O programa americano de satélites de observação da Terra está “aleijado”, e a Nasa em breve poderá precisar comprar dados de satélites de países como Índia, China e Brasil. O alerta é da revista científica “Science”, que dedicou ontem um editorial ao assunto.No texto, o pesquisador Scott Goetz, do Centro de Pesquisa de Woods Hole, diz que os satélites da série Landsat, burros-de-carga da observação das mudanças ambientais no globo, estão envelhecendo e já têm problemas sérios de dados.
O satélite mais recente da série, o Landsat-7, foi lançado em 1999 e ficou parcialmente “cego” devido a uma pane em 2003. Seu antecessor, o Landsat-6, caiu sobre o oceano Pacífico em 1993. E não há previsão de lançamento de uma nova unidade da série antes de 2011 – quando o Landsat-5, que decolou na década de 1980, deve ficar sem combustível. Os problemas no Landsat afetam diretamente o Brasil. Afinal, esse satélite é uma das principais ferramentas usadas hoje pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para monitorar o desmatamento da Amazônia. Imagens desse satélite são usadas no sistema Prodes, que faz o cálculo anual da área desmatada.
Segundo a “Science”, outros sistemas de observação desenvolvidos pelos EUA também têm problemas. “Enquanto isso, Índia, China e Brasil estão lançando satélites da categoria do Landsat”, afirma o editorial.Um exemplo é a série CBERS, lançada em parceria entre o Brasil e a China e atual carro-chefe do programa espacial brasileiro. Esses satélites (dois já lançados e um terceiro previsto para setembro) já vêm sendo usados tanto no Prodes quanto no Deter, o sistema de detecção do desmate em tempo real.
“Se o Brasil não tivesse entrado no programa CBERS, hoje não teríamos de onde tirar imagens para o Prodes e o Deter”, disse à Folha o diretor do Inpe, Gilberto Câmara.Segundo a “Science”, um programa de US$ 500 milhões por ano seria necessário para restaurar o programa de observação da Terra do país. “Infelizmente, o foco atual da Nasa – a “nova visão” para uma missão tripulada a Marte – está com prioridade sobre a observação da Terra”.