
Alienígenas sempre foram um dos temas preferidos da ficção científica, desde que o escritor Herbert George Wells publicou Guerra dos Mundos, no final do século XIX. Seja como invasores maléficos, visitantes amigáveis, seres pacíficos ou exploradores indiferentes, os ETs retratados nos livros, na televisão e no cinema sempre foram um reflexo de nossas esperanças, terrores, medos ou anseios. Recentemente isso se mostrou mais uma vez evidente com produções como Skyline [2010] e Battle: Los Angeles [2011], que voltaram ao tema das invasões por parte de aliens hostis com desejos sórdidos de destruir a humanidade e saquear a Terra.
Alguns vêm nesses filmes uma tentativa de preparação da sociedade planetária para um contato. Skyline, aliás, é abertamente inspirado no alerta proferido por Stephen Hawking, de que devemos a todo custo evitar o contato com extraterrestres [Veja UFO 167, agora disponível na íntegra em ufo.com.br], o que não impediu que o filme fosse um fracasso de público e crítica. Já Battle: Los Angeles se baseou em casos ufológicos célebres, incluindo o famoso avistamento de 25 de fevereiro de 1942, naquela cidade, a fim de compor sua trama. Alguém poderia pensar que, diante das últimas descobertas científicas, todas favoráveis à presença de vida em outros mundos, e das recentes liberações de documentos atestando a realidade ufológica por parte de vários governos — incluindo o brasileiro, em grande parte graças à campanha UFOs: Liberdade de Informação Já —, um esforço de doutrinação estaria ocorrendo por meio de filmes e séries, para nos prevenir quanto a supostos extraterrestres hostis.
Contudo, da mesma forma como sempre ocorreu, seja no cinema, na televisão ou na literatura, o tema da presença alienígena na Terra continua a ser explorado sob as mais variadas facetas e pontos de vista pela mídia. Assim, alegar que os dois filmes acima mencionados sejam parte de uma suposta doutrinação da humanidade não faz muito sentido, especialmente quando nos lembramos das óbvias limitações da temática de invasão pura e simples de seres extraterrestres, recheada com muita ação, explosões e não raro, muito sangue também.
Nós, os invasores
Devemos lembrar que Skyline e Battle: Los Angeles tiveram na imprensa espaço muito inferior ao que outros dois filmes também tratando de ETs alcançaram em 2009. Avatar, por exemplo, foi a produção mais comentada daquele ano, mostrando como aliens pacíficos da lua Pandora eram atacados por militares da Terra a serviço de uma grande corporação que queria explorar seu mundo em busca de um mineral estratégico. Apesar de limitações evidentes de roteiro e de personagens muito fracos, deve-se destacar que nessa produção os invasores são os humanos, o que de certa forma foi uma inovação do cinema.
Outra grande produção daquele ano, Distrito 9, saiu-se bem melhor no quesito roteiro e crítica social — e com um décimo do orçamento de Avatar. Produzido por Peter Jackson, o diretor premiado em 2004 com o Oscar por O Senhor dos Anéis, Distrito 9 mostra a má sorte de alienígenas insetoides que estacionam sua nave avariada sobre Johanesburgo, na África do Sul, e acabam obrigados a viver em uma favela cujo nome é o título do filme. De novo, os ETs sofrem muito nas mãos dos gananciosos humanos, que buscam o domínio de sua tecnologia superior. O filme, apesar de extremamente violento, já tem seu lugar na lista dos melhores da ficção científica de todos os tempos, por sua crítica nem um pouco politicamente correta contra a estupidez da humanidade.
Assim, o enfoque das produções que abordam o tema extraterrestre tem sido o mais variado possível ao longo das décadas, conforme veremos nesse trabalho, a começar por uma retrospectiva a respeito de ETs no cinema desde os anos 50. Naquela época, as produções B de ficção científica de Hollywood primavam pelo baixo orçamento e pela presença de aliens hostis que desejavam conquistar a Terra a qualquer custo. Não raro, tudo começava com uma experiência científica envolvendo alguma forma de contato, que dava errado, e a seguir vinham os militares para resolver o problema. Eram os tempos da paranoia anticomunista, e os extraterrestres apareciam nos filmes como alegoria do “perigo vermelho”.
Mensagem de paz à Terra
Mas, entre produções francamente ruins, houve alguns filmes que marcaram época. O mais famoso e elogiado de todos, que provou que uma obra de ficção científica para o cinema poderia ser inteligente, foi O Dia em Que a Terra Parou [The Day The Earth Stood Still], produzido em 1951 e dirigido por Robert Wise — o mesmo de A Noviça Rebelde [The Sound of Music, 1965], entre outros. Na trama, o alienígena Klaatu, interpretado por Michael Rennie, chegava à Terra e se misturava à população após fugir dos militares que o perseguiam desde seu desembarque. Auxiliado por Helen Benson (Patricia Neal) e pelo robô Gort, Klaatu finalmente consegue transmitir à elite científica da Terra sua mensagem de paz [Veja UFO Especial 036, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
Outro grande filme do mesmo período denunciava o perigo do mau uso do extraordinário saber alienígena. Em O Planeta Proibido [Forbidden Planet, 1956], dirigido por Fred M. Wilcox, a nave cruzadora terrestre C-57D — um perfeito disco voador — chega ao planeta Altair IV em busca dos sobreviventes de outro veículo, a Bellerophon. Mas a tripulação encontra unicamente o cientista Edward Morbius, sua filha Altaira e o robô Robby. Após estranhos eventos que provocam a morte de alguns tripulantes, descobre-se que Morbius fez experimentos com os equipamentos da civilização Kreo, que habitou o planeta há milhões de anos. Isso leva a trama a um fim trágico, com a morte de Morbius e a destruição de Altair IV.
Os bons ETs de Spielberg
Em outro dos grandes filmes dos anos 50, A Invasão dos Discos Voadores [Earth Versus Flying Saucers], dirigido por Fred Sears, seres extraterrestres que aqui desembarcam tentam primeiro uma solução de compromisso com os humanos, pois chegam à Terra fugindo de seu mundo decadente, na busca desesperada por sobrevivência. Entretanto, o conflito com os terrestres se torna inevitável. Um dos maiores destaques do filme são os efeitos especiais criados pelo legendário Ray Harryhausen, que nos extras do DVD recém-lançado comenta a respeito da febre dos discos voadores nos Estados Unidos naquela década, e como chegou a conversar com o contatado George Adamski.
ais, Contatos Imediatos de Terceiro Grau continua sendo o melhor filme de ficção com seres extraterrestres de todos os tempos
Outro ponto de vista a respeito dos alienígenas, agora com uma imagem menos hostil, só foi explorado em 1968 com o filme 2001, Uma Odisseia no Espaço [A Space Odyssey], baseado do livro de Arthur C. Clarke. Nele, uma raça alienígena inimaginavelmente avançada acompanha a evolução da espécie humana desde nossos remotos ancestrais, há quatro milhões de anos, até a corrida espacial. Dirigido por Stanley Kubrick, o filme é até hoje considerado uma das mais extraordinárias produções do gênero, questionando o que nos torna humanos e qual o destino final da humanidade.
O contato de humanos e aliens aqui na Terra foi novamente mostrado no excepcional Contatos Imediatos de Terceiro Grau [Close Encounters of the Third Kind], produzido em 1977. A trama é bem envolvente: avistamentos e estranhos fatos ocorrem ao redor do mundo, testemunhas sentem a compulsão de visitar certo local no interior dos Estados Unidos e militares com uma elite científica preparam o contato oficial com uma espécie cósmica avançada. No DVD à disposição em muitas casas do gênero, pode-se ver o diretor Steven Spielberg descrever porque decidiu convidar o grande pioneiro da Ufologia Mundial J. Allen Hynek para ser consultor da produção — que, inclusive, aparece no filme na cena de contato, diante da imensa nave-mãe chegando. O resultado foi a melhor produção ufológica de todos os tempos.
Spielberg ainda emocionaria o mundo com ET, O Extraterrestre [ET], de 1982, com sua fábula de amizade entre um garoto e um alienígena perdido na Terra. A partir daí, a temática ufológica no cinema só retornaria com grande força em 1997, com a estreia de Homens de Preto [Men in Black], dirigido por Barry Sonnenfeld e mostrando uma corporação secreta que oculta a presença de ETs vivendo entre nós. A maioria dos visitantes só deseja levar suas vidas em paz aqui na Terra, usando disfarces para ocultar sua morfologia dos mais variados tipos e cores. Mas quando surgem aliens hostis a eles e ao planeta, os homens de preto entram em ação. O filme, uma das raras comédias dentro do gênero, teve uma sequência em 2002 — e o terceiro da série deve estrear em 2012.
Robôs e Área 51
Sob a direção de Michael Bay, em 2007 Transformers inaugura um novo gênero de ficção científica de temática extraterrestre. No filme, robôs alienígenas trazem para a Terra uma guerra entre duas facções distintas, os benignos Autobots e os maléficos Decepticons. Derivado de uma série de brinquedos e de desenhos animados, a produção foi um grande sucesso, mostrando como hipoteticamente alienígenas não biológicos podem se disfarçar como máquinas e veículos terrestres. Já uma sequência da obra em 2009, Transformers: A Vingança dos Derrotados [The Revenge of the Fallen], do mesmo diretor, não teve a igual acolhida da crítica, enquanto a terceira produção da série, Transformers: O Lado Oculto da Lua [The Dark of the Moon], de 2011, ainda sob a direção de Bay, ficou em um ponto intermediário.
Reforçando a afirmação de que as produções com aliens raramente se fixam em uma única temática, em março de 2011 chegou aos cinemas dos Estados Unidos Paul [Paul], dirigido por Greg Mottola, a respeito de dois malucos por quadrinhos e conspirações que visitam as cercanias da Área 51 e resgatam um alienígena do tipo gray [Cinza] cujo nome é o título do filme. Para desespero dos dois amigos, Paul não é nada politicamente correto e adora rosquinhas, tomar cerveja, contar piadas e aprontar muito.
Outro filme com temática alienígena muito aguardado foi Super 8 [Super 8], do diretor J. J. Abrams, também exibido em 2011 — ele descreveu sua obra como uma homenagem aos grandes filmes de Spielberg. A premissa da trama é a de que, em 1979, o governo norte-americano realizara por trem uma transferência de materiais secretos da Área 51 para outra localidade, mas durante o transporte algo deu errado e um grupo de garotos fazendo filmes caseiros com uma câmera super 8 mm flagram o desastre do trem, do qual sai alguma coisa que com certeza não é humana. O filme mostrou eventos extraordinários ocorrendo na pequena cidade onde moram os meninos, e como eles e a população são afetados pela tal coisa.
Extraterrestres na televisão
O primeiro seriado a explorar a paranoia da invasão alienígena na televisão foi Os Invasores [The Invaders, 1967], sob a direção principal de Larry Cohen. Com um total de duas temporadas, a série mostrava as desventuras do arquiteto David Vincent (Roy Thinnes), que descobriu acidentalmente não apenas que extraterrestres estavam vivendo entre nós, disfarçados, mas que já haviam se infiltrado em nossas instituições e planejavam tomar controle da Terra — o mundo dos invasores estaria morrendo e eles pretendiam se estabelecer aqui.
Sucesso de audiência, a verdadeira aparência dos aliens de Os Invasores é apenas insinuada em dois episódios, nunca mostrada com clareza. Mas era comum ver que precisavam restaurar seu disfarce de tempos em tempos, em câmaras de regeneração que implantaram no planeta. O disfarce, aliás, não era perfeito, já que um de seus dedos não era funcional e eles não tinham pulso cardíaco nem sangravam quando feridos. Quando um dos invasores morria, seu corpo e tudo em contato com ele se transformava em cinzas. Como era de se esperar, a paranoia da série ecoava a da Guerra Fria. Os Invasores retornou em 1995 como uma minissérie de três horas, na qual Thinnes voltou no papel de um idoso David Vincent, agora passando seu fardo para Nolan Wood, interpretado por Scott Bakula.
Outro seriado do gênero, e com temática semelhante, foi Projeto UFO [Project UFO], que teve 26 episódios criados por Jack Webb entre 1978 e 1979. A série girava em torno de investigações ufológicas conduzidas por dois militares da Força Aérea Norte-Americana (USAF) para seu Projeto Livro Azul [Blue Book], e foi exibida no Brasil pela Rede Globo. Boa parte dos episódios tinha o objetivo de buscar explicações convencionais para os eventos ufológicos registrados por testemunhas e comunicados aos militares. Contudo, em vários deles, acabava sendo revelado que realmente os depoentes tinham tido experiências com discos voadores.
Entre os melhores episódios de Projeto UFO houve um claramente inspirado no Caso Chiles Whitted [Consulte o FAQ do Portal da Ufologia Brasileira, em ufo.com.br
], um encontro legítimo com ETs. Outra história interessante mostrava uma garota que recebera resposta a uma mensagem de rádio enviada ao espaço anos antes por um cientista. Finalmente, um dos mais impactantes capítulos da série apresentava uma família recebendo a visita de aliens de aparência equina — os pesquisadores do Projeto Livro Azul, claro, tentaram convencer a família de que tudo fora uma ilusão…
Um certo óleo negro
Outro seriado que marcou época e se transformou em clássico da ficção científica foi Arquivo-X [The X-Files,], de Chris Carter, que estreou em setembro de 1993 e terminou em maio de 2002. A série, de grande duração, mostrava as investigações dos agentes do FBI Fox Mulder e Dana Scully, dedicados à pesquisa de fatos ufológicos e paranormais e à revelação de uma conspiração global para ocultar visitas alienígenas a nosso mundo. Suas nove temporadas exploraram cada faceta do Fenômeno UFO, especialmente as abduções alienígenas, e ainda deram origem ao filme Resista ao Futuro [The X-Files: Fight the Future], de 1998, e ao mal sucedido Eu Quero Acreditar [The X-Files: I Want to Believe], de 2008 — o primeiro dirigido por Robert Bowman e o segundo, por Chris Carter e Franz Spotnitz.
Os aliens de Arquivo-X também eram grays, mas com capacidade de alterar sua forma, parecendo-se com humanos. Curiosamente, elementos da série começaram, de uma hora para outra, a aparecer em supostos relatos de contatos ufológicos no Brasil e exterior — tal como um certo óleo negro que uma famosa cantora brasileira alegou ter visto sendo extraído de vítimas de abdução. Ainda na mesma década foram produzidos 18 episódios da série Dark Skies [Dark Skies, 1996], ambientada nos anos 60 e totalmente dedicada a uma conspiração do grupo Majestic 12 para encobrir a presença alienígena na terra. Na trama, grays eram controlados por parasitas chamados gânglios, que também começaram a invadir corpos humanos. A série relacionava à conspiração alienígena eventos da história norte-americana, como o assassinato do presidente John Kennedy.
Em 2002, Spielberg retornou ao tema da presença alienígena na Terra em uma nova minissérie que também atingiu enorme audiência, Taken [Taken], de 10 episódios. Nela, a saga de três famílias ligadas ao mistério das visitas extraterrestres e abduções é acompanhada ao longo de mais de 50 anos, atravessando gerações. Com várias citações à obra do próprio Spielberg, a diversos eventos reais da história da Ufologia e a outros cenários do gênero da televisão e cinema, Taken recebeu o prêmio Emmy como melhor minissérie e já foi abordada em UFO 095 [Agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
ETs no passado da Terra
Outro grande sucesso dos anos 90 foi Stargate [Stargate], que estreou em 1997 com Stargate SG-1, uma criação de Brad Wright e Jonathan Glassner mostrando equipes da USAF viajando a outros planetas por meio de um portal estelar. Stargate foi uma das produções que melhor explorou a Ufoarqueologia — área da Ufologia que analisa as evidências da presença alienígena na Terra no passado — e a mitologia de diversas culturas de nosso planeta, tais como a egípcia e a nórdica. Entre as principais raças alienígenas mostradas na série, a mais perigosa eram os goa’uld, parasitas que dominavam hospedeiros humanos e posavam como deuses, controlando centenas de sistemas estelares. Stargate teve duas derivações, Stargate Atlantis [Stargate Atlantis, 2004] e a recente Stargate Universe [Stargate Universe, 2009].
Em Stargate Universe, uma equipe de humanos atravessa o portal estelar e adentra uma nave chamada Destiny, lançada há centenas de milhares de anos pelos Anciões, a raça que construiu os stargates e da qual descendemos. Em duas temporadas foram mostradas as desventuras da equipe viajando a bilhões de anos-luz da Terra e revelando o propósito da nave — investigar uma estrutura artificial detectada pelos Anciões em meio à radiação cósmica de micro-ondas de fundo, o eco que sobrou do Big Bang. Isso equivaleria a descobrir uma mensagem de Deus, mas, infelizmente, Stargate Universe foi cancelada e não se sabe se essa incrível história terá sequência.
Malévolo plano alienígena
O terror nos cenários que retratam a vinda de ETs à Terra teve continuidade a partir de 1983 com a minissérie V [V: A Batalha Final], de Kenneth Johnson, que fez sucesso quando foi exibida. Aliens chegaram ao planeta em enormes naves-mãe dizendo que queriam a ajuda dos terrestres para os desequilíbrios de seu planeta, e logo eram aceitos por boa parte da população. Aparentemente humanos, logo tiveram sua identidade revelada por um grupo de resistência que descobriu que eram, na verdade, reptilianos disfarçados e com insaciável apetite por pequenos animais, como roedores, e um ou outro desafortunado ser humano. Os invasores queriam mesmo água e outros recursos da Terra, e a série fez uma analogia muito elogiada entre os visitantes alienígenas e os fascistas e nazistas de nosso mundo, em uma crítica a toda forma de totalitarismo.
V teve algumas produções subsequentes até que, em 2009, com direção de Scott Peters, ressurgiu com novo formato e contando no elenco com a brasileira Morena Baccarin como Anna, a líder dos alienígenas. As críticas aos ETs agora eram mais sutis, talvez devido à agradável aparência dos visitantes — e é revelado que vários deles já viviam entre nós há muito tempo, infiltrando-se em nosso mundo para complementar seu malévolo plano. Uma pequena resistência e uma “quinta coluna” alienígena tentaram a todo custo impedir a invasão.
Na esteira de V veio, em 2010, The Event [The Event], série muito comentada criada por Nick Wauters. A trama mostrava um grupo de detentos semelhantes a humanos, mas que envelhecem muito mais lentamente do que esses, aprisionados em uma instalação norte-americana no Alasca, desde 1944, ano em que sua nave caiu naquele estado. Quando descobre isso, o então presidente dos Estados Unidos, Elias Martinez — interpretado pelo ator negro Blair Underwood, referência clara a Barack Obama —, pretende divulgar tais fatos à população. Mas antes que ele o faça, sofre um atentado e um avião que iria cair sobre o local é misteriosamente teleportado em uma luz azul.
Eventos começam a acontecer o tempo todo, também ligados ao jovem casal Sean Walker (Jason Ritter) e Leila Buchanan (Sar
ah Roemer). Enquanto isso, a líder dos detentos alienígenas, Sophia Maguire (Laura Innes), tenta convencer o presidente de suas intenções pacíficas, seu filho Thomas, que vive em liberdade, realiza toda sorte de manipulações e trapaças para que sua raça volte para o local de onde veio. Após o 10º episódio, ficamos sabendo que o pai de Leila, Michael, é um dos visitantes, e Thomas finalmente consegue lançar um satélite que envia um estranho sinal ao espaço, aparentemente provando que são alienígenas.
Finalmente, para fechar com chave de ouro o circuito de invasões de seres extraterrestres ao nosso planeta, foi ao ar em 2011 Falling Skies [Falling Skies], série de televisão também produzida por Steven Spielberg. Nesse caso, a trama é fortemente focada nas relações dos sobreviventes da invasão após o ataque à Terra, que têm que se comportar como soldados, trabalhando para proteger aqueles que amam e ao mesmo tempo organizando uma insurreição contra as forças invasoras.
UFOs na literatura mundial
Como já se falou no começo desse artigo, a primeira grande obra de sucesso a tratar de aliens na ficção científica foi Guerra dos Mundos, publicada em 1898 por H. G. Wells, que descreve uma invasão marciana à Terra. Os hipotéticos vizinhos, seres similares a polvos, estavam morrendo em seu planeta e buscavam uma segunda chance de sobrevivência no nosso, nem que para isso fosse necessário dizimar a humanidade. É importante acrescentar que, ao contrário de Júlio Verne, seu contemporâneo e também mestre pioneiro da ficção, Wells não buscava um enfoque rigorosamente científico em suas obras. Enquanto Verne discutia os efeitos da mais rigorosa e avançada ciência da época em suas histórias, Wells se permitia maiores liberdades.
Outra das famosas obras de Wells, A Máquina do Tempo, de 1895, por exemplo, ainda não teve sua fundamentação científica estabelecida até hoje. Verne não o perdoava e o acusava de mentir em seu trabalho. Em suas obras de ficção, Verne explorava a ciência de sua época com o máximo rigor, ao passo que Wells tinha maior interesse em dar asas à imaginação, focando nos efeitos sociais de situações e descobertas extraordinárias.
Podemos dizer que Júlio Verne estabeleceu as bases da chamada ficção científica hard, aquela rigorosamente embasada em fatos científicos, ao passo que H. G. Wells foi o pioneiro da versão soft do gênero, que explora com menos rigor os limites da imaginação e acaba se centralizando mais na crítica social. Sobre isso, é interessante o comentário do escritor brasileiro Roberto de Souza Causo, na antologia Estranhos Contatos, que organizou e publicou em 1998 pela Caioá Editora. Segundo ele, o relativo sucesso de autores brasileiros que exploraram a vertente ufológica da ficção científica muito se deve às particularidades da casuística ufológica de nosso país.
A explicação é que o Brasil — fortemente industrializado apenas em décadas recentes — nunca teve tradição científica em quantidade suficiente para embasar autores de ficção científica hard. Por outro lado, o folclore, com suas crendices e lendas, é até hoje muito forte no país, razão pela qual, dentro da literatura fantástica brasileira, obras de fantasia envolvendo bruxos, fantasmas e vampiros, entre outros personagens, ainda são mais populares do que as de ficção científica.
Encontros sobre o Atlântico
Na avaliação de Causo, a ficção ufológica se constitui em uma possibilidade para se explorar um tema afeito à ficção científica, mas que ainda poderia ter penetração em um ambiente inóspito às ideias científicas. Por isso, raciocina o autor, o Fenômeno UFO, embora ainda não aceito por boa parte da comunidade científica, tem servido como pano de fundo para obras de muitos dos autores nacionais. É muito importante lembrar, aliás, que o primeiro grande romance brasileiro de ficção científica teve temática ufológica. De autoria de Rubens Teixeira Scavone, O Homem Que Viu o Disco Voador foi lançado pelo Clube do Livro em 1966. Na obra é descrito o contato do comandante Eduardo Germano de Resende com um disco voador, quando ele e os passageiros do avião comercial que pilota testemunharam estranhos
fenômenos sobre o Oceano Atlântico.
Podemos dizer que Júlio Verne estabeleceu as bases da chamada ficção científica hard, aquela rigorosamente embasada em fatos científicos, ao passo que H. G. Wells foi o pioneiro da versão soft do gênero, que explora com menos rigor os limites da imaginação e acaba se centralizando mais em uma crítica social
Scavone retornaria ao tema em O 31º Peregrino [Estação Liberdade, 1993], narrando uma abdução supostamente na Inglaterra do século XIV. Como ele e Causo, vários outros autores têm explorado a vertente ufológica da ficção científica, tanto no país quanto no exterior, inclusive em obras recentes publicadas aqui. Um exemplo é a coletânea Invasão [Giz Editorial, 2009], na qual diversos autores apresentam contos explorando os mais variados temas referentes às invasões alienígenas. Naturalmente, a maioria das histórias lida com o horror de estar diante de fatos terríveis e inescapáveis, mas há também na obra contos que conseguem resultados surpreendentes, mostrando que mesmo dentro do cenário das invasões o resultado não precisa ser o mais óbvio.
Em algumas dessas tramas há até espaço para o humor — e nem sempre os invasores têm intenções malévolas. Já Don Casmurro e os Discos Voadores, escrita por Lúcio Manfredi e lançada em 2010 pelo selo Lua de Papel, da Editora Leya, é uma reinterpretação do clássico de Machado de Assis. A conhecida história romântica entre Bentinho, Capitu e Escobar também está presente na reinvenção de Manfredi, mas com a introdução de seres extraterrestres e androides na narrativa. Enfim, Manfredi reinterpretou o clássico sob uma temática fantástica [Ele foi consultor da Revista UFO em seus primórdios, quando também, apesar da pouca idade, era prolífico conferencista do tema no Brasil].
Medo do desconhecido
A antologia UFO: Contos Não Identificados
[Literata, 2010] também tem temas mais variados em suas narrativas. Surpreendentemente, nela, alguns dos autores se aproximaram mais da fantasia do que da ficção científica em suas histórias. Como em Invasão, tratado acima, muitos preferiram o tema de invasores de corpos, enquanto outros exploraram temáticas não exatamente alienígenas, mas de viagem no tempo. No caso desse autor, como convidado da antologia, procurei em meu conto A Abdução de Natália explorar algumas particularidades do fenômeno dos sequestros por alienígenas, as chamadas abduções — especialmente aquelas que parecem indicar que tais eventos não têm intenções nocivas por parte dos abdutores, muito pelo contrário [É ainda desse autor o livro De Roswell a Varginha (Tarja Editorial, 2008), o primeiro de uma série que pretende tratar da já estabelecida tradição da ficção com temática alienígena].
Nos contos de ambas as antologias, diante do medo e do fascínio que convivem lado a lado quando nos vemos diante do desconhecido, os autores buscaram explorar não apenas a natureza dos extraterrestres — que, por definição, pareceria muito estranha a nós —, mas também o efeito de sua presença em nosso meio. Frequentemente, nessa área, nem tudo é o que parece ser, coisa que os autores conseguiram mostrar muitas vezes com raro brilhantismo. Claro, a literatura permite essas discussões com muito mais profundidade do que a televisão ou o cinema, e podemos tranquilamente afirmar que os brasileiros se encontram em um nível que nada deve ao que de melhor se publica lá fora.
Muito mais do que a televisão, e especialmente do que o cinema, é nos livros que o papel dos extraterrestres se mostra bem além dos simplismos de tratá-los como “amigos” ou “inimigos”. Há nas obras de ficção científica incontáveis nuanças que contribuem para estimular a imaginação do leitor, fazendo-o mergulhar nas histórias e verdadeiramente se questionar a respeito não apenas do que é real ou imaginário nessa seara, mas também quais seriam de fato as intenções de nossos visitantes — e como será nossa reação a eles.
A ficção inspira a realidade
O propósito de apresentar esse artigo é, acima de tudo, o de enfatizar um alerta. Todos os que se interessam por Ufologia seguramente se lembram muito bem o quanto o fenômeno das abduções esteve em alta na segunda metade dos anos 90, com uma avalanche de casos surgindo a todo instante. Havia, inclusive, pesquisadores que alegavam que milhões de pessoas já haviam sido levadas por extraterrestres, chegando a fornecer o número de um por cento da humanidade como estimativa da multidão de abduzidos. Quando nos recordamos que esse número seria algo em torno de 70 milhões de pessoas, nos questionamos sobre como tais estimativas foram geradas — e o período mencionado é precisamente a época em que Arquivo-X, com suas tramas alienígenas, estava no auge. Dessa forma, seria muito interessante levantar os números do fenômeno das abduções antes, durante e após a exibição da série.
Se a ficção científica ufológica, em todas as mídias mencionadas, presta realmente um grande favor à Ufologia, divulgando e ajudando a popularizar o assunto, também não resta dúvida de que pode proporcionar combustível para fantasias de falsos abduzidos, especialmente a de contatados e dos chamados “amigos de ETs”. No entanto, se o pesquisador conhecer pelo menos um pouco do gênero, detectará facilmente se algum dos indivíduos que alegam abduções e contatos está descrevendo um alienígena já visto em algum filme ou série, ou situações que emprestou de algum livro.
O fato de certas produções atuais mostrarem aliens agressivos que pretendem invadir a Terra e extinguir a humanidade não chega a ser particularmente relevante. Embora alguns possam pensar que se trate de uma política secreta de doutrinação, basta que nos lembremos de que também surgem o tempo todo obras cujo enfoque é o oposto — o de visitantes amigáveis e até brincalhões, como vemos em Paul. Por cima, a variedade de divulgação pela mídia, seja cinema, televisão, livros, quadrinhos, e ainda contando com a convergência de todos esses espaços propiciada pela internet, também nos mostra os mais variados pontos de vista a respeito dos extraterrestres e sua presença aqui.
O gênero mais livre de todos
A ficção científica nasceu justamente com o pressuposto de divulgar a ciência em suas tramas e enredos, e como todos pretendemos que a Ufologia seja finalmente reconhecida como ciência, nada mais natural do que acompanharmos detidamente o que sai da imaginação de autores e roteiristas. Muitos são os cientistas que apreciam esses livros, seriados e filmes. Por isso mesmo, ufólogos e ufófilos deveriam se esforçar para fazer o mesmo. Não é por outro motivo, aliás, que essas produções sempre têm lugar cativo na Revista UFO. Além de tudo, a ficção científica é uma das mais produtivas formas de entretenimento que se pode querer, pois, como bem disse o mestre Spielberg, é o gênero mais livre de todos, o que permite os mais altos voos da imaginação e que acaba servindo de inspiração para avanços reais da ciência e da sociedade terrestre.
Grandes mestres da ficção científica relançados no Brasil
por Renato A. Azevedo
Recentemente tornaram-se disponíveis na seção Livraria do Portal da Ufologia Brasileira [ufo.com.br] — o site da Revista UFO — vários livros da Editora Aleph sobre ficção científica, incluindo o ótimo Almanaque Jornada nas Estrelas [2009]. A casa editorial também tem em seu acervo obras de alguns dos maiores mestres da ficção científica de todos os tempos, que merecem ser conferidas. Isaac Asimov é um deles, e a editora disponibilizou seu mais e
xpressivo trabalho em nova edição para o mercado brasileiro. A trilogia Fundação [2009] não trata de extraterrestres, mas vale pela rica descrição de um futuro longínquo em que a humanidade teria dominado toda a galáxia.
Contudo, como mostra a obra, tal vasto império estaria ameaçado pela decadência — que, segundo o genial cientista Hari Seldon, não pode ser detida e levará a um período de caos com duração de milênios. Asimov mostra como o visionário Seldon elabora um plano para que o inter-reino entre o primeiro e o segundo impérios dure somente mil anos, estabelecendo a Fundação como depósito de todo o conhecimento humano.
Também da Aleph, Asimov tratou de universos paralelos e alienígenas em seu livro Os Próprios Deuses [2010], lançado anteriormente no Brasil como O Despertar dos Deuses. O autor descreve como a descoberta de um universo paralelo tornou possível uma fonte de energia inesgotável e gratuita, proporcionando inédito progresso para a humanidade. Mas vozes se erguem quando um perigo inominável surge como efeito colateral. E nasce a pergunta: estarão os homens dispostos a abandonar o conforto em nome da sobrevivência? Asimov nos oferece, enfim, uma história que discute a fundo a estupidez humana e descreve uma sociedade absolutamente alienígena vivendo em um universo paralelo ao nosso, que pode ser igualmente destruída pela mesma insanidade.
Arthur C. Clarke é outro dos grandes mestres da ficção científica lançado pela Aleph. Em sua obra O Fim da Infância [2010], alienígenas invadem a Terra com imensas naves, mas estabelecem a paz e proporcionam melhorias inimagináveis no padrão de vida da espécie humana. Os Senhores Supremos, como são chamados, nunca aparecem, mas exigem apenas uma coisa: que os homens abandonem seus planos de exploração espacial.
Logo começam as dúvidas a respeito das intenções desses seres, e as respostas prometem ser absolutamente aterradoras. Com seu talento inigualável para contar grandes histórias que discutem com consistência as mais elementares dúvidas da humanidade, Asimov e Clarke são dois dos maiores nomes da literatura de ficção científica, e suas obras permanecem obrigatórias para os apreciadores desse apaixonante gênero.
Apollo 18, uma ficção sem sustentação na realidade
por Renato A. Azevedo
Estreou em setembro passado nos cinemas brasileiros o filme Apollo 18, thriller espacial de horror que se prontifica a responder por que não voltamos à Lua. Da mesma forma que outra produção que lançou confusão no meio ufológico recentemente, Contato de Quarto Grau [2010], Apollo 18 tem trechos similares a um documentário. Como é baseado em teorias conspiracionistas de que existiram missões lunares após a última, Apollo 17, de dezembro de 1972, o filme fez surgirem boatos e perguntas acerca de “operações secretas” dentro das expedições do programa Apollo. Basta um pouco de pesquisa, entretanto, para que se possa dizer tranquilamente que missões ocultas da série Apollo são uma óbvia impossibilidade.
O acesso tripulado à Lua, com a tecnologia conhecida, só foi possível graças à utilização do foguete Saturno V, o mesmo empregado nas missões Apollo 8 e de 10 a 17 [A Apollo 13 teve que voltar à Terra após uma explosão a bordo]. Em um último voo, em 14 de maio de 1973, foi usado em uma configuração de dois estágios para colocar a estação espacial Skylab em órbita. O Saturno V é até hoje o mais potente projétil do mundo — na configuração para as viagens lunares, media 111 m de altura e pesava, completamente abastecido, 3.000 toneladas.
Seu primeiro estágio era construído pela Boeing e media 42 m de altura, sendo abastecido com querosene e oxigênio líquido. Nessas condições, pesava 2.300 toneladas. O segundo estágio, de quase 25 m de altura, era construído pela North American Aviation e seus cinco motores eram alimentados por hidrogênio e oxigênio líquidos. Já o terceiro estágio, de quase 18 m de altura, manufaturado pela Douglas Aircraft Company, tinha um único motor e permanecia acoplado à Apollo quando o conjunto entrava em órbita, a fim de serem realizadas as checagens finais antes do voo para a Lua. Ele também oferecia apoio ao módulo lunar quando a Apollo desacoplava e realizava uma manobra de reviravolta, a fim de atracar com o módulo durante o trajeto até a Lua.
Assim, cada estágio sendo construído em diferentes locais dos Estados Unidos, todos eram transportados para Cabo Canaveral, na Flórida, por variados meios. Eles eram então reunidos dentro do imenso Edifício de Montagem de Veículos e dali transportados em uma viagem de cinco horas até a plataforma de lançamento em colossais veículos sobre lagartas, que ainda hoje são utilizados pela NASA. Na decolagem, o primeiro estágio do Saturno V desenvolvia uma potência superior a 150 milhões de HP, sendo ouvido a dezenas de quilômetros de distância.
Como se vê, diante da descrição desse monumental e complicado processo, e lembrando que o prédio onde o foguete era montado é local permanentemente sob a mira da imprensa, a única pergunta que se pode fazer é: como alguém pode afirmar que seja possível lançar uma nave dali para a Lua em total segredo? As teorias conspiracionistas que falam em missões Apollo secretas carecem completamente de fundamento, e o filme Apollo 18 é apenas isso, um filme.