
Muita gente, quando criança, imaginava um futuro diferente do que temos hoje. Não há carros voadores nem esteiras rolantes nas ruas. Não viajamos à velocidade da luz, nem dormimos em tubos criogênicos. E não temos robôs em nossas casas. Frente a uma realidade tão crua, acabamos chegando ao tão sonhado futuro. Mas muitos ufólogos parecem não saber disso. Ainda continuam a observar o mundo com os olhos de quem viveu e, principalmente, permaneceu nos anos 70. Vemos muitos discursos na Ufologia Brasileira que, quando comparados a artigos de revistas e periódicos antigos, mostram que seus autores ainda perduram no lento processo que envolve a perícia de casos e descoberta de fraudes.
Esse estado de coisas dura até os dias de hoje, com a diferença de que as fraudes melhoraram muito e a perícia evoluiu bem mais lentamente. Por exemplo, hoje são comuns os vídeos de UFOs fraudados, o que não acontecia antigamente. Algumas coisas permaneceram da mesma forma, enquanto outras pioraram na situação da Ufologia Mundial – como as fraudes, por exemplo. Não me refiro aos enganos, aos problemas de câmera e filmes, aos balões e satélites, ou mesmo aos fenômenos atmosféricos e outros tipos de situações que levam pessoas comuns a se enganar.
Tratamos aqui dos casos em que, propositalmente, pessoas mal intencionadas armam situações para ludibriar os outros. Desde que os primeiros casos de UFOs foram relatados nos jornais, a farsa ameaça a pesquisa ufológica séria com truques e efeitos, bem como todo tipo de sortilégio para mostrar talvez um desejo inconsciente dos falsários: a existência de outras civilizações.
São tantos os motivos que levam pessoas a forjar fatos ufológicos, e de tão variada natureza, que renderiam um livro inteiro. Mas o fato é que o ser humano sempre tem uma motivação para criar uma fraude. Seja ele líder de uma seita que explora a crença de incautos, e por isso busca nas falsas fotos um respaldo, seja uma brincadeira ou uma forma de enganar e desmoralizar pessoas que se dizem peritas em fotografias ufológicas. Isso é mais comum do que se imagina. Através de fraudes de alta qualidade, muita gente tenta desacreditar os ufólogos e a Ufologia em geral.
Identificando Fraudes — A grande maioria dos casos fraudulentos acaba identificada pelos analistas de imagem que assessoram os principais grupos de pesquisa do país. Mas para cada fraude descoberta existem outras centenas circulando na Internet e enganando pessoas. A facilidade tecnológica de aquisição de conhecimentos que a rede mundial proporcionou também gerou problemas no mundo ufológico. Assunto muito pesquisado em sites, as fotografias já analisadas por peritos e consideradas fraudulentas ainda são erroneamente apresentadas como reais, o que contribui para a desinformação dos leigos e novatos, gerando “ruído” na pesquisa ufológica.
É o caso das famosas fotografias de George Adamski, um suposto contatado norte-americano do princípio da Era Moderna dos Discos Voadores. Consideradas provas cabais de um dos marcos do contatismo ufológico mundial, suas fotos ainda hoje são divulgadas como sendo imagens reais, e isso numa velocidade maior do que os pesquisadores podem desmenti-las. O mesmo ocorre com as filmagens dos UFOs que produzem os crop circles [Círculos ingleses], as imagens do suíço Eduard Billy Meier e muitas outras. Um dos principais problemas criados pelas fraudes fotográficas foi que, antes de se comprovar que não se tratavam de fenômenos autênticos, muitos livros foram escritos. Ou seja, várias imagens trucadas de naves alienígenas em ação foram consideradas e disseminadas como verdadeiras. Desta forma, até mesmo pessoas bem intencionadas acabaram contribuindo para a propagação de informações falsas, pois acreditavam que eram reais. Isso ainda acontece. É extremamente comum, por exemplo, que as fotos de naves extraterrestres legítimas tenham pouquíssima qualidade.
Quase todas são borradas, muitas estão em preto e branco e a maioria tem baixa nitidez. Nas verdadeiras isso se explica pelo fato de que um avistamento é quase sempre algo imprevisível. Assim, as pessoas não têm a calma necessária para enquadrar o objeto a ser fotografado, por razões óbvias. Além disso, contribuem para o problema o tipo, data de validade e qualidade do filme empregado – nem sempre adequados. Isso falando-se em casos autênticos, porque, nos forjados, evidentemente, o falsificador sabe que é mais fácil ocultar as alterações e truques numa fotografia borrada, já que ela vai ter relação com outras fotos, algumas até reais, que foram tiradas em condições adversas. Por outro lado, há também os que modificam fotos de alta definição, como se isso fosse popularizar a imagem do forjador na mídia.
Foi o que aconteceu com filmes controversos, como a polêmica autópsia dos aliens de Ray Santilli, a filmagem do UFO giratório na cidade do México e também as fotografias do já citado Billy Meier. Estas imagens nos impressionam por sua incomum nitidez. Nas filmagens da autópsia de Santilli, por exemplo, nunca a televisão havia mostrado algo daquela maneira ou parecido, com tamanha nitidez, ainda mais como sendo um documento verdadeiro. Este fato gerou e ainda gera polêmica. Para entendê-lo – como a muitos outros casos suspeitos da Ufologia – torna-se necessário compreender o que é uma foto real e o que é uma foto falsa.
UFOs Falsos em Fotos Reais — Muitas vezes uma foto de um disco voador é considerada autêntica. Mas isso significa que o disco voador existe? Nem sempre. Mas significa que a fotografia não foi adulterada. É real. Só isso. Assim, se eu vestir alguém com roupa de extraterrestre, fotografá-lo e levar a foto para uma perícia, com toda certeza sairei com um laudo favorável, afirmando que se trata de uma foto legítima. Mas a perícia confirmará se o ET que nela aparece é real? Não. Ela só pode afirmar que se trata de uma imagem real, nada mais que isso. O objeto dela não pode ter sua origem confirmada, especialmente como algo extraterrestre.
A perícia simplesmente não tem condições de fazer juízo de valor sobre o resultado gráfico dessa hipotética. Ela limita-se aos aspectos técnicos da imagem, podendo determinar se o que está aparecendo é resultado de um efeito de distorção ótica, o produto de uma iluminação específica ou um objeto tangível. Mas a afirmação da natureza e origem de seu conteúdo é perigosa. Obviamente, o pesquisador não se limitará apenas ao objeto do estudo (a foto ou filme), mas a toda uma situação que envolve entrevistas, pesquisas, contatos e intensa pesquisa bibliográfica.
O recente e famoso caso de Suzana Alves, a Tiazinha, é um perfeito exemplo desta situação [Leia em UFO 79]. A filmagem que ela fez é de fato real e a perícia pode comprovar isso. Mas o suposto disco voador que foi captado seria real, como desejava Tiazinha? Com base nas imagens e nas pesqui
sas de campo – e aí se mostra o produto imprescindível de uma investigação paralela na análise do material –, os pesquisadores descobriram que o dirigível da Goodyear estava no local do avistamento justamente naquele dia, o que foi decisivo no processo de pesquisa do caso. Baseados nessas informações, os ufólogos chefiados pelo co-editor de UFO Claudeir Covo foram a campo e descobriram a fraude. Tiazinha filmou o balão publicitário da Goodyear e afirmou que era um UFO. O que a levou a assim agir pode ser enquadrado no que falamos há pouco: a necessidade de se ter a imagem difundida através dos meios de comunicação.
Revolução Tecnológica — Muita gente não hesita em utilizar todos os artifícios disponíveis para enganar os outros. Assim, há pessoas que jogam para o alto desde tampas de panela a calotas de automóvel, passando por todo tipo de brinquedo, bacia, vasilhame e até chocadeiras, buscando uma imagem que pareça um disco voador legítimo. Mas com o advento da revolução tecnológica o panorama mundial mudou muito em pouco menos de 15 anos. Os reflexos disso na Ufologia são evidentes, mas poucos os percebem. Os computadores ficaram mais baratos e acessíveis e os programas se tornaram mais ágeis e repletos de recursos gráficos. Estes evoluíram bastante, sobretudo nos últimos 10 anos. Esse fenômeno de popularização da tecnologia trouxe vantagens e desvantagens para os pesquisadores do Fenômeno UFO.
Entre as vantagens estão a velocidade de comunicação, acesso e aquisição à troca de informações e aos recursos gráficos, que permitem ao especialista de hoje analisar imagens usando uma série de filtros matemáticos especiais. Isso possibilita a comprovação da veracidade, ou não, de uma determinada imagem. Mas, em contrapartida, as desvantagens trazidas pela tecnologia não são poucas. Da mesma maneira que a Internet tornou mais fácil e rápido o acesso à informação, também aumentou consideravelmente o volume do que podemos chamar de desinformação, instantaneamente veiculada na rede mundial. Fotografias falsas classificadas como reais são facilmente encontradas em sites ufológicos, tornando praticamente impossível saber se uma evidência fotográfica é real ou já foi desmascarada. Outra desvantagem é justamente o avanço dos programas gráficos. Da mesma forma que auxiliaram os pesquisadores a descobrir imagens falsas, os programas permitiram a criação virtual de quase tudo. Discos voadores e seres humanos não fogem à regra.
Até mesmo o cinema norte-americano foi um dos maiores incentivadores da chamada tecnologia da fantasia. Hoje, programas avançados são capazes de criar mundos, alienígenas de todos os tipos e levar o espectador a surpreendentes viagens sem fim pela galáxia. O poder de processamento de dados das máquinas que acionam estes programas duplica a cada ano. Quem conheceu a supremacia do videogame Atari, na década de 80, pode se espantar ao ver hoje criaturas falando, babando e usando inteligência artificial para matar o jogador nos videogames modernos. São máquinas poderosas, capazes de movimentar nada menos que 125 milhões de polígonos por segundo numa tela, a razão de mil frames por segundo, ouvindo o rugir da criatura em 256 canais de áudio individuais.
Isso significa, a grosso modo, que os modernos videogames são capazes de criar vida artificial com um grau de realismo inacreditável. Para se ter uma idéia da capacidade gráfica destas máquinas, é só lembrar que o cinema nos mostra o movimento de uma cena numa razão de vinte e quatro quadros por segundo. A imensa quantidade de canais de áudio disponíveis nos transporta para o jogo dos atuais videogames, pois podemos ouvir simultaneamente muitos sons, como ocorre no mundo real. E isso numa máquina comercial dedicada ao uso doméstico. Imagine do que são capazes as várias estações de trabalho que custam quase dois milhões de Reais cada e são responsáveis pelos efeitos especiais que vemos no cinema. A coisa não é brincadeira!
Os investimentos na computação gráfica sempre são milionários. Em 2001, por exemplo, chegou aos cinemas um filme longa metragem apenas com personagens virtuais. Era o Final Fantasy, uma produção caríssima e corajosa da Square, um grupo japonês famoso pelos trabalhos que desenvolve para a indústria de jogos eletrônicos. Com isso, muitos bonecos que dominavam o mundo dos efeitos especiais foram substituídos por seres mais realistas no cinema, como ocorreu com Jurassic Park, de Steven Spielberg, um marco na história da computação gráfica. Foi a primeira vez em que o real foi substituído pelo virtual apenas por este parecer mais realista. No ano em que Spielberg começou a produzir o filme os dinossauros deveriam ser feitos com duas técnicas cinematográficas distintas: a Stop Motion, que consiste em animar imagens usando várias fotos encadeadas de um boneco em diferentes posições, e o uso de animatronics, que são robôs especiais feitos para cenas em close.
Mas quando Spielberg viu, pela primeira vez, um teste feito pela Alias Wavefront, uma empresa do grupo Silicon Graphics, criadora do software Maya, considerado o melhor do mundo em modelação e animação 3D, mostrando dinossauros correndo, ele ficou de tal maneira impressionado com o realismo que o computador era capaz de produzir que na mesma hora cancelou os contratos milionários que tinha para fazer os bonecos e robôs e resolveu criar a maior parte das cenas usando apenas o computador.
Fraudes na Ufologia — A redução dos custos de produção das câmeras digitais hoje em dia, que geram um arquivo final virtual e dispensam a revelação do filme, está criando um exército de futuras testemunhas de UFOs, que empunharão meras imagens digitais. Mesmo sabendo que as fotografias são apenas uma pequena parte das evidências usadas na determinação de uma ocorrência do Fenômeno UFO, algumas perguntas se fazem necessárias. Como será a análise desse material? Como será efetuada uma varredura na fotografia em busca dos indícios de fraude, uma vez que as fotos digitais ainda têm uma definição muito baixa? As fotografias digitais serão excluídas de uma análise técnica? E até onde se poderá ter certeza de que uma imagem é de fato uma fotografia e não uma figura tridimensional renderizada, desenhada pelo computador, com o auxílio de tecnologia de última geração?
Até onde poderemos julgar com certeza se as imagens que vemos faz
em jus ao relato de uma testemunha ou se é apenas mais alguém tentando se aproveitar de um conhecimento tecnológico avançado? E, principalmente, em quem o público leigo acreditará? Essas perguntas precisam de rápidas respostas, pois o mundo gradualmente vai se tornando virtual. Nossos antepassados jamais imaginariam, por exemplo, que poderíamos ser traídos por nossos próprios olhos – já não sabemos mais se o que vemos de fato existe ou se é produto da mais avançada matemática computacional. Também nunca houve tanta gente desesperada, querendo e pronta para acreditar na primeira coisa que lhes apresentam, revelando um mundo extremista, dividido entre os que querem crer a qualquer custo e os absolutamente céticos em relação ao Fenômeno UFO. A era das fraudes clássicas e controversas, como as fotos de Meier ou Adamski, pode estar chegando ao seu fim. Nossos desafios hoje são bem maiores…
As fraudes ufológicas não irão acabar tão cedo, mas elas se sofisticarão a um ponto tal que será praticamente impossível saber se de fato o que nós vemos é mesmo real. As máquinas que permitem a produção das imagens tão realistas serão as mesmas que permitirão a produção de filmagens trucadas incríveis. Bastará que algumas fotos e filmagens sejam desmascaradas, com o auxílio da mesma tecnologia, para que os céticos do mundo passem a afirmar que todas as imagens ufológicas são resultados de sofisticados efeitos de computador.
Ainda hoje, um dos métodos mais utilizados para a perícia de imagens, seja em filmes ou em fotografias, entre outros meios, é a análise da luz refletida pelo objeto registrado. Através dela é possível definir a provável dimensão e a proximidade da câmera ao objeto. Este método é muito eficaz para desmascarar imagens simples, como tampas de panela revestidas de papel alumínio jogadas no ar e fotografadas em seguida. Porém, este tipo de análise não será capaz de desmascarar um sistema complexo de simulação da realidade, posicionando um UFO com tamanho correto e na distância adequada, juntamente com um coeficiente de névoa coerente entre o objeto e a câmera, além do posicionamento solar de acordo com cálculos astronômicos automáticos – baseados no local da terra, dia, hora, estação e ano. Isso é perfeitamente possível de se fazer, até mesmo com um dos programas em 3D [Para geração de arquivos com aparência tridimensional] mais comuns do mercado.
Truques Tecnológicos — Alguns pesquisadores já afirmaram que é possível descobrir a autenticidade de uma imagem tridimensional por suas bordas excessivamente definidas. E de fato isso acontece. Aliás, acontecia… Os mais recentes programas de computação gráfica permitem não só determinar uma porcentagem de desfocamento nas bordas como também uma série de padrões especificamente técnicos, como aberrações cromáticas, alterações de intensidade luminosa por exposição alterada, granulação, poeira, efeitos atmosféricos de alta complexidade e que usam matemática caótica de base natural em suas equações. Além de outras coisas que podem se tornar pedras no sapato do pesquisador do futuro, como a simulação dos movimentos de câmera.
Nos programas de 3D atuais, através da fixação de pontos referenciais na filmagem de fundo, as coordenadas do movimento da câmera são repetidas pela máquina, o que basicamente significa que o menor movimento realizado por uma câmera produz efeito no objeto virtual inserido digitalmente sobre o filme, como ocorreria com um objeto real que estivesse sendo filmado, não produzindo erros de paralaxe. O UFO tridimensional inserido é capaz de gerar sombras tal e qual as coisas presentes numa cena real filmada inicialmente. Hoje é possível fazer uma imagem resultante de computação gráfica interagir perfeitamente com os demais objetos bidimensionais, sem que se perceba a diferença. Pode-se inclusive ter efeitos conhecidos pela Física, sobretudo os da Mecânica e Ótica, aparecendo indiretamente na cena, como a reflexão, a luz radiosa, a luz cáustica e muito mais.
São recursos caros atualmente, mas que em pouco tempo estarão à disposição e mudarão o panorama dos analistas de imagens que hoje usam uma sofrível meia dúzia de filtros gráficos para buscar indícios de fios de náilon e outros sinais de trucagem. Assim, está na hora dos ufólogos abrirem os olhos para o mundo do futuro tecnológico que se descortina e buscarem compreender suas implicações para o trabalho de pesquisa ufológica. Não podemos nos deslumbrar com o atual estágio de desenvolvimento tecnológico. Devemos, isso sim, nos concentrar nos potenciais efeitos a médio e longo prazo, para que não nos peguem de surpresa amanhã.