por Carlos A. Reis
E viva a crase!
Sei que o leitor – e por extensão a própria Ufo – deve estar saturado dessa interminável discussão sobre a crase. Mas o fato é que, na edição anterior, na tentativa de esclarecer as regras dessa acentuação, a Redação acabou por denunciar seu próprio erro. Nas matérias Ninhos de UFOs, de Carlos Machado, e Analândia – Rota de UFOs, de Alexandre Calandra, contei 11 casos de acentuação com crase onde não deveriam acontecer. Então, para encerrar de vez esse assunto, usei o próprio Manual de Redação de O Estado de São Paulo e verifiquei onde se deu o erro de interpretação. Textualmente, a regra diz: “Quando se trata de distância, desde que não determinada, como em ‘o navio estava à distância de 500 m’.” Aí está o erro: quando se usa o termo distância (que é feminino) a crase é obrigatória, mas ao se escrever “a 500 m” , a crase é proibida – e isso também está no manual: “Não se usa crase antes de palavra masculina”. Mesmo se disséssemos “a 600 jardas”, a regra esclarece que não se usa crase antes de numerais considerados de forma indeterminada. Como diria aquele juiz-comentarista, a regra é clara, e espero agora, definitivamente, que a Redação não cometa mais este erro. Isso posto, vamos aos comentários gerais sobre a edição passada.
Eu desisto de comentar a seção Mundo Ufológico, pois desde o início desta coluna venho reiteradamente criticando as notas publicadas – muitas delas sem qualquer ligação com o tema foco da revista. E a edição 93 não é exceção. Por isso, minha paciência esgotou. Já o box Casuística traz uma série de relatos sem qualquer profundidade e nenhuma possibilidade de verificação. Se a Ufo batalha por seriedade e credibilidade, deve começar a rever certos critérios de publicação, urgentemente. Neste sentido, publicar a matéria já mencionada do Machado é retroceder alguns anos, pois esse assunto de ninhos de UFOs já está por demais desgastado e nada acrescenta em termos de informação. Para isso existe a coluna Memórias da Ufologia.
E viva a insensatez!
Por falar nela, o relato publicado pelo Malvezzi em sua coluna contém um ingrediente hilário que beira a insensatez – se considerarmos o fato como real. Não é que o padre Gill, em pleno ato de comunicação luminosa com o presumível UFO, parou o que estava fazendo para… jantar?! E depois, quando voltou, o objeto não estava mais lá. Ele queria que o estivesse esperando terminar sua refeição?
Estou até agora com os cabelos em pé com esta história de miscigenação cósmica, cópulas entre humanos e extraterrestres, hibridismo genético, filho interestelar… E não é por medo não, é assustador como as pessoas andam aceitando essas histórias assim, sem uma avaliação profunda, sem nenhum critério, com absoluta falta de bom senso. E ainda por cima inserindo em seus argumentos casos como os de Nelson Tasca e Hermínio e Bianca! Um dia ainda vou acabar escrevendo alguma coisa sobre essa história de abduções e toda essa enxurrada descabida de argumentos.
O texto de chamada para filiação ao Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), na página 43, contém um dado impressionante: se a cada minuto um UFO é avistado em todo o mundo, isso significa que, na melhor das hipóteses, 1.440 objetos voadores são vistos diariamente, 10.080 por semana, 302.400 por mês, 3.628.800 ao ano! E se a cada seis horas alguém é abduzido, então são oito infelizes por dia, 56 por semana, 1.680 por mês, mais de 20.000 por ano! Em 50 anos de Ufologia “moderna”, isso dá… um milhão de abduzidos! Dá prá acreditar?
Volto a insistir para que os leitores não aceitem o prato pronto das matérias publicadas, buscando, antes de enviarem suas cartas cumprimentando os autores, avaliar o conteúdo, verificar outras fontes, usar de discernimento, bom senso e critérios rígidos de análise. Isso vale, por exemplo, para Dorival Homero a respeito da entrevista com o pesquisador Courtney Brown, com reputação duvidosa nos EUA. Vale também para Juarez Sosa sobre a matéria Contatos com Aliens em Honduras, de Pablo Villarrubia Mauso. E principalmente para Janine Tortorelli e sua inabalável crença sobre a origem extraterrestre de Jesus. Desculpem a franqueza. É dado o direito de liberdade de expressão a cada um, mas um pouco de juízo faz bem a todos.