
Há mais de 50 anos o Fenômeno UFO é registrado de alguma forma por habitantes do planeta Terra. Descartadas as fraudes – perto de 40% do total – e os erros de interpretação – algo superior a 57% –, as observações feitas por pessoas qualificadas e habilitadas formam um corpo de evidências consistentes e que merecem um estudo científico detalhado, imparcial e principalmente impessoal. Também é bom observar que todo estudo científico deve estar isento e necessariamente contido no conceito dos três As – aesotérico, areligioso e apolítico. O ponto central para se iniciar tal estudo seria descartar e parar de especular sobre as supostas origens para o fenômeno, descaracterizando-o, assim, de rótulos e adjetivos baseados em crenças e achismos.
Em minha modesta opinião, creio que o problema básico da Ufologia* esteja na crença, quase que fanática, de que os objetos voadores não identificados – OVNIs ou UFOs – sejam sinônimo de discos voadores e que toda sua origem seja exógena, sendo, portanto, a denominada Hipótese Extraterrestre a única explicação possível e aceita por grande parte da comunidade ufológica. Partindo-se de relatos de fontes confiáveis, indícios e evidências concretas, é possível demonstrar que o Fenômeno UFO, antes de um evento científico, pode ser enquadrado como um evento social, sendo estudado objetiva e racionalmente com a atual metodologia científica e tecnologias – sem que se pré-julgue ou rotule sua natureza. É necessário, portanto, que hipóteses radicais e atualizadas, baseadas em estudos multidisciplinares, sejam utilizadas para a correta compreensão da questão e que estejam isentas e distantes da limitada polarização entre o ceticismo exagerado e a crença em extraterrestres.
Infelizmente, devido a vários fatores históricos e culturais, existe um descaso do setor acadêmico para com o assunto, que é justificável até certo ponto. Pode-se perceber, através de alguns sinais, as causas enraizadas desta postura. De forma geral, o pensamento científico a respeito do Fenômeno UFO é obtido ao se escutar esse ou aquele ufólogo, ou ao tomar conhecimento de algum artigo ou entrevista feita por um. Assim, o meio acadêmico, quando tem conhecimento de certas alegações – algumas beirando o ridículo –, rejeita engajar-se na investigação do tema.
A Ufologia precisa aprender a conviver com a crítica, por mais que ela seja ofensiva à idéia de que somos visitados por seres de outros mundos
– Stanton Friedman
Rejeição à Ufologia — Uma vez que não existam provas ou evidências concretas de que a fenomenologia ufológica seja de fato sinônimo de atividade extraterrestre superior inteligente, muitos cientistas se afastaram dela, pois não querem ser vistos como parte de um suposto acobertamento ou ocultamento de informações, nem ter seus nomes associados a algo que sequer pode ser devidamente identificado. Só que esta atitude acaba ocasionando um mal muito maior à Ufologia e ao próprio meio acadêmico. E assim, como se observa um certo afastamento científico da cultura popular, também se nota um descaso para com o Fenômeno UFO, que acaba por possibilitar o surgimento de especuladores, pseudocientistas e aproveitadores da boa fé alheia. A problemática ufológica é, portanto, um caso de abandono cultural que já atingiu grandes proporções. Nos debates psicossociológicos atuais, muitos deles encontrados em listas de discussão na internet, duas são as correntes principais pelas quais se canalizam as idéias sobre qual deve ser a postura de estudo e conhecimento do desenvolvimento humano e tudo o que dele deriva – uma seria a ciência e, a outra, o misticismo ou esoterismo. Seus conceitos possuem três limitações básicas. Primeiramente, não representam todas as possibilidades de expressão e avaliação, o que seria o mesmo que limitar as possibilidades de conhecimento do tema. Entendo também que duvidar ou rejeitar uma hipótese qualquer é, a princípio, limitar o estado de consciência. Em segundo lugar, são conceitos parciais, em transição e de significação variável, dependente da conotação e referência que se atribua a essas linhas de pensamento.
Por fim, seus porta-vozes – defensores e propagadores – estão, em sua maioria, muito aquém de uma real formação acadêmica e pessoal nas ditas correntes. Observo a existência de vários “cientistas” e “mestres ascencionados” espalhados por sites e listas da internet, cujo poder intelectual acaba no mesmo instante em que o mecanismo de buscas do site Google.com sai do ar. Na maioria dos casos, o que é verbalizado não corresponde à conduta adotada por essas mesmas pessoas. Na Ufologia a situação não é nada diferente.
Luta do bem contra o mal — Pelas verdades pessoais de alguns poucos, o grande fluxo do estudo, análise e debate do enigmático Fenômeno UFO foi dividido em duas frentes antagônicas e adversárias – a científica e a esotérica ou mística. Os defensores da primeira linha de pensamento acusam os da segunda de serem “pouco científicos, incoerentes, isentos de provas, delirantes, fantasiosos, farsantes e ingênuos”. Os simpatizantes da segunda linha acusam os da primeira de “ególatras, limitados, sem imaginação e flexibilidade, demasiado cartesianos e racionais, num mundo há muito tempo quântico!” E tudo isso é lamentável. Coitados daqueles que, no íntimo, se julgam os detentores da verdade. Pobres são os que assumem a atitude mundialmente conhecida dos três macacos: não ouço, não falo e não vejo. Infelizes aqueles que se consideram cavaleiros missionários numa luta do bem, pela verdade, contra o mal, a mentira.
Enfim, é penalizada a grande maioria das pessoas leigas e interessadas no tema que passivamente, como uma rede num jogo de pingue-pongue, vê a bola passar de um lado ao outro, regozijando-se e vibrando quando, num erro de um dos competidores, ela resvala ou toca na rede. Quanta ignorância e quanto egocentrismo! Até quando teremos que suportar esse jogo sem graça? Sim, porque os competidores gritam e rugem como se fossem da categoria de jogadores olímpicos, quando no fundo não passam de amadores que mal resistiriam a um saque de muito efeito. Afinal, para os que defendem uma Ufologia Científica, deveríamos perguntar quem é realmente um cientista dentro desse tema? Quem sabe o que a palavra e o conceito de ciência realmente significam? Por acaso existe alguém por aí que seja formado em Ciência Ufológica ou Ph.D. em Ufologia Científica Forense? Mais desperdício de tempo mental e humano.
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Por outro lado, os que defendem uma Ufologia Mística já descobriram quem realmente tenha penetrado no âmago do conhecimento? Quem de verdade sabe discernir entre sonho, viagem astral, interferência dimensional, desdobramento, projeção astral, bilocação, visão remota e passo quântico? Se tanta gente é tão íntima assim de “mestres ascencionados” e “seres de luz”, por que existe tanta briga e discussão? Não têm certeza do que viveram e sentiram? Ou suas experiências e conhecimentos somente funcionam quando estão sozinhos e isolados? Será que os seres de luz, quase sempre “extraterrestres bem intencionados”, não perceberam que nós, os “seres inferiores”, não temos mesmo jeito?
Contudo, já que segundo alguns, os tais seres extraterrestres criaram a vida sobre a Terra, não seria melhor acabar com toda ela e recomeçar de novo, numa tentativa de agora acertar o processo? Se for assim, por que não o fazem? Não podem interferir no desenvolvimento de um “planeta inferior”? E um contato extraterrestre ou a visão de um disco voador seria o quê, uma “interferência não-interferente”? Não seria melhor pedir um tempo aos nossos visitantes, unir esforços, admitir que muito pouco ou quase nada sabemos, preparar melhor as raquetes, planejar com cautela as jogadas e, aí sim, sair e jogar contra aquele que sempre foi o nosso grande inimigo em comum – nossa ignorância?
Satisfação e transformação — Como última reflexão, lembro que o melhor exercício não é a subida ao pódio para ganhar o almejado prêmio. Mas, sem dúvida, apenas ficar de pé para aplaudir aqueles que conseguem quebrar seus próprios limites e compreender o quanto foi valiosa sua própria experiência de conquistar o melhor índice. Para o atleta, a conquista jamais será o que os outros pensam de sua forma ou modo de ganhar o prêmio, mas sim o que ele próprio precisou modificar em si para estar ali naquele momento ímpar de satisfação e transformação. O trabalho de compreensão de um fenômeno como o ufológico jamais deverá ser de imposição ou de homéricas discussões de temas profundos e até quânticos, muitas vezes partindo de entendimentos falhos e incompletos. Seria muito mais simples se todos apenas pudessem compreender sua própria evolução desde quando iniciaram alguma consciência desta, que fossem atletas o suficiente para entender que existem alguns limites e grandes recordes, e que não adianta valorizar uma corrida apenas para fazer parte da turma. É preciso preparar-se para a participação.
A dica subliminar aqui é: pesquisadores de Ufologia, atualizem-se! O importante é ter a consciência de que os que estiverem participando da corrida serão os melhores a representar a oportunidade de ultrapassar os limites e impor novos recordes. Se, em seu grau de consciência, o atleta entender que não conseguirá vencer, deve participar de outra prova, mas jamais ocupar a vaga de outro. O grande percurso será sempre de resistência, não de teimosia. Em nosso mundo, a insistência inconseqüente e arrogante qualifica uma falta de consciência de caminhos alternativos que facilitem uma melhor compreensão do momento e futuro dos resultados.
No recente episódio do encontro dos ufólogos da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) com militares da Aeronáutica, tivemos um momento para reflexão. A reunião, realmente, não produziu mais do que os ufólogos já tinham em mãos há tempos, pois examinaram praticamente a mesma documentação já conhecida. E ficou claro algo que venho tentando alertar de forma enfática e constante: o meio militar não está preparado técnica e financeiramente para lidar com fenômenos e situações que necessitem de conhecimento e habilidades específicas em várias áreas do conhecimento humano. Isso foi claramente afirmado pelo comandante do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), major-brigadeiro Atheneu Azambuja. Esse é realmente um fato inédito no Brasil e que devia ser melhor explorado. A admissão pública de tal incapacidade técnica, por parte de nossas autoridades, mostra também que casos envolvendo as Forças Armadas e pessoal capacitado podem estar sujeitos a erros de avaliação e julgamento como qualquer outro. Ainda nas palavras do comandante do Comdabra, “a gente verifica o acontecido através dos relatos e das coisas que os nossos radares registram, e se junta tudo numa pasta. Muitas vezes se faz uma leitura dos fatos e não se chega a qualquer conclusão. Noutras, sequer realizamos uma investigação completa, porque nós não temos capacidade técnica, científica para isso”.
Bem, se eles, os militares, que possuem os equipamentos adequados para se detectar esse tipo de fenômeno não têm capacidade técnico-científica e nem recursos financeiros para tal empreendimento, quem teria? Não há dúvidas de que o meio acadêmico poderia ter a qualificação e o conhecimento necessários para realizar esta tarefa, além de possivelmente conseguir alocar os recursos financeiros de grandes universidades e da iniciativa privada. Afinal, não é um dos ideais de qualquer cientista fazer descobertas?
Leitura dos fatos — Mesmo sabendo que isso pode não valer para todos os casos – pois o objetivo dos cientistas seria desenvolver as teorias existentes e não buscar novidades, o que faz um certo sentido –, constata-se que, de modo geral, cientistas não buscam novas descobertas e sim trabalham em cima das teorias existentes para explicar novas questões. Entretanto, nesta investida, surgem questões que não podem ser explicadas pelo paradigma vigente e, assim, nascem momentos de crise, quando outras conquistas são feitas e outros paradigmas são criados ou adequados. Creio que a questão da rejeição da Ufologia por parte do meio acadêmico está também numa certa crise de paradigmas preconcei
tuosa sobre o assunto UFO, fruto de problemas pregressos de definição do fenômeno.
Essa situação inédita, verbalizada pelo comandante do Comdabra, nos leva a pensar em duas situações que poderiam – ou poderão – ocorrer. Primeiro, não seria este o momento ideal para os movimentos céticos, cientistas, universidades e centros de pesquisa reagirem e pedirem uma satisfação para o comando da Aeronáutica, que admitiu sua incapacidade técnica? Afinal, não é todo dia que uma instituição militar de grande porte admite registrar por meios diversos e de forma concreta fenômenos desconhecidos e anômalos por pessoal qualificado e habilitado, e ainda assumir publicamente que não sabe como lidar com o assunto.
Por outro lado, em segundo lugar, se o comando da Aeronáutica diz não possuir recursos financeiros e científicos para fazer seu trabalho de averiguação do Fenômeno UFO, não seria o momento dos ufólogos também reconhecerem suas deficiências e, através de suas campanhas, aproximarem-se dos cientistas e do meio acadêmico? Será que os ufólogos que representam a Ufologia Brasileira teriam maturidade suficiente para elaborar e propagar uma nova iniciativa, como a UFOs: Liberdade de Informação Já, conclamando o meio acadêmico e seus representantes a pesquisarem oficialmente o assunto, criando assim uma tríplice comissão de ufólogos, cientistas e militares, todos juntos objetivando descobrir e esclarecer o que de fato existe por trás do Fenômeno UFO?
Ou será que os ufólogos brasileiros ainda acreditam que são as pessoas mais indicadas e capacitadas científica e financeiramente para preencherem os requisitos necessários para atender a honesta e humilde declaração do comando da Aeronáutica? Enfim, qual será o próximo capítulo dessa odisséia espacial versão planeta Terra? Por fim, deixo uma última reflexão para quem quiser se aprofundar ou se iniciar no estudo sério da Ufologia, com consciência, bom senso e propriedade: a Ufologia Científica necessita do ceticismo e dos céticos, como qualquer outra ciência ou área do conhecimento humano. Porém, esse ceticismo tem de ser capaz de reconhecer quando um caso ufológico simples ou complexo não pode ser explicado por qualquer explanação simples ou prosaica!