Em 1978, ano em que o governo americano manifestou o desejo de revelar toda a verdade a respeito dos UFOs, a comunidade ufológica festejou a notícia transmitida em diversos meios de comunicação. Dizia-se que os militares vinham observando e fotografando estes objetos desde a Segunda Guerra Mundial. O fato ampliava-se na quase certeza de que possuíam também fragmentos de naves acidentadas e até mesmo os corpos de pequenos seres, preservados secretamente, nos freezers do Pentágono, e estudados por cientistas escolhidos a dedo.
Desde 1954, Jacques Vallee escutava estas estórias que também se achavam estampadas, constantemente, como matéria principal dos tablóides vendidos nos supermercados americanos e, ocasionalmente, nos grandes jornais. O cientista não prestava a mínima atenção a todo este sensacionalismo até que se conscientizou de que o ceticismo ferrenho, às vezes, não levava à sabedoria e não ajudava a ciência. Quem sabe, naquela fogueira de falsidades, poderia estar ardendo também à chama da verdade? Vallee recorreu ao seu arquivo onde catalogava os eventos que ainda iria pesquisar mais apuradamente. Ficou literalmente surpreso com os resultados.
Em Aurora, no Texas, em 17 de abril de 1897, uma nave se acidentou e explodiu em vários fragmentos. O alienígena lá encontrado foi taxado de marciano e papéis escritos em hieróglifos lotavam a nave. Supostamente, o piloto da nave foi enterrado no cemitério local. O caso foi considerado uma farsa, mas uma nova investigação demonstrou a existência de uma liga estranha que foi entregue a McDonnell Aircraft Company para análise. Spitzbergen Norway, em 1947, e o Incidente de Roswell, em 02 de junho de 1947, tão “decantado em prosa e em verso” pelos ufólogos do mundo inteiro, estavam na companhia de mais outros 14 casos ocorridos no México, Argentina, Califórnia, Polônia, Bolívia e em vários locais dos Estados Unidos, que desfilaram diante dos olhos de Jacques Vallee – que os detalhou em três páginas do seu livro Revelations. Ele os avaliou e os definiu como sendo questionáveis devido às suas fontes de confiabilidade incerta. Constava em seu arquivo, ainda, outros documentos que poderiam ser mais ou menos classificados como boatos. Dentre eles: o Caso Roswell, no Novo México – o mais pesquisado por gente de gabarito, mas que ainda pode ser questionado sob certos quesitos.
O Caso Roswell
Charles Berlitz e Bill Moore, em 1988, escreveram o bestseller The Roswell Incident [O Incidente de Roswell], onde citam Meade Layne, diretor da Brotherland Research Foundation, como testemunha da existência dos supostos corpos de alienígenas encontrados em Roswell. Layne afirmou conhecer o doutor Weisberg, professor de física de uma universidade da Califórnia, que examinou os seis corpos encontrados. Estes cadáveres teriam sido levados por um caminhão em via crucis até Murdoc, onde está situada a Edwards Air Force Base. Outra notícia não confirmada publicou que Gerald Light, Franklin Allen [da Hearst], Edwin Nourse [Brookings Institute] e o bispo de Los Angeles, Mac Intyre, haviam examinado cinco naves espaciais que estavam submetidas ao exame científico. Light escreveu uma carta para Layne, informando que o próprio presidente Eisenhower fora, secretamente, verificar os discos e os seus ocupantes, e que uma declaração oficial estaria sendo redigida nos meados de maio de 1954. A comprovação desta estória deu em nada!
Light, quem afirmava ter experiências fora do corpo [viagem astral], relatou ter testemunhado, secretamente, estes acontecimentos em uma sessão de “remote viewing”. Vallee achou muito interessante este pormenor, pois representava a primeira das muitas notícias verídicas ocultadas sobre incidentes fatais com espaçonaves alienígenas, atribuídas ao governo norte-americano. Berlitz e Bill Moore, no seu livro, lançaram a idéia de que fragmentos das espaçonaves de Roswell e outros materiais estariam guardados em um local conhecido como edifício 18A na Área B da Base Aérea de Wright – Patterson, que se tornou no legendário Hangar 18, cujas referências, também cotadas em outros livros, levam à idéia de um abrigo ultra-secreto, lar dos discos voadores acidentados e dos seus pequenos ocupantes. Um “Top Secret” governamental.
Em Maio de 1989, Jacques Vallee vai ao seu país natal, a França, para um Encontro Europeu de Investigadores de UFO, em Lyon. Na ocasião, ouviu o jornalista Bill Moore discorrer sobre “O Caso Roswell”, gerando novas questões e novos raciocínios. Em conversa particular com Vallee, Moore confirmou o detalhe de que os destroços das espaçonaves de Roswell foram recolhidos em 09 de junho de 1947. Vallee rapidamente lembrou-se de que o acidente acontecera em 02 de junho daquele mesmo ano, portanto, uma semana antes e, com o forte verão do Novo México. “Se existissem cadáveres, então, eles estiveram expostos ao calor forte do Novo México, para não mencionar os numerosos predadores, por toda uma semana”. Este detalhe, ao que parecia, jogava por terra as idéias de que um dos alienígenas sobreviveu ou de que foram realizadas autópsias para se avaliar os órgãos dos extraterrestres mortos, fatos tornados, então, inteiramente improváveis pelo arrazoado de Vallee. Mas este famoso incidente já fora profundamente plantado na mente da maioria dos entusiastas de Ufologia, bem como todas as dúvidas e acusações que surgiram na mídia contra o “segredo” guardado a sete chaves pelo governo americano a respeito dos acontecimentos de Roswell.
Stanton Friedman fincou a sua bandeira, sem deixar dúvidas, com o seu ponto de vista nela inscrito: “Os discos voadores são as espaçonaves de alguém”. Com as notícias de que algo espantoso seria revelado eminentemente, esqueciam o fato de que este estado de “eminência” estava sendo anunciado desde os anos 50. Os entusiastas propalavam aos quatro ventos que estava sendo organizado, cuidadosamente, um programa feito pelo governo, onde revelações seriam feitas através de documentários. Filmes de Hollywood batiam nas mesmas teclas e os tablóides fervilhavam notícias sensacionalistas. Steven Spielberg, com o fito de preparar o público para um “encontro eminente”, lança então Contatos Imediatos do Terceiro Grau, onde Jacques Vallee serve com modelo do personagem encarnado por François Truffaut e ajuda o cineasta na trama do filme. Na ocasião Vallee revelou a Spielberg que estava chegando à conclusão de que o Fenômeno UFO provinha de outras dimensões. O cineasta retrucou que o público queria ver, não os seres extradimensionais, e sim os seres extraterrestres. Neste tumulto, Vallee, de repente, passou a suspeitar de que alguma coisa muito bizarra se movimentava nas coxias do palco e também movimentava os atores em cena e, definitivamente, não se convenceu da existência da famosa finalidade do Hangar 18 e da consistência das provas nele, supostamente, escondidas.
Cenouras acenando
Um projeto novo, criado por Robert Emenegger, nasceu em 1985 com o auxílio de Jacques Vallee. Emenegger fora procurado pelo coronel Coleman [já aposentado e vivendo na Flórida], que desejava um novo filme
dedicado aos UFOs. Teriam certa ajuda do governo e, talvez, novamente a participação de J. Allen Hynek, segundo o coronel. Hynek, também aposentado das suas funções na Universidade Northwestern, estava deslocando o seu Centro de Pesquisas Privado para Phoenix, no Arizona. Emenegger notificou Vallee de que Hynek lhe pedira também o concurso do astrofísico, pois algo o estava intrigando em relação ao estado de coisas dentro da pesquisa ufológica.
O autor foi taxativo: teriam a cooperação do Departamento de Defesa que liberaria para ele fatos verdadeiramente inéditos e sensacionais. Havia um porém, o documentário seria estritamente profissional e deveria empolgar, novamente, a opinião pública. Daí a razão dos convites feitos a Allen Hynek e Jacques Vallee: com o suporte destes dois “pesos pesados” da Ufologia, o sucesso do filme seria total. A “cenoura” estava sendo balançada de novo, nos narizes dos dois mais famosos e respeitados “coelhos” da Ufologia americana e internacional. Vallee sentia-se inteiramente cético em relação a todo este projeto e questionou Hynek a respeito, expondo-lhe o seguinte raciocínio: “se o governo dos Estados Unidos possui algo de grande importância, guarda-o como um tesouro no Hangar 18, com ou sem pequenos pilotos alienígenas”. Só esta informação, se confirmada pelo governo ou o Departamento de Defesa, faria do documentário um sucesso estrondoso e internacional.
Se o governo realmente queria liberar esta confirmação, não precisaria de Allen Hynek e nem de Jacques Vallee como porta vozes desta notícia sensacional, mesmo levando-se em conta o status que ambos haviam conseguido na área da Ufologia internacional. Vallee disse a Hynek que ia mais longe, o governo poderia fazer esta notificação de forma oficial, usando o peso da Academia Nacional de Ciências, por exemplo, como porta voz. Emenegger, ciente do que se passava, não concordou com os argumentos informados, seu contato anônimo lhe dissera que o seu feeling apontava para um fato: a vidência, a prova irrefutável, deveria se parecer com um vazamento ou como parte de alguma outra coisa. Dois executivos da Defense Audiovisual Agency [DAVA] iriam discutir este plano em profundidade. Bob Emenegger confessou que as presenças dos dois cientistas lhe dariam o apoio do qual precisava para mergulhar no seu trabalho. Sozinho, ele não se aventuraria nesta empreitada. Precisava do estímulo de pessoas como Hynek e Vallee. Se os dois possuíssem um novo ponto de vista que fosse aceito pela Força Aérea, o Pentágono selaria o documentário com a sua chancela.
Desconfiados, Hynek e Vallee decidiram não entrar na jogada. Após conversarem por telefone, chegaram à conclusão de que se o Pentágono realmente possuísse alguma notificação de grande importância, não necessitaria de coisa alguma e nem de ninguém para liberá-la. Caso contrário, havia uma suspeita de que alguém estaria armando um jogo e necessitava de alguém para, depois, “pagar o pato”. Vallee afirmou ao colega que não iria se posicionar junto à Emenegger e aos ávidos em propagarem quaisquer rumores, não se importando se fossem, até, absurdos. Hynek concordou prontamente com ele, e afirmou: “Não seremos partidários de mentiras e enganos deliberados contra o público e não seguraremos a isca, mas se houver qualquer chance de descobertas genuínas, nós as perseguiremos por detrás da cena”.
Os dois celebraram o trato com risadas e Vallee acrescentou: “Vamos chamar a esta investigação de: ‘O Caso das Cenouras Acenando”. Hynek e seus assistentes encontraram-se logo após com o general Miller e seu chefe o general Scott, na “Norton Air Force Base” em uma conferência privada. O general afirmou ao espantado Allen Hynek que em circunstâncias apropriadas eles “liberariam as evidências confirmando-as com as suas próprias autoridades”. Mais espantado ainda ficou o Dr. Hynek ao descobrir que o general Miller e o general Scott “acreditavam no Fenômeno UFO e que os dois eram ‘contatados sinceros”.
Hynek, após visitar o local, foi convidado a conhecer a Edwards Air Force Base, onde fora informado que constataria algo de muito interessante, mas não constatou nada. Um dos integrantes da sua equipe comentou depois com Vallee que “realmente, havia ‘Cenouras Acenando\’ em todos os lugares como você afirmou”. Foi inclusive sugerido a Hynek, nesta ocasião, que o senador Barry Goldwater e, possivelmente, o presidente Jimmy Carter ajudariam na empreitada do documentário.
A impressão deixada por este encontro com os dois oficias, na mente de Hynek, foi a pior possível. Hynek achou os cientistas superficiais e muito ingênuos de um modo geral. Quando perguntou sobre o “Caso Billy Meier”, o contatado suíço que supostamente retratou “UFOs Pleiadianos”, os dois se mostraram cabalmente crentes nesta farsa, e quando Hynek perguntou “Qual é o material realmente verídico que possuem sobre os UFOs”, os dois responderam inocentemente, “não sabemos”. Intrigado de que o general Miller não havia dito tudo, Hynek pediu a Jacques Vallee que fosse sondar. Encontrou-se com o general no dia 27 de março de 1985, na Norton Air Force Base, cerca de San Bernardino.
Os contatos imediatos do general Miller
Diante do “escolado” Jacques Vallee, o general Miller narrou as suas sagas com as forças extraterrestres. Era como estar ouvindo, novamente, George Adamski nos anos 50, pensou Vallee. Foram três os tais contatos – “Tinha que me recordar, constantemente, de que não estava ouvindo os fatos assinados por um pseudomístico no salão dos fundos de uma livraria dedicada a New Age”, disse Vallee. Afinal de contas, o relator destes casos era um diretor do Pentágono e havia lutado na II Guerra Mundial pela libertação da França, a pátria de Jacques Vallee. O general chamou um comandado, Mr. Atkins, e lhe deu ordens de correr todo o complexo com Vallee, incluindo os audiovisuais arquivados em filme, os tapes e slides. O que representava “400 milhões de pés” de filmes: oito anos de pesquisas. O DAVA classificava as suas matérias.
O general Scott foi o próximo encontro. O general era chefe do general Miller e outro “contatado” que fez questão de narrar o seu “caso” ao cientista pesquisador. Após o relato, o general falou sobre as destruições da Lemuria e da Atlântida e afirmou que os nossos “irmãos cósmicos” não desejavam que tais fatos acontecessem novamente, apesar de que “não existem somente bons sujeitos no cosmos”. Os “nossos irmãos cósmicos”, evidentemente – os “bonzinhos” – estavam tentando nos alertar contra esta repetição infausta, porém, o governo com os seus segredos, infortunadamente, barravam estes avisos de chegarem aos ouvidos do público.
O general, no seu discurso, ainda desceu mais às raias da ingenuidade total, quando Vallee lhe respondeu que era muito simples a resolução deste problema: que os ETs se apresentassem e dessem, diretamente, as suas mensagens. “Eles, provavelmente, estão circunscritos
por princípios éticos de não interferência no nosso livre arbítrio. Estão esperando o nosso convite”, disse o general Scott. Esta pérola foi oferecida a Vallee, após um momento de hesitação do general, em resposta ao aparte – solução do problema fornecido pelo cientista. Por um acaso os avistamentos já não haviam proporcionado impactos às vezes piores, do que os que provocariam a fala direta dos extraterrestres com o público mundial?
Vallee deixou a Base decepcionado com tudo e com todos. Não vira nenhum traço de alta tecnologia no DVA [Defense Audiovisual Agency], ao contrário, somente velharias herdadas dos departamentos de edição de filmes de Hollywood e os dois generais, muito amigos, tentando validar as suas próprias e absurdas crenças. O general Miller fora o primeiro agente de Ronald Reagan em Hollywood, segundo confessou. A Base foi fechada por medidas econômicas do governo de George Herbert Walker Bush, pai do atual presidente dos EUA.