Ao ser lançado nesta segunda-feira para sua última missão no espaço, o ônibus espacial Endeavour levou uma carga pouco comum: bebês de lula. Isso não quer dizer que os astronautas estão planejando mudar de cardápio. As lulas, na verdade, vão ajudar os cientistas a entender como as “boas” bactérias se comportam em um ambiente de microgravidade.
Já se sabe que micróbios causadores de doenças crescem mais rápido e se tornam mais virulentos no espaço. Em 2006, amostras de bactérias de Salmonella sp. foram enviadas a bordo de outro ônibus espacial e, quando retornaram à Terra, tinham três vezes mais chances de matarem camundongos infectados por elas do que por amostras de controle que não foram para o espaço. Exemplares de Escherichia coli que também fizeram a viagem igualmente mudaram de comportamento.
“Nossa pergunta é: as bactérias boas viram más?”, resumiu Jamie Foster, pesquisadora da Universidade da Flórida e responsável pelo experimento, em entrevista à revista New Scientist. “Esta é a primeira vez que vamos estudar o comportamento de bactérias benéficas [no espaço]”.
As lulas são cefalópodes, um grupo de animais relativamente inteligentes que também inclui polvos e outros moluscos, que nunca foram mandados para o espaço. Foster conseguiu incluir na missão do Endeavour exemplares de Euprymna scolopes, uma espécie de lula do Pacífico que carrega bactérias chamadas Vibrio fischeri em seu corpo. Esse micróbios colonizam as jovens lulas logo após elas nascerem e se instalam em seus órgãos internos, gerando uma luz [bioluminescência] projetada para baixo de forma que a lula não produza uma sombra, tornando mais difícil que sejam vistas por predadores.
Esse é em um caso exemplar de mutualismo, em que dois seres colaboram e se beneficiam de uma relação. Os seres humanos também têm relações similares com micróbios, que ajudam a moldar nossos sistemas imunológico e digestivo, mas milhares de espécies se envolvem conosco ao invés de apenas uma, como no caso das lulas.
“Os humanos são muito mais complexos”, lembrou Foster. O experimento da cientista é simples, lulas recém-nascidas que ainda não encontraram suas parceiras bacteriológicas vão entrar em órbita dentro de tubos de água do mar. 14 horas depois, um astronauta adicionará as bactérias na água e lhes dará 28 horas para colonizarem as lulas, que então serão mortas e preservadas para estudos na Terra.
Foster já tem resultados preliminares de pesquisas realizadas aqui na Terra que simulam a microgravidade e demonstram uma maior dificuldade das lulas em abrigarem as bactérias. Se o experimento no Endeavour mostrar as mesmas conseqüências, isso pode indicar que a relação dos astronautas com suas próprias bactérias pode ser prejudicada. “Queremos garantir que nossos astronautas permaneçam saudáveis”, explicou.
Ímã detector de matéria cósmica invisível
Nesta quinta-feira os astronautas do Endeavour instalaram na superfície da Estação Espacial Internacional (ISS) um gigantesco ímã detector de antimatéria e matéria escura cósmica invisível ao olho humano. “O Espectrômetro Magnético Alfa (AMS) já começou a obter informações”, informou a Agência Espacial Norte-Americana (NASA) em comunicado, conforme as agências russas.
O espectrômetro, que pesa sete toneladas e tem 650 microprocessadores, é fruto de um projeto internacional dirigido pelo cientista Samuel Ting, prêmio Nobel de Física em 1976. Este sofisticado ímã detector de partículas, que será parte da plataforma orbital pelos próximos dez anos, deveria medir as propriedades da radiação cósmica e contribuir para conhecer melhor como foi formado o universo.
Um dos desafios do AMS é determinar se no cosmos existem restos da antimatéria primária que, de acordo com a teoria do Big Bang, deveria fazer parte da origem do universo. Atualmente, apenas é possível explicar 5% da matéria-energia do universo, enquanto que aproximadamente 20% correspondem a um misterioso tipo de matéria que não emite nem absorve radiação eletromagnética, e por isso é chamada de matéria escura.
E os 75% restantes, chamado de energia escura, seria uma forma de energia da natureza ainda mais misteriosa, uma força repulsiva responsável pela expansão acelerada do cosmos. O espectrômetro deverá fornecer informações valiosas sobre doses de radiação às quais estariam expostas as tripulações de futuras viagens interplanetárias.
O AMS custou dois bilhões de dólares e foi desenhado para captar partículas procedentes do espaço que não podem ser estudadas a partir da superfície terrestre porque são absorvidas pela atmosfera. Para acessar imagens, clique aqui.
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