladores envolvidos. Por essa razão, esse clássico da Ufologia Brasileira e Mundial ficou conhecido como A Noite Oficial dos UFOs no Brasil. Tão estarrecedores foram os fatos que o presidente da República, José Sarney, foi acordado e informado durante aquela histórica madrugada, e soube-se muito depois que a embaixada dos Estados Unidos foi igualmente avisada, e seus funcionários de alto escalão prepararam um relatório no qual diziam que “alguma coisa chegara ao Brasil naquela noite”.
Tudo começou por volta de 19:30 h do dia 19, quando objetos desconhecidos passaram a ser observados nas proximidades do aeroporto de São José dos Campos, SP. As vinte horas, os radares de São Paulo e do Cindacta de Brasília confirmavam a presença de oito objetos sobre a cidade. As 21:00 h, o avião Xingu trazendo a bordo o então presidente da Petrobrás, coronel Ozires Silva, recebeu uma comunicação de Brasília para que observassem alguns pontos detectados pelo radar, e efetivamente a tripulação e o coronel puderam observar objetos luminosos de intenso brilho e de cor alaranjada. Tentaram aproximar-se dos mesmos para identificação, sem sucesso. O comandante Alcir Pereira da Silva, co-piloto do Xingu, disse que o ovni parecia uma estrela bem luminosa, voava a grande velocidade e a seguir desapareceu instantaneamente, mas que havia sido detectado pelo radar de sua aeronave. Em seu livro A Decolagem de um Sonho – A História da Criação da Embraer (Lemos Editorial) Ozires Silva faz comentários a respeito do episódio.
ALERTA NOS CÉUS E UMA HISTÓRICA COLETIVA DE IMPRENSA
As 22:23 h decola da Base Aérea de Santa Cruz o caça F-5 pilotado pelo tenente Kleber Caldas Marinho tomando a direção de São José dos Campos, onde havia sido detectado um grande objeto acompanhado por outros menores. O radar de Anápolis detectou as 22:45 h os intrusos e um Mirage com o capitão Armindo Souza Viriato a bordo levanta vôo, seguido as 22:50 h pelo segundo Mirage, do capitão Freitas. As 23:15 h o tenente Kleber começa a perseguição a bolas de luz com que havia feito contato visual. O F-5 do capitão Marcio Brisola Jordão decolou as 23:17 h, e o Mirage do capitão Rosemberg as 23:36 h. O desaparecimento dos objetos foi reportado as 1:45 h, após os aviões terem sido chamados de volta a suas bases. O mais surpreendente viria no dia seguinte, com a histórica coletiva de imprensa comandada pelo então ministro da aeronáutica, brigadeiro Otávio Júlio Moreira Lima, na qual os pilotos puderam relatar suas experiências.
O tenente Kleber disse haver tido um contato visual e com o radar de bordo com um objeto distante 12 milhas a sua frente, distância confirmada pelo radar de solo. A cor predominante do objeto era branca, e deslocava-se da esquerda para a direita, para depois subir. A cor depois variou para verde, vermelha e azul, e o ovni estava a dez mil metros de altura e sua velocidade era superior a 1.000 km/h. O tenente disse que sofreu interferência nos instrumentos de bordo e seguiu o objeto até 200 milhas sobre o Atlântico, sem conseguir identificar nem se aproximar do ovni. O capitão Jordão reportou mais de dez contatos por radar a vinte milhas de distância quando se aproximava de São José. O controle de solo foi informando a aproximação dos mesmos, e subitamente havia 13 objetos duas milhas atrás de seu caça, 6 a direita e 7 do lado esquerdo. O capitão tentou um looping para ficar atrás dos ovnis, mas estes acompanharam sua manobra.
Viajando a 1.350 km/h, o capitão Viriato aproximou-se até seis milhas de um dos objetos, que voava em ziguezague, movimento acompanhado tanto visualmente quanto pelo radar. Subitamente o objeto desapareceu. O capitão também acompanhou a incrível manobra de um dos objetos, acelerando subitamente e desaparecendo em instantes. Ele afirmou que os instrumentos mostravam que o ovni havia alcançado em instantes uma velocidade de Mach 15, 15 vezes superior a do som. A isso o major brigadeiro do ar Sócrates Monteiro acrescentou que casos assim eram reportados desde anos antes, e que a FAB havia filmado todo o evento. Também disse que os objetos passavam de 250 para 1.500 km/h em frações de segundo. A isso somam-se as palavras do major aviador Ney Antônio Cerqueira, chefe do Centro de Operação de Defesa Aérea, que afirmou que as fitas com as comunicações entre pilotos e controladores de Brasília, São Paulo e Anápolis, mais os relatórios dos pilotos, seriam estudados para conclusões posteriores.
PROMESSAS DE ABERTURA E GRANDES EQUÍVOCOS
O ministro Moreira Lima disse na coletiva que o céu naquela noite encontrava-se limpo, e descartou qualquer possibilidade de guerra eletrônica ou defeito no equipamento. Afirmou que entre as 20 horas do dia 19 e a 01 hora do dia 20 pelo menos vinte objetos foram detectados pelos radares, saturando-os e interrompendo o tráfego sobre o sudeste. Mais de cinqüenta radares em todo o território brasileiro comprovaram o fato. Acontecia por vezes de os pilotos não observarem nada e o radar acusar a presença dos ovnis, dali a p
ouco a situação se invertia. Os ovnis alternavam a velocidade e a direção com incrível rapidez, ficando estacionários e subitamente disparando a 3.600 km/h, fazendo curvas em ângulo reto e parando subitamente. Oito objetos ficaram parados por duas horas sobre o aeroporto de São José dos Campos, nenhum dos intrusos deixava rastros de sua trajetória, nem tampouco provocava o típico estrondo quando da quebra da barreira do som, e em nenhum momento exibiram qualquer sinal de hostilidade. Moreira Lima acrescentou ser difícil para a FAB falar sobre a possibilidade da presença de artefatos de origem extraterrestre, e que uma comissão iria investigar o assunto.
Nas reportagens que foram veiculadas ao longo da semana pela imprensa escrita e televisiva, foi dado espaço a conhecidas figuras acadêmicas e da comunidade científica, que lamentavelmente puseram por terra qualquer tentativa de realizar um debate sério e produtivo a respeito dos acontecimentos. Em um longo e detalhado artigo para a revista O Assunto é… Ufologia, número 14, da Editora Três, o saudoso coeditor da Revista UFO Claudeir Covo apresentou as declarações dessas pessoas, a maioria absoluta das quais completamente incompatível com os acontecimentos descritos pelos militares, algumas das quais divulgamos abaixo.
Paulo Marques, físico, professor e jornalista, afirmou que a vida em outros planetas da Via Láctea é um absurdo, que o reflexo da Lua cheia daquela noite refletiu nos aviões, que os radares detectaram meteoros, e que eram ovnis espiões de EUA e da então União Soviética.
Luis Pinguelli Rosa, físico da UFRJ, disse que os eventos nada tinham a ver com objetos extraterrestres, e que eram aviões não identificados, ou então objetos balísticos que atravessaram os céus brasileiros.
Luis Carlos Menezes, afirmou serem efeitos óticos que pregam peças, ou efeitos térmicos com reflexo de luzes por difração, um teste de um país super-desenvolvido com os radares brasileiros, e ainda miragens dos radares.
Roberto Godoy, especialista em indústria armamentista, afirmou que o Brasil fora espionado por alguma potência interessada em fotografar a região sudeste, a mais desenvolvida do País.
O saudoso astrônomo Ronaldo Mourão era já velho conhecido da Ufologia brasileira, em grande parte devido a suas declarações quanto outro caso famoso, o incidente do vôo 169 da Vasp, ocorrido em 08 de fevereiro de 1982 e sua principal testemunha, o comandante Gérson Maciel de Brito. Em maio de 1986 ele atribuiu os fatos a meteoros que acompanhavam a trajetória do cometa Halley.
O PROMETIDO RELATÓRIO NÃO FOI DIVULGADO
Durante a coletiva de imprensa Moreira Lima prometeu para dali um mês um relatório sobre os acontecimentos, que entretanto nunca veio a público. Nos anos que se seguiram os ufólogos continuavam buscando informações e pedindo esclarecimentos junto a FAB, que infelizmente respondia somente com evasivas. Mais de uma década depois, em 1997, o brigadeiro Moreira Lima concedeu entrevista para uma rede de televisão e a Revista UFO. Questionado, negou categoricamente a possibilidade de os eventos estarem ligados a algum fenômeno eletromagnético, ou mesmo haverem sido causados por qualquer aeronave conhecida, devido as características de vôo apresentadas pelos ovnis. Confirmou haver alertado o então presidente José Sarney a respeito dos eventos que se desenrolavam nos céus do Brasil, e afirmou estar convencido da existência de outras civilizações no Universo. Quanto a um contato com nossos visitantes, o brigadeiro afirmou que ainda existiam pessoas despreparadas para tal acontecimento, mas que via boa parte da Humanidade em condições para manter um contato direto com extraterrestres. Moreira Lima ainda acrescentou que em sua opinião um contato entre a Humanidade terrestre e uma civilização alienígena acontecerá dentro das próximas décadas.
No ano de 1999 o caso, já conhecido como a Noite Oficial dos Ufos, foi novamente tema de uma matéria na TV, agora no programa Fantástico da Rede Globo (confira vídeo nos links abaixo). Foi discutido novamente o Caso do Vôo 169 com as presenças dos comandantes Jérson Maciel de Brito e Mário Pravato, este último no vôo Transbrasil que igualmente testemunhou o ovni, e confirmou as observações de Brito. Este descreveu o objeto em sua maior aproximação naquela histórica noite de 8 de fevereiro de 1982 como semelhante a dois pratos superpostos, e estimou suas dimensões como superiores a dois aviões Jumbo. Sobre a Noite Oficial dos UFOs foi novamente entrevistado o brigadeiro Moreira Lima, que afirmou que a coletiva foi motivada por um vazamento de informações sobre os eventos, e segundo ele havia a vontade de explicá-los a fim de evitar qualquer má interpretação, como ameaças ao país. Não se descobriu a origem do vazamento.
O programa também entrevistou os pilotos Kleber e Viriato, que haviam se estabelecido na aviação civil, e que confirmaram suas observações na época. Viriato, encaminhando-se para sua aeronave naquela noite, reparou que a mesma estava sendo municiada e armada com mísseis. Mais tarde conseguiu aproximar-se até 6 milhas de um dos ovnis, antes que o mesmo acelerasse subitamente para em instantes colocar-se a mais de 20 milhas de seu caça. Viriato afirmou que o radar de Brasília confirmou que o objeto havia atingido naquele curto intervalo uma velocidade de mach 15. Kleber acrescentou que de acordo com suas impressões e o sinal de seu radar de bordo (no qual sofrera alguma interferência, que chegou a atingir outros instrumentos), o contato que perseguia tinha um tamanho equivalente a envergadura de um Jumbo, ao redor de 60 metros.
COMEÇA A ABERTURA
Depois de muitos anos reivindicando maior transparência de nossos militares quanto a quest&atil
de;o dos ovnis, a revista Ufo lançou em 2004 a campanha Liberdade de Informação Já. Finalmente, após 14 meses, em 20 de maio de 2005 os representantes da Comissão Brasileira de Ufólogos, Ademar Gevaerd (editor da Revista UFO), acompanhado dos coeditores Claudeir Covo, Marco Petit, Roberto Beck e Fernando Ramalho, membros da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) foram convidados pelo Major Antônio Lorenzo, do CECOMSAER (Centro de Comunicação Social da Aeronáutica), para conhecerem as instalações da Força Aérea Brasileira, em Brasília. Os ufólogos puderam conhecer e visitar as instalações do 6º Comando Aéreo Regional, do CINDACTA I, e do COMDABRA. Este último é o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro, e nada menos, o local onde se encontram os mais secretos arquivos da FAB, incluindo aqueles que tratam dos casos ufológicos em todo o território nacional.
Os integrantes da CBU assistiram a palestras, puderam testemunhar o funcionamento das instalações e procedimentos ligados a defesa aérea e controle de tráfego aéreo, e finalmente, no COMDABRA, puderam examinar três pastas. Uma delas continha o primeiro registro ufológico feito pela FAB, em 1954. Outra trazia, em 179 páginas, informações a respeito da Operação Prato (cuja reconstituição foi exibida no ano passado, no programa Linha Direta Mistério da Rede Globo). Finalmente, a última pasta trazia 50 páginas de informações a respeito da Noite Oficial dos Ufos. O relato completo do histórico acontecimento foi publicado na edição 111 de junho de 2005 da Revista UFO. A campanha UFOs: Liberdade de Informação Já promovida pela publicação finalmente foi bem sucedida na abertura ufológica quando, em 2008, o governo brasileiro liberou a primeira leva de documentação a respeito da presença de UFOs em todo o território nacional. Ao longo dos anos seguintes milhares de páginas de documentos foram liberados para consulta, estando disponíveis no Arquivo Nacional e no site da Revista UFO (confira nos links abaixo).
A Noite Oficial dos UFOs revelou-se de tamanha importância que, em meados dos anos 90, tornou-se obrigatória sua inclusão no famoso documento of Unidentified Flying Objects Briefing Document – The Best Available Evidence, conhecido como A Melhor Evidência Disponível. Baseando-se no histórico artigo de Claudeir Covo mencionado acima, é apresentado um sucinto relato dos incríveis acontecimentos daquela noite. O caso ainda teve destaque no livro de Leslie Kean UFOs: OVNIs – Militares, Pilotos e o Governo Abrem o Jogo. A revista Força Aérea, em sua edição 43, também tratou do caso. Finalmente, graças à campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, o relatório sobre os acontecimentos da Noite Oficial dos UFOs foi liberado. Com o título Relatório de Ocorrência, datado de 02 de junho de 1986 e assinado pelo Brigadeiro do Ar José Pessoa Cavalcanti de Abuquerque, o documento apresenta um resumo dos acontecimentos, ordenados de acordo com o horário em que os diversos fatos daquela histórica noite aconteceram, e surpreendeu a Comunidade Ufológica Brasileira diante da contundência de suas conclusões, apresentadas abaixo:
“Como conclusão dos fatos constantes observados, em quase todas as apresentações, este Comando é de parecer que os fenômenos são sólidos e refletem de certa forma inteligência, pela capacidade de acompanhar e manter distância dos observadores como também voar em formação, não forçosamente tripulados”.
Dessa maneira, trinta anos depois, pode-se tranquilamente afirmar que a Noite Oficial dos UFOs no Brasil ocupa um lugar de honra na história da Ufologia em nosso país, compondo ao lado da Operação Prato da FAB, de 1977, e o Caso Varginha de 1996 a trinca de acontecimentos ufológicos mais importantes já ocorridos em nosso país. Resta saudar a atitude de abertura da Força Aérea Brasileira, honrando a memória do brigadeiro Otávio Moreira Lima, e celebrar a pesquisa e divulgação dos fatos realizadas pelo saudoso Claudeir Covo. A Noite Oficial dos UFOs merece sem dúvida um lugar entre as ocorrências ufológicas mais extraordinárias de todos os tempos.
Assista a uma reportagem feita em 1986 sobre a Noite Oficial dos UFOs
Confira a matéria de 1999 no Fantástico
Baixe os documentos liberados graças à campanha UFOs: Liberdade de Informação Já
Leia o documento Relatório de Ocorrência
Confira o documento A Melhor Evidência Disponível
Leia o artigo de Claudeir Covo publicado ainda em 1986
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Livro: UFOs: Arquivo Confidencial
UFOs: Arquivo Confidencial – Um Mergulho na Ufologia Militar Brasileira expõe casos ufológicos de gravidade ocorridos no Brasil, que permanecem até hoje sob sigilo. O livro apresenta detalhes até então desconhecidos de como nossos militares conduziram investigações secretas de incidentes com naves alienígenas no país. Entre eles estão as impressionantes conclusões da Aeronáutica após conduzir a Operação Prato na Selva Amazônica, para apurar o Fenômeno Chupa-Chupa. O autor, Marco Antonio Petit, é um dos mais conhecidos e respeitados ufólogos brasileiros, co-editor da Revista UFO há 20 anos e autor de várias obras sobre a presença alienígena na Terra.