Em 12 de novembro último, Juan José Benítez, autor de Operação Cavalo de Tróia e diversas obras sobre Ufologia, esteve em Varginha, acompanhado da esposa, do filho e mais duas representantes da Editora Mercuryo. Procurou um literato local, Aníbal Albuquerque, autor de O ET de Varginha, e o senhor Tadeu Pinto Soares, outro interessado pelo Fenômeno UFO. Acompanhado destes senhores, Benítez dirigiu-se aos locais no Jardim Andere onde se sucederam os primeiros episódios do Caso Varginha. O escritor passou o dia na cidade e retornou a São Paulo (SP) naquela mesma noite. Sua visita chegou-nos ao conhecimento apenas no dia seguinte, pois não fomos procurados para oferecer-lhe eventuais subsídios às suas próprias análises.
No dia 14, Benítez deu uma entrevista à Imprensa, relatando supostos “fatos inéditos”, que alegou ter encontrado em Varginha com relação à captura dos extraterrestres ocorrida em 20 de janeiro do ano passado, já amplamente abordada nas edições de UFO e UFO Especial, além de outras publicações e demais meios. Logo em seguida, viajou para a Espanha. Após sua declaração à Imprensa, alguns veículos de comunicação remontaram o caso, destacando, entre outras coisas, que o escritor havia encontrado “… três marcas bastante profundas e interessantes no solo”. O texto do jornalista Eduardo Castor Borgonovi, publicado inclusive na revista Veja — normalmente avessa a esse tipo de assunto — e em outros periódicos, além de rádios e TVs, informa que, pelas conclusões de Benítez, alguma coisa aconteceu: “As marcas formam um triângulo retângulo e, durante todo este tempo, ninguém as havia encontrado. Com essa descoberta, fiquei completamente seguro de que houve realmente o pouso de uma nave”.
Somente passados os primeiros burburinhos de sua revelação, em conversa informal com o ufólogo Claudeir Covo, Benítez contou que havia descoberto as tais marcas no Jardim Andere, perto de onde os bombeiros fizeram a captura da primeira criatura. Ao que tudo indicava, tanto a presença do escritor quanto sua “surpreendente descoberta” deveriam permanecer em segredo para nós — ufólogos que abarcamos as investigações básicas do caso —, por razões pessoais, que não comportam qualquer questionamento. A esse respeito, Benítez apenas alegou que não queria interferir em nossas pesquisas.
Aos olhos da população, parecia que o escritor espanhol fizera uma proeza importantíssima no contexto do caso, e o mais interessante: durante poucas horas de sua estada em Varginha, num local em que nós, e demais ufólogos brasileiros, fizemos por várias vezes uma verdadeira operação “pente fino”, sem percebermos nada que pudesse denotar algo incomum, como evidências físicas do pouso ou da aproximação de um UFO. Para ilustrar e enfatizar sua grande descoberta, o escritor fez vários desenhos dos três buracos encontrados — os quais formavam um triângulo com aproximadamente 9 x 9 x 11 metros de lados — e os apresentou a Claudeir. J. J. Benítez ainda argumentou que havia no local pedras e insetos calcinados e uma árvore desidratada, completamente seca. Estes mesmos detalhes o autor passou aos repórteres que o entrevistaram, tornando suas declarações ainda mais bombásticas.
INVESTIGANDO A QUEDA DE VARGINHA: FRACASSA INVESTIDA DE UFÓLOGO ESTRANGEIRO — O pesquisador falou ainda que o solo do terreno era muito seco e que, para se fazer as três marcas — com 18, 24 e 10 cm de profundidade —, seria necessária uma nave com peso aproximado de 30 toneladas. Benítez também declarou: “Não tenho dúvidas de que naquele local pousou uma nave espacial”. Tal terreno serve de pasto para os animais da região e se inicia logo após a linha férrea e fica próximo de onde capturaram a primeira criatura, às 10h30. Contudo, as marcas a que o escritor se refere são duas cavidades cilíndricas e a terceira, rasa e retangular. Já à primeira vista, as surpresas provocaram estarrecimento: nitidamente os dois círculos não passavam de buracos abertos sabe-se lá por quem com algum objeto pérfuro-cortante, como uma pequena pá ou talvez uma faca.
Com base em todas essas evidências, no entanto, mesmo que em algumas situações certas providências sejam absolutamente desnecessárias, é costume respaldarmos nossos estudos com a opinião de quem seja realmente credenciado nas devidas áreas técnicas — único modo de se fazer uma Ufologia responsável, segundo o que sempre acreditamos. Dentro desse princípio ético, levamos ao local o agricultor Dáurio do Monte Lima Silva que, além de possuir larga experiência no campo, é físico licenciado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E no dia posterior, o engenheiro civil José Bíscaro Jonas, também acostumado às lides no meio rural. Ambos nos forneceram depoimentos circunstanciais, gravados no local e posteriormente transcritos, a título de laudo.
Além disso, Dáurio achou por bem elaborar outro relatório contendo mais detalhes técnicos de suas análises. A conclusão é exatamente a que já supúnhamos: as duas cavidades cilíndricas não passam de dois buracos abertos por alguém com uma ferramenta de cabo duplo, com lâminas em forma de colher, própria à abertura de covas para a instalação de mourões de cerca. E a terceira, mais rasa, é simplesmente a depressão deixada pela retirada de um cupinzeiro, certamente com o uso de uma enxada… Eis o pouso do UFO de Benítez!
A notícia veiculada com base nas declarações de Benítez ainda informava que ele colhera do interior do triângulo, formado pela disposição das marcas, alguns insetos calcinados, queimados, bem como pedras enegrecidas pela ação de intenso calor. Supôs-se que este último teria sido gerado pela tal nave extraterrestre que o escritor espanhol julga ter pousado lá. Não encontramos os insetos, mesmo porque, na semana que se seguiu, as chuvas foram intensas e ininterruptas. Mas pedras, galhos, grama e plantas queimadas realmente lá existem em grande quantidade. Com um pequeno porém: em quase todo o pasto, e não unicamente no interior do triângulo. As queimadas, acidentais ou provocadas, são uma constante, pois o terreno fica dentro da cidade, num local de intenso tráfego de pedestres. Assim, nossa surpresa aumentou a cada instante, mormente diante da informação de que, mesmo após suas bombásticas descobertas, Benítez teria dito que “…ainda era cético quanto à captura dos seres, porém certo de que um pouso ocorrera em Varginha”.
< div class="legFoto">O ufólogo e escritor espanhol J. J. Benítez, em nota publicada na revista Veja: declarações bombásticas e precipitadas que, após examinadas pelos pesquisadores do Caso Varginha, mostraram-se equivocadas
LEVANTAMENTO DETALHADO: A GARANTIA ÚNICA DE SE SABER A VERDADE — Retornamos ao local por várias vezes e, na última, em 23 de novembro, com os pesquisadores Claudeir Covo e Vitório Pacaccini, para levantamento mais detalhado. Chegando lá, pudemos averiguar que realmente, em um raio de 50 m, toda a região havia sofrido queimada. O carvão nos troncos das pequenas árvores, perto e longe do suposto pouso, não deixa dúvidas disso. Mesmo assim, utilizamos o procedimento correto para avaliarmos as entusiasmadas declarações de Benítez. Após enterrarmos três estacas, uma ao lado de cada buraco, passamos um barbante fechando o triângulo e fizemos as medições com o auxílio de uma fita métrica — inclusive, foi este o mesmo método utilizado pelo descobridor das marcas. Com relação à vegetação e às pedras, qualquer pessoa pode perceber que o que existe dentro do triângulo em nada difere do que há fora. As tais pedras calcinadas são pedras que tiveram a superfície de cima chamuscada pela queimada que houve em toda a região.
Pelas características da mata que está nascendo, o incêndio ocorreu no período de três a seis meses antes de nossas observações. Não foi possível achar nenhum inseto calcinado ou queimado. Esperávamos encontrar, no mínimo, um círculo ao redor das três marcas indicadoras das sapatas do tal disco voador de Benítez. Porém, nada existe… Uma análise mais detalhada da vegetação de dentro do triângulo, comparada com a de fora, mostrou que não há absolutamente nada de diferente entre elas, razão pela qual não foram colhidas amostras do solo. Os resultados seriam óbvios. Examinando as pedras existentes no interior, foi fácil verificar que todas elas têm a superfície de cima chamuscada pelos incêndios, até mesmo as que se encontravam distantes das marcas. Interessante seria se houvesse pedras queimadas somente dentro de um suposto círculo ao redor dos três buracos…
Utilizando a mesma numeração de Benítez em sua “pesquisa”, a 1ª marca tem 20 cm de diâmetro e 18 cm de profundidade, a 2ª mede 24 cm de diâmetro por 24 cm de profundidade. A marca 3 é ligeiramente quadrada, com 40 cm de lado e 10 cm de profundidade. Pelas suas características, é possível verificar que os sinais foram feitos em épocas diferentes. As marcas 1 e 2 apresentam características que evidenciam terem sido feitas recentemente, talvez uns dois meses antes de nossa visita, ao passo que a terceira mostra-se bem mais antiga — com mais de um ano — e, portanto, também não coincidente com a data dos avistamentos. Logo, se fossem as marcas do trem de pouso de um disco voador, elas teriam sido feitas simultaneamente.
Cumpre-nos salientar que ao lado das marcas 1 e 2 — distantes não mais do que 50 cm de cada — ainda eram bem visíveis as bases dos montes da terra retirada para a abertura dos buracos. Remexendo essa terra, observamos porções de grama, além de pequenas plantas em desenvolvimento. Conforme declarações do doutor José Bíscaro Jonas, a 3ª marca, possivelmente feita por uma enxada, “… pode ter sido causada pela retirada de um cupinzeiro que ali existia”. Supondo que um objeto pesado pousasse naquele local, era de se esperar que a mata da superfície adentrasse os buracos produzidos pela pressão das três sapatas, mas isto não ocorreu. Nas laterais destes havia pedras lascadas, típicas de terem sido golpeadas por algum objeto cortante, talvez uma escavadeira manual. Com a hipótese levantada, essas pedras teriam se quebrado de uma única vez e não estariam lascadas.
De qualquer forma, a análise foi prejudicada, devido ao decorrer do tempo e à ação das intempéries no local. Imaginar o porquê desses buracos estarem naquele local é a parte mais difícil. Na ocasião, examinando toda a região mais detalhadamente, pudemos ainda descobrir outras covas muito semelhantes e mais antigos, dispostas em linha reta em ascensão no pasto, como se alguém tivesse tentado colocar uma cerca de arame ou deslocar uma já existente, o que nos dá a certeza de que não se tratou de pouso de UFO. Além disso, numa cerca paralela à linha férrea, encontramos mais cinco buracos, alinhados com a 1ª marca. Outros “pousos de UFO”? A própria topografia da região não é propícia: o terreno tem um declive de pelo menos 20 graus. Sabemos que os trens de pouso de um disco voador podem ser armados com comprimentos diferentes, porém, por que justamente lá, se a poucos metros do local há áreas totalmente planas?
Ainda segundo a matéria de Castor Borgonovi, outra “incontestável evidência” do pouso da nave registrada por Benítez foi uma árvore, próxima a um dos vértices do triângulo, totalmente desidratada e seca. Esta afirmação está equivocada. De fato, a árvore se encontra doente: parte da casca do tronco foi corroída. Porém viçosa, em plena floração, absolutamente não desidratada. A árvore é normal, mas aparentemente velha e arruinada devido a conseqüências decorrentes da queimada. No entanto, está viva, cheia de folhas verdes e ao riscarmos seu caule, pudemos encontrar a seiva. Portanto, as afirmações do escritor espanhol não procedem também neste aspecto. Diante de tudo isso, novamente uma notícia ufológica trouxe efeitos sociológicos evidentes. Primeiro, uma comoção que se iniciou pela Imprensa, logo estancada. Depois, as dúvidas e comentários gerados entre os próprios interessados em Ufologia, como a informação a nós chegada de que, numa universidade em Düsseldorf (Alemanha), uma reunião acadêmica culminou em deslumbramento e euforia, diante de uma afirmação feita pelo escritor de tão larga fama. Bom para a Ufologia? Não para esta que ainda continua na fase de tentar convencer os meios de que seus estudos são sérios e calcados em fatos importantes.
Também causou-nos espanto o comentário de um dos cicerones do escritor em Varginha, ao dizer em carta ao editor de UFO, A. J. Gevaerd, que “… orgu
lhosos como somos, apressamo-nos em afirmar que eram meros buracos de cavadeira a prova incontestável, encontrada por Benítez, do pouso da nave espacial que trouxera os ETs de Varginha”. Conforme já salientamos, um dos técnicos levados até as marcas identificou, inclusive, os tipos de plantas que se encontravam no interior da marca rasa, para afirmar que a idade desta, ao que tudo indica, já era de um ano, enquanto as outras duas, ou melhor: os buracos de cavadeira teriam sido abertos há cerca de dois meses. Mesmo assim, um contraditor opinou: “Esqueceram-se de que as hastes de apoio das naves são telescópicas!”
Aqui, impressionam-nos as certezas que alguns têm, não se sabe de onde, a esse respeito. Também pudera! Certos elementos da Ufologia Brasileira já não se limitam a afirmar detalhes sobre o sistema mecânico de pouso dos UFOs, há aqueles que até já conhecem as origens de muitos destes objetos. Outros, mais ousados, afirmam disparatadamente que os ETs de Varginha eram intraterrestres! Mais nenhum se iguala a certos indivíduos que, contatando as exatas estrelas e constelações de onde vêm tais objetos, de vez em quando chegam a ir até lá. Estas pessoas já perderam as contas do número de vezes em que fizeram tais viagens interestelares… Quando Benítez exibiu-nos as fotos dos locais visitados, ficou claro que o mesmo não havia sequer se aproximado da área exata do avistamento das três meninas, permanecendo a 800 m de distância. Então, como pôde chegar a tais conclusões?
INCERTEZAS E INVERDADES: APROVEITADORES ABUSAM DO CASO VARGINHA — Por ocasião do lançamento da obra de Vitório Pacaccini, Incidente em Varginha, no dia 30 de novembro passado, um dos assessores declarou-nos, na presença de um repórter local, que foi avisado da vinda de Benítez por um médico neurologista de Varginha — exatamente um dos fundadores do Hospital Humanitas, do qual é um dos maiores acionistas. Este mesmo assessor não sabe por que e como tal médico está envolvido na curiosa visita de J. J. Benítez. Como se vê, sobre o episódio de Varginha, ainda tem muito que se revelar… Seja como for, os ufólogos envolvidos na intensa pesquisa, mesmo passados mais de catorze meses do ocorrido e não medindo esforços, estão alertas para impedir que equívocos ou mentiras sejam propagadas por quem quer que seja, neste ou noutros países.
Podemos, então, concluir que nesse local não houve o pouso de um disco voador, conforme alegou o bestseller espanhol. Como pesquisadores do Caso Varginha, gostaríamos muito que, de preferência, o suposto UFO de Benítez fosse o mesmo que deixou as estranhas criaturas capturadas pelos militares. Pois, dessa forma, mais uma parte do grande quebra-cabeça estaria solucionada. A verdade é que tudo isso nos parece mais uma ação de oportunismo. Infelizmente, há muitas pessoas querendo se promover à custa do Caso Varginha o que é inconcebível. Mesmo assim, pelo trabalho diligente da equipe de pesquisadores, tais tentativas têm sido completamente frustradas.
Novos personagens definem o Caso Varginha
Alguns dos poucos elos que faltavam para elucidar definitivamente o Caso Varginha acabaram por surgir justamente quando o episódio completava seu primeiro aniversário. Espontaneamente, vendo a repercussão de tal celebração pela Imprensa, João Bosco Manoel e Carlos de Sousa foram até os investigadores e declararam suas experiências, completando mais uma significativa parte deste quebra-cabeças.
Bosco, que é vendedor ambulante de peixes, estava na manhã de sábado, 20 de janeiro de 1996, no Jardim Andere e presenciou a captura do ET pelo Corpo de Bombeiros e Exército de Três Corações. Sousa, piloto de ultraleve, viu a queda do objeto não identificado que transportava os ETs, próximo da Fazenda Maiolini. Ambos só agora deram seus testemunhos por sentirem que, mesmo passado um ano, o casa ainda é importante demais para ser mantido oculto.