Depois de muitos anos de luta, foi em 2010 que a Ufologia Argentina conquistou um de seus maiores êxitos — que, por ter ocorrido no final de dezembro, foi recebido como um verdadeiro presente de Natal. Tratou-se da confirmação de que o país criaria uma comissão oficial para investigar o Fenômeno UFO. A informação foi dada pelo próprio comodoro Guillermo Tealdi, alta-patente da Força Aérea Argentina (FAA), causando comoção nos meios ufológicos da América Latina [Na Aeronáutica do país vizinho, comodoro é patente equivalente a de coronel]. A equipe da organização Visión OVNI, presidida por esta autora, trabalhou muito para que esta conquista fosse alcançada, e este artigo traça a trajetória de tal esforço.
O primeiro trabalho concreto dos ufólogos civis argentinos para que o país assumisse esta posição quanto à presença alienígena na Terra ocorreu em 04 de abril 2009, na cidade de Victoria, província de Entre Rios, quando se deu uma reunião inicial de pesquisadores para deflagrar uma campanha nacional visando forçar a liberação de arquivos secretos sobre discos voadores produzidos pelas Forças Armadas. Naquele dia foi criada a Comissão de Estudos do Fenômeno OVNI da República Argentina [Comisión de Estudios del Fenómeno OVNI de la República Argentina, Cefora], inicialmente integrada por 19 pessoas, ufólogos sérios e responsáveis, dispostos a entrarem em uma luta que não sabiam em que resultaria. Entre os presentes estava Juan Obeid, veterano pesquisador do país vizinho que sempre apoiou os trabalhos de investigação da Visión OVNI, entidade à frente do processo.
A Cefora foi crescendo e novas reuniões foram sendo realizadas ao longo dos últimos anos, além de conferências e apresentações em diversas províncias do país [O equivalente a estados no Brasil]. A princípio, as atividades contavam com pouco público, mas, à medida que os eventos eram apoiados por segmentos da imprensa e da sociedade que sabem da necessidade de se revelar a verdade sobre a ação na Terra de outras espécies cósmicas, a comissão e seu movimento logo se tornaram amplamente conhecidos. Ao longo deste processo, a população argentina se perguntava: afinal, qual era a finalidade dos ufólogos? E a resposta sempre foi simples e direta: requerer do governo a liberação imediata e irrestrita dos documentos ufológicos do país, cujas informações pertencem a todos.
Buscando o consenso acima de tudo
Para chegarmos a isso, em cada apresentação da Cefora eram entregues fichas às platéias para que as pessoas manifestassem seu apoio ao movimento, subscrevendo-o. Assim foi realizado um abaixo-assinado que atingiu a impressionante quantidade de 100 mil assinaturas — um documento que tornou possível a redação de um projeto e seu envio para ambas as câmaras legislativas do país, quando então o assunto passou a ser tratado oficialmente. Com isso, além do forte apoio popular, a comissão recém criada também atraiu colaboradores e parceiros, que a transformaram em uma organização muito bem constituída, com idéias claras e conceitos voltados para a ação concreta.
Se observarmos a história da manifestação destes fenômenos no país e suas investigações oficiais por organismos de governo, notaremos que as primeiras iniciativas se realizaram perto de 1952, quando se formou uma comissão para tratar do assunto, a cargo da Marinha de Guerra argentina. À sua frente estava o capitão de corveta Luis Sánchez Moreno — Comodoro Guillermo Tealdi, Força Aérea Argentina
Não é muito fácil chegar a um acordo no meio ufológico quando são muitas as pessoas que devem ser ouvidas e têm opiniões a dar sobre o funcionamento de um movimento como o que se propunha fazer no país. Mas quando se consolida uma idéia, levando-se em conta um objetivo comum, dificilmente surgem problemas que não possam ser solucionados — ao contrário, procuram-se opções que todos possam aceitar. Para facilitar essa troca de informações, foi criado um blog da comissão, ao qual todos teriam acesso para acompanhar os projetos e o andamento da campanha. O blog logo deu lugar a um site bem estruturado, que, mesmo poucos dias após o seu lançamento, já registrava milhares de acesso [Endereço: www.cefora.com.ar].
Durante a implantação do movimento argentino de abertura ufológica, foi fundamental que os ufólogos buscassem apoio nas nações vizinhas, além dos que vinham de várias partes da Argentina. Desta forma, entre 2009 e 2010, esta autora e a ufóloga Andrea Perez Simondini — sua filha, também dirigente do grupo Visión OVNI e igualmente consultora da Revista UFO — participaram de eventos em vários países, nos quais também se propunha o reconhecimento da questão ufológica. Fomos ao Chile, Brasil e Uruguai, não apenas para apresentar as descobertas recentes de nossa entidade, mas também os projetos idealizados pela Cefora. No Uruguai, membros da Força Aérea daquele país e investigadores civis elogiaram o esforço e a dedicação da comissão para o esclarecimento do Fenômeno UFO. Os mesmos cumprimentos vieram do Peru, do Chile e do Brasil, neste caso através de cumprimentos oferecidos pelo investigador A. J. Gevaerd, editor da Revista UFO, em nome de toda a Comunidade Ufológica Brasileira.
Importante reconhecimento
Além de manifestações de apoio estrangeiras, também recebemos incentivo de militares argentinos, inclusive do comodoro Roberto Muller, comandante da 11ª Brigada Aérea da Província de Paraná. Contar com o reconhecimento dos oficiais deste destacamento da FAA foi de extrema importância para a Cefora. Primeiro pela proximidade que a comissão tem com integrantes daquela base e, em segundo lugar, porque Muller já demonstrou ter uma visão positiva quanto à necessidade de revelação da presença alienígena na Terra. Sabemos que foi ele quem conseguiu a liberação da conversa gravada entre a torre de controle do Aeroporto de Bariloche, no sul do país, e os pilotos de várias aeronaves envolvidas num episódio ufológico clássico da Argentina, o famoso Caso Bariloche — ou Caso Polanco —, ocorrido em 1985 [Veja edição 164, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
A Cefora, para atingir seus objetivos, con
ta com apoio militar, e seus membros entendem que o comodoro Muller talvez seja hoje o militar certo para esta etapa de seus trabalhos. Aliás, a possibilidade de contar com o apoio de forças aéreas de vários países do continente se converteu no objetivo comum de muitos ativistas e investigadores do Fenômeno UFO. Isso facilitaria o estabelecimento, a princípio, de uma linguagem comum quando se tratar da presença alienígena na Terra, facilitando o compartilhamento de casos ufológicos, de elementos de análise, dados estatísticos e de informações técnicas.
Todo este trabalho está dando frutos. Do Chile ao Equador, do Peru ao Uruguai, da Argentina ao Brasil, hoje há um clima que permite tratar com seriedade a questão dos discos voadores nos meios militares. Para os argentinos, então, o comunicado do final de dezembro foi um grande alento. O processo de abertura ufológica é uma realidade global que atende tanto às expectativas da sociedade civil, que merece conhecer a verdade sobre nossos visitantes, quanto dos pesquisadores que se dedicam a esta busca há décadas, que também desejam as respostas que lhes faltam.
Recursos humanos e materiais
São muitos os anos dedicados a este tema, tanto por nós, a presente geração a ele dedicada, quanto por àqueles que nos precederam, ufólogos que careciam da tecnologia com a qual contamos hoje — e por isso desenvolviam um trabalho muito mais sacrificado do que o que fazemos atualmente. Neste processo de busca pelo reconhecimento da presença alienígena na Terra, é preciso também contar com o apoio das comunidades científicas e instituições em geral, para que se vença o descaso quanto ao assunto e o ceticismo que o mantém relegado à ignorância. Mas ainda há muito por fazer, seja na Ufologia Argentina como na de qualquer outro país, mas o primeiro passo foi dado.
A pequena abertura que surgiu com a confirmação da criação de uma comissão para investigar o Fenômeno UFO no país, feita pelo comodoro Tealdi em dezembro, tem muitos significados. A começar pelo impacto positivo que isso resultou nos meios de comunicação locais, que viram no ato a oficialização da questão a partir de uma ótica bastante objetiva. A declaração de Tealdi talvez também atraia pessoas e instituições que vejam a possibilidade de investir recursos humanos e materiais para a investigação dos discos voadores, que antes poderiam ser canalizados para outras áreas — e todos no meio ufológico sabem o quanto são escassos os recursos para se lidar com a integridade da manifestação ufológica.
Certamente, em contrapartida, também surgiram manifestações em diversos segmentos do país alegando que a declaração de Tealdi não passa de mais uma manobra do governo para distrair a sociedade de coisas mais importantes. Como também apareceram indivíduos afirmando que a comissão governamental a ser criada apenas encobrirá os fatos que vier a descobrir, como se fez e ainda faz em várias partes do mundo — a exemplo do Projeto Blue Book, nos Estados Unidos. Todas estas manifestações, no entanto, não devem reduzir o brilho que a decisão da Força Aérea Argentina (FAA) teve de tratar do assunto com a seriedade que ele exige.
Os membros da Cefora estão convencidos de que o governo argentino fará o que anunciou. Quando a entidade iniciou seu movimento de abertura ufológica, em 2009, vários ufólogos do país e integrantes de diversos segmentos da sociedade alegaram que perderíamos nosso tempo com um pleito irreal ou irrealizável. Mas o grau de importância do Fenômeno UFO foi superior ao ceticismo e os primeiros resultados da luta já podem ser colhidos. Ao longo deste ano devem surgir os primeiros detalhes de como funcionará a comissão militar de pesquisa ufológica, onde atuará, em que base centralizará suas atividades, qual será o grau de acesso que os ufólogos e a sociedade terão quanto aos seus resultados etc.
Os efeitos práticos da declaração governamental podem ser vistos por toda parte. Não apenas a imprensa argentina já trata da questão ufológica com mais seriedade, quanto alguns círculos científicos e culturais do país estão cada vez mais receptivos à idéia de que, afinal, estamos mesmo sendo visitados por outras espécies cósmicas. Até mesmo os habituais céticos dos discos voadores se calaram diante do comunicado oficial. De uma forma consistente, está se reconhecendo a existência de um fenômeno anômalo e inteligente atuando em nossos céus, e a possibilidade dele ser revelado com a participação de especialistas e pesquisadores de diferentes áreas é algo visto com muito bons olhos pela sociedade. Imagine-se o impacto que os primeiros resultados da comissão oficial de pesquisa ufológica do país podem ter sobre as instituições de ensino superior, por exemplo.
Detalhes do comunicado oficial
A excitação da Comunidade Ufológica Argentina teve início em 23 de dezembro, uma quinta-feira, quando um programa noticioso apresentou, em rede nacional, um bloco especial chamado Mundos Paralelos, sob direção da jornalista Tamara Hendel. O segmento tratou das experiências de abduções alienígenas no país e no mundo, e contou com a participação do reconhecido pesquisador Luis Burgos, presidente da Federación Argentina de Ovnilogia (FAO), um membro de sua equipe e uma abduzida. Posteriormente, a repórter apresentou uma entrevista gravada com o comodoro Guillermo Tealdi, que, entre outras coisas, fez um comentário sobre ecos de radar que não puderam ser identificados pelo sistema argentino de controle de tráfego aéreo, dando a este fato grande importância. Tealdi então assumiu a responsabilidade da FAA de custodiar a segurança do espaço aéreo nacional e desferiu o comunicado de que o órgão lançaria uma comissão para pesquisar casos ufológicos.
Mas a iniciativa agora anunciada não será a primeira de que o país tem conhecimento. Durante décadas os argentinos sabem que sua Aeronáutica lançou várias entidades dedicadas à pesquisa de discos voadores observados em território nacional, notadamente por pilotos em vôo. Mas, ao contrário de agora, elas se r
ealizaram sob mantos de sigilo e em períodos de obscuridade democrática, sem que os cidadãos pudessem ter qualquer acesso aos seus resultados — o tema sempre foi coberto por uma nuvem de silêncio e mistério que nunca compreendemos.
Iniciativas oficiais de pesquisa
“Se observarmos a história da manifestação destes fenômenos no país e suas investigações oficiais por organismos de governo, notaremos que as primeiras iniciativas se realizaram perto de 1952, quando se formou uma comissão para tratar do assunto, a cargo da Marinha de Guerra argentina. À sua frente estava o capitão de corveta Luis Sánchez Moreno”, disse Tealdi. Apenas três anos depois, outro militar, o capitão Jorge Milberg, traduziu para o espanhol o livro Flying Saucers from Outer Space [Discos voadores do Espaço Exterior, Holt, 1953], a primeira obra do norte-americano Donald Keyhoe, publicada com o título Discos Voadores do Espaço pela Biblioteca do Círculo Aeronáutico. Isso evidencia que já na década de 50 os oficiais argentinos prestavam muita atenção ao assunto.
O investigador Luis Brussa, também do grupo Visión OVNI, fez uma compilação da história da Ufologia Militar Argentina e informa que ela teve momentos decisivos em 1962, quando se criou a Comisión Permanente de Estudios del Fenómeno OVNI (Comissão Permanente de Estudos do Fenômeno OVNI, Copefo), então dirigida por dois capitães-de-fragata da Marinha, Constantino Nuñez e Omar Pagani, além dos jornalistas Eduardo A. Azcuy e Guillermo Gainza.
Reconhecimento formal dos UFOs
Três anos mais tarde, precisamente em 05 de julho de 1965, a arma declarara reconhecer de forma oficial a existência e materialidade dos discos voadores, fazendo-o através de um comunicado formal. A Marinha foi levada à tal decisão devido a um significativo episódio ufológico ocorrido dias antes em uma base militar da Ilha Decepción, na Antártida, que teve ativa participação do tenente-de-fragata Daniel A. Perissé. No entanto, em 1967, por causa de declarações mais contundentes de Pagani, a Marinha decidiu extinguir o órgão sem que seus resultados fossem conhecidos.
Ainda no começo da década de 60, os militares argentinos não se entendiam quanto a quem cabia a responsabilidade de investigar o Fenômeno UFO, quando a Força Aérea também decidiu criar seu próprio organismo dedicado ao assunto, igualmente em 1962. Era a chamada División OVNI, uma espécie de departamento para assuntos ufológicos, e sua criação se deu através de um comunicado assinado pelo comandante Juan Alberto Sosa, que determinava seu estabelecimento e esclarecia como funcionaria. Em 1967, uma nova División OVNI foi estabelecida, desta vez no Serviço de Inteligência da FAA. Dentre os oficiais que a compunham estava Roalde Moyano, que acreditava firmemente na existência dos UFOs, assim como Pagani. No ano seguinte, Adolfo T. Alvarez, brigadeiro e comandante da FAA, também admitiu a materialidade dos discos voadores de maneira definitiva, mas o assunto entrou no obscurantismo desde então, para ressurgir no meio militar com toda a força no ano passado.
Um anúncio que causou comoção nos meios ufológicos do continente
por A. J. Gevaerd
A Comissão de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais da Argentina ainda está em processo de formação”, disse o capitão Mariano Mohaupt, porta-voz oficial da Aeronáutica do país, em seu anúncio oficial à nação, em 29 de dezembro de 2010. A notícia causou comoção nos meios ufológicos da América Latina. Por que a Argentina anunciaria a criação de uma entidade oficial de pesquisas de discos voadores justamente no apagar das luzes de 2010? Não era possível esperar até janeiro? O porta-voz confirmou a decisão da Arma declarando que “é necessário registrar e investigar denúncias de observações de UFOs em Território Nacional, pois não temos explicação para elas”.
A iniciativa já havia sido antecipada no dia 22 daquele mês pelo comodoro Guillermo Tealdi, em rede nacional de televisão, e era aguardada há meses. Ainda de acordo com Mohaupt, a comissão contará com meteorologistas, controladores de vôo, pilotos e especialistas em radares e receberá relatos de avistamentos também da sociedade. Espera-se para o primeiro semestre de 2011 uma definição de seu funcionamento. O militar também afirmou que a Força Aérea Argentina (FAA) tem registros de UFOs feitos por vários de seus pilotos, e que a partir da criação do órgão os casos serão analisados com formalidade e profissionalismo. Ao que se sabe, a entidade será comandada pelo próprio comodoro Tealdi.
Aqui, no Brasil, como parte da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) espera que, além da abertura dos arquivos secretos sobre discos voadores em poder das Forças Armadas, que vem ocorrendo desde 2007, também seja criada uma entidade nos moldes do antigo Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), com participação de militares e ufólogos civis.
Apesar de o ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) Luiz Carlos Bueno ter prometido isso em encontro com os membros da CBU, em maio de 2005, o fato ainda não se concretizou [Veja edição UFO 155, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].