Tudo que envolva a União Soviética é freqüentemente associado ao misterioso ou ao secreto. Existem milhares de aspectos do cotidiano, em relação ao que é discutido em todo o globo terrestre, que nunca aparecem nesse país. Um deles é o assunto UFO que, na URSS, é matéria sobre a qual não possuímos senão pouquíssimo conhecimento. Entretanto, conseguimos recentemente uma cópia inédita de um relatório soviético lançando um pouco de luz sobre o fenômeno. A divulgação deste documento a todo o mundo deverá fazer com que se mude o pensamento sobre a posição e atitude soviéticas quanto ao fenômeno que, nos demais países do planeta, já é visto com alguma normalidade. O relatório fala sobre o interesse difundido entre os eruditos e o público em geral sobre os mais diversos aspectos da manifestação extraterrestre em nosso meio, e descreve quase 200 avistamentos de UFOs no território soviético. Além disso, o documento revela como se deram as inúmeras tentativas de formação de grupos de estudos e de projetos de pesquisa sobre o fenômeno – que, por duas vezes, foram impedidas pelo governo do país.
Relato Surpreendente – O texto do relatório, originalmente publicado em russo, tomou a forma de uma tradução inglesa de 156 páginas em seguida à sua publicação na URSS. Mas, por incrível que pareça, o relatório não contém nenhuma menção de classificação de segurança ou sigilo, além de que não traz como procedência nenhuma agência ou órgão governamental (embora conheçamos o fato de que todas as organizações soviéticas são prolongamentos do governo). O autor desse documento, por outro lado, e o conhecidíssimo e respeitado professor Felix Zigel, do Instituto de Aviação Ordzhonikidze, situado em Moscou.
Apesar de não haver nenhum segredo sobre o relatório e sua publicação, uma fonte soviética confiável determinou à organizações internacionais de pesquisas – entre elas e diretamente a norte-americana NICAP (National Investigations Committee on Aerial Phenomena) – a manter alguma discrição quanto à sua forma de aquisição, tenha ela sido diretamente soviética ou indireta, através de meios “oficiosos”. Entretanto, podemos dizer que nenhuma agência do governo norte-americano, onde o documento apareceu primeiramente após sua inédita publicação em Moscou, ajudou as entidades ufológicas a obter cópias dele – nem mesmo a NICAP recebeu auxilio governamental para obtê-lo.
As observações ufológicas descritas no documento soviético parecerão até mesmo conhecidas dos ufólogos ocidentais, pois se deram em circunstâncias muito semelhantes às ocorridas no resto do mundo, nos últimos 30 anos. Todas as observações podem se enquadrar nas habituais categorias de contatos conhecidas, mas seria falso afirmar que todas são objeto de investigações na URSS. Entretanto, que editaram o relatório não fizeram nenhuma menção aos traços físicos deixados por UFOs em seu país. Por outro lado, na URSS nenhuma observação desse tipo é apresentada, assim como ocorrências mais profundas de 3º, 4º e 5º graus, embora saibamos que, com certeza, tais níveis de interação entre alienígenas e terrestres também ocorram lá.
Poderíamos tentar justificar isso examinando a natureza do referido relatório. No hemisfério ocidental, as observações são abertamente comentadas por todo o tipo de imprensa, sem censura. Mas, do outro lado do mundo, os soviéticos reconhecem que as autoridades qualificam seu relatório como “censurado”, com observações grosseiras, inclusive, assim como o próprio assunto UFO é censurado. É natural, portanto, que se trabalhe com hipóteses mais coerentes dentro da Ufologia Soviética, para se justificar o risco que se corre lidando com esse tipo de assunto. Assim, e compreensível que o autor russo tenha possivelmente rejeitado todas as informações discutíveis ou controvertidas, não incluindo-as em seu trabalho.
UFOs Crescentes – O relatório contém 88 avistamentos envolvendo observações de objetos parecidos com a Lua. Em algumas vezes, as descrições das pontas e extremidades dos UFOs são iguais; em outras ocasiões, mostram-se assimétricas. Igualmente, muitas descrições indicam que a direção de vôo do objeto e definida, assim como detalhes de sua estrutura e fuselagem. Em algumas observações, foram notadas descargas elétricas brilhantes sendo emitidas das pontas dos objetos presenciados em diversas localidades da URSS. Há, também, muitos casos de vôos em formação de UFOs, normalmente descritos como tendo forma de “crescentes”. Descreveremos, a seguir, alguns dos principais relatos do documento soviético:
• Rostov Oblat – 2 de agosto de 1967-21:30 h: Um objeto desloca-se no céu de oeste para leste; sua luminosidade era igual a de uma meia-lua brilhante, parecendo ter a mesma espessura. Seu contorno era definido, mas sua luminosidade era bem maior nas extremidades, deforma “bojuda”. De repente, uma luz amarelada sai de uma das pontas do objeto, que parecia em formação com outro corpo aerodinâmico e fuselado, de cor preta. Desta vez, uma nova luz, uma estrela agora branca e com brilho de “magnitude 1”, apareceu e ficou à uma pequena distância do objeto inicial (Editor: Magnitude é uma escala para se medir intensidade de fontes luminosas).
A “semi-lua” e a “estrela” possuíam tal coordenação de movimentos que pareciam estreitamente ligadas. Os objetos estavam a cerca dc 30 a 40 graus sobre a linha do horizonte e, durante um minuto e meio de observação, percorreram uma distância de um terço do arco celeste. Nenhum ruído se ouviu deles. Cinco pessoas foram testemunhas deste fato – e foram interrogadas por um pesquisador separadamente. Todas as testemunhas confirmaram cada um dos detalhes descritos, exceto uma outra mais distante que, alem do fenômeno todo, viu ainda mais “duas estrelas brilhantes” nas proximidades.
• Samakovo – 8 de agosto de 1967 – 21:45 h: Quatro membros da Sociedade Geográfica da Academia de Ciências da URSS viram uma crescente com a face convexa voltada para frente deslocar-se no céu, a uma altura aproximada de 50 graus da linha do horizonte. A espessura do objeto era equivalente à quinta parte de seu diâmetro e a distância entre suas extremidades foi estimada em 15 minutos de arco. No princípio, os geógrafos perceberam apenas esse objeto mas, a seguir, uma luminosidade ocupou a parte restante do círculo (Editor: A parte \’faltante\’ da meia-lua) para ser, pouco depois, substituída por uma massa de chamas informe, onde se destacavam rastros avermelhados. Num espaço de dois a três segundos, o objeto diminuiu sua envergadura luminosa para formar apenas um ponto luminoso, como “um televisor que se acaba de desligar”, segundo as testemunhas.
• Halchik – 8 de agosto
de 1967 – 20:38 h: Uma esfera incandescente – “do tamanho de uma melancia grande”, segundo descreveu uma das testemunhas – se desloca de oeste para leste perto da linha do horizonte. “Eu observei quase todos os lançamentos de satélites de meu país, incluindo os de \’caudas luminescentes vermelhas \’ e estou habituado a este tipo de coisa, mas nunca me foi dado presenciar um fenômeno igual a este”, declarou sensibilizado outra testemunha para comparar o evento que acabara de presenciar.
• Rio Don, Rostov – Outubro de 1967-22:00 h: Um coronel reformado do exército soviético viu um estranho objeto em chamas, de face côncava para frente, deslocar-se no céu. As chamas e a luminosidade do mesmo tornavam seu contorno impreciso, principalmente cm sua parte superior. Uma outra luz pequena, semelhante à uma estrela, o precedia lateralmente. Os moradores do complexo dc apartamentos situado próximo ao Rio Don, na província de Rostov e onde residia o coronel, também viram o fenômeno nada menos do que cinco vezes entre os meses de agosto e novembro de 1967 – Fenômenos semelhantes foram declarados comuns naquela região do país.
• Kazan – 7 de novembro de 1967 – 17:15 h: Um astrônomo do Observatório Estatal de Kazan, num ato incomum para a compreensão ocidental – mas provavelmente comum num país onde o governo está em todas as situações e níveis de organização da sociedade – foi chamado para ser “testemunha oficial” da observação de um UFO em sua cidade. Embora incrédulo, cedeu em acompanhar o desenrolar dos fatos e compareceu ao ponto da observação. “Eram cerca de 17:15 h, quando uma \’meia-lua\’ apareceu na região da estrela Alfa, da Coroa Boreal”, iniciou o texto do relatório do astrônomo. E continuou: “Sua dimensão era de cerca de um quarto da Lua, com as extremidades brilhantes e uma pequena cauda visível”. Na seqüência das observações, o astrônomo notou ainda que o objeto desapareceu subitamente, para reaparecer somente depois de algum tempo.
Naves-Mãe – O surpreendente relatório soviético se refere muito a UFOs com formatos tradicionais, entre eles os discóides, normalmente lenticulares (em forma de lentilhas ou de lentes), as esferas, que em todo o mundo são recordistas em estatísticas ufológicas, e os famosos porém obscuros “charutos”, considerados por muitos ufólogos como as verdadeiras “naves-mãe” – aqueles aparelhos enormes que teriam a função de realizar as longas viagens interestelares para, uma vez na atmosfera terrestre, liberar objetos menores, geralmente discos que teriam pequena autonomia de vôo. Além disso, há uma corrente internacional de ufólogos que acredita que, sendo as naves-mãe os veículos primários de atuação dos alienígenas, os discos propriamente ditos seriam os veículos secundários e, nessa lógica, as esferas – reconhecidas sondas teleguiadas e não tripuladas – seriam os veículos terciários, podendo até serem exclusivamente liberadas pelos discos.
• Piskovskaya – 2 de setembro de 67 – 23:35: Um físico especializado em eletrônica e três companheiros seus, campistas, notaram uma mancha de névoa luminosa num céu sem nuvens e a 20 graus acima da linha do horizonte. Repentinamente, a mancha se transforma em um objeto com formato de disco e de dimensão igual à da Lua. Em pouco tempo, o UFO precipitasse em sua direção em alta velocidade para, depois de cinco ou seis segundos, transformar-se novamente numa mancha luminosa. Abaixo dessa \’nova\’ mancha, um clarão em forma de cone podia ser observado e bem distinguido. Quase imediatamente, um fulgor indescritível se produziu na mancha e o disco, novamente, reapareceu – mas, desta vez, de cor alaranjada. Alguns segundos mais tarde, o disco se transforma, pela última vez, na mancha original e se desloca para o norte, subindo sem parar na atmosfera por aproximadamente 12 minutos.
• Kazan – 6 de novembro de 1967 – noite: Um casal estava a espera de seu avião, no aeroporto local, quando sua atenção foi atraída para um objeto avermelhado próximo à linha do horizonte e voando em círculos. Quando deu-se sua máxima aproximação das testemunhas, estas puderam ver nitidamente o objeto fazendo evoluções sobre seu próprio eixo. Assemelhava-se muito ao planeta Saturno: era uma esfera rodeada de um anel plano. Uma luz vermelha brilhava num dos hemisférios do objeto, que se afastou rapidamente depois de haver planado durante dez minutos sobre o aeródromo. Em seguida ao desaparecimento do UFO “Saturno”, duas luzes menores e esféricas apareceram repentinamente e na direção inicial da primeira. Estas planaram também por cinco minutos, nas mesmas condições e na proximidade do aeroporto, desaparecendo a uma grande velocidade, tal como no caso do evento anterior .
• Tymenskaya – Março de 1966, 8:00 h: Um geólogo de Moscou, em trabalhos de reconhecimento da região das montanhas Urais, percebeu dois objetos brilhantes quase sobre sua cabeça. Ambos tinham o tamanho aproximado de uma meia-lua: o primeiro era de cor amarelada e o segundo tinha a cor e a luminosidade da Lua, mas foi lentamente obscurecido por vapores ou gazes que ele próprio emanava, como se fosse um cano de escapamento. Por 2 vezes, este emitiu raios semelhantes aos de um farol de automóvel. Cada emissão durou cerca de trinta segundos, quando os dois objetos se deslocaram em direção nordeste. Numa série de movimentos estranhos, os UFOs aproximaram-se novamente do local, afastando-se em seguida, para depois desaparecerem atrás dos Urais.
Observações Insólitas – Outros observadores que tiveram a oportunidade de estar frente-a-frente a um UFO falam repetidamente de rastros inflamados separando-se dos corpos dos objetos observados. No entanto, segundo o relatório, os objetos continuam seu processo de combustão. Os casos soviéticos, embora tendo similares em todo o mundo, têm uma peculiaridade: são extremamente bem descritos e em minúcias, como é característico do povo russo. Em alguns casos, as testemunhas descrevem objetos perfeitamente retangulares, suspensos no céu, através dos quais se pode até observar estrelas – como se o UFO fosse uma peça transparente ou, noutros casos, de conformação tal que permitisse enxergar detalhes por sob sua estrutura.
Num exemplo interessante, um casa! de camponeses ouviu um estranho ruído, uma espécie de “silvo” muito pronunciado – “era como folhas de uma árvore que se agitam”, descreveu uma das testemunhas. As árvores ao redor, no entanto, permaneciam imóveis e, embora situadas nas proximidades de um aeroporto, nenhum objeto que pudesse ser responsável por tal ruído foi localizado, apesar da insistente requisição por informaçõe
s que o casal fez no aeródromo e junto às autoridades locais. Com esse relato, nota-se o interesse e a acuracidade dos observadores em saber mais sobre o acontecimento inexplicado e, antes disso, tentar esclarecê-lo à luz de explicações coerentes e plausíveis – o soviético é muito dado à precisão.
Noutro caso de boa credibilidade, temos os depoimentos de populares da região do Kazan. “Toda nossa escola viu o UFO e nós perguntamos mais de uma vez o que aquilo era às autoridades”, declarou um grupo de estudantes de uma instituição de ensino do local. “Nós todos somos cientistas experimentados e procuramos uma explicação para o fenômeno que observamos”, expressou com indignação o cientista-chefe de um programa governamental. “Nós tínhamos esperanças de ouvir a explicação na rádio ou nos jornais, mas isso não aconteceu”, declarou um dos líderes da província (Editor: Os programas de rádio na União Soviética são oficiais, assim como os poucos jornais, razão pela qual se espera explicação ou comunicação de qualquer fato através destes veículos).
Psicose e UFOs – Dando continuidade ao relatório soviético, é importante ressaltar que este considera várias explicações possíveis sobre os fenômenos observados. No capítulo em que os soviéticos abordam a questão das fraudes ufológicas, por exemplo, faz-se menção ao “vil e muito bem conhecido Caso Adamski e seus discípulos espalhados pelo mundo inteiro, propagando idéias equivocadas”. Os relatórios ufológicos soviéticos se supõem sérios, tanto no tom quanto no conteúdo.
“É absurdo pensar que a psicose dos UFOs pudesse afetar indivíduos competentes em outras atividades”, declarou o relator do documento, o prof. Zigel. “Um fenômeno natural ainda desconhecido?”, questiona-se. A este respeito, os soviéticos afirmam que a hipótese extraterrestre para os UFOs está cheia de promessas, mas falta material para fins de estudo. Não há, ainda, nenhuma espectrografia de UFO ou coisa parecida para se pesquisar todos os aspectos da questão em bases estritamente científicas.
Tentativas Frustradas – Em 1956, Yuri A. Forain, renomado membro da Academia de Ciências da URSS – em companhia de outros camaradas engenheiros e cientistas -, começou a esboçar um pequeno grupo informal para estudar a literatura estrangeira que se refere aos UFOs e que, volta e meia, chegava normalmente por vias clandestinas às mãos dos futuros pioneiros da Ufologia Soviética. A princípio, o grupo tentou realizar uma primeira coleta de informações relativas à observações de UFOs na URSS. Três anos mais tarde, já próximo da década de 60, a embrionária organização tinha progredido a ponto de realizar conferências e relatórios na ordem do dia, sem clandestinidade e com o direito da palavra. Mas, durante todo esse tempo, seus esforços foram minados e obscurecidos pelos integrantes do Planetário de Moscou, que considerava o Fenômeno como ” não-existente”.
Várias pessoas de todos os rincões da URSS recebiam c respondiam às inúmeras cartas e remessas do grupo de Fomin, sobre suas observações pessoais e declaravam, em suas respostas aos pesquisadores, detalhes de suas experiências. Mas, a frieza do governo se fez sentir imediatamente ao sucesso atingido com seu trabalho. Oficialmente, um editorial do trovejante jornal oficial da URSS, o “Pravda”, publicado em 8 de janeiro de 1961, dava um golpe fatal aos pretensos ufólogos soviéticos, “Não há um só f ato indicando que estamos sendo sobrevoados por UFOs. Todas as discussões a esse respeito vêm de uma mesma fonte: relatórios sem critérios e não-científicos, provenientes de pessoas irresponsáveis que narram contos de fadas tirados – em sua maior parte – da imprensa norte-americana”, disse o histórico e infame editorial.
Como resultado disso, Yuri Fomin foi sumamente dispensado de suas funções como membro da Sociedade para Avanço do Conhecimento Político e Científico da URSS, órgão da poderosa Academia de Ciências. O estudo dos UFOs na União Soviética, a partir daí, permaneceu paralisado por vários anos.
Novos Projetos – A questão UFO não desapareceu inteiramente com um só golpe: outros esforços foram feitos para se substituir a organização de Fomin, até que, finalmente, em outubro de 67, anunciou-se uma conferência de imprensa a fim de se revelar publicamente a criação de uma nova entidade para pesquisas ufológica, mas, desta vez, oficial e militarizada: a DOSAFF ou Departamento de Pesquisas de UFOs, instituído dentro de um organismo militar da URSS. Muita publicidade foi feita na ocasião: os chefes de departamentos públicos anunciaram sua criação pela televisão, rádios e jornais, e solicitaram aos milhões de telespectadores soviéticos que fornecessem relatos de observações de fenômenos em suas regiões e em qualquer data. Três semanas mais tarde, o DOSAFF foi misteriosamente dissolvido, sem que fosse dada qualquer informação adicional ou explicações à Sociedade.
Para concluir, o relatório reproduziu uma carta enviada para Aleksey Kosygin, presidente do Conselho de Ministros da URSS e assinada também por outros treze engenheiros de renomada atividade. Em apelos à mais alta autoridade política do país, a carta pede ao presidente o estabelecimento imediato de um grupo de observadores terrestres, a serem espalhados por todas as nações da URSS, assim como uma organização destinada a recolher e a analisar as observações dos fenômenos misteriosos, e analisar mais detidamente os possíveis meios de vôos não-convencionais. Mas, infelizmente, nenhuma resposta ou ação prática foi tomada no país – pelo que se sabe até hoje.