Muito antes das produções de Hollywood Homens de Preto [1997] e Homens de Preto II [2002], filmes estrelados por Tommy Lee Jones e Will Smith, a televisão norte-americana já tinha explorado a temática dos inoportunos homens de preto que assediavam testemunhas de encontros com UFOs ou pesquisadores do tema. Na década de 1960, a então famosa série de TV Os Invasores, em um de seus primeiros episódios, usou e abusou visualmente dos sinistros MIBs. Diferentemente dos longa-metragens de hoje, os homens de preto de Os Invasores não eram uma organização governamental secreta que estudava ou tentava livrar a Terra de extraterrestres indesejáveis, a “escória do universo”.
Na série, eles eram os próprios extraterrestres e do tipo mais nefasto que a imaginação dos escritores e roteiristas de ficção científica podia criar, na época. No episódio A Experiência, o físico de renome, doutor Curtis Lindstrong, interpretado por Laurence Naismith, descobre que a Terra está sendo lentamente invadida por seres de outro planeta que assumiram a aparência de humanos e vivem entre nós disfarçados. A intenção deles, como dizia o narrador na abertura de cada episódio, era “fazer dela (a Terra) o seu mundo”. No episódio, Lindstrong planeja ir a uma importante conferência em Nova York, onde faria a denúncia, mesmo que o considerassem louco. Logo no início da série, o cientista, acompanhado pelo filho, estava na pista de decolagem a bordo do avião esperando uma violenta chuva passar quando começou a se sentir incomodado e nervoso. Com pressa de fugir de alguma coisa, e tentando evitar o assédio da imprensa naquele momento ele olhou pela janela e viu que o sinaleiro, ocupado em orientar os aviões debaixo da maior chuva, era um invasor. Desesperado, ele insiste com o filho de que eles precisam sair dali, pois o avião podia ser uma armadilha para ele. Os dois saíram a tempo de ver, de um lugar protegido no aeroporto, a aeronave explodir logo após a decolagem.
Relatos espantosos — Mais adiante no episódio, o doutor Lindstrong acaba entrando em contato com David Vincent, interpretado por Roy Thinnes. Vincent, único personagem fixo da série, é um arquiteto que sabe muito acerca dos invasores e por isso passa por tremendas enrascadas para convencer o mundo da ameaça extraterrestre e para se proteger dos próprios invasores. Vincent tenta convencer o cientista de que ele estaria mais protegido se fosse se esconder em algum lugar discreto, ao invés de continuar em casa. Por fim, o velho cientista se hospeda num hotel barato, não revelando a ninguém seu paradeiro, exceto ao filho Lloyd, vivido pelo ator Roddy McDowall. Na cena seguinte, o telespectador vê um carro preto chegar lentamente e parar diante do hotel onde o cientista se escondia. Dentro do veículo havia dois homens usando terno e chapéu escuros. Em determinado momento, em meio à tensão o doutor Lindstrong olha pela janela e vê os dois homens de preto atravessando a rua. A expressão, aliás, jamais é usada neste ou em qualquer outro episódio, mas a descrição é típica: ternos e gravatas pretos, chapéu preto, camisas brancas.
Os dois são altos e ligeiramente parecidos. Relatos de MIBs inspiraram roteirista – Tendo pesquisado muito para escrever a série, o roteirista chefe Larry Cohen sem dúvida conhecia a história de Albert Bender [Veja matéria nesta edição] sobre a tentativa de persuasão para que interrompesse a pesquisa sobre os discos voadores e possivelmente vários outros relatos que foram se acumulando desde a década anterior sobre a visita desses entes. Cohen usou esses exemplos misturados com arte e com um clima de suspense magnificamente elaborado, criando um prato cheio para a ficção. De volta à A Experiência, doutor Lindstrong, sem telefone no quarto de hotel, se desespera, destranca a porta e corre até o telefone público do corredor. Enquanto aguarda a lenta telefonista de 1966 entrar em contato com David Vincent, ele vê, petrificado e com os olhos quase saltando das órbitas, a porta da frente se abrir devagar, e as duas figuras de negro entrarem.
Gentilmente um deles lhe dirige a palavra e diz que foi o filho dele quem lhes dera o endereço do hotel. Eram agentes do governo, e tinham vindo para levá-lo a Washington. “Seu filho está preocupado com o senhor”, explica o MIB. Baixando a guarda por um instante, o professor desiste de Vincent e põe o fone de volta no gancho, enquanto suspira um “graças a Deus”.
Hemorragias cerebrais — Ele os acompanha, ainda meio aturdido, porém mais calmo. Até que um dos visitantes comete um pequeno lapso (ou o provoca deliberadamente), ao lhe perguntar se está levando consigo as provas. Provas que ele nunca tinha mencionado a ninguém! Ele se apercebe do perigo e tenta fugir, mas é tarde. Os invasores o seguram como se fosse um garotinho, e com sua arma típica, silenciosa, que provoca hemorragias cerebrais, o matam ali mesmo no corredor. Durante o velório do cientista – numa igreja tão sombria que mais parece um castelo de um filme de terror gótico – seu filho e David Vincent, os únicos presentes, conversam. Ao ser indagado por Vincent se alguém mais sabia do paradeiro do pai, o jovem responde que não. Mas depois se lembra que dois homens o procuraram. Surpreso, ele acrescenta que os visitantes tinham mostrado suas credenciais, comprovando que eram do governo.
O olhar de Vincent, após essa informação, é mais revelador do que se ele dissesse a Lloyd: “Santa ingenuidade”. Entretanto, ele não fala da estupidez do rapaz, e prossegue com um plano para obter as provas que o velho cientista tinha escondido em algum lugar e que revelavam a presença de invasores extraterrestres em nosso planeta – provas estas, claro, que acabaram sendo confiscadas e destruídas pelos intrusos. A figura sombria dos homens de preto invasores retorna umas duas ou três vezes em futuros episódios da série, mas a técnica de intimidação desses agentes alienígenas é apenas uma dentre tantas exibidas pela televisão, que ora são homens menos sombrios, ora mulheres sedutoras, ou garotos passeando de bicicleta, militares, padres, médicos, garçons e até dançarinas em show de strip-tease.
Os Invasores tiveram três temporadas, durando cerca de um ano e meio, e foi exibida no Brasil pela primeira vez em 1968 e 1969, sendo reprisada várias vezes depois. Em 1995, foi produzido o longa-metragem para a televisão, Os Invasores, uma espécie de seqüência da série, estrelando Scott Baculla e com a participação especial de Roy Thinnes, interpretando o mesmo personagem. O argumento, porém, era muito inferior à série, com abuso de efeitos especiais e uso típico de visuais gosmentos, mais ao gosto do cinema moderno.