Nossa edição passada trouxe a primeira parte da entrevista que a Equipe UFO fez com o brigadeiro José Carlos Pereira, em 08 de março passado. Foram 14 longas e fascinantes páginas de revelações sobre como o meio militar brasileiro em geral, e o entrevistado em particular, pensam sobre o Fenômeno UFO e sua manifestação em nosso país. Pereira admitiu à Revista UFO alguns dados que já conhecíamos, mas nos relatou situações e fatos sobre os quais a Comunidade Ufológica Brasileira nada sabia. Um momento especial do diálogo com o militar foi quando ele revelou que as pastas com segredos ufológicos existem em grande quantidade e não estão apenas no Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), em Brasília, mas em quartéis do mundo todo. “Elas provam que estão ocorrendo fenômenos inexplicados, que nos levam a deduzir serem a presença de seres ou objetos estranhos ao planeta Terra. Isso mesmo, não comuns ao nosso planeta”, declarou.
Sobre os casos mais importantes da Ufologia Brasileira, como a Operação Prato [1977], a chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil [1986] e o Caso Varginha [1996], o entrevistado também fez interessantes revelações. “A Operação Prato realmente foi algo importante para a Aeronáutica Brasileira. Seu comandante, o coronel Uyrangê Hollanda, era um homem muito sério e respeitado pelos colegas”. Para ele, Hollanda, que comandou a missão militar na Selva Amazônica entre setembro de dezembro de 1977, era um homem muito introspectivo e as experiências que teve durante a Operação o marcaram profundamente. Sobre ela, o brigadeiro José Carlos Pereira nos forneceu a confirmação para um dado importante, que de fato ela resultou em mais de 2.000 páginas de documentos, além das já sabidas mais de 500 fotos e 16 horas de filme. Já sobre Varginha, no entanto, o militar disse nada saber, exceto o que leu na Revista UFO e na imprensa não especializada. “E você não pode acreditar muito na imprensa não especializada, porque ela é censurada de alguma forma, enquanto a Revista UFO não tem qualquer censura”.
Além de relatar um importante caso ufológico de que teve conhecimento, ocorrido com uma corveta da Marinha, que se envolveu num avistamento de grande gravidade na Amazônia, o entrevistado também descreveu a perseguição a um alvo radar não identificado que um caça da Aeronáutica realizou sobre Goiânia. “Houve um contato do radar com alguma “coisa” e a Defesa Aérea determinou a decolagem de um Mirage da base aérea local. O objeto não identificado estava bem perto, quase na área de Goiânia, mas o radar não estava conseguindo determinar sua altitude, apenas a posição em que estava”. Ele contou que o Mirage subiu na direção do UFO até onde pôde, e quando chegou a 48 mil pés de altura [Cerca de 16 km], teve que abandonar a busca, sem sucesso. Sobre ocorrências como esta, Pereira confirmou o que já havia dito à Revista UFO outro militar, o brigadeiro Atheneu Azambuja, em 20 de maio de 2005, durante o encontro oficial – e inédito – que os integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) tiveram com militares da Aeronáutica. “Estes casos são rotineiros”, disse Azambuja. “De fato”, confirmou Pereira.
Lenda viva da elite militar
A primeira parte desta entrevista exclusiva – concedida a este editor e aos conselheiros especiais da Revista UFO Roberto Affonso Beck e Fernando de Aragão Ramalho – mal atingiu as bancas, por volta de 15 de abril, e já ganhou enorme repercussão. “Militares de todas as Forças Armadas já estão adquirindo e estudando as declarações do brigadeiro José Carlos Pereira, porque ele não é um oficial comum, mas uma lenda viva da elite militar brasileira”, declarou, em e-mail, o sargento José Carlos Pinto Lopes, um dos admiradores do entrevistado. Realmente, Pereira tem uma respeitável folha de serviços prestados à Aeronáutica e à Nação. Ele ingressou na Força Aérea Brasileira (FAB) em março de 1958 e passou para a reserva em julho de 2005, ocupando todos os principais postos da hierarquia militar daquela Arma, inclusive o mais alto da carreira. É especialista em táticas aéreas, políticas e estratégias aeroespaciais e foi oficial-aviador, piloto de caça, de transporte e de operações aéreas especiais, além de pára-quedista militar. Pereira voou em dezenas de tipos de aeronaves em todo o mundo, por mais de quatro décadas, acumulando milhares de horas de vôo.
“Está tudo no Comdabra”
O brigadeiro ocupou os mais importantes postos da engrenagem militar brasileira, como o de comandante de esquadrão aéreo, de oficial de operações e da Unidade Aérea de Instrução de Caça. Foi também comandante de várias bases aéreas e atuou com brilhantismo na área de Inteligência Militar, sendo oficial do gabinete da Presidência da República e oficial de Inteligência no Estado-Maior da Junta Interamericana de Defesa, em Washington, Estados Unidos. Pereira foi ainda comandante da Academia da Força Aérea (AFA), chefe de Estado-Maior do Comando-Geral de Operações Aéreas e comandante de operações da FAB, tendo 13 generais e um total de 27 mil homens subordinados a ele. O período em que teve mais contato com os documentos ufológicos secretos ocorreu durante sua passagem pelo Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), que dirigiu de 1999 a 2001. “Todos os arquivos brasileiros sobre discos voadores que têm interesse para a Aeronáutica estão no Comdabra. Tudo! Quando eu fui diretor de planejamento da Força Aérea, no começo dos anos 90, os arquivos também estavam todos à minha disposição”.
Por causa desta intimidade com o assunto, tendo em várias vezes contato e examinado as evidências, o brigadeiro José Carlos Pereira sempre foi considerado o guardião da chave do cofre onde estão os segredos ufológicos do País. “Olhe, não há nenhum motivo para manter os arquivos em sigilo. Nenhum. A liberação não expõe o Brasil a uma guerra, não vai provocar pânico na população, não coloca em risco a Segurança Nacional e nem atinge a privacidade de pessoas eventualmente citadas neles. Isso é o que temos que ter em mente. Se não vai afetar nenhuma destas questões, então revela!”, declarou o militar – em tom enfático e decisivo – a este editor e aos seus acompanhantes. “O Brasil quer transparência em tudo, até mesmo em Ufologia, e esta é a hora. Vou ajudar os ufólogos da Revista UFO a conseguirem o que pleiteiam através de sua campanha pela liberdade de informações”. A oferta do entrevistado, antes mesmo de termos solicitado, é mais do que bem-vinda e chegará num momento crucial para a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. Pereira já se prepara para repetir suas revelações em Curitiba (PR), durante o 36º Congresso Brasileiro de Ufologia Científica, de 22 a 25 de maio.
Com a publicação da segunda parte da bombástica entrevista concedida pelo militar, nesta edição, o brigadeiro José Carlos Pereira ofereceu um momento único para a Ufologia Brasileira – o de esclarecer definitivamente a posição do meio militar quanto ao assunto. E mais do que isso, permitiu a todos conhecer em detalhes diversos aspectos relativos ao Fenômeno UFO, notadamente no que se refere à Aeronáutica, à Segurança Nacional e as reações que o Governo pode assumir quanto ao tema. Foi um diálogo histórico e significativo, que complementa o impactante depoimento, também prestado à Revista UFO, 11 anos atrás, pelo coronel Uyrangê Hollanda. Mesmo antes de publicada a primeira parte deste material, já se estimava que o impacto que ele teria sobre a Ufologia Brasileira seria significativo. Nunca um militar de sua graduação falou tão abertamente sobre UFOs antes, e raros militares estrangeiros, em posições equivalentes nas forças armadas de seus países, chegaram perto de repetir seu gesto. Isso estimulou a Revista UFO a tentar estabelecer contatos com oficiais de semelhante estatura também da Marinha e do Exército, para que se busque deles o apoio que os ufólogos precisam para atingir seus objetivos. Resta saber: quem será o próximo?
Nova metodologia
Como são tratados pela a Aeronáutica os episódios ufológicos que envolvem tripulações civis, como o Caso Vasp, ocorrido em 08 de fevereiro de 1982, quando um Boeing 727 da extinta companhia aérea paulista foi seguido por um UFO por mais de três horas? Normalmente, as tripulações civis em vôo se comunicam com os órgãos de controle ligados à Aeronáutica. Qualquer coisa que envolva aeronaves civis era antes tratada pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), e hoje é incumbência da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Assim, na verdade, a Força Aérea praticamente não tem mais nenhum contato com pilotos civis, a não ser através do controle de tráfego aéreo.
Então, se hoje houvesse uma observação ufológica feita por um piloto da TAM em vôo, por exemplo… Ela seria comunicada à Aeronáutica e a Força Aérea faria alguma coisa, considerando o vôo. Isso está nas atribuições do Comando de Defesa Aérea. O fato é relatado para um controlador de vôo e cai no sistema.
E qual é o tratamento que será dado àquele caso? Um avião civil em vôo está sempre sendo controlado por um órgão, um centro de controle, e todos os que existem no país são militares. Se um piloto diz “olha, está acontecendo alguma coisa aqui do meu lado”, se for qualquer coisa fora do normal, o centro de controle que está acompanhando o vôo comunicará aquilo imediatamente ao centro de operações militares daquela área, que vai ter que tomar alguma atitude, fazer alguma coisa em relação àquele fato e se reportar ao Comando de Defesa Aérea (CODA), que é o órgão superior e tem visão nacional – é o único órgão que tem um panorama do país inteiro. E agora, depois da crise aérea, finalmente eu consegui convencer todo mundo de que tinha que existir uma espécie de CODA civil, e ele foi criado no Rio de Janeiro. Porque o CODA que temos em Brasília é militar, fechado. Tinha que haver um com as mesmas atribuições dele, mas civil, para se saber por que determinado avião está atrasando, por que aquela outra aeronave pousou e está há quatro horas no chão etc. Havia a constatação de muitos problemas aéreos, e assim foi criado o novo órgão, o Centro de Gerenciamento de Navegação Aérea (CGNA), só que todo adaptado para os problemas de tráfego aéreo civil, tipo atrasos em vôos, condições meteorológicas adversas etc.
Brigadeiro, em 19 de janeiro de 2002, o senhor concedeu uma entrevista ao programa Circuito Night and Day, do deputado Celso Russomanno, que está na internet e é muito comentado na Ufologia, porque nele vimos pela primeira vez um militar com a sua graduação falar sobre Ufologia. E o Russomanno foi bastante persistente nas perguntas que lhe fez. Naquela ocasião, e isso está gravado, o senhor mostrou a ele um livro de ocorrências aéreas e disse que, apenas naquele ano, havia nele mais de 90 registros de fenômenos de “tráfego hotel”, como os UFOs são chamados pelos militares. Só que o senhor não permitiu que ele abrisse o livro no ar, dizendo que ele era confidencial. O que aquele livro contém?Ele contém várias coisas, entre elas aqueles relatórios oficiais que podem ser preenchidos por qualquer pessoa que tenha feito uma observação de “tráfego hotel”. Alguns deles parecem vir de gente louca, como o de uma mulher drogada que saiu de uma boate em Sobradinho (DF) e disse ter visto algo. Mas este tipo de coisa você logo descarta. No entanto, o livro tem casos que não se consegue explicar, e quando algo não pode ser explicado, então vai para o livro [Que recebe o nome de Livro de Registro de Ocorrências, LRO]. Aqueles casos todos estão arquivados nos tais livros, e um dia os pesquisadores vão poder examiná-los. Neles há também relatos de pilotos, de controladores de vôo etc. Enfim, tudo aquilo que não conseguimos explicar, que é dado como secreto, vai para tais livros.
“A coisa deve ser aberta”
Mas por que essas coisas são mantidas secretas? Por exemplo, como o senhor falou agora, como um pesquisador pode ter acesso a estes livros se eles são secretos? Nós gostaríamos de examinar tais livros…Por isso é que eu defendo que essa coisa deve ser aberta. Gevaerd, eu penso igual a você. Tem que abrir tudo.
Quantos livros como aquele existem hoje?Eu acredito que seja mais ou menos um livro por ano. Chega ao final do ano, tiramos tudo que está guardado nele e colocamos num arquivo. Hoje não guardamos mais [Os casos] em formato de livro, porque agora é tudo digital.
O senhor deve ter visto vários livros. Qual é o fato registrado neles que mais o surpreendeu, sejam casos relatados por pilotos civis ou militares?Os relatos de pilotos, que normalmente são os mais consistentes, são os mais impressionantes. Porque eles não estão comandando um veículo, mas uma aeronave. Uma coisa é você estar passeando na rua e ver alguma coisa, e outra é um piloto em vôo ver algo. Assim, relatos de pilotos são geralmente mais consistentes. Mas há casos em que o próprio piloto depois reconhece que se enganou. “Realmente, eu estava olhando para a esquerda e vi alguma coisa, mas era a refração do Sol”, diria a pessoa. Só que há casos em que ela estava olhando para o outro lado, onde não tem refração. Aí, tem alguma coisa estranha nisso. As observações relatadas por pilotos são mais consistentes do que as feitas a partir do chão, por pessoas absolutamente leigas. Nestes casos, você não tem confiabilidade.
Os relatos de UFOs de pilotos, que normalmente são os mais consistentes, são também os mais impressionantes. Porque eles não estão comandando um veículo, mas uma aeronave. Uma coisa é você estar passeando na rua e ver alguma coisa, e outra é um piloto em vôo ver algo (…) Nestes casos, você tem confiabilidade (…) E eles vão todos para o relatório de ‘tráfego hotel’, que eu atualizei
Até na Ufologia civil a gente não tem muito que fazer com certos relatos…Por isso que, naquele questionário [Para registro de casos de tráfego hotel], eu mandei colocar uma espécie de interrogatório, entrando um pouco na intimidade da pessoa para saber qual é o seu conhecimento de meteorologia, se tem curso superior etc. Por que há uma diferença.
Então o senhor participou da elaboração daquele questionário?Sim, já havia o antigo e eu o atualizei. Inclusive com aquelas informações adicionais. Veja, é diferente você julgar um caso quando tem mais informações sobre ele. Não estou menosprezando o gari, não, mas é diferente quando se tem mais dados. Um engenheiro, por exemplo, consegue ter uma visão diferente de algo.
E esse questionário ainda está válido? Sim, está válido.
Quantos questionários o senhor estima que já tenham sido preenchidos? Ah, não sei, porque depois que eu saí da Força Aérea, não tomei mais conhecimento. Mas eu acredito que sejam uns 10 por mês, mais ou menos.
Isso é em todo o país? Isso mesmo. Todo.
E em que lugar essas informações estão centralizadas? Está tudo no Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra).
São eles que preenchem aquelas pastas que o brigadeiro Atheneu Azambuja falou que são armazenadas lá desde 1954, quando os integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) visitaram ineditamente o órgão durante o histórico encontro de 20 de maio de 2005? Sim, são estes mesmos casos. Estão todos lá.
Em que ano foi registrado o maior número de casos de tráfego hotel, o senhor se lembra? Ou de algum ano que chamou sua atenção em especial? Não, não me lembro [De que ano tivemos mais casos]. Mas o caso mais interessante foi aquele de São José dos Campos (SP), ocorrido em 19 de maio de 1986. Aquele caso realmente foi espantoso [Enfático].
A chave está com a Dilma
O que o senhor acredita que os ufólogos precisam fazer para ter acesso às pastas que estão no Comdabra e quem hoje comanda estas coisas? Eu acho que é uma mulher chamada Dilma Rousseff. Eu acho que ela é quem manda. Vocês devem chegar até ela [Para terem acesso aos dados].
Uma pergunta à parte aqui. A Dilma é quem dizem que é, a Camarada Estela? É. Lembra que eu falei que arquivos antigos não podem ser revelados se invadirem a privacidade das pessoas? Este é um caso. Você não pode pegar a ficha da Dilma Rousseff, que hoje é ministra de Estado, e soltar para a imprensa. A Dilma é autoridade do Governo Lula, ministra da Casa Civil da Presidência da República. E foi nesta administração que se determinou que a Casa Civil, com a Dilma à frente, gerenciaria todos os materiais secretos [A determinação é a Lei 11.111/2005].
O senhor acha que, se hoje houvesse a perseguição de um UFO sobre o Território Nacional, seja por pilotos civis ou militares, principalmente por militares, a Dilma Rousseff vai ficar sabendo? Isso chegaria até ela? Ao ministro da Defesa com certeza chega, pois isso faz parte da função dele. É automático, o telefone dele vai tocar [Enfático]. Agora, se ele vai passar essa informação para a Dilma, não sei. Dependendo da gravidade do caso, o ministro é obrigado informar ao presidente da República. Funciona assim. Eu, quando fui comandante do Comdabra, tinha o telefone pessoal do presidente, mas não podia ligar para ele por qualquer coisa.
Como funciona a linha de comando nestes casos? Se houvesse algo sério, eu teria que ligar para o comandante de operações aéreas, que informaria o fato ao comandante da Aeronáutica. Ele falaria com o ministro da Defesa, que, por sua vez, reportaria o assunto ao presidente. Mas se o elo fosse interrompido, eu tinha autonomia para saltar. Por exemplo, eu tenho que ligar para o meu comandante, mas se não consigo falar com ele, vou para o próximo. Eu estou autorizado a saltar para o seguinte. Mas se também não conseguir falar com o seguinte, vou em frente, até chegar ao presidente. E se ele não atender, eu assumo. Isso é legal, está escrito. Mas é claro que entra aí o bom senso de cada um em relação à gravidade do problema. Não vou dar um passo desses se não for um assunto de extrema gravidade.
Quando o senhor foi comandante do Comdabra, todos esses casos que envolvem pilotos militares e detecção de UFOs por radar, ou pelo menos mais importantes, chegavam ao seu conhecimento? Quando eu fui comandante do Comdabra, sim.
Com que freqüência o senhor recebia relatórios sobre os casos? Apenas uma vez por mês havia algum relato. Um controlador me falava algo do tipo “pô, estou há 10 minutos aqui acompanhando esse objeto no radar”, ou então “comandante, apareceu mais um tráfego hotel lá no Amazonas ou lá em Santa Catarina”. Mas são muito comuns os ecos falsos nos radares, também chamados de alvos falsos. Um alvo falso dá uma piscadinha na tela e quem é experiente já reconhece. Logo o ponto some do aparelho. Agora, quando o objeto detectado tem trajetória determinada e constante, esta é outra história. Estes casos ocorriam uma vez por mês, mais ou menos, e tinham curtíssima duração.
Houve confirmação, por exemplo, de pilotos civis relatando casos? Eles relatam fatos? Sim, os pilotos civis sempre falam, botam a boca no trombone. Eles não podem ver alguma coisa estranha que chamam logo o controle de tráfego aéreo. Porque eles têm uma responsabilidade muito séria. Pilotos civis falam mesmo, e também porque não querem perder o emprego se deixarem de relatar algo fora do comum.
O medo dos pilotos civis
Mas eles não gostam muito de relatar suas experiências para a imprensa. Nós, com muito custo, temos conquistado a confiança de alguns deles… Não falam porque é o emprego deles que está em jogo, e seus patrões podem não gostar [Enfático]. Agora, tem outra questão aí. Tem a coisa de empresas aéreas terem aeronaves em dificuldades e não relatarem suas emergências para não parecerem mal perante a mídia. Isso é um crime [Indignado]. Eu já vi avião pousar em Congonhas em grandes dificuldades. Um “bicho” daquele tamanho, pousando “pendurado” num motor só, como se nada tivesse acontecido, sem bombeiros e sem ambulância. Sim, porque a companhia não quis parecer mal na imprensa. E se o piloto tivesse relatado o problema à torre, o cara poderia ser despedido. Isso não está certo.
Há pouco tempo a Revista UFO recebeu o relato de um piloto da Gol, que, indo de Fortaleza para Belém, observou um objeto enorme cruzando a frente do Boeing. Ele fotografou o aparelho e nos enviou. O comandante nos disse que, como outros pilotos também já relataram, quando se comunicou com o Cindacta, recebeu um tratamento muito preciso, bem a altura do fenômeno. As informações que ele relatou ao controlador de vôo também acabam no Comdabra? Sim. Um fato como esse, relatado pelo piloto da Gol, deve ter resultado num relatório oficial, e certamente ele está guardado em algum lugar do Comdabra, aqui em Brasília.
Quando acontece um fato assim, quem preenche o relatório reportando o tráfego hotel, o piloto ou o controlador de vôo? Qualquer um deles pode preencher. O piloto pode pousar e preencher. Ele pega o formulário em qualquer quartel da Força Aérea, em qualquer sala de tráfego aéreo de qualquer aeroporto do país. Os pilotos sabem onde encontrar e onde entregar preenchido o formulário, que é em qualquer quartel da Aeronáutica.
E a partir daí, o que é feito do formulário preenchido? É sempre feita uma investigação. Por exemplo, neste caso, o piloto viu algo e registrou aquilo. Ele precisa descrever em que direção, altitude e velocidade o objeto passou, tem que dar o máximo de detalhes. Precisamos também saber onde é que estava o Sol naquela hora, se à esquerda ou à direita da aeronave, se atrás ou na frente dela etc. A luminosidade do objeto também é importante, assim como que tipo de nuvens havia no local. Todas estas são informações preciosas. O controle do tráfego aéreo vai tentar descobrir se algum outro avião cruzou a frente dele, ou se naquela hora passou um caça supersônico por ali, tudo para explicar o fato. É feita uma diligência. Mas se for descoberto que não havia ali nenhum avião naquela hora, que o tempo estava nítido e não havia nada que justificasse o fenômeno, então a coisa muda de figura. Essa é uma averiguação fácil de fazer, porque está tudo aí na mão, no relatório. Vai se eliminando as possibilidades de explicar o fato e uma hora se chega à conclusão de que não há explicação nenhuma para ele.
Aí o que acontece? O relatório segue para o arquivo. Não há o que fazer com ele. Se o fato tem explicação, então ele é “deletado”. O controlador ou outra pessoa da Defesa Aérea avisa o piloto, dizendo: “Aquele negócio que você relatou, foi um avião que passou lá”. Agora, se não há explicação…
Então, todos aqueles livros de registro de ocorrências contêm casos que não são explicados, mesmo após analisados por técnicos capacitados, responsáveis oficialmente por isso? E são eles que chegaram à conclusão de que tais fatos não tinham explicação? Exatamente. Todos.
Muita coisa escapa
Então agora sabemos, finalmente, que o que está arquivado no Comdabra é o que já foi analisado e não se explicou. O senhor tem idéia de qual é a quantidade anual de casos em cada livro ou pasta daquelas? Nestes três últimos anos eu não acompanhei o que ocorreu, mas antes era uma média de um a três casos por mês. Agora, também quero dizer uma coisa que considero importante. Pode ser “achismo” meu, mas creio que uns 90% das coisas que são vistas por aí não terminam em relatório algum, nunca são reportadas. E observe você justamente onde esses relatórios são preenchidos: onde há algum aeroporto ou quartel da Força Aérea, onde existem cidadãos conscientes [Que sabem a quem relatar os fatos]. Então, eu não sei qual é o percentual de observações que foram feitas e terminaram em relatórios, mas acho que deve ser menos de meio por cento.
Se tudo o que há nos livros ou pastas do Comdabra for apenas meio por cento do que aconteceu por aí, como é sua opinião, então o total de casos deve passar de 200 por mês! Por exemplo, nem todos os pilotos que viram algo vão passar na sala de tráfego aéreo e pegar o formulário. Outro tanto pega, mas deixa de preencher, ou preenche e não entrega… Pois é. Os pilotos não querem aparecer. E as demais pessoas nem sabem que esse relatório existe e está disponível no país inteiro. Assim, o que é relatado não representa quase nada. Do universo de casos que devem ter ocorrido, quase nada vem ao conhecimento dos militares.
Já havia um questionário para registro de casos de tráfego hotel [UFOs]. E o atualizei e incluí informações adicionais. Veja, é diferente você julgar um caso quando tem mais informações sobre ele. Não estou menosprezando o gari, não, mas é diferente quando se tem mais dados. Um engenheiro, por exemplo, consegue ter uma visão diferente de algo (…) Mas nem tudo é registrado, apenas uns 10%
Existe algum planejamento ou ordens superiores específicas para se acobertar estas informações contidas neste meio por cento? Não, não existe ordem alguma para que se acoberte tal situação. O que existe é uma classificação de sigilo. Tais fatos têm que ficar confidenciais, mas não há uma ordem ou diretriz que determine isso.
O senhor já ouviu falar da Área 51, aquela base ultra-secreta que fica no Deserto de Nevada, ao norte de Las Vegas, para onde os ufólogos norte-americanos afirmam que são levados UFOs acidentados? Sim, a área existe e nós fizemos exercícios por lá. Não na Área 51, mas sobre o Deserto de Nevada, onde existem inúmeras instalações militares. A Força Aérea Norte-Americana (USAF) realiza muitos exercícios em toda aquela localidade. Inclusive porque ela tem atuação internacional e assim convida muitas nações para enviarem seus militares para treinamento lá. Nós participamos de um programa assim e soubemos da Área 51, mas nela ninguém entra. A Força Aérea Brasileira (FAB) já mandou dois esquadrões para lá e eu comandei uma dessas operações. O interessante é o planejamento das manobras, que evitam a Área 51, que fica bem no centro de tudo.
Relatório de perigo
E não acontece de pilotos invadirem o espaço da área? Sim, e o grande problema quando praticamos exercícios lá é fazer os pilotos estrangeiros realmente entenderem quais são os procedimentos a serem adotados, para não se aproximarem da Área 51 e nem passarem por cima dela. Nem os norte-americanos podem. Ninguém pode…
Voltando ao Brasil, brigadeiro, e levando em consideração as circunstâncias envolvidas em observações de tráfego hotel pelo país afora, inclusive com casos de UFOs interferindo em vôos civis e militares, o senhor acredita que eles representem algum perigo para a aviação? Olha, pelo menos que eu saiba, nós não tivemos até hoje nenhum relato de colisão ou de quase colisão de aviões com qualquer objeto voador não identificado. Pelo menos de pilotos que tivessem registrado tal fato em algum relatório de perigo [Um formulário diferente do usado para registrar casos de tráfego hotel].
O senhor acha que pode ter acontecido, mas não ter sido registrado? Sim, porque o piloto ou controlador é obrigado a fazer um relatório de perigo sobre qualquer coisa que implique num risco aéreo. Precisa assinar e se identificar, e essa situação tem que ser averiguada. Que eu saiba, isso nunca foi feito. Agora, volto a dizer que o fato de alguma coisa nunca ter sido registrada não significa que ela nunca existiu. Só que eu não tenho conhecimento.
O senhor acha que os militares brasileiros ou o Governo Federal vêem os casos de tráfego hotel como um perigo para a Segurança Nacional? O senhor acha que os militares brasileiros ou Governo Federal vêem os casos de tráfego hotel como um perigo para a Segurança Nacional? Essa é uma questão extremamente delicada, porque, sob um ponto de vista puramente pragmático, a Segurança Nacional tem várias facetas a serem examinadas. Uma “ameaça externa” – entre aspas, porque acho que nenhum de nós se sente ameaçado por uma potência extraterrestre – não pode ser vista por um país isolado, mas pelo conjunto deles. Antes de qualquer coisa, temos que concordar com isso. Eu acredito, inclusive, que no dia em que for reconhecido que existe algo externo penetrando o planeta, vai caber às Nações Unidas fazer alguma coisa, e não a uma potência isolada [Decisivo]. Não vão ser os norte-americanos, nem os uruguaios e nem os afegãos, sozinhos, que irão reagir. Isso é uma coisa muito complexa, e por isso não vejo qualquer ameaça à segurança. Agora, durante o trato desta matéria, caso os acontecimentos ufológicos sejam revelados, poderão surgir junto informações militares que não podem ser divulgadas. Como as instalações e a freqüência dos nossos radares, a velocidade que um caça pode decolar para apresentar uma reação a uma possível intrusão etc. Estes são dados militares sigilosos, que nada têm a ver com o evento em si. E na pesquisa de uma observação de UFO, um dado militar sigiloso pode aparecer acidentalmente, exigindo que toda a informação venha a ser bloqueada. Esse também é um padrão no mundo inteiro: quando você precisa bloquear um fato de uma operação, acaba bloqueando tudo, porque impede um agente de seguir um caminho.
O senhor conhece o documento NPA-09, instituído em 20 de agosto de 1990 e intitulado Procedimentos a Serem Adotados Pelos Órgãos ATS/ATC em Caso de Avistamento de Objetos Voadores Não Identificados? Este documento contém determinações que devem ser seguidas quando forem vistos UFOs. Ele está efetivo até hoje? Se não saiu nenhum outro documento que o tenha anulado, então ele ainda está em vigor. Isso é de 1990? Então certamente ainda está em vigor. Mas este é um documento confidencial, para uso interno das Forças Armadas, não para uso externo [Pega nas mãos o documento, oferecido a ele pelo entrevistador]. Eu não tenho certeza, mas creio que ele continua em vigor.
Afastando curiosos
O NPA-09 determina que as ocorrências ufológicas devam ser lançadas no livro de registro de ocorrência (LRO), em ordem cronológica e sempre que possível com os horários de cada narrativa. É aquele livro de que já tratamos… Sim, são procedimentos padronizados.
Mas o problema está no item 4.7 da seção Instruções Gerais do NPA-09, que estabelece o seguinte: “Havendo telefonema de jornalistas ou curiosos solicitando informações, responder que não está autorizado a fornecê-las”. Por que a determinação de não atender aos ufólogos e à imprensa? Por exemplo, se um jornalista ligar ao Comdabra ou a outro órgão para saber de um caso ufológico, não seria de uma enorme transparência que ele fosse informado do fato de uma maneira séria? Bem, vamos analisar isso. Mas, antes, veja que eu não estou defendendo isso não. Só que assuntos que podem gerar polêmicas devem ser tratados com cuidado. Há uma tendência geral para que não sejam autorizados, e isso não é só na área militar não. Lembra do acidente do metrô de São Paulo, em 2007? Todos ligavam para a prefeitura e outros órgãos para saber detalhes e a resposta era “não estamos autorizados a comentar”. Tem que ser assim, porque se você fala com um órgão de imprensa, isso gera um problema com outro órgão de imprensa. Experimente falar alguma coisa para a Folha de São Paulo e não falar para O Globo. Pronto! Você arranja um inimigo sério, que é a turma do O Globo, ou vice-versa. Experimente falar para o Jornal do Brasil e não falar para nenhum outro. Então, as Forças Armadas – e o Governo em geral – ficam fora dessa guerra de imprensa.
E qual seria, então, a forma ideal para se permitir o acesso às informações que o NPA-09 determina que permaneçam ocultas? O ideal, neste e em qualquer outro caso, é convocar uma entrevista coletiva. De tal a tal hora, quem quiser que mande jornalistas para fazerem perguntas. Outra solução, quando se tem uma solicitação muito forte, é emitir uma nota oficial. Esse é o padrão que se recomenda. No entanto, notas oficiais foram completamente banalizadas no Brasil. E eu vi de perto essa desmoralização quando fui presidente da Infraero, durante o caos aéreo. Eu era contra e nunca assinei uma nota daquelas. Eu me recusava a assinar. Ora, cai um avião de 22 mil pés de altitude [7.300 m], morrem 152 pessoas e aí alguém publica uma nota oficial dizendo: “Lamentamos informar que houve um acidente e que não sabemos o que o causou”. Eu me recuso assinar uma coisa dessas, pois isso iria ficar na minha vida. Quer fazer uma nota oficial, então publica: “Um avião caiu de 22 mil pés de altitude, resultando em 152 pessoas mortas. Não sabemos ainda as causas do acidente, mas os órgãos e pessoas tais foram nomeados para fazerem uma investigação e daqui a duas horas emitiremos outro comunicado”. Uma nota decente é assim. Se não acontecer nada nessas duas horas, então deve dizer-se que nada de novo ocorreu até aquele momento, e não que “não sabemos se há sobreviventes”. Pelo amor de Deus, o primeiro militar que desceu lá, pegou o rádio, ligou e disse: “Houve um massacre e nem formiga sobreviveu”. Agora, as notas oficiais têm que ser bem elaboradas e feitas na hora dos fatos [Enfático].
Os cientistas alegam que o problema da Ufologia está na ausência de provas. Suponhamos que em pouco tempo se consiga provar inequivocamente que seres de outros planetas estão realmente vindo aqui. O senhor estima que isso possa causar um impacto social, seja no campo científico, religioso, econômico, cultural, de todos os níveis, enfim? Sem dúvida, caso algo assim realmente ocorra, muita coisa precisará ser revista.
A intromissão dos EUA
O senhor tem conhecimento se o Brasil participa ou participou de algum movimento junto a países estrangeiros para tratar dos discos voadores? Hoje, não. Mas já tratamos do assunto, nos velhos tempos, com os Estados Unidos. Atualmente, não há mais isso.
Na época da Operação Prato surgiu a informação de que parte da decisão de encerrá-la deu-se devido ao aconselhamento que os militares brasileiros receberam dos norte-americanos, que estariam recebendo dados sobre seus resultados. É verdade? É bem possível que sim. Naquela época, os norte-americanos “metiam o bedelho” em tudo. Até aconselhamento eles queriam nos dar.
No caso de maio de 1986, um dos principais pontos foi que houve detecção pelos radares de bordo das aeronaves. E um contato com radar de bordo simultaneamente com o contato com radar de terra é a maior das confirmações (…)Nós fizemos tudo certo. Os pilotos tinham treinamento adequado e os radares entraram em potência máxima (…) Mas nada foi divulgado provavelmente por questões políticas
Por exemplo, na questão da detecção de UFOs por radar ou de interceptações a eles feitas por caças supersônicos, os norte-americanos nunca determinaram ou sugeriram que medidas os brasileiros deveriam tomar? Não, nunca. Mas essa troca de informações [Com outros países] ocorre e é voluntária. No caso dos Estados Unidos, existe uma organização chamada Sistema de Cooperação entre as Forças Aéreas Americanas (Sicofaa). Seus integrantes se reúnem uma vez por ano, em algum dos países participantes, para tratar de todos os tipos de assunto, desde o combate a traficantes até normas de higiene. No âmbito do Sicofaa, que tem um sistema de comunicação próprio, que é só dele, as coisas são muitas vezes tratadas entre comandantes. Por exemplo, o comandante da Aeronáutica Brasileira pega o telefone e consegue falar direto com o comandante da Força Aérea Norte-Americana (USAF), ou com qualquer outro comandante daquele sistema. No Sicofaa existe ampla liberdade para se tratar de todo e qualquer assunto que existir [O Sicofaa foi criado em 1961 com o propósito de promover o apoio mútuo das Forças Aéreas dos países participantes].
Diplomacia militar
Qualquer assunto, inclusive discos voadores? Eu presumo que sim. Hoje, naquele ambiente, creio que isso pode ser tratado sim. E não é só entre comandantes. O órgão tem várias comissões temáticas, como a de segurança de vôo, de logística, de tudo quanto é assunto, enfim. É uma coisa fabulosa, mas que não afeta as relações entre os países membros. Por exemplo, nesta briga recente entre a Colômbia, o Equador e a Venezuela, o sistema não foi afetado [A Colômbia teria atacado um acampamento de guerrilheiros das Farc, supostamente apoiados pelo Equador e pela Venezuela, em território equatoriano]. Os presidentes e políticos destes países se xingaram, se ofenderam, falaram isso e aquilo, mas os militares trataram do assunto no Sicofaa com profissionalismo e equilíbrio. É para isso que ele serve e eu o considero uma coisa importantíssima, uma espécie de seguro contra a guerra. Porque todo mundo acha que os militares gostam de fazer guerra, mas é o contrário. Os militares têm horror à guerra, porque são eles que morrem primeiro. Então, enquanto os presidentes e políticos se acusam, os militares trabalham pela paz, através de um diálogo garantido pelo Sicofaa.
Ainda bem que este sistema existe, então. Ainda bem que este sistema existe, então. Sem dúvida. Temos muitos exemplos de sua eficácia. Um caso não muito recente ocorreu na Amazônia e também envolveu a Colômbia e os guerrilheiros das Farc. O Exército colombiano precisou atacar os terroristas que estavam instalados em seu território, na cidade de Mitu, a poucos quilômetros da fronteira com o Brasil, mas não havia nenhuma pista de pouso para seus aviões descerem naquela área, e do lado brasileiro havia. Aí os colombianos pediram autorização para usar nossas pistas para realizarem uma missão humanitária no local. Veja bem, não pediram autorização para fazer operações de guerra no Território Brasileiro [Enfático]. Haveria muita gente ferida, como de fato houve, e a Colômbia não tinha como evacuar aquela gente. Na época eu era o comandante do Comdabra, e numa operação humanitária, se nós negássemos aquele tipo de pedido, a Cruz Vermelha e a ONU viriam em cima da gente. Então fui favorável e o ministro da Aeronáutica liberou o campo de pouso. Mas o Exército ficou “ouriçado” e assumiu posição contrária, porque achava que aquilo ali era intromissão no Brasil. E o ministro do Exército – naquela época ainda existia estas figuras – deu uma ordem contrária e mandou abrir fogo em cima de qualquer avião colombiano que se aproximasse, ao passo que a Aeronáutica autorizou os pousos.
Atuação nos bastidores
E o que aconteceu? Bem, eu passei uma madrugada toda, junto do meu pessoal, tentando fazer com que os dois ministros conversassem e se entendessem. Mas naquela época as pessoas tinham medo de perturbar ministro, e meus comandados falavam: “E aí, vamos acordar os ministros?” Eu disse: “Claro! Nossos pilotos estão acordados e voando para lá e para cá, cuidando da situação”. Aí eu peguei o telefone e liguei para o general do Exército, comandante daquela região, que era meu amigo. “Tu vai mesmo atirar nos caras?”, perguntei. Ele respondeu que tinha recebido ordens do ministro para atirar e que iria cumprir. “Mas meu pessoal lá vai errar todos os tiros”, completou. E eu pensei: “Ah, então manda fogo. Depois coloca a culpa nos soldados, que não aprenderam direito” [Risos]. Aí fomos todo mundo dormir. Acabou que ninguém deu tiro algum. Mas aquela situação foi horrível. No entanto, seguindo procedimentos dos Sicofaa, tudo se resolveu logo depois.
Desfecho bom, então… Sim, tirando a atrocidade dos ataques, da quantidade de gente ferida e morta… Agora, naquela hora, os presidentes do Brasil e da Colômbia não souberam de nada dos bastidores disso e de como nós contornamos os fatos. Quando foram informados, já estava tudo resolvido. Nem o Itamarati, naquele momento, não soube qualquer coisa do que fizemos. Quando descobriu, os militares e médicos colombianos já tinham ido embora, e o feridos estavam todos socorridos. Agora, é bom ter amizades nos diversos setores do país, para conter a ira dos políticos. Aliás, não só a ira dos políticos, mas a ira do modelo econômico também – e eu digo que é mais a ira econômica [A culpada por estes conflitos]. Onde tem interesse econômico, as coisas acontecem. Veja, se um dia a economia perceber que a Ufologia pode dar dinheiro, ela vai andar mais rápido.
Nos Estados Unidos já existe um forte mercado em torno da Ufologia.É, na hora que eles descobrirem que os UFOs podem fazer dinheiro… Eles podem até começar a fazer as revelações por causa disso. E aí vai aparecer o diabo de informações… [Rindo]
Mas voltemos à Ufologia, brigadeiro. Naquela situação de 19 de maio de 1986, que os ufólogos chamam de “A Noite Oficial dos UFOs no Brasil”, os fatos que a envolveram foram considerados extremos pelos militares? Sim, sem dúvida.
Houve a detecção de uma “enxurrada” de objetos não identificados e imediatamente todo o Sistema de Defesa Aérea ficou em alerta. O coronel Ozires Silva estava voando num Xingu já próximo de Poços de Caldas (MG), quando os radares apontavam 21 UFOs sobre várias localidades, desde São Paulo ao Rio de Janeiro, incluindo partes de Goiás e Minas Gerais… Eu me lembro disso. O Ozires já estava se aproximando de São José dos Campos (SP), para a descida no aeroporto de lá. Foi quando tudo começou…
Na ocasião, logo nos dias seguintes ao fato, o próprio ministro da Aeronáutica na época, o brigadeiro Octávio Moreira Lima, foi à TV e deu um comunicado a respeito. Ele autorizou os controladores de vôo e os pilotos dos caças envolvidos na perseguição aos UFOs a falarem sobre o assunto, sem qualquer censura. Sim, eles deram uma entrevista coletiva.
Porém, o ministro cometeu um pecado: ele prometeu um relatório oficial do fato para dali 30 dias… Que nunca saiu…
Nunca, mas o relatório foi produzido. Só que a decisão de torná-lo público, conforme a promessa do ministro, foi anulada. Porém, fatos que ele conteria vazaram, como a informação de que eram de fato 21 UFOs de grandes proporções, de cerca de 100 m de diâmetro, que sobrevoaram o país. Isso. Aquele relatório tinha mesmo que ser produzido, porque os aviões decolaram. Toda situação em que um avião decola fora do plano de ensino ou de treinamento da Força Aérea tem que gerar um relatório. E se aquela coisa aconteceu, você tem que prestar contas. Então, de qualquer forma tinha que haver um relatório. E realmente eu nunca tomei conhecimento dele, mas certamente ele foi produzido e por alguma razão o ministro decidiu não revelá-lo.
Confirmação decisiva
Naquela ocasião, nós obtivemos informações sobre o fato através de um piloto da Presidência da República, que viu esse relatório e “vazou” alguns detalhes. Houve algum movimento, boato ou rumor sobre ele nos quartéis? Olha Gevaerd, com toda sinceridade, eu volto àquela questão inicial. Aconteceu? Sim. Os pilotos viram? Sim. Os radares detectaram? Sim. Ozires viu? Sim. Pilotos em aviões comerciais viram? Sim. Os horários [Das observações] coincidem? Sim. As trajetórias [Dos objetos observados] coincidem? Sim. Tudo isso foi analisado tecnicamente. E então, aconteceu? Sim, aconteceu [Enfático]. Um dos principais pontos daquilo foi que houve detecção pelos radares de bordo das aeronaves. Sim, houve! E um contato com radar de bordo simultaneamente com o contato com radar de terra é a maior das confirmações. Os radares de bordo das aeronaves trabalham na faixa das microondas, que é muito pequena, e os radares de terra trabalham numa faixa muito maior. Então, não há possibilidade de confusão ou de engano. Mas aí vem a pergunta de novo: e daí? O que eram aqueles objetos? Ninguém sabe! Se não era um ataque de aviões estrangeiros…
Então eram objetos voadores não identificados… Sim, objetos voadores não identificados.
Mas o que aquele episódio representou para o meio militar? Alguns ufólogos chegaram a chamá-lo de invasão. Afinal, foram 21 UFOs de 100 m de diâmetro cada, ou seja, do tamanho de um Boeing ou maior. Isso não gerou um medo, um sinal de alerta? Não, não. Talvez porque a cabeça dos militares funcione de outra forma. Na época, o que os militares disseram? Que aconteceu, sim. Mas qual foi a resposta [A reação] da Defesa Aérea? [A reação foi a de que] Os aviões decolaram e em menos de dois minutos estavam lá. Os aviões estavam armados? Estavam armados. Tinham mísseis? Tinham sim.
Eles estavam armados por alguma razão especial ou por ser de praxe? Estavam armados por razões normais. Eles estão sempre armados, mas com armamento de tempo de paz, ou seja, com apenas dois mísseis, coisa pequena. Os pilotos tinham treinamento adequado e os radares entraram em potência máxima, coisa que geralmente não ocorre. Nenhum radar trabalha em potência máxima, que é para economizar energia e o próprio aparelho. Então nós os mantemos em 70 ou 80%. Mas, naquela noite, após a decolagem dos caças, a potência foi aumentada para permitir melhor alcance. Assim, tudo o que estava previsto no regulamento militar foi cumprido. Nós fizemos a nossa parte, e cabeça de militar funciona assim. Nenhuma comunicação falhou, os aviões pousaram em segurança, os pilotos nada sofreram. Então, missão cumprida! [Firme] Veja, quando um general perde a guerra, ele se questiona: “Por que eu perdi a minha guerra, o que fiz de errado?”. Ele nunca diz que o inimigo era mais inteligente, mas apenas que era mais forte e pronto, está justificado. Então, na época, e eu me lembro bem disso, nossa preocupação quanto a este caso era saber se havíamos feito a nossa parte. Caso contrário, iríamos nos perguntar: “Vem cá, onde foi que nós erramos?”
Então, por que aquele relatório não foi divulgado? Provavelmente por alguma questão política, aquele maldito medo do pânico. Se pensava assim na época: “E se a população souber disso? Todo mundo vai entrar em pânico!”
E mesmo assim, apenas no âmbito dos militares ou do Governo, não houve um questionamento sobre aquela invasão? Não. Garanto a você que esse sentimento nunca surgiu. Agora, o sentimento de que fizemos a nossa parte, sim. E de que não houve falha em nossa reação, também. Se aqueles objetos fossem parte de aviação inimiga, ela teria levado “um pau” naquela noite. Ah, tinha. E você conseguir retardar um primeiro ataque é muito importante. Mas não era o caso, pois o país não estava sofrendo absolutamente ameaça alguma.
Brigadeiro, de três décadas para cá, várias nações têm admitido que os UFOs são reais e representam visitas de espécies inteligentes à Terra, e que devem ser tratadas seriamente. O primeiro país foi a França, em 1976, que acabou de publicar 100 mil páginas de documentos na internet. Depois, na América do Sul, o Uruguai admitiu os UFOs em 1979 e o Chile, em 1997. Agora, recentemente, o Peru e o Equador fizeram o mesmo. O que o senhor pensa sobre a atitude destes países? Eu acho que tal atitude é uma ação pragmática, em reconhecimento de fatos. Nenhum dos países que você citou é irresponsável. São todos sérios e de diferentes níveis de progresso. E países sérios, quando admitem alguma coisa, têm que ser levados a sério. Soberanamente, ninguém os obrigou a reconhecer coisa alguma, e a comunidade internacional tem que reconhecer isso.
Abertura gradativa
Além deles, Bélgica, Espanha, China e Rússia, inclusive durante o comunismo, e mais recentemente o México, em 2005, ensaiaram uma abertura ufólogica. Quase todos estes países tomaram tal atitude depois que algum avistamento muito forte acontecer em seus territórios. No Chile houve um fato significativo sobre o Deserto do Atacama, em Punta Arenas e Santiago. No Peru, foi uma onda ufológica ocorrida há alguns anos, inclusive sobre Lima. No Uruguai, foram inúmeros casos sobre diversas cidades, até em Montevidéu. Mas e aqui no Brasil, um caso como a Noite Oficial dos UFOs, de 1986, não poderia ter sido o estopim para uma ação semelhante? Isso nos remete de novo a perguntas anteriores. Veja, quando não se acha uma explicação para um caso, você o arquiva. Aparentemente, nestes países também não se achou a explicação, mas a solução encontrada não foi a de arquivar, e sim a de admitir a existência de algo – embora sem uma explicação formal do que é este algo. Foi isso o que estes países fizeram. Em vez de arquivarem os fatos, admitiram sua existência. Agora, o que são tais fatos, esta é outra questão…
Nosso vizinho mais próximo a reconhecer os UFOs é o Uruguai, desde 1979, quando foi criada, dentro da Força Aérea Uruguaia, a Comissão Receptadora e Investigadora de Denúncias de Objetos Voadores Não Identificados (Cridovni). Em algum momento o Brasil trocou informação sobre UFOs com este país? Que eu saiba, não. Apenas com os Estados Unidos, e somente durante a época da Guerra Fria, porque os norte-americanos se metiam em tudo.
Mas se houve troca de informações com os norte-americanos apenas até o fim da Guerra Fria, nos anos 80, como é que militares e até médicos dos EUA estiveram presentes no le