Encédalo, uma pequena lua gelada de Saturno, pode ter sofrido uma dramática reorientação de sua superfície, rolando até que uma área de baixa densidade chegasse ao Pólo Sul. De acordo com um novo estudo, esse processo de reorientação poderia explicar a localização, no pólo, de uma área onde a nave Cassini, da Nasa, observou jatos de gelo e gás, indicando a presença de gêiseres ativos.
“Quando vimos os resultados da Cassini, ficamos surpresos em encontrar esse ponto quente no pólo. Então, nos propusemos a explicar como poderia ter chegado ao pólo, se não nasceu ali”, disse Francis Nimmo, da Universidade ad Califórnia em Santa Cruz. Nimmo e o co-autor Robert Pappalardo propuseram um processo de reorientação impulsionado pela ascensão de material quente e de baixa densidade, vindo do interior de Encédalo.
Um processo semelhante poderia ter ocorrido em outras pequenas luas do sistema solar, como Miranda, que orbita Urano. Os estudos sobre o assunto serão publicados na edução desta quinta-feira da revista Nature. Nimmo e Pappalardo calcularam os efeitos que seriam produzidos pela presença de uma bolha de baixa densidade sob a superfície de Encédalo, e mostraram que esse objeto poderia, de fato, fazer com que a lua rolasse, levando a área de baixa densidade para o pólo.
Corpos giratórios, incluindo planetas e luas, são mais estáveis se a maior parte da massa estiver próxima ao equador. Desse modo, qualquer redistribuição de massa dentro do objeto pode causar instabilidade em relação ao eixo de rotação. A reorientação que se seguir à instabilidade tenderá a colocar o máximo de massa na área do equador e, como resultado, as áreas de baixa densidade perto dos pólos.
A ascensão de material quente e de baixa densidade também poderia ajudar a explicar o alto fluxo de calor e algumas intrigantes características do pólo sul de Encédalo. Entre essas características há não apenas gêiseres, mas também um padrão de “listras tigradas” que sugere linhas de falha geológica, provocadas por pressão tectônica. “A região toda é mais quente que o resto da lua, e as listras são mais quentes que a superfície ao redor, sugerindo uma concentração de material quente debaixo da superfície”, disse Nimmo.
O aquecimento interno de Encédalo provavelmente resulta da órbita excêntrica da lua em torno de Saturno. A atração gravitacional que a lua sente ao longo de seu trajeto muda, e as forças resultantes geram calor no interior do astro. “Encédalo é comprimido e esticado por essas forças, e a energia mecânica se transforma em calor”, explica Nimmo.