Novos dados enviados pela sonda espacial Cassini deixaram os cientistas espantados com as agitadas nuvens de gás de Saturno, a beleza e turbulência inesperada de seus anéis e a diversidade de suas luas, segundo relataram em conferência na Inglaterra. “A complexidade é simplesmente assombrosa”, disse Dennis Matson, cientista sênior do projeto Cassini, durante o encontro em Cambridge, que reúne por cinco dias (até sexta-feira) membros da Sociedade Americana de Astronomia e da Sociedade Real Britânica de Astronomia. Fotos extraordinárias feitas pela Cassini, reveladas durante o encontro, mostraram detalhes como a grande diversidade de nuvens na atmosfera profunda de Saturno, um gigante de gás como seu irmão, Júpiter, sutilmente maior.
“Diferente da nebulosa, extensa e grande faixa de nuvens vistas regularmente na alta atmosfera de Saturno, muitas das nuvens mais profundas parecem ser aspectos isolados, localizados”, disse Kevin Baines, membro da equipe de mapeamento espectrômetro visual e infravermelho do Laboratório de Propulsão a Jato (JLP) da Nasa. “Elas aparecem em uma grande variedade de tamanhos e formas, inclusive em formatos circular e oval, de rosca e redemoinhos”, explicou. Estas nuvens se encontram em uma parte profunda da atmosfera, cerca de 30 km abaixo das nuvens mais altas normalmente vistas em Saturno. Segundo o JLP, elas também se comportam diferentemente daquelas na parte mais alta da atmosfera e se compõem de outros materiais.
São feitas de amônio, hidrosulfito ou água, mas não de amônia, o elemento químico geralmente apontado na composição das nuvens mais altas. A atmosfera turva e sufocante de Saturno também é dominada por enormes tempestades de relâmpagos do tamanho de um continente terrestre. Um evento cataclísmico registrado pelas câmeras da Cassini foi batizado de Tempestade Dragão, por sua forma, explicou Matson. Os anéis, identificados pela primeira vez por Galileu em 1610, segundo a lenda, estão em constante estado de evolução, afirmou a equipe Cassini.
Longe de ser uma região de tranqüilidade e constância, os fragmentos rochosos dos sete anéis colidem e se separam, dominados pela força da gravidade do planeta e rasgados pela passagem das luas. O anel A – o mais externo – “é acima de tudo espaço vazio”, pois os fragmentos se aglomeraram, foram separados e então voltaram a se reunir graças à força de gravidade do planeta. Parte do anel D – o mais próximo do planeta – se tornou opaco e moveu-se para dentro, na direção de Saturno, por cerca de 200 km desde que foi observado pela Voyager, em 1980 e 1981.
O sistema dos anéis “é uma região absolutamente dinâmica. Os anéis estão constantemente se movendo, com a interação da gravidade e possivelmente, de campos magnéticos”, disse Carolyn Porco, do Instituto de Ciência Espacial de Boulder, Colorado. Outra grande surpresa é que um anel espiral envolve o planeta como uma mola. Este “braço espiral” existe em torno do anel F e poderia ser a conseqüência de luas que, elas próprias atraídas pela gravidade de Saturno, liberaram algum tipo de material. Esta descoberta levantou a questão de que o anel F poderia ser instável ou até mesmo ter vida curta.
Quanto às 46 luas de Saturno, a Enceladus se uniu a Titã como fonte de especulações sobre como foram formadas: um processo que lança luz sobre o nascimento da Terra e outros planetas rochosos que orbitam perto do Sol. O pólo sul deste satélite, coberto de gelo, é raiado com fendas profundas e longas, apelidadas de “listras de tigre”. Sensores térmicos mostram que esta área é um ponto quente, embora ainda muito frio para os padrões da Terra, e com uma atmosfera localizada de vapor d´água. A idéia é que possa existir ali, sob a superfície, um oceano quente. Mas como isto teria acontecido? Teoricamente, a Enceladus é muito pequena para desenvolver calor interno suficiente para fazer isso.
Última das grandes explorações de planetas distantes iniciada pelos Estados Unidos 40 anos atrás, a sonda Cassini chegou a Saturno em meados de 2004 em uma missão de quatro anos para examinar o planeta gigante, seus anéis e satélites. Em dezembro, a missão de US$ 3 bilhões enviou a sonda européia Huygens em um mergulho suicida a Titã, uma das luas de Saturno, cuja bizarra fotoquímica – uma névoa de metano e outros compostos de carbono – faz dela um dos corpos celestes mais intrigantes do sistema.