Assim está escrito no Tao: “Aquele que conhece a própria ignorância revela alta sapiência. Aquele que ignora a própria ignorância vive em profunda ilusão. O sábio conhece o seu não saber. Esse conhecimento o preserva de toda ilusão”. Sou dos que pensam que dar por sabido o que ainda precisa ser descoberto não é lá atitude das mais inteligentes, mais ainda quando se trata de Ufologia, assunto que, por sua própria natureza paradigmática, não deveria comportar certezas estabelecidas. Penso que se constitui em tremendo desperdício semear um campo tão fértil em pesquisas com crendices, das quais, convenhamos, o mundo já está saturado. Quando, nos idos do século VI a.C., o filósofo e sábio chinês Lao Tsé deixou para a posteridade as suas ponderações sobre o modo de como o ser humano deveria interagir com a realidade que o circunda, seguramente achou de pouca prudência que os homens do futuro se permitissem cultuar pretensas verdades ainda não verificadas pelos fatos e muito menos por algum método dedutivo.
Considero que seria de bom alvitre se alguém como Ashtar Sheran de fato existisse. A bem da verdade, admito que acredito sim que ele realmente exista, até porque sou um dos inúmeros que foram agraciados com suas mensagens. Porém, na condição de médium descrente e desqualificado que sou, não me permito afirmar que a mensagem que recebi é verdadeira, apesar de significativa e “assinada telepaticamente” por uma entidade que se identificou como sendo Ashtar Sheran. Ademais, não reconheço no processo mediúnico um método infalível, capaz, por si mesmo, de fornecer verdades incontestes, pois sempre dependerá de componentes subjetivos e da interferência do aparelho humano.
Conexão extraterrena
Costumo chamar de revelação tudo aquilo que, através da mediunidade, possa ser transmitido à humanidade, mas que sempre exigirá verificação científica a posteriori antes de se tornar verdade. A exceção a essa regra é o conjunto de preceitos morais espiritualizantes, como, por exemplo, os que constam da doutrina espírita, cujo conteúdo já nos indica sua boa índole, não importando se procedente de desencarnados, de entidades extraterrestres ou mesmo do próprio médium, conforme a sua estatura moral e o seu cabedal de conhecimentos. A propósito, há uma extensa lista de esclarecimentos sobre a questão mediúnica nas páginas dessa doutrina que seguramente iluminam qualquer tentativa de análise sobre o que se convencionou chamar de mediunidade, canalização, comunicações telepáticas e outros modos de interação entre mentes distintas. Daí porque, para muitos médiuns ou canalizadores, o simples fato de pretensamente receberem uma mensagem do mundo espiritual ou extraterreno já é o suficiente para sensibilizá-los quanto à confiabilidade da mesma. Mas não é bem assim. A mensagem vinda dos outros lados da vida vale pelo seu conteúdo e não pelo nome de quem a assina.
O vasto repertório de mensagens atribuídas a Ashtar Sheran apontam para uma possível conexão extraterrena. Mas ainda não se pode enquadrá-las dentro daquilo que poderia perfeitamente ser produzido por inteligências do lado de cá
O vasto e significativo repertório de mensagens atribuídas a Ashtar Sheran apontam para uma possível conexão extraterrena. Não é meu objetivo aqui destrinchar seu conteúdo, muito menos tentar enquadrá-lo dentro daquilo que poderia perfeitamente ser produzido por inteligências do lado de cá. Prefiro enfatizar que devemos antes observar o esforço de alguém que vive “alhures” e que se preocupa em transmitir, na maioria das vezes, mensagens que, como já dito, poderiam muito bem ser produzidas por pessoas daqui mesmo.
Além do mais, tenho percebido que receber mensagens “de fora” produz o efeito de recobrir o médium com uma glamorosa atmosfera mística, a qual geralmente encanta ao mesmo tempo em que promove uma fuga psicológica da dura realidade terrena. Esse é um dos aspectos que leva muitos a se perderem nos emaranhados ilusórios da mediunidade. No meu caso, exerço uma vigilância constante sobre mim mesmo para não “surfar” nesse tipo de onda. Cabe-nos, portanto, refletir em torno de um possível efeito subliminar por trás das mensagens assinadas por Ashtar Sheran. Subliminar, de acordo com o Dicionário Aurélio [Nova Fronteira, 2000], refere-se a um estímulo que não é suficientemente intenso para que o indivíduo tome consciência dele, mas que, quando repetido, atua no sentido de alcançar um efeito desejado. Os que mais comumente recorrem a esse recurso são os publicitários que, por meio da propaganda subliminar, procuram convencer sutilmente as pessoas a consumirem esse ou aquele produto, a seguirem modismos, a acatarem determinadas ideologias políticas e a votarem nesse ou naquele candidato, por mais corrupto, desonesto e despreparado que seja.
Processo de comunicação
Supor, portanto, que alguém de fora, ao planejar um processo de comunicação com os terráqueos, agiria com a intenção de preparar a humanidade para algum evento ou despertar as despreocupadas consciências para o óbvio da vida, é algo que deveria ser seriamente levado em conta e convenientemente assimilado e compreendido. O ser humano, mesmo com todas as evidências à sua frente, não consegue perceber o que é óbvio, seja esse óbvio concernente ao sentido espiritual da vida ou aos comezinhos direitos e deveres que devemos observar e respeitar no cotidiano. Nesse sentido, que Ashtar Sheran e todos seus sequazes sejam muito bem-vindos e que continuem a nos brindar com seus alertas e esclarecimentos quanto às possibilidades que cercam esta tresloucada e descuidada família planetária. Destarte, o processo em curso poderia muito bem ser enquadrado como subliminar. Pelos indicativos de que dispomos, inferimos que a mesma força cultural que nos leva a enternecer nossas crianças com o mito do Papai Noel, fantasia que acaba perdurando até a fase de amadurecimento da personalidade infantil, promove a fixação do personagem Ashtar Sheran no psiquismo das pessoas ligadas ou em sintonia com a questão extraterrena. Por essa razão, penso que nos cabe perquirir sobre a possibilidade do inconsciente coletivo da humanidade, carente e pouco amadurecido, estar produzindo um “Papai Noel Cósmico” que vem nos brindar com suas orientações e admoestações nas horas de crise.
Tantas personalidades de nosso mundo trivial já foram endeusadas ou endemoniadas conforme as circunstâncias de suas vidas ou àquilo que sobre elas simplesmente se pensou e se idealizou, que me dou ao luxo de resistir o tanto quanto possível a entronizar quem quer que seja como sendo real enquanto esta realidade não se impuser como um fato objetivo. Creio que seja uma boa estratégia estender o mesmo procedimento a personagens que, até o momento, ainda se encontram no campo
das especulações mediúnicas. Caso se comprove que Ashtar Sheran exista e, de preferência, seja uma individualidade voltada para o bem, na ausência de outros ídolos com uma alma tão nobre e elevada e que evitem transigir em matérias de princípios que nobilizam a vida, terminaremos, uns, por transformá-lo em uma espécie de semideus e, outros, em representante de um demônio extraterreno que tenta enganar os ingênuos terráqueos com vistas a uma invasão.
A primeira hipótese será sempre bem vinda, pois num mundo onde existem tantos santos — verdadeiros ou não —, um a mais ou a menos não fará diferença. Quanto à segunda, não creio que haja algum extraterrestre doido ou insensato o suficiente a ponto de querer invadir este orbe, a não ser que ignore completamente o estado de loucura dos seres que por aqui transitam, o que não seria o caso de Ashtar Sheran ou de quem quer que coordene o aparente processo subliminar do bem, em curso há tanto tempo em nosso planeta.
Se é pelo fruto que se conhece a árvore, existindo ou não alguma entidade que se assemelhe ao protótipo de Ashtar Sheran, devemos ao menos reconhecer os bons frutos das reflexões que as mensagens vindas em seu nome costumam provocar entre os que delas tomam conhecimento. Em sendo um personagem real, rendamos-lhe os devidos agradecimentos; caso contrário, que renovemos sempre os nossos sonhos, jamais desistindo de imaginar as boas árvores que dignificam a vida com os seus frutos saborosos. A vida real, por si só, é bela e generosa, e os sonhos fazem parte da beleza e da generosidade da vida. Que o nosso Papai Noel Cósmico um dia nos brinde com a sua presença ou, alguém lá de fora nos visite oficialmente demonstrando que jamais estivemos sozinhos no universo.
Ashtar Sheran: uma ameaça à humanidade terrestre?
Há uma grande quantidade de pessoas que afirmam manter ou ter mantido algum tipo de contato com Ashtar Sheran, muitas delas anônimas, mesmo dentro da Comunidade Ufológica Brasileira, junto com alguns eventos que pareceram ser tentativas de contato comigo mesmo através de terceiros, das quais declinei, levam-me a acreditar que realmente esse ser existe ou, no mínimo, há uma ou mais entidades extraterrestres que usam esse nome. Estranha-me a insistência com que Ashtar Sheran contata pessoas ao redor do mundo. Parece propaganda massiva. Causam-me espécie, sobretudo, mensagens obtidas por meio de alguns dos canais mais famosos desse ser, nas quais o “comandante” apresenta-se explicitamente como responsável pela salvação da humanidade em catástrofes planetárias vindouras. Ora, nesse ponto ele se coloca no lugar de Cristo — aliás, vale destacar o quanto Jesus é diminuído nessa cosmogonia.
Jesus é apresentado como tendo “evoluído mais”, mudado de nome para Sananda graças a isso, e vivendo na nave capitânia do comandante Ashtar Sheran.
Acredito que há um motivo, um plano obscuro por trás dessas sutis manipulações da verdade, que podemos chamar de falsas escrituras. A espiritualidade nas mensagens canalizadas desse tipo de entidade, tão decantadas em alguns círculos esotéricos e ufológicos, na verdade parece vazia. Não se pode descartar a hipótese de que tudo isso faça parte de uma longa preparação para a descida de extraterrestres trazendo uma falsa religião, com a qual controlariam a consciência da humanidade, em franca oposição ao plano divino de salvação espiritual que nos é prometido nas escrituras.
Desolação profetizada
Se Ashtar Sheran contata pessoas no mundo todo e diz ter milhões de naves para retirar seus escolhidos, será que não planeja surgir publicamente num futuro próximo como salvador? Isso ocorreria num momento de graves problemas geopolíticos, climáticos e geofísicos, que ocorrerão conforme tantas profecias preveem há milhares de anos. E o tal Sananda, acaso se apresentaria como o Cristo retornando? Para onde levariam e o que fariam com os eventuais eleitos? Seria realmente uma grande ameaça à humanidade — talvez até a abominação de desolação profetizada. Pode parecer bizarro, mas convido as pessoas a estudarem as profecias para que tentem encaixar esse cenário em suas grades de realidade, revisando seus estudos. Talvez se surpreendam. — Roberto S. Ferreira