Em janeiro de 2005, o evento que ficou conhecido como Caso Varginha completou nove anos. Em 20 de janeiro de 1996, sábado, três testemunhas relataram ter avistado um ser estranho na cidade mineira. Às 15h30, as irmãs Valquíria Aparecida Silva e Liliane Fátima Silva, que tinham na época 14 e 16 anos, respectivamente, estavam acompanhadas de uma amiga, Kátia Xavier, 22 anos. Todas voltavam para suas casas, após mais um dia de trabalho, quando de repente avistaram junto ao muro de um lote vago da Rua Benevenuto Braz Vieira uma criatura bizarra. Tinha cabeça, tronco e membros e estava agachada num canto, como se se protegendo do Sol. Seus braços estavam entre o que seriam os joelhos. Tinha cor marrom escura, olhos vermelhos saltados e seu crânio era encimado por três protuberâncias. Tal ser ficou popularmente conhecido como ET de Varginha e dois livros foram escritos sobre o episódio – o principal deles é O Caso Varginha, do advogado e professor universitário Ubirajara Franco Rodrigues [Coleção Biblioteca UFO, volume 08], que foi durante 10 anos co-editor da Revista UFO e hoje atua como seu consultor jurídico.
Segundo as intensas pesquisas do caso, realizadas pelos ufólogos, pelo menos duas criaturas de aspecto desconhecido teriam sido capturadas em Varginha, em janeiro de 1996, pelo Exército, Polícia Militar mineira e por um destacamento local do Corpo de Bombeiros. Os seres teriam sido levados, posteriormente, para a Universidade de Campinas (Unicamp), especificamente a um laboratório existente no andar inferior do Hospital das Clínicas, daquela instituição. Segundo relatos, pelo menos uma das criaturas ainda estaria viva ao chegar lá – a outra, morta, teria sido colocada numa das geladeiras do Instituto Médico Legal, na mesma localidade. Há rumores que sustentam, ainda, o envolvimento do pessoal de um determinado laboratório de acesso restrito, existente no prédio do Departamento de Biologia da instituição, como um dos possíveis locais por onde passaram os seres.
Necrópsia de um ET — As criaturas de origem não identificada teriam sido entregues pelos soldados que as capturaram a uma equipe de pesquisadores civis e militares, dentre eles o famoso médico legista Fortunato Badan Palhares. Ele certamente nega tudo, mas fontes seguras garantiram aos ufólogos brasileiros, durante o curso das investigações, que houve de fato o envolvimento de Palhares com os chamados ETs de Varginha. Nunca a Comunidade Ufológica Brasileira teve uma oportunidade tão boa para confrontar o legista como em 17 de janeiro passado, quando a Rádio CBN, de Campinas, promoveu um debate entre ele e o professor Ubirajara Rodrigues. Pela primeira vez, o doutor Badan Palhares debateu publicamente sobre o Caso Varginha – e o fez justamente com o ufólogo que descobriu o incidente e pesquisou exaustivamente os fatos ocorridos em Varginha. O debate foi uma realização elogiável da CBN de Campinas.
Nunca tomei parte no Caso Varginha. Em nenhum momento tive qualquer tipo de ligação com esse ou qualquer outro caso que tivesse relação com seres extraterrestres
– Fortunato Badan Palhares
Fui àquela cidade para acompanhar a contenda e encontrei o professor Ubirajara Rodrigues no hotel em que estava hospedado, onde concedeu uma entrevista exclusiva para a Revista UFO, antes do debate – outra entrevista após o debate também entrou na pauta [Veja box]. De lá fomos juntos até os estúdios da Rádio CBN. Ubirajara estava calmo e bastante animado, permitiu que fizéssemos fotografias suas e demonstrava convicção das posições que iria defender no encontro com Palhares. Chegamos ao prédio da CBN às 09h30 e aguardamos a recepção do outro debatedor, que compareceu às 09h45. Palhares, no entanto, não autorizou que tirássemos fotos suas, justificando que “sua imagem já fora muito explorada”. Eu e a fotógrafa que me acompanhava respeitamos sua decisão, embora um tanto imprevista. Por outro lado, Palhares concedeu entrevistas exclusivas para a Revista UFO, uma antes e outra após o debate. O mediador do encontro foi o jornalista Valter Sena, que também falou à nossa publicação.
Nos momentos que antecederam a contenda, havia no ar um misto de curiosidade e expectativa. Até aquele momento, eu só conhecia o Badan Palhares do noticiário referente a casos polêmicos envolvendo peritagem criminal. Já com Ubirajara Rodrigues eu havia já participado de várias atividades, em especial aquela em que atuamos conjuntamente no desmascaramento do pseudoparanormal Thomaz Green Morton, no programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão.
Buraco negro da Ufologia — O posicionamento crítico de Rodrigues com relação à pesquisa ufológica foi recentemente explicitada no artigo Ufologia, Buraco Negro do Incognoscível [Edição 102], escrito por Carlos Alberto Reis, de cuja redação foi co-autor. Segundo o pesquisador, “a metodologia correta se inicia, por exemplo, com um bom planejamento da verificação dos fatos, antecedida por uma escolha de hipóteses viáveis. Toda a pesquisa a partir daí culminará na confirmação ou na negação das hipóteses escolhidas – o que significa dizer que um fenômeno, qualquer um, deve ser analisado com isenção e imparcialidade”. Rodrigues mais uma vez manifestou sua posição e fomos a seguir conduzidos para o estúdio da CBN. Dentro de instantes o debate teve início, com a promessa de oferecer as peças faltantes que poderiam propiciar que o quebra-cabeça do Caso Varginha se completasse.
Silêncio no estúdio e o debate mediado pelo jornalista Valter Sena começou. Os debatedores foram apresentados e o mediador leu um breve resumo do Caso Varginha, incentivando os ouvintes a fazerem perguntas por telefone, fax ou e-mail – chegaram muitas, mas nenhuma delas foi lida na íntegra. A contenda propriamente dita teve início com o mediador formulando duas perguntas seguidas ao professor Rodrigues. “O senhor pode afirmar com segurança absoluta que criaturas foram capturadas pelo Exército brasileiro naquela manhã de 20 de janeiro de 1996?” Rodrigues relativizou a questão da segurança absoluta e posteriormente esclareceu que ele e outros ufólogos tinham provas testemunhais diretas e indiretas de que duas criaturas foram realmente capturadas pelo Exército, a Polícia Militar mineira e pelo Corpo de Bombeiros de Varginha, e posteriormente levadas para Campinas.
Temos informações seguras a partir de diversas fontes, de que um comboio militar entregou duas criaturas na Unicamp, uma ainda estava viva e, a outra, morta
– Ubirajara Franco Rodrigues
“Mas não existem evidências suficientes da presença de um disco voador no evento”, disse Rodrigues, mostrando que sua pesquisa transcende o caráter naturalmente sensacionalista que o Caso Varginha atingiu. “Que tipo de evidência a Ufologia possui então para afirmar que pelo menos uma criatura foi conduzida à Unicamp”, insistiu o jornalista mediando o debate. “São evidências testemunhais, informações recebida
s de testemunhas civis e militares. Várias delas solicitaram permanecer no anonimato”, respondeu Rodrigues.
Negação sumária — A terceira pergunta foi dirigida pelo jornalista Valter Sena ao doutor Badan Palhares. “O senhor não participou do Caso Varginha?”, questionou Sena. “Com certeza, não. A mídia utilizou-se de depoimentos de testemunhas, mas sem nenhuma evidência material. Em relação à nossa participação, na Unicamp, nunca, em nenhum momento tivemos qualquer tipo de ligação com esse ou qualquer outro caso que tivesse relação com seres extraterrestres”, afirmou sumariamente o legista. “A não ser quando fomos solicitados a analisar uma fita de vídeo que se referia a uma necrópsia feita nos EUA, em um suposto ser extraterrestre”. Já dos primeiros lances do debate se podia ver que o encontro seria acalorado. Mas sendo impraticável transcrever o debate na íntegra nesta edição de UFO, vamos destacar abaixo alguns itens mais importantes do acontecimento, na seqüência em que ocorreram e evitando repetições.
No momento seguinte dessa contenda, o legista Badan Palhares afirmou que, em janeipartamento de Medicina Legal da Unicamp, e que no dia 20 daquele mês, quando ocorreu o Caso Varginha, já não mais a ocupava. Disse também que provavelmente seu nome fora relacionado ao caso porque estava em evidência na mídia, por haver se envolvido em casos polêmicos?– como a conclusão de homicídio seguido de suicídio do caixa de campanha do ex-presidente Collor, Paulo César Farias e sua namorada Suzana Marcolino. Afirmou que o único jornalista a procurá-lo para tratar do assunto foi Goulart de Andrade, que esteve na Unicamp sem avisá-lo. Nesse instante, Rodrigues o corrigiu e lembrou ao legista que ele também fora procurado pelo jornalista Luiz Petry, do Fantástico.
Ubirajara afirmou que, principalmente no dia 23 de janeiro de 1996, uma equipe de especialistas da Unicamp recebeu material orgânico desconhecido vindo da Escola de Sargentos das Armas (ESA), da cidade de Três Corações, vizinha de Varginha, de onde saiu o pelotão do Exército que procedeu à primeira captura. O ufólogo disse também que tal fato – a entrega de material orgânico aos técnicos da Unicamp – evidentemente não se daria através de procedimentos oficiais. Badan não aceitou a hipótese e o mediador partiu para outro ponto polêmico do Caso Varginha, questionando Rodrigues, com insistência, se haveria fotos de satélite que documentassem o transporte dos seres para Campinas. Não se sabe da existência de tal material, mas o ufólogo descreveu detalhadamente a composição do comboio que teria levado os seres à Unicamp. “Temos depoimentos de testemunhas militares que participaram desse transporte”, afirmou.
Ditadura militar — Badan Palhares então discorreu sobre os trâmites burocráticos que um comboio desse tipo teria para passar na Unicamp, entre eles a identificação e registro dos veículos ao tentarem adentrar o portão da universidade, numa tentativa de mostrar a inviabilidade do fato. Descreveu também os procedimentos necessários para entrada no Hospital das Clínicas e no Departamento de Medicina Legal, e afirmou que, “nessa ocasião, nós estávamos trabalhando com as ossadas de Perus [Restos mortais de desaparecidos políticos da época da ditadura, encontrados em valas no Bairro de Perus, em São Paulo]”. Em réplica, Ubirajara Rodrigues insistiu que a entrada e permanência de criaturas de natureza não determinada na instituição certamente não se dariam de forma oficial, com registros burocráticos de praxe – ainda mais com o envolvimento das Forças Armadas. O ufólogo apontou o dado de que, na década de 70, o Hospital das Clínicas da Unicamp foi construído mediante convênios com as Forças Armadas.
Ele acrescentou, no entanto, que embora a maioria dos ufólogos brasileiros afirme que se tratam de seres extraterrestres os capturados em Varginha, ele próprio e alguns poucos colegas jamais afirmaram isso. Palhares continuou negando ter participado das operações e afirmou novamente que jamais esteve envolvido com o caso. Ainda que Rodrigues insistisse que o episódio tenha sido uma operação sigilosa coordenada pelos militares brasileiros, não houve consenso e o mediador afirmou que o caso carecia de provas, ressaltando o fato de não existirem fotos dos corpos ou do tal material orgânico. Em resposta, o ufólogo disse que, enquanto as provas não puderem ser exibidas, a crítica seria pertinente, numa referência clara ao fato de que boa parte das provas tem origem em militares na ativa – que seriam gravemente prejudicados caso seus nomes fossem conhecidos.
“As provas testemunhais são robustas”, disse o ufólogo, acrescentando que, em 1996, foram escolhidos alguns representantes da imprensa brasileira para assistir aos vídeos com depoimentos de testemunhas civis e militares – entre eles um consagrado jornalista de uma rádio de Varginha, o produtor de uma das maiores redes de televisão do mundo, um jornalista de O Estado de Minas Gerais etc. “Todos assumiram o compromisso de manterem o mais absoluto sigilo com relação à identidade das testemunhas”, disse. Dois desses jornalistas, inclusive, estiveram frente-a-frente com três testemunhas militares. Ou seja: as provas mais sólidas da captura dos tais seres existem, mas não podem ainda ser de conhecimento público. “É consenso que alguma coisa foi vista em Varginha, na ocasião”, afirmou o mediador, dando continuidade ao encontro.
O momento mais tenso do debate deu-se no final, quando Ubirajara disse que Badan Palhares teria feito parte de um processo de acobertamento do Caso Varginha. “O senhor faz parte de um processo de sigilo, sabe-se lá que tipo de governo e quais são as razões que os obrigam de forma complexa a manter esse sigilo”. Badan respondeu em tom ameaçador: “Se o senhor continuar nessa linha, obrigatoriamente terei que tomar outras medidas”, provavelmente referindo-se a uma possível ação judicial. “Perfeitamente. Nada a comentar”, encerrou Ubirajara Rodrigues.
Um debate acalorado — O debate durou cerca de uma hora e meia e foi dividido em três blocos. Apesar do momento final e das divergências, ocorreu de forma amistosa durante a maior parte do tempo. Desde o início surgiram posições antagônicas entre os contendores, que perduraram por todo o debate. Ubirajara Rodrigues baseou seu posicionamento nos depoimentos coerentes de testemunhas civis e militares, de que os seres capturados em Varginha foram de fato conduzidos à Unicamp, onde ficaram aos cuidados de Badan Palhar
es e sua equipe de especialistas. O ufólogo, inclusive, ilustrou essa afirmação informando que alguns jornalistas muito respeitados tiveram acesso aos vídeos das gravações com as testemunhas, que exigiram anonimato. O legista negou solenemente que isso tivesse acontecido, sempre garantindo jamais ter tido contato com tais seres.
Dois pontos devem ser ressaltados sobre a contenda. No primeiro está a pergunta do mediador quanto à existência de fotos de satélite do comboio que teria transportado as criaturas para a Unicamp. Como alguém que acompanhou o debate dentro do estúdio da CBN, pergunto: qual a importância de tais fotos? Ainda que elas existissem e realmente mostrassem o mencionado comboio, será que o Exército também não teria uma explicação óbvia para elas? Se o Caso Varginha de fato ocorreu, e as manobras de acobertamento do incidente são tão bem orquestradas pelas Forças Armadas, que diferença fariam fotos que poderiam ser taxadas de falsas ou não relacionadas ao fato em si?
O segundo ponto reside na afirmação de Badan Palhares de que ele e sua equipe estavam trabalhando com as ossadas de Perus, numa provável tentativa de argumentar que isso os impediria de ter qualquer contato com o material orgânico de Varginha. Na data Badan não mais estava envolvido com as ossadas, como lembrou a jornalista mineira Rosy Pantaleão, que acompanhou o debate. Ela apurou a informação e descobriu que o doutor Badan Palhares foi afastado do caso das ossadas de Perus no dia 17 de maio de 1995 – oito meses antes do acontecimento em Varginha. As ossadas foram descobertas pelo repórter Caco Barcelos, em 1990, e encaminhadas para a Unicamp, onde ficaram sob responsabilidade do legista até a referida data, quando Badan era chefe do Departamento de Medicina Legal. “O trabalho de sua equipe com as ossadas evoluiu até 1993, e a partir daí não houve avanços”, sustenta Rosy.
Mofo, pó e a baratas — Por que Badan Palhares teria usado a história das ossadas de Perus para esquivar-se das afirmações dos ufólogos, de que ele se envolvera com os supostos ETs de Varginha? “Até o início de 2000, a cena que se via na sala do Departamento de Medicina Legal da Unicamp, destinada a guardar os ossos, era caótica. Amontoados por toda área, os sacos plásticos contendo as ossadas estavam em estado deplorável, alguns abertos e em meio ao mofo, pó e a baratas mortas”, afirma Rosy. Em 17 de maio de 1995, realizou-se reunião para se exigir a prestação de contas da pesquisa com as ossadas. Na ocasião, os familiares das vítimas da ditadura, através da interferência do secretário da Justiça do Estado de São Paulo Belisário dos Santos Júnior, reuniram-se com o reitor da Unicamp José Martins Filho, o titular adjunto da Secretaria de Segurança Pública Luiz Antônio Alves de Souza, os deputados estaduais Renato Simões, Wagner Lino e Suzana Lisboa, representantes da Comissão Especial de Reconhecimento dos Mortos e Desaparecidos, e decidiu-se pelo afastamento do doutor Badan Palhares do processo de investigação. “Ele foi substituído por José Eduardo Bueno Zappa e o médico legista Carlos Delmonte foi encaminhado pela Secretaria de Segurança Pública para o Departamento de Medicina Legal daquela universidade”, completou Rosy.
Durante o debate o jornalista Valter Sena, mediador da Rádio CBN de Campinas, disse que é consenso que algo foi visto em 20 de janeiro de 1996, em Varginha. Para outro profissional de imprensa, o jornalista Luiz Petry, atualmente editor-executivo do Fantástico, o caso tem grande valor. “Conheci muitos dos personagens que aparecem na pesquisa. Mas minha experiência mais espantosa, seguramente, foi ouvir aqueles que, a meu ver, são os maiores protagonistas do Caso Varginha: os militares que afirmaram ter participado da captura e posterior transferência das criaturas daquela cidade para determinadas instalações militares”, afirma Petry.
Badan Palhares nega envolvimento
Antes e após o debate com o professor Ubirajara Rodrigues, que descobriu o Caso Varginha e pesquisou exaustivamente os fatos, o doutor Badan Palhares aceitou apresentar sua versão dos fatos à Revista UFO, insistindo que jamais teve qualquer ligação, em momento algum, com os seres supostamente alienígenas capturados em janeiro de 1996 pelo Exército, Polícia Militar mineira e por um destacamento local do Corpo de Bombeiros. Os ufólogos brasileiros sustentam que os seres teriam sido levados para um laboratório existente no andar inferior do Hospital das Clínicas, na Universidade de Campinas (Unicamp). Pelo menos uma das criaturas ainda estaria viva ao chegar lá. A outra, já falecida, teria sido colocada numa das geladeiras do Instituto Médico Legal. Palhares nega veementemente tais fatos. Veja a entrevista que concedeu ao enviado especial Jayme Roitman.
Entrevista antes do debate
Revista UFO — Qual é a sua expectativa quanto ao debate que logo se inicia?
Palhares — Eu não tenho nenhuma expectativa, até porque eu realmente nunca estive envolvido com qualquer dos procedimentos relacionados com esta matéria. Portanto, estou aqui mais como espectador do que propriamente como debatedor.
Revista UFO — Quais os pontos mais importantes que o senhor pretende esclarecer?
Palhares — Depende da forma de como as coisas venham a ser colocadas. Eu acho que nós vamos ter a oportunidade de dizer exatamente como sempre nos comportamos dentro da Universidade de Campinas e qual é a forma como essas solicitações são feitas dentro da instituição.
Revista UFO — O que o levou a aceitar debater o Caso Varginha hoje?
Palhares — Por uma série de razões. Primeiro, por uma infinidade de entrevistas e de reportagens falando sobre o caso, nas quais meu nome é envolvido sem que eu nunca tenha tido oportunidade de poder discutir com quem colocou tais posições. Acho que &
eacute; o momento de nós podermos esclarecer esses fatos, para que a população possa conhecer quem são as pessoas, como elas trabalham, o que existe de verdade em tudo isso que foi ventilado e tem sido matéria não só jornalística, como de revistas e até na internet, sobre o Caso Varginha.
Entrevista após o debate
Revista UFO — Qual é sua avaliação sobre o debate?
Palhares — Acho que foi possível para as duas partes explicitarem suas posições com relação ao Caso Varginha e espero que os ouvintes possam tirar suas conclusões.
Revista UFO — Na sua opinião, o que levou a afirmações de que corpos de seres estranhos estiveram a seus cuidados na Unicamp, em 1996?
Palhares — Bem, não sou eu quem tem que dar essa resposta e sim as pessoas que plantaram isso na mídia, na imprensa de maneira geral. Essas pessoas é quem devem dar essas explicações e dizer por que fizeram isso.
Revista UFO — O senhor saberia dar algum motivo para isso ter acontecido?
Palhares — Não. Da mesma forma que fizeram isso, fizeram também algumas especulações dizendo que eu vendia laudos. Portanto são essas pessoas que têm que se manifestar. São elas que precisam mostrar os elementos materiais das suas afirmações. Quero dizer que não cabe a mim dar esse tipo de resposta. Eu simplesmente tenho que provar que nada disso aconteceu. É o que estou fazendo.
Revista UFO — O debate propiciou alguma mudança na sua opinião sobre o Caso Varginha?
Palhares — Não. Para mim continua da mesma forma. Eu saio do debate da mesma maneira que entrei, sem evidentemente menosprezar nada do que foi dito. Mas ainda continuo convicto de que há uma grande “conspiração” – agora vamos usar este termo – para se utilizar o meu nome para tirar algum benefício disso.
Revista UFO — O senhor ou seus familiares sofreram ameaças que visavam que alguma declaração ou laudo técnico apresentasse uma versão diferente dos fatos?
Palhares — [O rosto se contrai] Não. Evidentemente que existe as chamadas [Pausa]. Como diria? Formas indiretas de se pressionar alguém. Eu nunca fui pressionado diretamente – e se o fosse, evidentemente, denunciaria na hora. Mais do que eu passei na CPI do Narcotráfico, ninguém poderia ter passado. E lá eu disse tudo aquilo que deveria ser dito. Portanto, estou muito tranqüilo. Minha vida pessoal, profissional e familiar é muito boa e eu não tenho do que reclamar.
Revista UFO — O senhor alguma vez já foi chantageado?
Palhares — Não, chantageado nunca fui. Por que, se fosse, teria feito a denúncia imediatamente.
Varginha na visão de um jornalista
Aimprensa sempre teve papel decisivo no desenrolar do Caso Varginha, tratando-o com a necessária seriedade. Isso contribuiu imensamente para que houvesse uma grande aceitação da realidade dos fatos por parte da população. Por isso, a iniciativa da CBN de Campinas, de realizar o debate entre Ubirajara Rodrigues e Badan Palhares, é muito elogiável. Num dos momentos mais importantes da pesquisa do caso, foram escolhidos representantes da mídia nacional para assistirem aos vídeos com depoimentos de testemunhas civis e militares – entre eles o jornalista de uma rádio de Varginha, o produtor de uma das maiores redes de televisão do mundo e um jornalista de O Estado de Minas Gerais, todos assumindo o compromisso de manterem sigilo sobre a identidade das testemunhas. É essa transparência, sem evidentemente colocar em risco a pesquisa do Caso Varginha e os envolvidos, que os ufólogos buscam. Sobre isso conversamos com o mediador do debate, o jornalista Valter Sena.
Revista UFO — Que análise faz do debate?
Sena — Fundamentalmente, foi um debate de altíssimo nível. Com especialistas de cada área – um da Ufologia e outro da medicina legal – desenvolvendo os aspectos técnicos envolvidos no Caso Varginha. E cada um deu seu parecer sobre as especificidades deste tema, que é bastante complexo. Do ponto de vista jornalístico, o debate atingiu os objetivos: o ouvinte pôde formar sua opinião e fazer algumas considerações com relação às duas versões. Uma delas é a de que de fato ocorreu a participação do legista Badan Palhares no Caso Varginha. A outra tese dá conta, por parte do cientista, de que o fato carece de provas materiais e técnicas, e de que ele jamais teria participado de qualquer coisa relacionada aos fatos.
Revista UFO — O debate propiciou alguma mudança em sua idéia sobre o caso?
Sena — Pessoalmente, não. Como jornalista, preciso ouvir os dois lados e receber deles material suficiente para fazer a minha própria pesquisa, colher informações de terceiros e aí formar uma matéria bastante consistente. Quando eu tenho, de um lado, uma pessoa falando uma coisa e, do outro lado, uma negando aquilo, fica muito difícil fazer juízo de valor. Nesse aspecto, sem me aprofundar no caso, sem ter mais elementos e sem ouvir outras pessoas envolvidas, eu nada consigo mudar. Então, não posso dizer que o fato foi real e nem que foi irreal. Não posso tender para nenhum dos lados. Não posso atribuir mais credibilidade para o doutor Badan, nem ao doutor Ubirajara.
Revista UFO — O Caso Varginha já completou nove anos. Como surgiu a idéia de promover o debate agora?
Sena — A gente, aqui da CBN de Campinas, já estava há algum tempo tentando discutir um caso dessa natureza. Principalmente porque uma das pessoas que, segundo os relatos, estaria envolvida é o doutor Badan, que é daqui da cidade. Como é um tema que realmente chama a atenção de toda a população, decidimos promover o debate. Houve dificuldade em conseguir conciliar a agenda dos dois entrevistados. Demos prioridade para o ufólogo Ubirajara, por ele ser de outro estado e por ter sido quem descobriu todo caso e quem mais o pesquisou. Os dois tinham uma agenda muito complicada, mas finalmente conseguimos colocar pela primeira vez frente a frente os doutores Ubirajara Rodrigues e Badan Palhares.