Relatos incríveis feitos bem antes da Bíblia falam de estranhos avistamentos no céu, no mar e também sobre entidades que acompanhavam e aconselhavam figuras históricas, hoje entendidas como mitológicas. Chama a atenção a forma como aqueles que a história conhece como gênios gregos cuidaram de legar à humanidade com princípios que até hoje seguimos e que regem boa parte de nossa ciência. A civilização ocidental, como a conhecemos, foi construída na Grécia Antiga e exportada para todo Império Romano. Sua influência nos dias atuais é semelhante à dos genes maternos, pela forma como está entranha em nossa linguagem e na percepção que temos do mundo. A antiga língua grega modificou-se, mas ainda coexiste com a moderna e subexiste nas designações científicas. Para se entender uma tradução do idioma, é preciso buscar não somente o léxico, mas também na história.
Em uma dessas traduções, a da Ilíada, de Homero, há um trecho em que um capitão de navio, função que em grego antigo chamava-se kuberneticós ou cibernético, relata a visão de fogueiras sobre o mar em um lugar onde não havia embarcação alguma. Imagina-se que para um grego, em aproximadamente 1.200 a.C., não havia parâmetros para entender luzes, a não ser aquele das fogueiras.
Gênios
O poeta Hesíodo, que viveu entre 800 a.C. e 700 a.C., escreveu Theogonia, poema também conhecido como A Genealogia dos Deuses, no qual descreve quem era filho de quem e quais as designações de cada deus — todos eles tinham natureza superior à humana e a fascinação grega pela perfeição, imortalizada nas esculturas, buscava assemelhar os homens aos deuses. Mas que deuses eram aqueles que interagiam com os humanos e até tinham filhos com eles?
Um relato bastante conhecido e que não deixa nenhuma dúvida é mencionado pelo romano Titus Livius em sua história da fundação de Roma, desde o ano 753 a.C. até a Era Cristã. O livro XXIII da obra Desde a Fundação da Cidade descreve o cerco de Alexandre, o Grande, à cidade de Tiro, em 332 a.C., quando “escudos voadores” passavam sobre as fileiras de soldados causando pânico — Alexandre entendeu que os deuses estavam ao seu lado e tomou a cidade quase sem resistência.
O que mais assombra o homem moderno é pensar como tantos filósofos, matemáticos e pensadores brilhantes nasceram todos em uma mesma região e no curto espaço de tempo de umas poucas gerações. Em muitos de seus escritos são relatados contatos com deuses e musas que os inspiraram, orientaram e até ajudaram em batalhas. Um exemplo pouco lembrado é o do filósofo grego Parmênides, nascido em 530 a.C. Em fragmentos de sua obra Sobre a Natureza ele descreve uma viagem em um carro puxado por duas éguas e impulsionado por helíades, filhas de Hélio, o Sol. Ele é então recebido pela deusa Diké, da Justiça, que lhe expôs tudo sobre a natureza — esse tudo seria a unidade do ser e das coisas e a revelação de que o mundo dos sentidos é uma ilusão. Revelação muito similar aos estudos atuais sobre física quântica.
Terra redonda
Outro importante pensador, filósofo e famoso matemático foi Pitágoras, nascido em 580 a.C. Por meio de seus cálculos, Pitágoras não apenas demonstrou que a Terra era redonda como também calculou o seu raio, o mesmo processo utilizado hoje para realinhar os satélites em órbitas. O matemático dizia que os planetas navegam em círculos, forma considerada perfeita. Inspirado pelas tais musas, concebeu a harmonia das esferas, que funciona como o som nas cordas musicais. Para Pitágoras, o efeito produzido por cada corda depende da tensão dela. Suas teorias podem ser comparadas à Teoria das Cordas da física atual.
O grande estadista, orador e general Péricles, construtor da famosa Acrópole, em Atenas, foi também o homem que levou a democracia grega de uma forma limitada para outra mais ampla. Ele viveu no que é conhecido como a Era de Ouro de Atenas e foi a maior personalidade política do século V a.C. Péricles é sempre retratado com um elmo, devido ao tamanho desproporcional da sua cabeça estranhamente alongada para trás. Sua mãe, antes de seu nascimento, sonhou que estava dando à luz a um leão. Ele, ao servir ao exército, mandou fazer o elmo sob medida, o qual nunca mais o tirou até sua morte.
Sequer chegamos a mencionar os principais filósofos da época, Sócrates, Platão e Aristóteles, grandes gênios nascidos na mesma região, em tempo limitado entre 80 anos. Fabulosas personalidades, devotos dos deuses e orientados por eles, mudaram os rumos da ciência, da política, da filosofia e da vida humana. Uma concentração de gênios que nos faz pensar que os deuses gregos, afinal, cuidaram muito bem do futuro da civilização.