A posição dominante dos Estados Unidos no setor espacial está ameaçada, devido a políticas comerciais e de imigração restritivas demais, e pelos meios insuficientes de que a Nasa (agência espacial americana) dispõe, destacaram especialistas independentes em um relatório publicado na última sexta-feira (24). “Os Estados Unidos devem impulsionar a competitividade de sua indústria espacial, aumentar a cooperação internacional e se concentrar novamente na pesquisa para preservar a liderança espacial”, destacaram George Abbey, ex-diretor da Nasa, e Neal Lane, astrofísico da Universidade Rice (Texas, centro-sul), que foi conselheiro científico do ex-presidente democrata, Bill Clinton.
O rigor dos controles para as exportações já afetou a indústria americana de satélites comerciais – considerados armas pelo Departamento de Estado – e as chances de os Estados Unidos participarem de projetos espaciais em colaboração com parceiros internacionais, segundo este relatório de 27 páginas publicado pela “Academia Americana de Artes e Ciências”, uma instituição privada de Cambridge (Massachusetts, nordeste). O desejo do Pentágono de militarizar o espaço desestimula a cooperação internacional, lamentaram os especialistas.
Além disso, as importantes restrições impostas desde os atentados de 11 de Setembro de 2001 para a emissão de vistos desestimulou fortemente as viagens de cientistas estrangeiros para estudar e trabalhar nos Estados Unidos. Segundo o documento, a ajuda de pesquisadores não-americanos permitiria compensar a crescente diminuição no país do número de estudantes que se formam em ciências e engenharia.
Abbey e Lane consideraram “fora da realidade” as grandes ambições espaciais do presidente George W. Bush, reveladas em janeiro de 2004, quando anunciou planos de voltar a mandar astronautas americanos para a Lua antes de 2020 e, a mais longo prazo, uma missão tripulada para Marte. “A política espacial americana atual é paradoxal à medida que se caracteriza por grandes ambições e uma diminuição dos meios”, destacaram os especialistas. O orçamento anual da agência espacial americana (cerca de US$ 16 bilhões) permanece quase inalterada há 30 anos.
“A política espacial americana está mal definida e seu futuro é incerto”, destacaram Abbey e Lane, que apesar de tudo manifestaram ter esperanças na gestão do novo administrador da Nasa, Michael Griffin, um respeitado cientista. Griffin deixou claro que já tem como objetivo mudar a cultura tecnocrática da agência, apontada como uma das causas do acidente com o ônibus espacial Columbia, em 2003, cuja desintegração ao reentrar na atmosfera terrestre e a conseqüente morte dos seus sete tripulantes levou à suspensão do programa espacial tripulado. Segundo fontes próximas à Nasa, pelo menos 50 postos importantes poderiam ser alvo de uma mudança a curto prazo, 20 deles antes de meados de agosto.