A existência de vida na Terra é creditada a diversos fatores, como a distância correta de nosso mundo até o Sol, permitindo a existência de água líquida. Além disso, a Lua estabiliza a rotação do planeta, mantendo estável o eixo de rotação a 23,5º em relação ao plano da órbita e estações do ano igualmente estáveis. Estudos recentes, entretanto, sugerem que a presença de nosso satélite não é essencial e a mudança de rotação do eixo terrestre pela influência de nossos mundos vizinhos afetaria a inclinação em escala muito lenta, da ordem de bilhões de anos. Finalmente, Marte está no limite da zona habitável do Sol e se fosse um pouco maior poderia ter retido uma atmosfera mais densa e ter água na superfície.
Em junho de 2012 foram encontrados, pelo telescópio Kepler, os planetas Kepler-36b e 36c ao redor de seu sol, que se situa na constelação Cygnus, a 1.200 anos-luz da Terra. Com respectivamente 1,5 e 3,7 vezes o tamanho da Terra, os dois mundos têm suas órbitas separadas por somente cerca de dois milhões de quilômetros. Baseando-se nesse achado a equipe liderada pelo astrõnomo Jason Steffen, da Universidade de Nevada, chegou à conclusão de que em outros sistemas com semelhante disposição dois mundos poderiam estar na região habitável e em ambos a vida poderia surgir. Conforme Steffen explica: “Se esse sistema tivesse a escala de nosso Sistema Solar, dois planetas poderiam estar a um décimo de unidade astronômica de distância em sua aproximação máxima, somente 40 vezes a distância entre a Terra e a Lua”.
Para verificar a viabilidade desses sistemas multi-habitáveis, a equipe realizou diversas simulações em computador e descobriu que, em planetas rochosos similares à Terra, as condições climáticas seriam estáveis. A obliquidade de tais mundos alienígenas não seria afetada pela proximidade e seu comportamento seria similar aos planetas de nosso Sistema Solar. Além disso, cada mundo poderia semear o vizinho com as sementes da vida graças a impactos de meteoros e asteroides. São conhecidos cerca de 100 meteoritos de origem marciana na Terra e caso seja descoberta vida em nosso mundo vizinho, e esta se revelar similar à nossa, já se tem por certo que será intenso o debate se somos descendentes dos marcianos ou o contrário. Além disso, a viagem entre os planetas, como exemplifica o famoso caso do meteorito ALH 84001, duraria milhões de anos.
POSSIBILIDADE DE MAIOR DIVERSIDADE BIOLÓGICA QUE NA TERRA
No caso de sistemas multi-habitáveis, a viagem de bactérias a bordo de meteoros seria muito mais curta e a troca de biodiversidade ainda mais intensa. Abre-se, assim, a espetacular possibilidade de que a vida nesses planetas alienígenas ser ainda mais diversa do que a que conhecemos na Terra. Além disso, a possibilidade de a vida sobreviver a inevitáveis cataclismos cósmicos seria bem maior que a de nosso sistema. O próprio Jason Steffen levantou ainda as vantagens apresentadas diante do surgimento de vida inteligente nesses sistemas: “Em sistemas multi-habitáveis a vida, até mesmo inteligente, poderia existir ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Pode-se imaginar que, caso civilizações surjam em ambos os planetas, eles poderiam comunicar-se entre si por milhares de anos antes mesmo que se encontrem face a face. Sem dúvida é matéria para reflexão”. As conclusões foram divulgadas no 3º Encontro de Sistemas Solares Extremos da Sociedade Astronômica Americana no início do mês, no Havaí, e serão publicadas no Astrophysical Journal.
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