Eis alguém que foge ao trivial, que se põe em risco pelas idéias que apresenta – apesar de afirmar não pretender veicular verdades, apenas “sementes para reflexão”. Esse é Rogério de Almeida Freitas, ou Jan Val Ellam, que já foi ufólogo de investigar casos de ataques de ETs a humanos no sertão nordestino e hoje é uma das vozes mais ouvidas no universo espiritualista nacional. Em sua trajetória como escritor e palestrante ressaltam-se duas características principais: a análise de vanguarda em relação a assuntos históricos e sagrados – notadamente vinculados aos aliens – e a prudência que demonstra no campo das conclusões, sem apego aos conceitos que defende. Ele próprio solicita cautela a quem o lê ou escuta, seja nas palestras ou nos dois programas de rádio que veicula semanalmente (nos domingos à noite): o Projeto Orbum, da Rádio Boa Nova [www.radioboanova.com.br], de São Paulo (SP), e Conversas sobre a Espiritualidade, da Rádio Poty, de Natal (RN).
Seu mais recente livro, Fator Extraterrestre [Editora Zian, 2004], foi lançado na última Bienal, passando imediatamente a ocupar lugar de destaque na vasta quantidade de obras que tratam do tema ufológico e seus variados aspectos. Seja pela singularidade dos assuntos ali enfocados, ou mesmo pelo modo de exposição das idéias, o que facilita o entendimento de problemas complexos ainda carentes de respostas objetivas. O livro tem a capacidade de conduzir o leitor pelos intricados mistérios que unem o ser humano ao contexto ufológico. Nele são apresentadas questões sobre a origem da vida, o entendimento do chamado “elo perdido” da gênese humana, o isolamento cósmico da Terra, as abduções, os obstáculos psicológicos e de outros naipes que impedem o estudo transparente da temática extraterrena. Fator Extraterrestre também aborda a necessidade da espécie humana de empreender esforços para conhecer e colonizar outros planetas, vislumbres quanto ao futuro da Terra e outros assuntos ligados aos alienígenas, que sempre marcaram e continuarão a influenciar a nossa existência. Rogério de Almeida Freitas tem um perfil profissional que em nada se assemelha às atividades literárias que desenvolve como Jan Val Ellam.
Formado em administração de empresas, ele acumula hoje os cargos de diretor executivo da Federação do Comércio do Rio Grande do Norte e de diretor de um grupo português que tem quatro empreendimentos turísticos no litoral norte daquele Estado. Segundo suas próprias definições, foi por “covardia moral, numa tentativa de preservar minha então profissão de gerente de banco, que passei a publicar os livros com o pseudônimo”. Conforme refletia à época em que se lançou no universo literário, “caso esses livros possam ser úteis a alguém, pouco importará o nome do autor terreno”. Freitas, ou Ellam, esteve no Programa do Jô, em 25 de junho passado, onde mostrou dominar como ninguém o tema que abraça. O apresentador, notoriamente avesso a assuntos como espiritualidade e Ufologia, tratou o entrevistado com especial deferência.
Comecei a publicar meus livros com pseudônimo de Jan Val Ellam porque, pensei, caso eles possam vir a ser úteis a alguém no futuro, pouco importará o nome do autor terreno
O entrevistado aceitou conversar abertamente sobre Ufologia e espiritualidade com a Revista Ufo, que destacou para a missão os consultores Miriam Heder Porto e Reinaldo Prado Mello, sob coordenação do também consultor Nelson Vilhena Granado. “Ellam tem abordado questões filosóficas, históricas e religiosas polêmicas em seus livros. E sempre encontramos em suas elucidações a estranha segurança de quem parece tratar desses complexos temas com um toque de simplicidade e de coerência que sensibilizam”, declarou Granado, falando pelos três. Por onde passa, Ellam esforça-se em ajudar a despertar as pessoas para que reflitam sobre a temática ufológica despida de apegos a conceitos e crenças. Para ele, na Ufologia não cabe crença e nem egocentrismo de opiniões pessoais porque, “sejam quais forem as cores do fenômeno ufológico, elas simplesmente representam a verdade que nos rodeia”.
Ellam, como surgiu esse seu envolvimento com a Ufologia? Comecei a trabalhar desde cedo e, de certa forma, logo adquiri a independência financeira para a realização de pequenos projetos. E estudar os estranhos eventos que ocorriam no interior do meu Estado, o Rio Grande do Norte, foi exatamente o primeiro projeto de vida. Solteiro, com recursos disponíveis e fins de semana para ir a campo estudar aquela estranha fenomenologia, ajudei a fundar o então Centro de Pesquisas e Estudos Ufológicos do Rio Grande do Norte (CEPEU), do qual fui presidente. Como os acontecimentos no Estado tornavam-se crescentes, e as notícias sobre os mesmos logo iam ultrapassando as fronteiras do Estado, fui procurado, na época, pela professora Irene Granchi, junto a quem dei os primeiros passos no estudo sério e criterioso dos acontecimentos ufológicos. Através dela conheci Bob Pratt, com quem cheguei a me dirigir por diversas vezes ao interior do RN, nas duas oportunidades em que ele veio dos Estados Unidos para estudar os tais fenômenos. Por sinal, Bob faz referência a esses estudos de campo em seus livros. Atualmente, faço parte do grupo Atlan, que de certa forma, diante da minha sensibilidade, é uma continuação do que um dia representou o CEPEU.
Por que você acabou dando uma guinada para o esoterismo, vindo até a escrever livros sobre espiritualidade? Na verdade, a palavra esoterismo não se enquadra nos fatos que me envolveram e que ainda me envolvem. Mas que seja! Foi um processo independente da minha vontade, na medida em que sempre pautei meus estudos e pesquisas pela chamada metodologia clássica. A bem da verdade, devo dizer que não gostava quando via a Ufologia ser tratada com cores místicas, aquilo que hoje é chamado de canalização. Pensava, como ainda penso, que a fenomenologia ufológica já é por demais estranha aos padrões humanos para que um outro fenômeno – também estranho à verificação humana – fosse à ela associado para explicá-la, como é o caso da canalização. Estava além da condição humana controlar um ou outro processo, o que me limitava às possíveis conclusões quanto aos fatos ao meu redor. Para minha surpresa, uma série de eventos que transcendiam o padrão comum da ótica humana começou a ocorrer comigo, o que me levou a me isolar cada vez mais, na tentativa de compreender o que estava ocorrendo. Acho que só não enlouqueci porque tenho uma dose suficiente de bom humor para levar adiante os fatos da vida.
O que sobrou em sua vida da experiência que você teve com a chamada Ufologia Clássica? Uma única certeza: a de que realmente um estranho processo estava acontecendo, só que produzido por um tipo de inteligência que não me é dado avaliar. Somente isso. Qualquer conclusão além desta era, para mim, uma temeridade ser afirmada. Talvez por isso comecei a ser envolto por uma série de eventos que me levou a escrever – como ainda estou fazendo – uma quantidade de livros que impressiona a mim mesmo. Ainda assim, jamais pretendi ou mesmo me permiti afirmar que as teses e os possíveis esclarecimentos que modestamente tento apresentar nos livros que me foram encomendados – por essas inteligências que se dizem não-terrenas – sejam verdade. Não tenho como provar a mim mesmo, nem muito menos a ninguém, que o teor do que escrevo está correto. Devido a isso, seja nos livros que escrevo ou mesmo em palestras, sempre procuro deixar absolutamente claro a pequenez que me marca diante das “notícias” que chegam através da minha modesta capacidade de entendimento.
Você também tem uma expressiva audiência entre os segmentos espíritas e espiritualistas brasileiros, não? Nos programas de rádio de que participo semanalmente também procuro deixar registrado que é prudente que os ouvintes não tomem como questão de crença o que ali está sendo veiculado – e sim que aquela tentativa de esclarecimento seja tomada apenas como uma oferta de sementes para reflexão. Nada mais. Exerço apenas o direito de apresentar as teses com as quais me envolvi, sem que pretenda convencer a quem quer que seja a respeito de coisa alguma. Assim procedo porque julgo não ser apropriado falar sobre o que desconhecemos – em termos de experiência pessoal – ou dar por sabido aquilo que ainda precisamos descobrir. Agir dessa forma é expressar uma crença e não tentar formular teses quanto ao entendimento da realidade maior que nos envolve. E o “todo da Ufologia”, como costumo dizer, não cabe em nenhuma crença e muito menos no egocentrismo das opiniões pessoais. Porque, sejam quais forem as cores do fenômeno ufológico, elas simplesmente representam a verdade que nos rodeia. É questão a ser descortinada, descoberta, jamais acreditada, sob pena de continuarmos a estimular o processo de “cretinização” da humanidade que está em curso, com o perdão da palavra.
E como você observa o desenvolvimento da Ufologia na atualidade, em especial no Brasil? Acho a Ufologia ainda um campo fértil para a pesquisa, para o estudo e semeadura de teses e de postulados, mas sem que haja a apressada perspectiva de se colher frutos cujo sabor seja o do que consideramos como sendo verdade. Por enquanto, creio ser tempo ainda de se colher a casuística apresentada pelos fatos, estudá-la de forma criteriosa, enquanto cresce a perspectiva de análise em relação às teses que possam ser apresentadas, sejam elas quais forem. Vamos dar ao fenômeno um pouco mais de tempo e talvez o aspecto dos fatos mude – não porque o mereçamos enquanto comunidade planetária, mas sim porque os indicativos de que o processo ufológico que envolve esta humanidade, há tanto tempo, levam alguns estudiosos a admitir a hipótese de que o mesmo, em suas linhas gerais, parece estar sendo financiado pela insistência amorosa de alguém especial que reside além das fronteiras terrestres.
Creio ainda ser tempo de colher a casuística ufológica e estudá-la de forma criteriosa. Vamos dar ao Fenômeno UFO um pouco mais de tempo e talvez o aspecto dos fatos mude. Há indicações de que o processo que envolve a humanidade parece estar sendo financiado pela insistência amorosa de alguém especial que reside além das fronteiras terrestres
Como assim? A quem você está se referindo quando fala em “financiado pela insistência amorosa”? A Jesus. Refiro-me a ele e a outros. Talvez estejamos ofendendo de tal maneira a dignidade da vida, além de estarmos estragando este belo berço planetário que sustenta a estupidez existencial que, partindo da premissa de que realmente os ETs existem e já estão por aqui desde há muito, sejam eles quem forem, seguramente devem ter uma certa reticência em nos contatar. Afinal, vivemos como monstros, matando-nos uns aos outros sob as mais enlouquecidas argumentações, abrindo criancinhas vivas para retirar os seus pulmões e vendê-los no mercado negro de órgãos – o que certamente deve espantar a quem quer que nos observe de fora. O interessante é que muita gente na Terra tem medo dos ETs quando, na verdade, devem ser eles que “morrem de medo” da espécie biológica que domina nosso planeta. Muitos aliens já vieram à Terra e deram as suas vidas com o objetivo maior de, mais que ensinar, testemunhar o único modo que o ser terráqueo tem à sua disposição para evoluir, que é o de construir o comportamento elegante – sob a perspectiva das leis e dos costumes siderais – que marca a conduta de qualquer cidadão cósmico minimamente evoluído. Nesse ponto eu falo da postura amorosa para com o próximo e para com tudo mais que o envolve.
Mas o que tem a ver o sentimento de amor e a memória de Jesus com o assunto Ufologia? Infelizmente, o tema amor é encarado como algo utópico, desfigurado pela hipocrisia do proselitismo estéril do sentimento religioso pouco evoluído e, portanto, inadequado para a prática por parte de seres que entronizam a esperteza e a violência como a tônica de suas vidas – apesar de falarem sobre o amor em todas as suas formas de cultos. Sob essa perspectiva, da mesma maneira que os humanos violentos deste mundo estão presos nas cadeias, pois a sociedade não suporta conviver com eles, assim os seres violentos dessa parte do Cosmos parecem estar isolados nesse belo planeta – até que expressiva parte das criaturas que ali residem venha a se habilitar na arte de expressar ternura pelo seu semelhante, permitindo, assim, que a Terra deixe de ser um mundo isolado e passe a conviver com as demais humanidades celestes. Isso está prestes a ocorrer, de acordo com os postulados que defendo no livro Reintegração Cósmica [Editora Zian, 2003]. A Ufologia é o elo que nos prende ao futuro. Seja ele qual for, apenas um pouco mais de tempo transcorrido e a Terra deixará de ser um mundo isolado, voltando a conviver com algumas poucas equipes de “irmãos de fora”, que já nos preparam para a posteridade. Isso, repito, conforme as notícias que tenho recebido ao longo dos anos. Posso, contudo, estar equivocado quanto ao entendimento dos fatos e das mensagens que julgo receber.
Abduções e implantes, mortes e traumas psicológicos de abduzidos, dentre outros, são aspectos inquietantes da fenomenologia ufológica. Como você analisa esses fatos? Pelo que é dito através das mensagens que recebo, como também pelo que podemos deduzir, parece existir de tudo no Cosmos. E o livre-arbítrio, seja o de um ser ou mesmo de uma coletividade, parece ser a característica comum de todos os eventos que ocorrem nas muitas moradas do atualmente chamado multi-universo ou multiverso, seja em que nível existencial for. Sob essa perspectiva, na medida em que os seres que vivem na Terra já se comportam como sendo os monstros dessa parte da galáxia, que direitos poderíamos esperar de uma possível justiça celestial? E ainda, se o nosso planeta não forma uma unidade diante de quem nos observa de fora, sendo um mundo desgarrado e entregue à própria sorte, qual o problema se alguns “piratas siderais” resolvem praticar alguma forma de extrativismo, seja mineral, vegetal ou mesmo animal?
Você acha que somos uma espécie de cobaias desses seres que chama de piratas siderais? Veja, da mesma forma que a nossa espécie, o Homo sapiens, utiliza ratos e macacos em experimentos laboratoriais – com a melhor das intenções – para o bem e progresso da raça humana, por que certas raças de ETs não tomariam um ou outro membro de nossa espécie para realizar experimentos, sem que, com isso, exista alguma maldade por parte deles? Afinal, aos olhos de quem nos observa de fora, nós somos o quê, se não um bando de animais matando uns aos outros? Creio, portanto, que essas ocorrências fazem parte de uma etapa que já está acabando – se é que já não terminou de vez em 1989 – e o que ainda estamos observando parece ser apenas a repercussão de eventos que ocorreram em grande número até um certo momento do século que findou.
Você não fala muito de Ufologia Clássica em seus livros, mas de outros temas ligados à ela. Quais os principais assuntos que enfoca neles? A tese exposta nas perguntas anteriores é uma das questões analisadas, por exemplo, no meu último livro, Fator Extraterrestre. Ou seja, a tese de que a Terra está a ponto de deixar de ser um mundo isolado, habitado por seres que se encontram em débito para com as leis que legislam a vida cósmica, e que por isso, passível de ter no seu cotidiano a prática de loucuras de todos os naipes, sejam elas praticadas pelos que aqui vivem como também por alguns que chegam de fora. Além desse, são inúmeros os temas apresentados nos 10 livros que já publiquei, entre umas duas centenas que escrevi e que aguardam publicação. Isso não me permite melhor abordar tais assuntos com a profundidade que gostaria nessa oportunidade. Diria, porém, que a reintegração da Terra ao convívio com as demais civilizações dessa parte da galáxia, a análise do passado sob outra perspectiva que não a tradicional e o estudo dos preceitos da revelação espiritual, que já surgiu através da codificação espírita e daqueles referentes a uma revelação cósmica ainda por vir, são temas cruciais que abordo em minhas obras. Isso, além, é claro, de falar da figura de Jesus, sua vida e os múltiplos painéis – terrenos, extraterrenos e espirituais – que o cercaram, assim como do amor como atitude natural do exercício pleno de uma cidadania cósmica e o vislumbre de um possível futuro que nos espera. Esses assuntos formam, enfim, uma espécie de pano de fundo apresentado em meus livros.
Na sua opinião, qual a intenção dos extraterrenos pouco evoluídos ao visitarem a Terra? E a dos evoluídos? Devemos ter muito cuidado na utilização do vocabulário terrestre quando estamos nos exprimindo em relação aos aspectos extraterrenos que nos envolvem já que, seguramente, existem níveis, conceitos e situações completamente distintas em relação àquelas que estamos acostumados a observar através da ótica terrena. Porém, tudo o que temos para nos expressar são as palavras, o que nos remete a um risco calculado de expressão quanto a assuntos desse naipe. Mas, tentando formular uma resposta razoável sobre essa questão, diria que o que pode ser chamado de “pouco evoluídos” refere-se exatamente a seres cósmicos cujo psiquismo existencial ainda não está adequadamente desperto para o exercício pleno da cidadania cósmica – ou seja, seres que ainda se comportam como indivíduos pouco elegantes, sob a perspectiva do ideal fraterno, que parece ser o grande farol ideológico a iluminar a caminhada ascensional das muitas famílias siderais. Esses são seres que, mesmo sem maldade, ainda tentam a dominação produzindo as guerras e os conflitos, praticam o extrativismo inconseqüente que se assemelha ao conceito conhecido na Terra como pirataria. Seriam, enfim, seres que, mesmo podendo dispor de um acentuado nível tecnológico, ainda não descortinaram o aspecto espiritual e os seus correspondentes valores no campo da ética cósmica, que regem a evolução de qualquer cidadão do universo.
E dos seres evoluídos? Bem, aqueles a quem chamamos de evoluídos parecem compor uma espécie de organização sideral, que enxerga em qualquer ser cósmico um irmão da grande família universal, atuando sempre dentro dos padrões do ideal de fraternidade. São seres muito desenvolvidos, elegantes, amorosos, mas estão longe de serem deuses ou qualquer coisa que a isso se assemelhe. Afinal, como dizia Jesus: “Perfeito, somente o Pai”.
Causa-lhe desconforto ser um ufólogo pouco convencional? E o fato de ser visto como anunciador ou profeta da chegada de Cristo que, conforme as idéias apresentadas nos seus livros, parece ser o primeiro contato oficial com seres de outros planetas? Sim, o desconforto é inevitável. Mais expressivo ainda ele se torna na medida em que percebo que sou um homem comum, cheio de fragilidades, sem enxergar em mim mesmo estatura intelectual e moral suficiente que me permita ser utilizado por seres de fora nesse processo. Mas, fazer o quê? Pelo menos tenho o consolo, apesar de a ninguém poder ou desejar provar coisa alguma, de não precisar acreditar em espíritos e em ETs. Simplesmente sei que eles existem, o que é muito diferente. Tenho motivos claros e objetivos para assim me expressar. No meu caso, o que não consigo aferir e controlar é se o que me é revelado está correto ou se está sendo convenientemente bem compreendido de minha parte.
Você não considera muito conhecimento para transmitir a terceiros? O meu problema é esse. Ele refere-se ao fato de, por saber que toda a água do mar não cabe em um simples copo, deduzo obviamente que a minha condição humana não pode ter a pretensão de estar compreendendo elucidações que a extrapolam por completo. Mais que isso, quando vou tentar registrar o que julguei compreender do que me foi repassado, aí é que verifico quanto eu erro na tarefa de registrar, através de escritos, o que imaginei ter entendido. Termino irremediavelmente interferindo num processo de informação que, por sério que seja, terá sempre a fragilidade de estar sendo formulado através de um ser humano com imperfeições. Assim, a angústia e o desconforto são inevitáveis. Mas é maior que isso a boa vontade que tenho de servir ao que julgo ser “um processo” muito sério para toda a raça humana.
O uso do nome de Jesus é uma constante para muitos segmentos da sociedade, e nem sempre com boas intenções. Como você vê isso? Afirmar que Jesus um dia volta, sob certo aspecto, é cômodo. O meu dilema é que, a pedido desses seres, estou afirmando nos livros – e por isso peço toda prudência por parte dos leitores – que ele está para voltar ao tempo das nossas vidas. Só que virá agora na sua condição natural de autoridade celestial, acompanhado de seus assessores – que eu chamo de hostes angelicais – para conduzir o momento em que a Terra lentamente reintegrará a convivência com as demais famílias siderais, conforme ele próprio deixou anunciado quando aqui esteve. Não é questão para se acreditar ou não, mas aguardar os fatos enquanto se leva a vida adiante, independente de tudo o mais. Afinal, navegar é preciso, sempre.
Ellam, você tem alguma religião? O que me norteia é o conjunto de princípios que elegi como sendo a minha doutrina de vida ou o meu código de conduta diante da vida. Na formação desses princípios, retirei de muitas fontes religiosas as essências filosóficas legadas pelos grandes mestres que viveram na Terra. Minha formação foi católica, já que fui aluno marista – formação pela qual tenho muito carinho, pois ajudou a construir meu caráter. Mais tarde fui envolvido por amigos espirituais e extraterrenos, o que me levou a expandir as fronteiras da minha busca, quando mergulhei nos ensinamentos dos espíritos e nas doutrinas orientais. Assim, vivo conforme me permitem as circunstâncias, sem me arvorar em coisa alguma. Tomando como minhas as palavras de Fernando Pessoa, diria que “não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Se tivesse uma religião, diria que é a mesma de Jesus, de Ibn Arabi, de Gandhi, de Einstein e de tantos outros: a religião do amor.
Como você encara a submissão de pessoas a credos massificantes e totalitários? Creio que o ser cósmico é um viajante da eternidade, independente de onde possa estar vivendo temporariamente. Assim, sendo herdeiro das eras, a vida na Terra, apesar de passageira e rápida, é também momento de manter a caminhada através da estrada da vida terrena. Essa estrada tem muitas fontes com água cristalina, para matar a sede espiritual do caminhante, além de muitas paisagens maravilhosas e singulares que se renovam a cada curva da jornada. Quem se detém em uma dessas fontes e ali permanece, sentado ao seu redor, não está fazendo nada de errado, apenas deixa de caminhar e assim de observar tantas belas paisagens e outras fontes que ali estão para ajudar os que caminham sempre. Considero as religiões essas fontes ao longo da estrada da vida. Estacionar em uma delas, pelo menos da forma como atualmente são professadas, escravizando o fiel ao estrito cumprimento das obrigações de culto daquela religião, talvez não seja a atitude mais produtiva daqui por diante. Por isso procuro andar sempre, bebendo de todas fontes ali dispostas pela generosidade da providência, sendo eternamente grato por poder observar tantas paisagens e firmando, a cada passo, o meu ideal de vida no comportamento amoroso.
Você faz grande divulgação do Projeto Orbum. Como ele surgiu e a que se propõe? O Projeto Orbum é apenas um convite à reflexão sobre um tema adjacente à questão ufológica e que tem tudo a ver com o futuro da Terra, que é a questão da cidadania planetária. Seu lema é: “Filie-se espiritualmente a essa idéia”. Ou seja, filie-se à iniciativa de construir na Terra o ideal de fraternidade entre os que aqui vivem, independente das fronteiras da geopolítica do mundo, como também daquelas de caráter religioso, racial etc. Nada mais. Ao longo dos anos e, em especial, através do programa Projeto Orbum, que temos semanalmente na Rádio Boa Nova, de São Paulo, de vez em quando recebemos perguntas de alguns ouvintes questionando o que é preciso para fazer parte, se é preciso mandar retrato para carteirinha, pagar anuidade etc. O projeto não é nada disso. É apenas um convite para que vejamos o amor ao próximo como o tempero político das nossas vidas. Qualquer extraterrestre que nos vê lá de fora enxerga apenas uma família vivendo na Terra. O projeto convida a que reflitamos sobre esse assunto.
Na sua opinião, alguns governos têm conhecimento da presença dos ETs visitando a Terra? E se sabem, por que não divulgam? Esse é um assunto complexo. Não creio que os governos saibam sobre a existência dos ETs, pois isso modificaria o contexto da assertiva. Para mim, e estou seguro, há grupos de elite que compõem alguns governos da Terra que sabem sobre os ETs. Assim fica melhor colocado. Precisamos entender que os presidentes das nações estão reféns de certos processos econômicos em curso desde o chamado Consenso de Washington. São as macroforças que comandam o que hoje ocorre no mundo, e não os governos nacionais. Estes são eleitos exatamente pela influência daquelas. Assim, as elites que se perpetuam em alguns governos sabem a respeito dos ETs, sem dúvidas. Mas não creio, contudo, que certos presidentes que mal conseguem dar conta das próprias idéias consigam lidar com um assunto desse porte. Nesse contexto, infelizmente, o continente americano, tanto o do norte como do sul, parece ser exemplo emblemático do que ora afirmo. Na verdade, mais que uma opinião, é uma constatação diante das evidências factuais.
A ciência acadêmica está preparada para o contato com extraterrestres? E as elites religiosas? E o homem comum? Penso que há dois componentes fundamentais para o contato com seres evoluídos de outros orbes: lucidez intelectual e simplicidade no campo das emoções. O chamado conhecimento acadêmico do mundo e as elites religiosas me parecem estar distante de possuírem ou de praticarem as duas coisas. Entretanto, o homem comum parece ter uma certa dose de simplicidade. Se observarmos bem, o que estamos aqui denominando como sendo o “homem comum” forma a maioria da população da Terra. E mais interessante ainda é perceber que essa maioria tende ao bem. Pena que a mídia não dê notícias desse aspecto da raça humana. Afinal, o que se vende é a desgraça sensacionalizada, daí a sensação terrível de que o planeta vive um caos, o que na realidade não é bem assim.
Você já teve algum contato direto com seres extraterrestres ou sua convivência com aqueles que você chama de mentores cósmicos se dá apenas no campo mediúnico? Como disse anteriormente, não costumo crer nisso ou naquilo. No caso dos extraterrestres, afirmei que sei da existência dos mesmos. A conjugação do verbo saber, nesse caso, implica em conhecimento direto, ou seja, vivência direta – e não em experiência mediúnica ou em postura de crença. Comecei a escrever em 1990, movido por aspectos mediúnicos, o que até hoje faço. E motivado por circunstâncias e uma grande dose de hesitação, comecei a publicar os livros em 1996. Por covardia moral e atendendo a outras obrigações da vida, notadamente as do campo profissional, publiquei os livros com um pseudônimo, pois pretendia o anonimato. Pensava que, se o que estou escrevendo servir para alguém, pouco importará o nome do autor. Meu plano, porém, não deu certo. Tive que assumir. Para meu conforto, desde 1999, parei de ser alguém angustiado quanto à questão da existência ou não dos ETs nas vizinhanças da Terra. A partir dos fatos, passei a ter certeza da existência de tais seres. Resta apenas a dúvida se o que me está sendo informado tem sido devidamente compreendido por mim. Sei que, com as minhas imperfeições, estrago muito o que procuro escrever. Torço firmemente para que pelo menos as idéias centrais dos livros estejam corretas. Caso um dia as perceba equivocadas, serei o primeiro a dar notícias disso e a pedir desculpas aos leitores. Até lá, é tudo o que posso fazer. Por enquanto, é o que posso dizer.
Engana-se quem pensa que Jesus, os ETs ou seja lá quem for, virá fazer pelo ser humano terrestre o que ele precisa realizar com o seu próprio esforço evolutivo. Esses seres apenas ajudarão até o limite do livre-arbítrio e do mérito moral dos que vivem na Terra. Infelizmente, ainda não sabemos conviver com seres mais evoluídos, já que temos a estranha tendência a tratá-los como semideuses
Você anuncia em seus livros que estamos vivendo os últimos tempos antes de uma certa hora oficial, na qual haveria o retorno do Cristo, presidindo uma comitiva cósmica que visitaria a Terra restabelecendo a convivência do nosso planeta com outras civilizações. Você chama isso de reintegração cósmica, mas quando ela se dará? Pelo que tenho entendido das informações recebidas e dos fatos em curso, isso se dará para a presente geração que se encontra vivendo na Terra – ou seja, a qualquer momento. É aguardar para ver. Até lá, que tal treinar os nossos espíritos na arte de expressar ternura uns pelos outros, independente de tudo mais?
E sobre o futuro, o que devemos esperar? Enganam-se os que pensam que Jesus, os extraterrestres ou seja lá quem for, virá fazer pelo ser humano terrestre o que ele precisa realizar com o seu próprio esforço evolutivo. Esses seres apenas ajudarão até o limite do livre-arbítrio e do mérito moral dos que vivem na Terra. Infelizmente, como ainda não aprendemos a viver uns com os outros, é notório que também não sabemos conviver com seres mais evoluídos, já que temos a estranhíssima tendência a tratar qualquer pessoa que para nós possa representar algo mais como uma espécie de semideus. Imaginemos o que não poderá ser feito em relação a esses seres e, em especial, em relação à figura daquele a quem conhecemos como Jesus, que já foi transformado em Deus desde o Concílio de Nicéia, no século 4. E o pior: acostumamo-nos a transferir para esses seres responsabilidades que nos são próprias. Assim, creio que os primeiros contatos com seres de outros mundos serão rápidos, porém suficientes para que não existam dúvidas. Com o suceder das gerações, aí sim, esses contatos se repetirão suavemente, sem atropelos, quando os tempos permitirem. Décadas adiante no tempo atual, a Terra finalmente estará reintegrada ao circuito da convivência com as demais civilizações dessa parte da galáxia. Até lá, muito trabalho espera por todos nós. Mãos à obra!
O fator extraterrestre
Uma raça planetária que sequer sabe ao certo como surgiu, de onde veio, qual o significado da vida ou mesmo o que a espera, deveria ter um mínimo de prudência ao analisar questões conceituais no campo da filosofia existencial. Entretanto, movidos por algum tipo de orgulho que nos impede de analisar com melhores critérios o universo que nos cerca, muitos de nós costumam afirmar, com toda pretensão, que somos o centro da criação. Esse é o conceito de antropocentrismo, uma herança direta da cultura grega na época em que no seio daquele povo surgia, pela primeira vez na história ocidental, a tomada de consciência do homem sobre si mesmo. Também acontecia, simultaneamente, a busca de explicações racionais sobre a realidade que envolvia a humanidade. Foi o início da ciência, da forma como a conhecemos hoje.
Contudo, lá estava uma idéia que terminou contaminando de orgulho a lenta evolução do pensamento na busca de entender a função do ser humano diante da vida. Em vez de ajudar a compreender essa função, o ideal antropocêntrico foi transformado em pedra angular de uma formulação que, apesar de equivocada, tornou-se fundamental para o progresso das idéias, influenciando as áreas do conhecimento – notadamente as criações artísticas e os postulados religiosos. Como tudo que se situa na tênue fronteira entre filosofia e religião, o antropocêntrico passou a ser uma crença imposta pelos mecanismos dominantes das elites religiosas de diversas épocas da nossa história. E pior: tinha que ser aceita, sob pena de, quem a ela não se submetesse, sofreria violências de toda ordem. É a crença de que o homem é uma espécie gerada à imagem e semelhança do Criador – sem que, contudo, tenhamos compreensão do real significado desse conceito.
Desprovida de qualquer lógica, a arrogância intelectual do ser humano terrestre continuou a produzir verdadeiras pérolas de distorção da inteligência, especialmente ao afirmar que em si mesmo está o pretensioso papel de analisar o que está situado um pouco mais além de seu modesto horizonte de percepção. Assim agia o homem de então, mesmo sem poder traçar conclusões absolutas diante do que lhe era possível perceber – fosse através de dogmas ou de postulados científicos. Conceitos dogmáticos sobre anjos e inusitadas carruagens voadoras, deuses e semideuses, pecado, paraíso e inferno, e tudo mais que envolvia o dilema terreno foram sendo expostos como fatores de crença fanática e, portanto, assimilados como pretensas verdades ao longo das páginas da nossa história.
Esbarrando no limite do que não podia compreender, o ser humano terrestre criou todas a suas “verdades” e infelizes aqueles que com elas não se alinhassem. Dessa maneira, adquirimos o estranho hábito de dar como certo aquilo que somente podemos supor. Passamos a emitir conceitos que nos permitissem julgar a realidade à nossa volta e, nesse processo, traçamos um limite conceitual ao que era terrestre e ao que seria considerado extraterrestre – qualquer coisa ou entidade que não se encontrasse na Terra. É assim o próprio conceito de Deus, que teria de ser extraterreno, como também qualquer outro que envolva a personalidade de alguém que não esteja vivendo em nosso planeta.
Nessa categoria também estariam os humanos que algum dia habitaram a Terra e que, porventura, ainda estão “vivos” noutras condições existenciais – como, por exemplo, Jesus. Sua personalidade deveria ser esclarecida como uma individualidade cósmica que está além da nossa concepção de existência e fora do que se poderia ser classificada como terrestre. Será que não deveríamos nos referir à sua excelsa personalidade como um ser extraterrestre pelo simples fato dele não viver no planeta? Acostumamo-nos a ridicularizar os aspectos extraterrestres que nos envolvem na vida cotidiana, como se fossem descartáveis ou insignificantes diante do império das “verdades” conceituais impostas pelo orgulho intelectual das elites que nos governam. Dessa forma, o fator extraterrestre em nossa existência ficou sempre à margem dos estudos ditos sérios, já que foi distorcido pela própria ótica de interpretar os fatos pelos pobres modelos pré-estabelecidos. Esses bloqueios até hoje marcam a compreensão que temos sobre a realidade ao nosso redor.
Limites Terrestres — Assim, parece termos perdido aquilo que um dia nos uniu a um passado que, por ter sido sempre observado através da ótica viciada do presente, jamais foi verdadeiramente analisado. Nem muito menos foi convenientemente medida a influência dos fatores extraterrestres na questão do aparecimento e da evolução da humanidade em nosso planeta. Por conseguinte, tudo que era de fora e que se situasse além do limite “terrestre” foi tratado como crença religiosa – e não como estudo científico. O tema extraterrestre virou, para muitos, sinônimo de loucura, alucinação etc, quando era e é o fator mais importante de nossas vidas. Sim, pois representa 99,999% de tudo que existe, sendo a Terra e tudo o que nela há apenas a modesta complementação matemática da totalidade – o restante 0,001%.
Hoje já é sabido pela ciência que existem mais estrelas e planetas no universo – somente naquele que é atualmente “conhecido” pelo homem – do que todos os grãos de areia da Terra. O interessante é que, mesmo representando tão pouco, devido à sua modestíssima participação no total, a apreciada ótica terrestre tem a pretensão descabida de – mesmo sem ainda conhecer o suficiente para poder algo concluir sobre as questões extraterrestres –, transformar em coisas sem importância o que de mais importante existe. Conseguimos praticar, através dessa postura, o maior atentado que poderíamos causar ao nosso entendimento e hoje, orgulhosamente, tomamos o menor pelo maior, o acessório pelo essencial. Enfim, entronizamos a Terra como foco criador em detrimento da própria obra da criação universal.
O Fator Extraterrestre [Zian Editora, 2004] é um livro despretensioso que deseja apenas abordar diversos aspectos dessa distorção da visão universal das coisas e dos seres, produzida pelas nossas potencialidades perceptivas e adubadas por nosso orgulho doentio. Pode ser lido independente de qualquer leitura prévia. Sem ambicionar estabelecer verdades, desejamos ofertar, através da obra, somente alguns padrões que possam estimular o surgimento de uma reflexão sadia sobre a questão ou o fator extraterrestre, livre das inclinações impostas pelas óticas desvirtuadas que dominaram, durante tantos séculos, a penosa evolução da família planetária terrestre.