Em uma entrevista publicada no jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte, Alberto Dines, analisando a imprensa brasileira, foi realista e justo ao afirmar que há superficialidade e falta de ética na mídia. “Não existe interação entre o discurso e a prática. Os jornais trabalham mais na exterioridade e geram imitações”, observou o jornalista. Na análise de Dines, num país onde grande parte da população é analfabeta, muitas pessoas acabam comprando jornais por causa de brindes, e não pela qualidade. Ele ainda ressalta: “A maioria dos leitores não tem capacidade e consciência crítica para julgar um jornal”.
É nesse contexto que a Ufologia é inserida. Ao invés de a notícia ufológica – que trabalha com o factual desprovido da materialização de provas que são sonegadas pela censura ou controle oficiais – ser contextualizada para o leitor, com suas causas e conseqüências na formação da opinião pública, tem-se, no Brasil, um amadorismo desinformado, fomentador da indefectível maledicência.
Basta que uma onda ufológica seja confirmada na casuística nacional para que a Imprensa contabilize o assunto como chacota. Ao contrário de priorizar os relatos das testemunhas, de avaliar o fato em si como uma evidência próxima à realidade universal e de editar um informativo coerente, inclusive com a própria natureza ambígua da Ufologia, a mídia os expõe ao sensacionalismo. Com isso, dá margem ao bochicho público contraproducente ao trabalho sério dos pesquisadores. Uma vez publicado, o fato ufológico cria confusão, aumenta o ceticismo e fortalece os órgãos oficiais na sua função cerceadora da verdade irrecusável, apesar de policiada, em razão da segurança nacional a fim de evitar um caos social.
Com exceção da Revista UFO, a mídia ufológica do país restringe-se a publicações de entidades afins, cujo alcance é confinado ao meio. Não há, em nenhum órgão da grande Imprensa, uma seção especializada em Ufologia, ao contrário da Astronomia que paulatinamente ganha mais espaço, sobretudo a partir das incursões cósmicas do satélite Hubble.
Acrescentam-se ainda as dificuldades por que passam os ufólogos para conseguir informações oficiais; as conseqüências do contato de terceiro grau, passivo ou por abdução, acometendo as testemunhas ou contatados ao stress psicológico e à marginalização social; o descrédito público-profissional dos cientistas que assumem o risco de revelarem fatos tantas vezes vivenciados junto a alienígenas e artefatos extraterrestres, sujeitos inclusive à ameaça de morte. Enquanto que os dados legítimos, protegidos pela ação dos top secret, poderiam, até mesmo, estabelecer um relacionamento mais digno entre as civilizações.
A mídia faz média – Para grande parte da Imprensa, ET continua sendo a superfaturada imagem criada por Steven Spielberg, ou o eterno homenzinho verde de Marte divulgado na ficção científica dos anos 50 e 60. Fingindo que desconhece a índole maniqueísta dos alienígenas, jornais, rádios e redes televisivas dão à notícia um ar de ingenuidade, de bondade e imediata empatia com os pobres mortais. Pode-se mensurar a reles editoração nacional, tomando por parâmetros alguns casos contribuindo para que os leitores e ufólogos possam melhor refletir sobre o posicionamento politicamente correto nas vagas matérias publicadas na mídia.
A autópsia dos alienígenas do Caso Roswell trata-se de oportunismo mercenário para vender uma fraude, provocando, conseqüentemente, a deterioração da pesquisa ufológica. Perante esse fato, o descrédito da Ufologia face a outras ciências torna-se cada vez mais evidente. Por exemplo, a reportagem de capa da Revista Veja, de 27 de março de 1996, intitulada Vida fora da Terra, com entrevista exclusiva com o astrônomo Carl Sagan. Esta reportagem afirma que uma pesquisa realizada pela rede de televisão CNN comprova que oito em cada dez astrônomos, físicos e biólogos, dos mais importantes centros de pesquisas do mundo, acham que “nos próximos vinte anos devem ser encontrados planetas do tamanho da Terra”. Os cientistas acreditam ainda que esses planetas estarão em órbitas que permitem absorção de luz e calor nas doses adequadas à criação e manutenção da vida. Em contraposição, um em cada dez acredita na hipótese de já existir vida inteligente fora da Terra.
Por que a VEJA e os cientistas não questionam o volume de informações liberadas por um Projeto Beta, uma varredura óptica do Hubble ou ainda, as 164 transmissões classificadas como misteriosas, detectadas pelas possantes antenas de rádio da Universidade da Califórnia, em Berkeley? Por que o próprio Carl Sagan, que admite que “hipóteses extraordinárias exigem evidências extraordinárias”, com base na Ata da Liberdade de Informação Pública dos Estados Unidos, nunca se interessou em compor fileira com ufólogos competentes e idôneos, visando a liberação do top secret mantido pelo país de Bill Clinton? Por que nunca um veículo de comunicação pautou uma enquete democrática sobre as razões de o povo acreditar na casuística ufológica?
O jornal Estado de Minas, em 29 de maio de 1996, publicou um calhau [Editor: recurso para preencher espaço em branco em jornais e revistas] anônimo intitulado Um ET na Idade da Pedra. Na esteira do Caso Varginha, a nota em tom sarcástico é o exemplo da intenção maledicente do meio contra a Ufologia. Ele fala sobre uma das mais recentes descobertas arqueológicas feita por um norte-americano na região de Pedra Pintada, perto de Santarém (PA). Para o desinformado autor da nota, trata-se do mais antigo museu da face da Terra, com obras de arte que datam de 14 mil anos, sem similares no planeta. A mais intrigante peça é um disco voador vindo do espaço. Isso mostra que não há nada de novo no noticiário nacional no que diz respeito aos ETs. Em Ufologia basta sabermos que o mundo ainda não foi descoberto. E, como previu o indispensável Bachelard, “…o céu está vivo”.
Informações mais confiáveis circulam em âmbito restrito e especializado. Em 11 de junho de 1996, numa matéria do Estado de Minas sob o título Contatos ufológicos chegam a 20 mil por ano no Brasil, foi preciso a acuidade experiente do editor de UFO, A. J. Gevaerd, para que dados da Organização das Nações Unidas (ONU) viessem ao conhecimento público e, ainda assim, com um atraso censorial de cinco anos. Os dados dão conta de que nos últimos 25 anos foram registradas 2,6 milhões de ocorrências ufológicas em 133 países do mundo. O Brasil teve, segundo a ONU, no mesmo período, três mil casos de contatos com alienígenas e 300 casos de abduções.
As notícias quentes têm trânsito apenas em congressos, simpósios ou publicações livrescas e, ainda assim, raras. Considera-se, a propósito, como admite o editor de UFO, que muitos indivíduos surgiram na Ufologia com alegações extraordinárias que jamais puderam ser confirmadas. “Essas pessoas, usam a ingenuidade ou cordialidade dos organizadores de congressos ufológicos para contar histórias que extrapolam a realidade”, disse.
Sensacionalismo superficial – Uma vez que se tem conhecimento estatístico da incidência do Fenômeno UFO no mundo, por que a ONU não inclui em seu relatório as confirmações denotadas por Robert Lazar sobre a Área 51, no Nevada? Como essa organização teve acesso a tantas informações? Quem garante que ela não faz uso do filtro de informações em razão da censura e da segurança da Humanidade? Quantos ufólogos trabalham em função da ONU e quantos trabalham a favor das evidências ufológicas?
Além da Imprensa provocar o sensacionalismo com a notícia inconseqüente e superficial, a Ufologia torna-se cada vez mais objeto mercadológico para o consumo das elites dos shopping centers. Somente para citar um exemplo: o Centro de Investigações e Pesquisa de Fenômenos Aéreos Não Identificados (CIPFANI), fez em maio do ano passado, no Minas Shopping de Belo Horizonte, a Expo-UFO 96. Segundo o repórter que cobriu o evento, Carlos Eduardo Oliveira, do Estado de Minas, o objetivo era expor fenômenos ufológicos, incluindo o polêmico caso do ET de Varginha. Que gafe! Como é possível expor fenômenos ufológicos? Que provas tem o repórter ao afirmar que a criatura capturada em Varginha era alienígena?
O ET de Varginha ganhou até uma comédia do teatrólogo Waldir de Luna Carneiro, intitulada Ao terceiro dia, baixou, de caráter rural-ficcional, encenada em Alfenas (MG). Eurico Rodrigues de Freitas, proprietário do Sítio Passárgada e testemunha de um avistamento nas adjacências de Varginha, batizou um bezerro que nasceu deformado com o nome de ET. Nessa política de tirar dividendos da Ufologia, o assunto garante alta rentabilidade e a pesquisa, o título de “a casa da mãe Joana” cósmica.
Até o escritor Roberto Drummond, em crônica publicada no jornal Hoje em Dia, de 16 de junho de 1996, teria se encontrado com o ET de Varginha num bar em Savassi. A Ufologia dá margem para que qualquer indivíduo faça as suas divagações, como também proporciona polpudos faturamentos com obras vendidas em diversas línguas e acessadas via Internet. A especulação, entretanto, não se limita ao renome ufológico de autores que exploram a curiosidade ingênua de leitores ávidos por emoções fortes. Os próprios ufólogos cuidam de promover o lastro de suposições à mínima flanagem de um vento a favor de fatos ou invenções. Advém desse imediatismo a pulverização de fatos às vezes sérios. O que há de novo na Ufologia? Idiossincrasia e vaidade cósmica. A ânsia de provar a existência dos ETs expõe ufólogos à retórica de guia cego.
Quando se trata de dar entrevistas, quem em sã consciência e com um mínimo de pudor gostaria de se expor ao ridículo? Qual repórter já não teve cortes em suas matérias? O fato é que os entrevistadores da grande Imprensa distorcem declarações de ufólogos, sem a devida revisão dos entrevistados, comprometendo-as sob a alegação fajuta da falta de espaço. Por que sempre há espaço para seus comentários ridículos sob a tutela do achismo e do chute? O que interessa à mídia é provocar a notícia impactante, ainda que essa falte com a verdade.
Não é só nos meios de comunicação que se tem conhecimento de verdadeiros latifúndios de batatas gramaticais aguadas por incorreções léxicas. Políticos e ufólogos, via de regra, escrevem mal. São retóricos, desagradáveis e pouco habituados ao seu repertório profissional. Igualmente aos jornalistas, redigem clichês, relegando o jargão científico imprescindível a um discernimento das competências analisadas e, assim, desfavorecendo a estilística do texto e do discurso. Contudo, há exceções. Quem alega, entretanto, falta de tempo para justificar uma informação desprezível, não deveria escrever.
Cabe à Ufologia determinar seu sistema de conhecimento definitivo – em nível de análise projetiva – e definir seu discurso científico mediante metodologia dialética confiável e sólida em suas premissas e referências. Há, entre os ufólogos, pesquisadores com excelente formação científica, assim como há uma maioria “achista” que confunde fenômenos naturais com ufológicos. Deveria inclusive ser produzido e publicado um Dicionário de Ufologia, cujos verbetes possam nortear o discernimento científico.
Hora de virar o disco – Há outros aspectos analisáveis da relação Imprensa e Ufologia. Ninguém duvida de que, na quase totalidade dos veículos, a cobertura é contra essa ciência. Não se pode negar que recentemente, sobretudo a partir do Caso Varginha, a mídia tem sido menos radical e mais atenta aos fatos. Não obstante a essa tendência ainda persistem o amadorismo, o texto de zombaria, a imagem fantasiosa, as observações falsas, o discurso repetitivo, a falta de metodologia, o reducionismo em função imediatista e a censura.
O que se espera, até mesmo por ética profissional e em cumprimento aos preceitos constitucionais – que incluem as leis da Imprensa e os Direitos Humanos –, é que a informação ufológica seja objeto de reflexão, oferecendo a todos, indistintamente, fatos comprobativos de que a verdade oriunda do Cosmo é tão relevante quanto a realidade do cotidiano terrestre.
Exemplo de como a mídia trata a Ufologia
Na edição especial de maio da conceituada revista Superinteressante, da Editora Abril, há alguns artigos sobre Ufologia. Seu texto é sintético e objetivo, muito bem ilustrado, mas o conteúdo é simplesmente de uma pobreza impressionante. No artigo intitulado A indústria dos Ovnis, de autoria de Joe Nickell, o leitor esbarra com um amontoado absurdo de inverdades mescladas com imprecisões e uma postura de completa desatualização. Um espanto. Qualquer eventual leitor de UFO é mais informado sobre o assunto do que o articulista Nickell.
Para se ter uma idéia, o artigo traz uma explicação tão esdrúxula para a queda de Roswell que nem mesmo um garoto no primário nos EUA – onde reside o autor da matéria – ousaria expressar. Nickell envereda pela aceitação da desgastada e ridícula teoria do Projeto Mogul, desconsiderando com a maior desfa&cce
dil;atez cerca de 25 mil páginas de documentos, liberados por força da Lei de Informação norte-americana, e pelo menos 400 testemunhas diretas ou indiretas do caso.
Mais adiante, o artigo “expõe a verdade” sobre os círculos ingleses e seu autor apresenta como explicação mais qualificada – acredite se quiser – a dos velhinhos ingleses que forjaram uma meia dúzia desses enigmáticos símbolos na Inglaterra e depois admitiram o feito à Imprensa. Nickell – e a Superinteressante, de maneira geral, já que traz o artigo – simplesmente desconhece que desde 1991, quando os velhinhos se apresentaram, até hoje, mais de 3 mil novos círculos foram encontrados, pasmando até Sua Majestade. Alguns deles chegaram a ter 600 m de diâmetro e mais de 200 componentes.
Desinformação, desinteresse ou mera desatualização? Como é possível que uma revista do porte da referida acolha artigos e articulistas tão despreparados? O pior: a Superinteressante atinge um universo impressionante de mais de 300 mil leitores, que estarão recebendo como informação algo que é, no máximo, um rascunho de fatos explicados à pressa por um cético de plantão. Lamentável.
É contra esse tipo de coisas que lutam os ufólogos. Ninguém pede que aquela ou qualquer outra revista creia abertamente em UFOs e faça propaganda de sua existência. Apenas pedimos à imprensa nacional que seja pelo menos imparcial em suas publicações a respeito do assunto e, no mínimo, um pouco mais bem informada. Já imaginou se a Super publicasse um artigo sobre Medicina ou Física com as incorreções ou desatualização que o de Ufologia conteve? Adib Jatene ou César Lates ficariam possessos…