Nos últimos tempos temos ouvido falar de forma cada vez mais constante na descoberta de novos planetas, chamados por uns de “novas terras” e, por outros, até mesmo de “super terras”, quando são corpos massivos. Simultaneamente, nossa tecnologia também avança a cada dia, fazendo com que nossas dúvidas aumentem, nossas indagações dupliquem e o desejo de um contato real com uma civilização extraterrestre esteja cada dia mais presente no cotidiano da humanidade e na mente de muitos cientistas. O terceiro planeta do Sistema Solar sempre foi e continuará sendo nosso lar no espaço, mas, assim como todo adolescente rebelde, está na hora de sairmos de casa e conhecermos o ambiente que nos cerca. A célebre frase da clássica série Jornada nas Estrelas, da década de 70, nunca esteve tão atual: “O espaço é a fronteira final”. Está na hora de cruzá-la.
Entretanto, existem perguntas que merecem nossa atenção e, entre elas, as mais comuns tratam da existência de vida inteligente fora da Terra. Extraterrestres estão de fato vindo até nós, ou poderemos nós, algum dia, ir até eles? Como são os mundos que habitam, como e onde localizá-los no espaço? A que distâncias estão da Terra? São muitas as indagações ainda carentes de respostas, e parte delas virá da astrofísica, a ciência que estuda as características físicas dos astros — como luminosidade, composição química, temperatura e densidade. É a astrofísica, sem dúvida, que poderá fazer frente a essas inquietantes perguntas, que nos estimulam a desvendar os mistérios que até pouco tempo estavam presentes apenas nos filmes de ficção, inatingíveis para nós.
Antes um assunto polêmico entre físicos, cosmólogos, astrônomos e astrofísicos, hoje a questão da vida fora da Terra, especialmente da vida inteligente, é tema de debates cada vez mais constantes e ininterruptos. A vida extraterrestre se tornou um tópico ativo em congressos científicos mundo afora e esforços de variadas entidades acadêmicas estão sendo realizados para que um dia possamos ter respostas às perguntas que nunca se calam, das quais as que estão acima são uma pequena amostra.
Existe atualmente uma imensa quantidade de projetos de pesquisa na área da exobiologia, que estuda a vida além da Terra, também conhecida por astrobiologia [Veja box]. E todos culminam para um único interesse: confirmar de maneira definitiva que não estamos sós no universo e descobrir se há fora do Sistema Solar algum planeta que possamos visitar. A disciplina teve forte impulso em 1971, quando um grupo de cientistas liderados por Bernard Oliver se reuniu para estudar uma forma de detectar vida extraterrestre inteligente. Desse encontro surgiu o primeiro relatório tratando seriamente do tema e um projeto de pesquisa efetivo, o Cyclops, que em sua fase final teria um conjunto de mil radiotelescópios de 100 m de diâmetro cada, dispostos na forma de um círculo para “ouvir” o universo. O programa, no entanto, acabou cancelado devido ao seu elevado custo — atualmente, o Cyclops custaria aproximadamente cinco bilhões de dólares.
Contato com outras inteligências
Esse esforço para encontrarmos respostas sobre a existência de vida fora da Terra foi gestado com a implantação, nos anos 60, do famoso Projeto SETI, o programa de busca por vida extraterrestre inteligente — o termo vem do inglês search for extraterrestrial intelligence [Veja edição UFO 179, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]. Seu objetivo era analisar o máximo de sinais captados por radiotelescópios terrestres apontados para as estrelas, a partir da aceitação de que existem formas de vida inteligente no cosmos emitindo-os. Mas o passo inicial para essa atividade começou muito antes, com a fabulosa Teoria da Evolução de Charles Darwin. Podermos entender que a vida evolui de acordo com o meio ambiente no qual se desenvolve foi um marco histórico para compreendermos a biodiversidade de nosso planeta. E a partir dessa constatação, é fácil imaginar como alguns cientistas decidiram propor — e aceitar — a possibilidade de vida fora do nosso planeta.
Como ciência, a exobiologia pode ajudar a entendero surgimento da vida fora da Terra, mas ainda não se atreve a prever como seriam os seres extraterrestres que nos visitam. No entanto, está em seus próprios fundamentos a perspectiva de que há incontáveis outras espécies
Como se sabe, um grande incentivador para a implantação do SETI foi o falecido astrônomo norte-americano Carl Sagan, um dos maiores divulgadores da ciência, e particularmente da astronomia, que já tivemos [Veja edições UFO 118 e 130, idem]. Sagan sempre acreditou ser possível um contato com formas de vida extraterrestres, e um de seus livros trata exatamente desse tema, Contato [Cia da Letras, 1997], que acabou servindo de inspiração para um filme homônimo, que despertou multidões para a realidade da existência de vida fora da Terra.
A lógica do funcionamento do SETI e de projetos paralelos ou subsequentes para determinar a existência de vida extraterrestre é baseada na operação com radiotelescópios, grandes antenas em formato de prato apontadas para o espaço. Elas tentam captar informações na forma de ondas de rádio provenientes de astros nos mais diversos pontos do cosmos, possivelmente originadas de civilizações que tenham tecnologia semelhante à nossa. O radiotelescópio capta ondas eletromagnéticas com frequências diferentes da luz visível, que um telescópio óptico convencional percebe. Acredita-se que, da mesma maneira como nossa civilização envia ondas de rádio ao espaço, uma mais avançada também já esteja fazendo o mesmo, e, assim, poderemos captar tais sinais da própria superfície de nosso planeta literalmente “ouvindo” as estrelas para encontrar nossos vizinhos cósmicos.
Um dos principais instrumentos nessa busca é o Radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, que faz parte do Centro Nacional de Astronomia e Ionosfera dos Estados Unidos, uma instituição operada pela Universidade de Cornell em acordo com a Fundação Nacional de Ciências, uma agência federal com objetivo de promover o progresso da ciência e da engenharia daquele país. O radiotelescópio opera 24 horas por dia todos os dias e os resultados de sua investigação do espaço profundo são publicados em vários periódicos científicos acessí
veis ao público. Por ser a maior antena parabólica do mundo, o instrumento é reconhecido como um dos mais importantes para a radioastronomia moderna, para a astronomia planetária e para os estudos atmosféricos.
Variáveis em jogo constante
Idealizado pelo professor William E. Gordon, de Cornell, e inaugurado em 1963, as facilidades proporcionadas pelo observatório de Arecibo estão disponíveis em base de igualdade para cientistas de todo o mundo. Hoje, o SETI conta com outro aparelho muito poderoso para suas pesquisas. Trata-se da maior antena manobrável do mundo, o Telescópio Green Bank, que procura sinais de vida inteligente em planetas orbitando estrelas em variados quadrantes da galáxia, ou seja, em sistemas planetários diferentes do nosso. Esses mundos são chamados de exoplanetas ou planetas extrassolares e têm sido detectados principalmente pelo telescópio espacial Kepler, que já captou uma grande variedade deles — mais de 300 confirmados de um total que beira 1.500 “candidatos”. Essa área da astronomia cresce a uma velocidade fantástica, e a cada dia mais exoplanetas são anunciados.
Boa parte desses resultados é devida ao astrônomo norte-americano Frank Drake, um dos fundadores do SETI, conhecido por ter elaborado a primeira fórmula matemática para demonstrar estatisticamente a quantidade de possíveis planetas com condições de desenvolver formas de vida inteligente em nossa galáxia. A fórmula, conhecida como Equação de Drake, já teve algumas revisões para ser atualizada, mas continua um dos melhores sistemas para definir uma quantidade estimada de exoplanetas habitados por outras espécies cósmicas na galáxia. Entre diversas variáveis, ela leva em conta o número de civilizações que se acredita terem se desenvolvido a ponto de criarem tecnologias para se comunicar com outras similares.
A Equação de Drake nos mostra que são severas as condições e situações em jogo, simultaneamente, para que um planeta desenvolva alguma forma de vida e, antes de se autodestruir, chegue a um ponto de maturação tecnológica. E o interessante é que, por mais pessimista que sejamos quanto aos valores dessas variáveis, ainda assim o número final sempre será de milhares de planetas com potencial para gerar e abrigar vida inteligente. É bom lembrar que todo esse cálculo é feito apenas para a nossa galáxia, a Via Láctea, onde existem mais de 200 bilhões de estrelas — e hoje se estima a existência de mais de 150 milhões de galáxias no universo.
Amparado em pesquisas crescentes e com o apoio de astrofísicos em número cada vez maior, há alguns anos tiveram início prospecções efetivas de planetas fora do Sistema Solar. Mas mundos tão distantes não são observáveis facilmente, e sua determinação seria impossível sem o desenvolvimento de técnicas próprias, uma das quais — o chamado “método de fotometria do trânsito” — levou à descoberta de um grande número de exoplanetas. A técnica consiste em observar uma estrela por um longo período e observar continuamente a luz que ela emite. Se houver variações periódicas acusando a diminuição de sua luminosidade, isso indicará a possibilidade de existência de um mundo orbitando tal astro [Veja box].
Descobrindo novos mundos
Quando um planeta transita na frente de uma estrela com órbita visível a partir da Terra, sua luminosidade diminui por uma pequena fração de tempo — como se ele fizesse uma diminuta sombra sobre o astro —, sendo assim possível registrar sua passagem pelo “disco” da estrela em observação. O grande problema dessa técnica, no entanto, é que a órbita do exoplaneta necessita estar visível exatamente de perfil para nós, aqui na superfície terrestre, para ser possível a detecção — caso contrário, não há como registrar a diminuição na luminosidade da estrela enquanto o orbe transita à sua frente.
O método também nos permite determinar até mesmo a massa de um suposto exoplaneta de maneira bem precisa, além de seus dados orbitais, como o período de revolução em torno da estrela que orbita, chamado de translação. Outra técnica utilizada pela astrofísica para determinar exoplanetas é a chamada “astrofotografia direta”, que consiste em fotografá-los diretamente através de um processo de obscurecimento da imagem do astro, para assim se poder registrar seu brilho refletido na estrela que orbita. O problema dessa técnica — e todas têm questões a serem solucionadas — é que até agora só é possível registrar exoplanetas com um volume maior do que o do planeta Júpiter, que tem 11 vezes o diâmetro da Terra — exoplanetas menores não são detectáveis. Mas, mesmo com essa limitação, já temos registrado vários deles, embora nos pareçam apenas pequenos pontos brilhantes perdidos entre miríades de estrelas.
De qualquer forma, com tantas investigações, já temos imagens reais dos primeiros planetas encontrados fora do Sistema Solar, o que significa um avanço científico enorme — mas a maioria das fotos desses mundos é bem diferente das criadas por artistas e que ilustram artigos publicados, que retratam apenas como se imagina que seriam esses novos exoplanetas, não como são realmente. Atualmente já temos mais de 500 deles conhecidos e confirmados, mas a maioria não se encontra em regiões propícias para o desenvolvimento de formas de vida como conhecemos.
Bilhões de planetas à espera
Lançada em 2009 e usando o método de fotometria do trânsito, a sonda Kepler recentemente contabilizava mais de 1.300 “candidatos” a exoplanetas — ainda por serem confirmados como tais —, dos quais mais de 80 seriam iguais à Terra. Desses, cinco estariam situados na chamada “zona habitável” de seus sistemas, ou seja, orbitariam pontos onde o calor de sua estrela permitiria a existência de água em estado líquido. Esses números demonstram que exoplanetas são mais comuns do que se imaginava. No início de 2011, um estudo baseado em informações enviadas pela Kepler concluiu que a Via Láctea pode ter cerca de dois bilhões de planetas com tamanho semelhante ao nosso — e veja o leitor que temos ainda muitos milhões de galáxias no universo observável.
Existem fatores específicos que temos de levar em conta para afirmarmos quais exoplanetas podem ou não desenvolver vida
como na Terra. Um dos maiores problemas nessa determinação é conseguirmos imagens de sua superfície, o que é dificílimo devido as distâncias literalmente astronômicas que estão de nós. Para se ter uma ideia, a estrela mais perto daqui, chamada de Próxima Centauri, se encontra a 4,2 anos-luz de nós [Por ser um sistema de estrelas triplo, alguns autores se referem a ela como Alfa Centauri, que estaria a 4,3 anos-luz da Terra].
Um ano-luz é a distância percorrida por um raio de luz no vácuo durante um ano, a uma velocidade aproximada de 300 mil quilômetros por segundo, de tal forma que poderia completar sete voltas e meia em torno da Terra em apenas um segundo. Rápido? Não para distâncias astronômicas! Mesmo assim, aplicando esse dado para o exemplo acima, e traduzindo em valores conhecidos, Próxima Centauri está a uma distância aproximada de 40 trilhões de quilômetros daqui. E se for difícil imaginar essa distância apenas para a estrela mais próxima de nós, imagine o leitor para as demais, a 30, 50, 120, 600 anos-luz etc.
Onde a vida é possível
A estrela Gliese, na Constelação de Libra, por exemplo, se encontra a 20,4 anos-luz da Terra e é exatamente em torno dela que orbita o exoplaneta mais famoso descoberto até hoje, chamado de Gliese C — toda essa notoriedade vem da sua localização privilegiada em torno do astro que orbita. Gliese C está na zona de habitabilidade de Gliese. Como já se disse, essa região de um sistema estelar é a área ao redor da estrela central onde há possibilidade de encontrarmos temperatura, luminosidade e quantidade de radiação adequadas para que um exoplaneta nela situado tenha água em estado líquido em sua superfície, considera essencial à vida como a conhecemos. Isso para mundos que tenham superfície, e não para mundos gasosos, como ocorre muito. Cada estrela tem sua zona de habitabilidade em uma determinada região ao seu redor, de acordo com sua massa, temperatura e luminosidade próprias. Fora dela a temperatura pode ser muito alta ou muito baixa para o desenvolvimento de vida, ou pode haver luminosidade insuficiente ou demasiada, ou ainda o exoplaneta ali localizado pode receber uma carga muito alta de radiação da sua estrela.
Em nosso Sistema Solar, a zona de habitabilidade fica entre os planetas Vênus e Marte, que estão em seus limites, ou seja, Vênus já está muito próximo do Sol e Marte, muito longe, no ponto mais extremo da referida zona. A Terra se encontra exatamente no centro dela, o que nos torna privilegiados para o desenvolvimento de nossa fantástica biodiversidade. De todos os exoplanetas descobertos até agora, o Gliese C é o que tem mais condições de ter água em estado líquido em sua superfície e, assim, se tornou o maior candidato a desenvolver a vida como conhecemos. Mas ainda estamos longe de saber se ele é mesmo uma nova “super terra”, já que possui um diâmetro 50% maior que o do nosso pequeno planeta.
Em um futuro próximo, teremos condições de analisar a composição atmosférica desses mundos com novos e modernos telescópios que serão colocados em órbita da Terra, que deverão revelar quais componentes têm. Uma das substâncias a serem procuradas na atmosfera dos exoplanetas será o gás metano, pois geralmente é produzido por variadas formas de vida, mesmo que bactérias ou flora primária. As pesquisas nessa área avançarão muito nos próximos anos e certamente em menos de uma década poderemos saber se algum desses novos mundos é um candidato a ter vida.
Vida no Sistema Solar?
Muitos outros novos orbes localizados na zona de habitabilidade de estrelas hoje sendo rastreadas serão descobertos nos próximos anos, e com certeza serão o foco de estudos futuros para detecção de rastros de atividades biológicas em suas atmosferas, através dos modernos telescópios que já estarão operando do espaço. É possível que em menos de 10 anos possamos ter uma confirmação de traços de atividade biológica em vários deles — e esse é o desafio da astrobiologia, agora que já sabemos como “enxergar” mundos fora do Sistema Solar, antes completamente desconhecidos da espécie humana.
Mas sempre que falamos em vida fora da Terra, vem à nossa mente nosso vizinho mais famoso, Marte, o Planeta Vermelho, porque é o mundo preferido tanto de escritores de ficção científica quanto de autores de textos espiritualistas — os primeiros porque Marte fascina a imaginação humana, e os outros porque creem que nele exista alguma forma de vida não material, abordada em várias obras espíritas. Mas o Planeta Vermelho é alvo de constantes sondagens e está atualmente sendo monitorado por várias sondas não tripuladas, o que vem aumentando significativamente os dados que temos sobre ele, que nos permitirão esclarecer de uma vez por todas se tem mesmo água em estado líquido na superfície, uma vez que em seu subsolo ela já foi detectada.
Em Marte há claros traços geológicos que indicam que um dia houve água corrente em sua superfície, até mesmos grandes rios, embora em um passado remoto. Mas ainda não se sabe por que o líquido hoje se encontra somente em seu subsolo, e não mais na superfície — e esse é um dos grandes mistérios ainda não solucionados sobre nosso intrigante vizinho. De qualquer forma, além da Terra, Marte é o planeta do Sistema Solar que tem mais condições físico-químicas para desenvolver ou ter desenvolvido qualquer forma de vida. Não é de se admirar que seja alvo de tantas pesquisas e missões espaciais não tripuladas.
Mas mesmo com a proposta da NASA de construção de uma base no planeta para futuras missões de exploração científica, os astronautas que participarem desse privilégio terão muito trabalho para comprovar a existência da tão sonhada vida marciana. A radiação cósmica em sua superfície, devido à sua tênue atmosfera de gás carbônico ser muito alta, é um grande obstáculo para a vida se desenvolver. Se e
m um passado remoto Marte teve atmosfera mais densa, talvez por causa de água em sua superfície, esse pode ser o indício de que a vida um dia existiu ali. Hoje, com toda a radiação que recebe do Sol, até mesmo a presença de astronautas em Marte, mesmo com roupas especiais, é um problema a ser resolvido. Por isso se estuda a possibilidade de enviarmos robôs para exploração do solo marciano, não seres humanos. O problema que isso acarreta, entretanto, é saber se um robô poderia exercer o papel de um humano, em todos os sentidos, para estudar a superfície de um planeta com a sensibilidade necessária para a busca de vida.
Vida em Europa?
Porém, Marte não é o único candidato a desenvolver ou a ter desenvolvido vida no Sistema Solar. Existem alguns outros mundos que se destacam por ter características favoráveis ao seu surgimento, como o satélite natural de Júpiter, Europa. Ele tem uma crosta congelada e, abaixo dela, uma grande quantidade de água em estado líquido. Mas o efeito gravitacional de Júpiter sobre Europa é muito mais forte do que o que a Terra causa sobre a Lua, devido à massa de Júpiter ser imensamente maior do que a nossa. Assim, tal enorme força gravitacional exercida sobre Europa pode provocar um aquecimento da água abaixo da crosta, especialmente pelos movimentos convectivos [Das massas líquidas] em seu interior, provocado pelo planeta que orbita.
A temperatura na superfície de Europa foi estimada em torno de mais de 100o C negativos, mas o efeito gravitacional joviano [De Júpiter] faz com que a água possa se manter líquida em seu interior. E havendo água, a questão é saber se existem moléculas orgânicas nela, algo que será conhecido nos próximos anos, quando se enviará uma missão não tripulada para pousar em sua superfície. Por outro lado, como se sabe, Júpiter é quase um sistema planetário em miniatura, pois o planeta emite ao espaço 2,5 vezes mais calor do que recebe do Sol. Na verdade, é considerado uma protoestrela, ou seja, se tivesse um pouco mais de massa, poderia realizar reações termonucleares em seu interior e se transformar em uma estrela. Para nossa sorte, isso não acontece, pois com duas estrelas em nosso sistema seria difícil a Terra ter uma órbita estável e desenvolver a vida que tem.
Como se vê, para melhor desenvolvimento de formas de vida e sua evolução, também é importante que o sistema planetário seja composto por uma única estrela, e que o exoplaneta onde se acredita haver vida esteja dentro de sua zona de habitabilidade. Em sistemas com duas ou mais estrelas, seu desenvolvimento seria mais complicado, aumentando em muito as variáveis para que isso ocorra. Assim, as buscas por novos exoplanetas se concentrarão naqueles com uma única estrela.
Gêiseres em Titã
Uma das luas de Saturno, Titã, também tem condições interessantes para ser estudada com mais detalhes pela astrobiologia, pois é o único satélite natural do Sistema Solar com uma atmosfera considerável. Ela tem semelhança com a que nosso planeta possuía há 3,5 bilhões de anos, tornando-se também um forte candidato nos processos de busca por vida extraterrestre. Titã foi visitado por uma sonda não tripulada há anos e ali foram descobertos lagos e rios de metano líquido, o que aumentou a possibilidade de o satélite natural desenvolver formas biológicas — ou de já tê-las desenvolvido algum dia.
Há ainda a necessidade de uma nova missão àquela lua para se obterem mais dados, e assim confirmarmos ou não as suspeitas sobre suas verdadeiras condições. E além de Titã, Saturno tem outro satélite natural de destaque, Encélado, uma pequena lua de apenas cerca de 500 km de diâmetro equatorial e interessantes atividades geológicas. Registrou-se nela a presença de vapor de água em uma fina e tênue atmosfera originada de atividades em sua superfície. Recentemente, a sonda Cassini parece ter encontrado provas da existência de reservatórios de água líquida em Encélado, que entraria em erupção ao estilo de gêiseres, podendo atingir quilômetros de altitude devido à sua reduzida força gravitacional.
A existência desse tipo de atividade geológica em um mundo tão pequeno e frio acrescenta significativamente nossas estimativas quanto ao número de habitats com capacidade de sustentar organismos vivos na parte inexplorada do Sistema Solar, e talvez formas de vida que possam existir em condições limites, como os extremófilos [Veja box].
Aparência dos aliens
Até agora falamos apenas da busca por vida extraterrestre de formato não necessariamente semelhante ao humano, ou seja, vida de qualquer forma, desde a mais simples bactéria. Mas e eles, os alienígenas, formas de vida extraterrestre inteligente, avançada e autossubsistente, existem mesmo em exoplanetas? Teriam o formato humanoide, parecendo-se com os ETs que vemos na literatura ufológica e semelhantes aos seres humanos? A astrofísica pode dar algumas opiniões a respeito levando em consideração a condição físico-química de cada exoplaneta considerado. Por exemplo, um mundo que tenha atmosfera densa deverá apresentar baixa luminosidade em sua superfície, obrigando as formas de vida nele existentes a desenvolver órgãos de visão mais aguçados, ou seja, olhos grandes para captar mais luz.
Mas se o exoplaneta tem uma massa maior do que a da Terra, naturalmente terá gravidade também maior, o que quer dizer que as formas de vida ali presentes sofrerão mais força gravitacional, fazendo com que sejam de estaturas menores do que os seres humanos — e talvez atarracados, de reforçada estrutura para resistirem a tal gravidade. Em casos contrários, de exoplanetas com baixa gravidade, as formas de vida que ali se desenvolverem teriam estaturas maiores do que nós, humanos, e talvez mais delgadas e delicadas, ao contrário dos atarracados ETs da outra classe de mundos.
Vamos usar como exemplo a aparência de um famoso tipo de alienígena, os chamados grays [Cinzas], que estão t&atil
de;o presentes nas abduções alienígenas. Seus olhos grandes e negros indicariam que habitam locais com pouca luminosidade natural, talvez mundos com atmosfera densa, que impediria a passagem de boa parte da luz da estrela que orbita. Seu corpo franzino e sua baixa estatura — em torno de um metro — acusariam que vivem em ambiente de alta gravidade, impossibilitando maior crescimento de seus habitantes. Um corpo mais leve facilitaria a locomoção em um planeta com essas condições. E sua cabeça avantajada demonstraria que são seres evoluídos, ou seja, que têm um tempo de existência no universo maior do que o nosso.
Viajantes do tempo?
O mundo que habitariam os grays provavelmente também é mais velho do que o nosso, talvez com mais de cinco bilhões de anos — a Terra tem 4,5 bilhões de anos. Ainda, pela aparência das mãos e pés desses seres, eles viveriam em um planeta rochoso, pois necessitariam se locomover em superfície sólida.
Analisando a tipologia de um ET do tipo gray, podemos comparar sua aparência com a que o ser humano terá daqui a alguns milhares ou milhões de anos de evolução. A tendência de nossa espécie é de desenvolver cada vez mais o cérebro e diminuir a função de alguns de nossos órgãos, como nariz, boca e ouvidos. Por exemplo, se a atmosfera da Terra se adensar no futuro, talvez devido à poluição química e ao aquecimento global, teremos olhos maiores para compensar a perda da visibilidade resultante. Pensando dessa forma, podemos especular até que um gray pode ser um ser humano do futuro, retornando ao passado para resolver problemas que possam nos ajudar em um futuro distante — ou, quem sabe, vêm aqui corrigir erros que influenciaram na vida humana do futuro.
Claro que falar de viagem no tempo ainda é ficção, mas sabemos pela mecânica quântica que existe sim essa possibilidade, tanto para o futuro — como a Teoria da Relatividade de Einstein já comprovou ser viável — como para o passado, já que não existe uma lei física que nos impeça de realizarmos essa aventura para ambas as direções. Ou seja, se for possível para uma espaçonave com humanos dentro ir para o futuro, em tese seria igualmente possível viajar ao passado. Embora ainda não tenhamos compreensão de como fazer isso, já temos consciência de que poderemos fazê-lo algum dia — e talvez alguns de nossos visitantes já tenham passado dessa fase em sua evolução e detenham o conhecimento para viajar no tempo, que nos falta.
Entramos aqui no campo das especulações, é verdade, pois tudo o que sabemos é baseado na ciência conforme a conhecemos em nosso mundo — e sobre os eventuais organismos extraterrestres que buscamos, temos apenas a biologia terrestre como referência. A vida na Terra existe à base de alguns elementos químicos, presentes em todas as espécies que conhecemos — carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre, combinação conhecida pela sigla CHONPS, formada pelos seus símbolos. Mas será que essa é uma regra que se aplica a todo o cosmos? Seriam outras formas de vida existentes em exoplanetas baseadas em elementos além dos descritos? Enfim, existiria algum mundo que tenha desenvolvido condições climáticas, físicas e químicas para que a vida que nele surgisse não necessitasse dessa combinação, tão vital para nós? Essa é uma pergunta para a qual ainda não temos resposta.
Vastidão de mundos
Com todas essas variáveis em jogo, é perfeitamente razoável supor que a biodiversidade de outros planetas, fora do Sistema Solar, seja muito mais complexa do que pensamos — e algo realmente excitante para a ciência. Pode haver nesses mundos organismos e até seres de variadas tipologias, algumas inimagináveis. Apesar de paradoxal, conjecturar sobre formas de vida ainda impensáveis para os nossos padrões nos faz ver que estamos apenas engatinhando no rumo dessa nova fronteira de descobertas cósmicas. O universo é o palco onde a vida se desenvolve, e nós somos apenas espectadores assistindo o desenrolar dessa história, sem prever o seu final.
A astrofísica realmente nos trará as soluções para tantos questionamentos, mas também nos oferecerá muitas novas perguntas sobre esse intrigante tema. Enfim, a existência de extraterrestres pode ser tão interessante para a ciência, no futuro, quanto é para a Ufologia, no presente. Somente o tempo, com seu ritmo implacável, poderá nos ajudar a obter as respostas que buscamos, e só nos resta esperar que isso ocorra.
Exobiologia: antes uma excentricidade, hoje uma realidade atraente para cientistas de todas as áreas
por Equipe UFO
A exobiologia ou astrobiologia é o estudo da origem, evolução, distribuição e o futuro da vida no universo. Também conhecida com exopaleontologia, bioastronomia e xenobiologia, a disciplina trabalha com conceitos de vida e de meios habitáveis que serão úteis para o reconhecimento de biosferas que podem ser diferentes da terrestre, existentes em outros mundos. Antes uma excentricidade de isolados cientistas, hoje a astrobiologia — termo preferido dos cientistas — é uma realidade dedicada à procura de planetas potencialmente habitáveis fora do Sistema Solar, além da exploração de Marte e de mundos e satélites dentro dele. Em seu escopo também estão pesquisas de laboratório e de campo sobre as origens e a evolução da vida primitiva na Terra, além de prospecções sobre o potencial adaptativo da mesma em nosso planeta e no espaço.
A astrobiologia é um campo multidisciplinar que compreende, entre outros, a astronomia, biologia molecular, ecologia, ciências planetárias, ciências da informação, tecnologias de exploração espacial e várias áreas correlatas. Seu vasto caráter interdisciplinar resulta em uma ampla visão e compreensão de fenômenos cósmicos, planetários e biológicos. A etimologia da palavra vem do grego antigo astron, que significa estrela ou constelação, bios, que é vida, e logia, estudo. Mas apesar de a astrobiologia ainda ser vista como um campo emergente e em desenvolvimento por certos segmentos da comunidade acadêmica, a questão da existência de vida em outros planetas do universo é hoje considerada uma hipótese mais do que verificável e, portanto, um ramo legítimo de invest
igação científica. De excentricidade, hoje a exobiologia nada mais tem.
A área ganhou maior notoriedade em 1984, quando o meteorito ALH84001, de origem marciana, foi encontrado na Antártida e nele se encontraram evidências microscópicas que podem ter sido originadas por formas de vida que não temos na Terra. Apesar de há pouco mais de uma década ela ser considerada uma disciplina extracurricular, fora da ciência tradicional, a astrobiologia virou uma realidade no final dos anos 50, quando a NASA fundou seu primeiro projeto na área. A ciência ganhou considerável peso em 1976, com os programas de exploração espacial revolucionários, principalmente o Viking, que incluía experimentos biológicos para verificar a possibilidade de traços de vida em Marte. Hoje, com, a crescente descoberta dos planetas extrassolares ou exoplanetas, apontando para a iminente descoberta da vida fora da Terra, a astrobiologia está entre as áreas mais procuradas da ciência.
Os principais instrumentos de detecção de exoplanetas estão no espaço
por Equipe UFO
Lançado em 06 de março de 2009, o Telescópio Espacial Kepler é um observatório montado na sonda homônima projetada e operada pela NASA, com a função principal de procurar planetas extrassolares — aqueles fora do Sistema Solar. Para tanto, vai rastrear mais de 100 mil das estrelas mais brilhantes do céu, a fim de determinar, por métodos recentemente descobertos, quais podem conter mundos ao redor. O principal deles, e mais exitoso, é o chamado “método de trânsito”. Quando um planeta passa na frente de seu astro, evento denominado de trânsito, pode levar à sua detecção pelas lentes do telescópio espacial, o que de outra forma não ocorreria.
O trânsito de planetas produz uma pequena alteração no brilho das estrelas que orbitam, quase imperceptível e muito rapidamente — exceto para os instrumentos aprimorados Kepler. Se essa alteração for periódica, ou seja, se vier a se repetir em intervalos iguais e em mesma intensidade, então se chega à conclusão de que é causada por um exoplaneta. Todo o trânsito produzido por um corpo orbitante resulta em alteração no brilho de seu astro, e no mesmo intervalo de tempo. E, naturalmente, quanto maior o corpo em relação à estrela, maior a alteração em seu brilho e mais chances de ser detectado.
O tamanho da órbita e a dimensão do exoplaneta “candidato” — antes de ser confirmado — poderão ser calculados a partir do seu período, ou seja, do tempo que o orbe leva para girar uma vez ao redor de sua estrela. O Telescópio Espacial Kepler tem instrumentos que são capazes de medições extremamente acuradas. Como o aparelho tem um grande campo de visão, poderá continuar e simultaneamente monitorar o brilho de mais de 100 mil estrelas por todo o período em que durar sua missão, estimada inicialmente em quatro anos. A sonda está em perseguição à órbita solar da Terra, a fim de que essa não oculte estrelas que estejam sendo examinadas pelo observatório, além de assim ele ficar distante das luzes de nossa superfície.
A vida extraterrestre pode ser totalmente diferente de tudo o que conhecemos em nosso planeta
por Equipe UFO
Para entendermos as inúmeras possibilidades de vida fora da Terra é preciso considerar também a existência de organismos que guardam muito pouca semelhança com a forma como estamos habituados a ver a vida. Nos anos 70, a descoberta de micro-organismos vivendo em condições extremas, aqui mesmo na Terra, passou a chamar a atenção dos cientistas para uma situação nova e que abre muitas perspectivas. O pensamento acadêmico vigente até então era de que a vida era um evento extremamente raro e que ocorreria somente em casos muito especiais, sempre ligados à existência de água em estado líquido — o que torna o processo restrito e delicado.
Essa forma de encarar a vida mudou radicalmente com a descoberta de organismos chamados de extremófilos, formas de vida biológica unicelular capazes de viver, sobreviver, evoluir e se reproduzir em ambientes considerados extremos e impossíveis para a existência de qualquer forma conhecida de organismo. A descoberta impulsionou a astrobiologia a buscar por tipos de vida extraterrestre que estejam além de nossos conhecimentos, vivendo nos limites das possibilidades. E se existem tais organismos em formato primitivo, tendo se desenvolvido em ambientes tão hostis, a pergunta dos cientistas, agora, é se o processo também poderia ter levado à gestação de seres mais complexos. Veja os tipos de organismos extremófilos já encontrados na Terra:
Acidófilos Sobrevivem em ambientes de alta acidez, próximos de fontes termais ricas em enxofre. Esses organismos não se alimentariam do meio ácido ao redor, que poderia destruir suas estruturas internas, mas produzem enzimas especiais que os protegem e que estão sendo estudadas pela medicina.
Alcalófilos Vivem no outro extremo da acidez, sendo encontrados em ambientes ricos em carbonato de sódio, soda cáustica. Foram localizados em lagos gasosos e leitos secos de rios. Alguns foram descobertos sobrevivendo no Deserto de Mojave, na Califórnia.
Termófilos Existem em ambiente de temperaturas extremamente altas, como a bactéria Pyrolobus fumarii, que sobrevive no fundo do mar perto de locais de escape de gases vulcânicos superaquecidos.
Halófilos Sobrevivem em ambientes com alta salinidade e alcalinidade. Podem ser encontrados em locais inóspitos, como leitos secos de rios ou lagos, onde a evaporação deixa apenas sal compactado e lagos fechados com alto teor da substância. Um exemplo é o Mar Morto, onde se descobriu organismos sobrevivendo a uma salinidade 10 vezes maior do que a suportada por formas de vida convencionais, que são as características do local.
Radiófilos Vivem em condições de radiação de mais de três mil vezes a suportada por seres humanos. A bactéria Deinococcus radiodurans, encontrada no núcleo de usinas nucleares, sobrevive a cerca de 1,5 milhão de Rads de radiação ionizante.
Litoquimioautotróficos Eles existem no interior de rochas abaixo da superfície terrestre ou ainda em minas de carvão. Vivem sem oxigênio ou luz solar. O organismo Bacillus infernus foi encontrado a 2,5 km de profundidade.