Um grupo de cientistas de todo o mundo, sob o comando do geneticista americano Spencer Wells, embarca numa das mais fascinantes aventuras do ser humano: a busca de sua própria origem, através das correntes migratórias empreendidas há milhares de anos. Trata-se do Projeto Genográfico, a mais ambiciosa pesquisa de antropologia genética, que será feito em parceria pela National Geographic Society e a IBM. Ele contará com a participação de um brasileiro, o biólogo Fabrício Rodrigues dos Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que será responsável pelo trabalho na América do Sul.
“O nosso DNA carrega uma história que é compartilhada por todo mundo. Ao longo dos próximos cinco anos nós estaremos através dele decifrando essa história que agora corre o risco de se perder, à medida em que as pessoas migram e se misturam num nível bem maior do que no passado”, disse Wells. Cerca de 10 centros de pesquisas estão sendo estabelecidos em todo o mundo para coletar e analisar pelo menos 100 mil amostras de DNA, com células de sangue e da bochecha. As informações serão compiladas e processadas através de sofisticados programas de computação.
O cruzamento dos dados recolhidos servirá para traçar a árvore genealógica de cada pessoa que tenha contribuído com uma amostra. E propiciará, de forma mais ampla, o mapeamento dos passos dados por toda a humanidade, resultando numa nova e mais precisa compreensão das conexões e diferenças que formam a espécie humana. “É uma expedição histórica ao nosso passado coletivo”, afirmou Samuel J. Palmisano, presidente da IBM. Ted Waitt, fundador da Waitt Family Foundation, que está financiando o projeto, acrescentou: ”Quanto mais aprimorarmos o nosso entendimento da origem comum e da jornada da humanidade, maior será a possibilidade para todos nós de nos vermos como membros da mesma família”.
O público em geral poderá participar voluntariamente desse estudo e, dessa forma, descobrir as suas próprias raízes. Os interessados terão de comprar um kit que custa aproximadamente R$ 250,37 [US$ 99,95] on line no site www.nationalgeographic.com, para submeter as suas próprias amostras. Haverá total anonimato. Cada um receberá um código que servirá como identidade. Depois de quatro a seis semanas do envio do material, a pessoa entrará no site do projeto para ver os resultados.
Eles serão atualizados à medida em que a pesquisa avance mundo à fora. “Cada um de nós tem um conjunto particular de marcadores no genoma. Nosso estudo investigará como esses marcadores foram acumulados ao longo do tempo de forma seqüencial, traçando assim o trajeto do homem desde a África, que é a origem comum de nossa espécie, até o Oriente Médio, à Ásia Central ou à Europa. Isso depende de cada pessoa. Com o DNA, poderemos descobrir os caminhos percorridos pelos ancestrais até chegar onde essa pessoa vive hoje”, disse Wells ao Globo.
Segundo ele, o ideal do Projeto Genográfico é colher o maior número possível de amostras de pessoas que vivem num mesmo lugar por um longo período de tempo. Essas populações, disse ele, vêm sendo engolfadas por uma crescente monocultura global e, por isso, não se sabe exatamente quantos tipos delas existem hoje no mundo. O idioma é uma pista, mas nem tanto.
“A velocidade da perda é enorme hoje. Entre metade e 90% dos idiomas falados no mundo atualmente terão desaparecido no fim deste século. E não porque as pessoas vão se extinguindo, mas sim porque elas mudam para outra cidade, outro país, em busca de melhores oportunidades. Ao fazer isso os seus filhos começam a falar a língua dominante nesse outro lugar e perdem contato com a antiga. Ao fazer isso, eles ainda podem ter os marcadores genéticos, mas perderam o contexto. Por isso é difícil estudá-los historicamente e, portanto, necessitamos fazer isso através do DNA”, afirmou Wells.