Apenas sua parte central, que não é espetacular, pode ser distinguida a olho nu. Mas com o uso de lunetas ou telescópios é possível apreciar a periferia da galáxia, que abarca uma porção do céu maior do que a ocupada pela Lua cheia. O descobrimento de que aquela mancha branca se localiza fora da Via Láctea mudou para sempre a percepção que a humanidade tinha sobre as dimensões do universo.
Em uma pequena porção do céu, que pode ser encoberta pela palma da mão, se estendermos o braço diante dos olhos, estão concentradas um trilhão de estrelas, mais do que se pode ver em todo o resto do firmamento. Trata-se da galáxia de Andrômeda, ou M31.
“Andrômeda é bonita não tanto em função do que se vê dela mas por aquilo que inspira, por tudo que alguém pode chegar a imaginar ao contemplá-la”, explica Ignasi Ribas, astrônomo do Instituto de Estudos Espaciais da Catalunha, que ainda hoje recorda a decepção que sentiu ao observar Andrômeda pela primeira vez com um telescópio – “ela nunca parece tão espetacular quanto nas fotos” -, mas evoca ao mesmo tempo a sensação de vertigem que o invadiu ¿ “pensar nos milhões de estrelas e nos bilhões de planetas” que existem naquela pequena mancha celeste.
O astrônomo Edwin Hubble deve ter sentido vertigem não muito diferente ao descobrir, em 1925, que Andrômeda era na verdade uma galáxia localizada além do universo então conhecido. O universo-ilha, como era designado nos anos 20. A descoberta dele, mais importante do que qualquer das realizadas décadas mais tarde pelo telescópio espacial batizado em sua homenagem, demonstrou que todo o firmamento conhecido, tudo aquilo que se podia ver no céu noturno não passava de uma pequena porção do que existe na realidade. (Três anos mais tarde, Hubble fez uma descoberta ainda mais desconcertante ao observar que o universo estava se expandindo, o que implicava a possibilidade de que tudo tivesse começado por um big bang).
Encontrar Andrômeda no céu não é difícil, ainda que seja necessária muita paciência e um ponto de observação bem escuro. A melhor época para observá-la, no hemisfério norte, é o final do ano, mas ela pode ser avistada a partir de agosto logo abaixo do W da Cassiopéia. A olho nu, a galáxia parece pequena, porque apenas sua porção central pode ser identificada. Com um telescópio, é possível perceber que a mancha galáctica ocupa porção celeste bem maior que a da Lua cheia. Quanto mais escura a noite, e quanto mais tempo o observador tenha passado no escuro para permitir a dilatação de suas pupilas, mais a vista poderá ser apreciada.
É difícil conceber o que significa o fato de que essa pequena mancha branca abrigue um trilhão de estrelas: o número um seguido por 12 zeros, ou um milhão de milhões de estrelas, cinco vezes mais do que as existentes na nossa galáxia, a Via Láctea – a qual, por sua vez, contém 100 milhões de vezes mais estrelas do que aquelas que podemos avistar a olho nu do ponto de observação mais escuro imaginável.
Com tantas estrelas e tantos planetas, é possível imaginar que alguém lá esteja contemplando a Via Láctea neste momento, e pensando a mesma coisa que nós. Mas não seria verdade, porque o momento não é o mesmo. De acordo com a medição mais precisa já realizada, por Ribas, e divulgada em artigo no Astrophysical Journal, Andrômeda se localiza a 2,5 milhões de anos-luz do Sistema Solar.
Por isso, a luz que chega a nós a cada noite, vinda de Andrômeda, foi emitida 2,5 milhões de anos atrás, quando os seres humanos, então dotados de cérebro não muito maior que o de um chimpanzé, estavam aprendendo a talhar pedras nas savanas da África.
E caso alguém em Andrômeda estivesse nos observando naquele momento, a luz que receberia teria cinco milhões de anos, época em que ninguém estava perguntando o que era aquela nebulosa branca que se vê sob o ziguezague da constelação de Cassiopéia.