Eis o relato do topógrafo José C. Higgins em carta enviada ao Diário da Tarde, quando descreveu o estranho aparelho que sobrevoou o local em que estava, no interior do Paraná. A testemunha registra não apenas seu sobrevoo, mas também sua aterrissagem e o contato com seus tripulantes, que tentaram levá-lo para um passeio. A carta foi publicada na edição de 08 de agosto de 1947 do jornal.
Enquanto examinava o seu conjunto, sem, contudo, me atrever a mexer no aparelho, verifiquei ainda uma parede deixando ver uma janela provida de vidro ou coisa semelhante. Vi, então, duas ‘pessoas’ que me examinavam com ar de curiosidade. Elas, como constatei ao primeiro olhar, eram de aspecto estranho. Decorridos alguns segundos, uma delas voltou-se para o interior do aparelho e, ao que me parece, foi falar com alguém. Imediatamente ouvi barulho dentro do veículo e uma porta, por baixo do rebordo que o circundava, se abriu dando passagem a três pessoas metidas dentro de uma espécie de macacão transparente, que as envolvia completamente, cabeça e tudo, e que estava inchado como uma câmara de ar de automóvel, cheia de ar comprimido.
Em suas costas havia uma mochila de metal que me pareceu ser parte integrante da vestimenta. Através desse macacão eu via perfeitamente as pessoas vestidas de camiseta, calções e sandálias — não de fazenda, creio, mas de papel brilhante. Notei ainda que sua aparência estranha era devida aos olhos bem redondos, grandes e sem sobrancelhas, tendo, no entanto, cílios e a calva bem pronunciada. Não tinham barba e suas cabeças eram grandes e redondas. Suas pernas pareciam mais compridas que as proporções que conhecemos. E quanto à altura, tinham uns 30 cm a mais do que eu, que tenho 1,8 m. O mais interessante é que pareciam irmãos gêmeos, tanto os de macacão quanto os que estavam na janela, por trás dos vidros. Um deles trazia um tubo do mesmo metal do aparelho na mão, pequeno, e o apontava para mim.
Incrível agilidade e leveza
Notei que falavam entre si e eu ouvia perfeitamente suas palavras, sem, entretanto, entendê-las. Discorriam em uma língua que eu jamais ouvira, mas bonita e sonora. Apesar do seu avantajado porte, moviam-se com incrível agilidade e leveza, formando um triângulo à minha volta. O que empunhava o tubo fez gestos indicando para que eu entrasse no aparelho. Aproximei-me da porta e só pude ver um pequeno cubículo, limitado por outra porta interior e a ponta de um cano vindo de dentro. Notei ainda diversas vigias redondas na base da saliência ou rebordo. Comecei a falar com eles, perguntando com muitos gestos para onde queriam me levar — eles compreenderam a gesticulação e o que me pareceu seu chefe fez no chão um ponto redondo cercado de sete círculos. Mostrando o Sol no espaço, indicou-me então o sétimo círculo, apontando alternadamente para ele e o aparelho.
Fiquei mudo de espanto. Sair do mundo com vida? Não era comigo! Diante disso, refleti. A luta com eles me parecia impossível, pois eram mais fortes no físico e em maior número. Tive então uma ideia: havia notado que eles evitavam ficar ao Sol, e assim encaminhei-me para a sombra. Lá, tirando do bolso a minha carteira, mostrei-lhe o retrato de minha esposa, dizendo-lhes por meio de gestos que queria buscá-la. Não me detiveram e saí dali dando graças a Deus. Mas internei-me no mato, de onde fiquei a espreitá-los. Brincavam como crianças, dando saltos e atirando ao longe pedras de tamanho descomunal. Decorrida meia hora, mais ou menos, depois de olharem detidamente os arredores, recolheram-se ao aparelho, que se ergueu no ar com o mesmo silvo, dirigindo-se para o norte, subindo até desaparecer nas nuvens.
Jamais saberei se eram homens ou mulheres. Porém, posso afirmar que, apesar das características que apontei, são belos e aparentavam ter esplêndida saúde. Por outro lado, é difícil traduzir em letras a sua linguagem. Contudo, recordo-me de duas palavras: Álamo e Orque, aquela designando o Sol e esta o sétimo círculo do desenho. Se pudesse ter certeza de que voltaria, sabe Deus por onde andaria a estas horas?