Imagens tridimensionais enviadas pelo satélite europeu Mars Express em órbita de Marte, sugerem que as placas planas e fraturadas próximas ao equador marciano são remanescentes de gelo. Este gelo boiava num mar que existiu no planeta a poucos milhões de anos atrás, disseram os cientistas. O gelo, se de fato for, seria consistente com as afirmações de que ainda há bactérias vivas em Marte. Água líquida e próxima da superfície, aquecida por energia geotérmica, poderia criar um ambiente propício aos microorganismos.
O fato de ter existido água fluindo em Marte no passado é bem conhecido. As paisagens do planeta incluem canyons gigantes e vales originados por rios secos. Os robôs da NASA encontraram evidências geológicas para a existência de muita água num passado longínquo da história marciana, bilhões de anos atrás. As imagens do satélite Mars Express, entretanto, são as primeiras a oferecer pistas para o fato de terem existido largos corpos de água no passado geológico recente do planeta. Os cientistas dizem que este mar, que teria congelado rapidamente, tinha aproximadamente o tamanho do mar do norte e cerca de 50 metros de profundidade.
Os pesquisadores afirmam que as formas das placas de gelo estão preservadas na paisagem arenosa e que ainda pode existir gelo sob a poeira. Jan-Peter Muller, doutor e professor da universidade de Londres e membro da equipe de pesquisa, disse que, comparando as características do solo marciano com similares na antártica, “elas nos levaram à inevitável conclusão de que nós estamos olhando para os restos fossilizados de um grupo de blocos de gelo boiando num mar congelado”.
A área chamada Elysium Planitia quase não possui crateras geradas pelo impacto de meteoritos, indicando que o lago se formou e congelou de dois a 5 milhões de anos atrás. Uma coisa muitíssimo recente na história geológica do planeta, que tem 4,5 bilhões de anos. “Geologicamente falando isto aconteceu ontem”, disse Muller. Ele imagina que enchentes catastróficas foram originadas de fissuras na região a nordeste da planície e chamada Cerberus Fossae, e terminaram por inundar uma área de 500 por 560 milhas.
Outro membro da equipe de pesquisa, John Murray da universidade aberta da Bretanha, apresentou a pesquisa numa conferência na Holanda, ao falar dos dados oriundos da Mars Express. As descobertas, divulgadas pela revista New Scientist, aparecerão no próximo mês na edição da revista Nature. Anteriormente, cientistas planetários sugeriram que estas placas teriam se formado de fluxos de lava. Jeffrey Plaut, um cientista especializado em Marte do laboratório de propulsão a jato da NASA, disse que as paisagens se assemelhavam a fluxos de lava na Islândia e que as regiões vizinhas mostravam claras características vulcânicas. Mesmo que os cientistas Muller e Murray estejam corretos, o calor vulcânico seria necessário para derreter o gelo e transformá-lo em água, porque Marte era tão fria a vários milhões de anos atrás como é hoje em dia.
Muller disse que as placas, algumas com mais de 10 milhas de largura, são muito maiores do que as placas formadas a partir de fluxos de lava aqui na Terra. Toda a região é muito plana, ele disse, mais plana até do que se poderia esperar de uma área com atividade vulcânica. Em maio, o satélite Mars Express irá ativar um instrumento de radar capaz de penetrar no solo, e que será capaz de dizer se há gelo ou pedra sob a Elysium Planitia. Mas as melhores respostas viriam de uma observação mais próxima. “Este é um lugar que nós realmente deveríamos ir na próxima vez que enviarmos uma sonda para Marte”, disse o Muller.