Desde o verão de 1980, alguma coisa autenticamente misteriosa está ocorrendo na Inglaterra e despertando o interesse mundial. Neste país, em pouco mais de uma década, já foram encontrados milhares de misteriosos círculos que surgem praticamente do nada em campos comuns de cereais. No interior de tais círculos, pode-se ver que os caules das plantas (normalmente aveia, trigo e cevada, que são plantadas na região) foram simplesmente dobradas por alguma força desconhecida e forte o bastante para provocar tal fenômeno sem tocá-las, mas delicada ao ponto de não as quebrar, também. Os vegetais são dobrados praticamente em ângulo reto, um pouco acima do solo e, no conjunto, milhares de plantas dobradas formam um círculo com um traçado em espiral, que se alarga de um ou mais pontos centrais para depois terminar, de modo preciso, nas bordas do mesmo. Sempre ocorrendo em campos de plantações muito densas, já foram encontradas formações inteiras e geometricamente perfeitas, compostas de muitos círculos, anéis e variadas outras figuras de diâmetros e proporções também variados (os círculos normalmente têm entre 1 e 25 metros). Em sua parte externa, os círculos geralmente são circundados por um ou mais anéis concêntricos, tanto que os ufólogos e cerealogistas que se dedicam ao assunto já passaram a chamar tais formações de hieróglifos ou mensagens. Mas o que ou quem causou estes estranhos desenhos? Se foram criados por extraterrestres, isso significa que estejam nos enviando mensagens sobre nosso futuro? O acúmulo de círculos significa que está acontecendo um repentino aumento nas visitas extraterrestres, como se fosse uma invasão extraterrestre? Contrapondo-se à essas questões, estudiosos e leigos de todo o mundo insistem em que ou os círculos são produzidos através de fraudes, como obras de algum gozador, ou que haverá alguma explicação natural e científica para seu surgimento. Para melhor compreendermos este fascinante mistério, devemos considerar primeiramente o contexto histórico e social no qual eles surgiram.
O Surgimento dos Círculos – Os círculos vieram pela primeira vez à tona em 13 de agosto de 1980, quando três deles foram encontrados em um campo de aveia da fazenda do Sr. John Scull, em Westbury, no condado de Wiltshire. A fazenda fica próxima do espetacular White Horse Hill, uma magnífica e gigantesca escultura pré-histórica de um cavalo branco, feita em uma colina de gesso para comemorar uma batalha ocorrida no ano de 878 e que atrai turistas de todo o mundo. O lugar se encontra a poucos quilômetros de Warminster, conhecida como a famosa “Cidade dos UFOs”, onde, no auge da época hippie dos anos 60, uma multidão se concentrou para esperar a chegada de supostos UFOs anunciados por algum guru local (segundo alguns céticos e críticos, o surgimento dos círculos ali ofereceu aos ufólogos locais a perspectiva de revitalizarem tal movimento e de tornarem-se novamente celebridades). A primeira notícia sobre os círculos surgida na imprensa local foi originariamente uma declaração do pesquisador Ian Mrzyglod, dirigente do grupo ufológico Probe e membro do British UFO Research Association (BUFORA). Diferentemente de muitos outros pesquisadores, Mrzyglod estava determinado a tratar a descoberta dos círculos como um fenômeno qualquer que mereça ser estudado conscientemente, nada mais que isso. Ao mesmo tempo, muitos ufólogos acharam a oportunidade excelente para criar sensacional ismos baratos e voltar a despertar na comunidade o interesse pelos UFOs, já assumindo, mesmo antes de saberem ao certo, que o fenômeno era ligado a eles.
O fenômeno dos círculos surgiu mesmo quando um camponês decidiu fazer uma vistoria em sua plantação e notou, num do cantos de sua fazenda, um círculo misterioso e sem explicação – foi o primeiro relatado, em maio. No entanto, foi dada pouca importância ao fato, até que, em um campo vizinho, apareceram outros dois círculos, um em 21 de julho e o outro em 31 de julho do mesmo ano. Na realidade, as formas encontradas no campo não eram círculos perfeitos: eram ligeiramente ovais e de dimensões parecidas entre si, com cerca de 20 metros de diâmetro. O proprietário da fazenda chegou a apresentar queixa do fato à Escola Britânica de Infantaria, vizinha ao local (Wiltshire tem muitos quartéis e é zona de intensos exercícios militares), pensando que os círculos tivessem sido causados por um de seus helicópteros, mas o Exército negou qualquer responsabilidade no caso. Imediatamente, os ufólogos começaram a agir e fizeram várias análises nas amostras coletadas no interior dos círculos; algumas amostras chegaram a ser submetidas à Universidade de Bristol, mas não ajudaram a esclarecer a natureza dos misteriosos círculos, Na realidade, os ufólogos esperavam encontrar sinais do pouso de UFOs, tais como radioatividade, desidratação do solo, alterações nas plantas etc, mas estes círculos não tinham tais características, talvez porque não eram pousos de UFOs, mas outra coisa mais profunda ainda…
Os círculos de Westbury assinalaram o início do explosivo fenômeno e chamaram a atenção do público. De repente, o assunto dominou as manchetes e os jornais locais, além de um semanário nacional, publicaram a história adotando títulos garrafais e sensacionalistas, frisando que os círculos eram marcas de pouso de uma nave extraterrestre. Nesse processo, entretanto, a imprensa contribuiu para o estudo do fenômeno, fornecendo um esquema com o qual, nos meses e anos sucessivos, incentivou diversos agricultores a também relatarem suas descobertas em novos campos. Tal processo, aliás, foi exatamente como o desencadeado após o avistamento de Kenneth Arnold (de nove discos voadores sobre as montanhas de Washington, em junho de 47), iniciando a Era Moderna dos UFOs, e detonou toda uma onda de observações semelhantes. De uma hora para outra, estranhas “coisas” no céu eram sempre vistas e prontamente relatadas aos ufólogos, que podiam então acompanhar o fenômeno de perto e em todo o seu desenvolvimento. Mas até aquele momento ainda não existia nenhum rótulo sob o qual se pudesse agrupar os círculos – isso viria logo depois. Do mesmo modo, sabíamos com certeza que tais círculos já tinham sido encontrados nos mesmos campos (e também em outras regiões), nos anos anteriores, pelo menos a partir de 1960. Alguns deles foram descritos só recentemente, depois da descoberta dos c&iacut
e;rculos “atuais”. Outros chegaram a ser noticiados na época e suscitaram pesquisas por ufólogos, mas estas não progrediram tanto como agora, evidentemente, pois eram casos isolados. Também são dignos de nota alguns casos de círculos fora da Inglaterra, mas, de tudo isso, muito pouco se sabia antes de agosto de 1980.
As Primeiras Interpretações – O primeiro e mais obstinado defensor de uma ligação entre os círculos nas plantações e os UFOs foi o ufólogo Ken Rogers, do British UFO Society (BUFOS), um pequeno grupo que não tem nada a ver com a BUFORA, citada anteriormente, e que ficou famoso no passado mais por suas declarações sensacionalistas do que por suas pesquisas. O BUFOS era extremamente ativo na zona de Warminster e Roger logo sustentou que os círculos não eram nada além de vestígios da aterrissagem de um gigantesco UFO; mas, no verão seguinte, quando foram descobertos outros três círculos, desta vez em formação, mudou sua versão e passou a dar novas declarações públicas. Tais novos círculos descobertos em 1981 eram compostos por um maior, central, e dois menores dispostos em fila um atrás do outro. Todos estavam em uma mesma plantação em Cheesefoot Head, vizinha a Winchester e a 25 km do célebre círculo de pedras de Stonehenge. Este fato induziu imediatamente alguns ufólogos e místicos a especularem que Stonehenge seria uma prova de que misteriosas forças haviam criado os círculos na região há milhares de anos atrás, sendo divinizados por aqueles que o haviam construído. Nesse meio tempo, estimulado pelo próprio Ian Mrzyglod, entrou em cena o Dr. Terence Meaden, um físico que dirige a Tornado and Storm Research Organization (TORRO) e que publica mensalmente o Journal of Meteorology. Meaden é uma verdadeira autoridade em meteorologia e de imediato propôs a teoria de que os círculos eram produtos de algum tipo ainda pouco conhecido de redemoinho ou vórtice atmosférico análogo às trombas de ar (whirlwind). Mesmo assim, Meaden aceitou colaborar com o grupo Probe em uma investigação científica sobre os círculos, cujo resultado foi publicado na revista do grupo, o Probe Report. Para ser verdadeira, no entanto, a hipótese meteorológica lançada por Meaden tinha que contar com circunstâncias que não podiam ser verificadas. Além disso, deixava muitas dúvidas e perguntas sem respostas, especialmente porque a geometria das formações de Cheesefoot Head, entre outras, era precisa demais para ser causada por um fenômeno natural. Mais ainda, considerando que outros casos semelhantes foram documentados da mesma forma e não somente naquela região, a teoria do Dr. Meaden fez água e afundou.
Mas Meaden não desistiu e, para responder à estas objeções, publicou, entre outras coisas, uma interessante seqüência de cinco fotos tiradas em agosto de 1976 em uma plantação de cereais depois da colheita. As fotos mostravam uma pequena tromba de ar que se deslocava lentamente num arco de três minutos, criando os traçados quase circulares nas plantações, entre os restos das plantas (os caules não arrancados na colheitas). Segundo o cientista, se o fenômeno tivesse ocorrido em uma plantação qualquer antes da colheita, o traçado seria provavelmente mais uniforme e muito semelhante aos círculos, dado que a maior resistência das plantas limitaria o deslocamento lateral do vórtice. De qualquer modo, Mrzyglod não se satisfez com as explicações e propôs que se organizasse uma campanha de observações e vigílias nos dois lugares onde, até aquele momento, os círculos apareceram. Esperava, assim, verificar se a hipótese de Meaden estava correta, se um tipo qualquer de redemoinho com características geográficas particulares poderia causar os círculos. Se assim fosse, seria lógico esperar que descobertas de novos círculos se dessem no mesmo lugar, no verão seguinte. Ou então, caso tal hipótese não se sustentasse mesmo, talvez tivessem a sorte de ver o que de fato causava o fenômeno. De qualquer forma, é desnecessário dizer que a comunidade inglesa e européia acompanhou de perto cada passo das discussões e operações de vigília.
Mesmo assim, o mês de julho de 82 passou sem que nenhum novo círculo fosse encontrado ou descrito pelos pesquisadores, talvez por causa do mau tempo e outros problemas climáticos daquela época. Somente um ligeiro caso ajudou a pesquisa: em seguida a um artigo sobre círculos publicado na revista The Unexplained, Mrzyglod foi informado por um de seus leitores sobre a existência de um círculo descoberto em 10 de agosto. Tratava-se de um círculo isolado e de diâmetro aproximado de 17 metros, mas o fato mais surpreendente era a sua posição: exatamente sobre Cley Hill, uma colina vizinha a Warminster que foi, nos anos 60, o principal ponto de concentração de pessoas apaixonadas pelos UFOs (skywatchers), querendo observá-los em movimentadas vigílias onde ocorria de tudo, menos aparição de naves extraterrestres. O círculo era virtualmente invisível a partir estrada que passava próximo ao campo, e somente de cima da colina era possível vê-lo com alguma clareza. Entretanto, quando Mrzyglod foi ao local exato pesquisar o caso, no final de agosto, para sua completa surpresa encontrou subitamente um segundo círculo, maior e visível em um campo adjacente, já ceifado. Conversando com os camponeses, o ufólogo veio ainda, a saber, que sobre aquele lugar eram freqüentemente vistos redemoinhos de vento que às vezes deixavam marcas circulares nas plantações, uma das quais (de 5 metros de diâmetro) lhe foi mostrada pelo dono de uma das maiores fazendas da região. A essa altura, tudo parecia reforçar a hipótese da natureza meteorológica dos estranhos círculos, o que encorajou o Probe a programar uma nova campanha de monitoramento da zona para o ano de 1983, com mais vigílias.
Correlações Ufológicas – Neste ponto, entrava em cena um outro prot
agonista da controversa questão dos círculos: Pat Delgado, um ufólogo e engenheiro civil aposentado que reside na região de Hampshire, aonde foram encontrados os círculos de 1981. Depois de ser informado da descoberta do fenômeno em Cley Hill, Delgado visitou o campo e encontrou vários outros círculos na região, para surpresa de todos. A partir dai e com base em seus estudos, Delgado publicou um artigo na revista ufológica Flying Saucer Review sustentando sua convicção de que os círculos só poderiam ser produzidos por alguma coisa que se aproximou do campo pelo alto, a partir do céu. Suas declarações reforçaram a teoria da origem extraterrestre, até com algum embasamento, mas a maneira como Delgado as proferiu deixou a desejar e comprometeu seus estudos. Primeiramente porque, após haver descoberto os círculos, não foi consultar um meteorologista e fazer análise das amostras, como seria de se esperar de um ufólogo sério. Ao contrário, sua primeira atitude foi telefonar à sede locai das duas principais redes da televisão inglesas (a BBC e a ITV) para promover uma cobertura do assunto. Com tal publicidade, regrediu no tempo e sustentou também uma correlação ufológica inusitada, na forma de uma ligação entre os círculos de 1981 e um caso de contato imediato ocorrido na região, em 1976! Delgado comprometeu os trabalhos sérios sendo desenvolvidos até então, adiantando-se aos resultados que viriam adiante. Com isso, tal ligação dos círculos com os UFOs foi amplamente repetida pela imprensa nos anos sucessivos e esta é a principal razão pela qual a BUFORA continuou ocupando-se do mistério dos círculos. Em seguida, é verdade, Delgado modificaria sua primeira declaração, interpretando a coisa de outra forma: segundo ele, a ligação dos círculos com UFOs seriam um produto de uma força anormal de energia que possuiriam. Apesar da tentativa, Delgado ainda não conseguiu definir coisa alguma.
Em 1983, os círculos reapareceram em grande numero em toda a região de Hampshire e nos condados vizinhos. O primeiro deles apareceu na noite entre 19 e 20 de junho em Cheesefoot Head, quase exatamente no mesmo ponto onde foram detectados os de 1981 – o que poderia soar como uma confirmação do fato de que estavam em jogo fatores naturais meteorológicos já deixados de lado.
Mas, se em 1981 tratava-se de uma formação tripla (um círculo maior e dois menores laterais), desta vez era uma formação quádrupla: haviam dois círculos “satélites” dispostos em cruz em relação aos dois maiores. Com isso, Pat Delgado conseguiu ter maior ressonância sobre a imprensa, que deu total cobertura aos fatos e voltou a requisitá-lo para novas entrevistas, onde daria novamente bombásticas declarações. Talvez não estivesse tão errado em suas conclusões, mas sua maneira de lidar com os fatos era reprovável. Logo depois, em maio, uma outra figura apareceu também em Cley Hill, desta vez uma formação quíntupla de círculos, mas os agricultores não quiseram publicidade e ficaram bem calados, temendo a chegada de curiosos que poderiam (como nos casos anteriores) devastar suas plantações. Ainda alguns dias depois, em 9 de julho, uma nova formação de círculos foi descoberta casualmente pelo Dr. Meaden, mas, de acordo com os ufólogos do Probe, ficou decidido que não se daria publicidade à descoberta, até que fosse exaustivamente analisada.
Em todo caso, com ou sem divulgação, foi mesmo a região de Westbury que gerou o maior número de marcas e círculos nos campos. A maior parte deles era formada de círculos isolados, mas também foi registrada uma outra formação quíntupla (um grande círculo ao centro e quatro menores em volta, formando uma cruz). Naturalmente, os banais círculos isolados foram ignorados pela imprensa e até pelos ufólogos, em favor das formações mais complexas e de aspecto mais artificial, dando assim a falsa impressão de que em 1983 ocorreram somente formações complexas ou quíntuplas – isso não é verdade! O fato que aquele ano ficou marcado por um número muito maior de descobertas de círculos do que em todos os anos precedentes parecia produzir outra correlação subliminar com o clima excepcionalmente quente daquele mês de julho (que, entre outras coisas, gerou um número recorde de turbilhões na Inglaterra). Mas isso seria só o começo, pois muito mais ainda viria.
A Farsa e a Verdade – Mas a hipótese meteorológica não decolava mesmo e o próprio Meaden estava perplexo frente às novas formações: vórtices atmosféricos múltiplos existem e poderiam explicar as formações triplas, mas estas formações de quatro, cinco e até de seis círculos dispostos tão precisamente não tinham como ser explicadas meteorologicamente! O próprio Dr. Meaden via isso e não tinha mais argumentos contra a teoria de que se tratava de marcas de aterrissagens de UFOs ou algo do gênero. Mas havia ainda uma outra possibilidade. Observadas as formações precedentes e a publicidade gerada no meio ufológico, qualquer destas formas geométricas complexas poderia ser produto de uma brincadeira, uma fraude. Em um primeiro momento, até os ufólogos do Probe pareciam pender para esta hipótese mas, examinando posteriormente algumas fotos aéreas dos círculos de Westbury, de 1980, constataram que eram visíveis do alto outros dois satélites ao lado do círculo central, além de um terceiro satélite colocado exatamente a 90 graus em relação aos outros dois. Para confundir mais ainda, o quarto satélite tinha sido produzido justamente onde uma cerca delimitava a plantação! Assim, não havia muita possibilidade de alguém estar criando os círculos por mera brincadeira ou para desorientar os ufólogos. Além disso, as formações quíntuplas não eram um fato novo em 1983, mas faziam parte do fenômeno desde a sua descoberta. Mas a hipótese de que se tratava de farsa voltou a ser considerada quando um grupo de pesquisadores do Probe se deslocou para uma vistoria em Westbury, em 6 de agosto daquele ano, porque perto da formação original de cinco círculos havia uma segunda, menor mas também perfeita, com sinais evidentes de produção manual. Ou seja: alguém viu uma formação original e quis fazer uma igual, talvez como um teste. Com certeza, se tivesse sucesso, o autor do trabalho poderia reproduzi-lo noutros episódios. Imediatamente à divulgação da formação fajuta pelo Probe, os jornais de Londres se lançaram sobre o mistério dos círculos com grande impacto, fazendo com que o proprietário da fazen
da admitisse ter ele mesmo feito a segunda formação. Disse ainda que tinha feito aquilo sob encomenda de alguns jornalistas que queriam desmascarar um jornal concorrente. Felizmente, a formação quíntupla foi descoberta por pesquisadores sérios, que não eram ligados aos tais jornalistas. Com isso, tentando verificar a procedência da hipótese da farsa, os ufólogos conseguiram eliminá-la!
Neste ponto, o circo armado em torno dos círculos virou uma espécie de ritual anual e todos esperavam que 1984 fosse novamente uma grande agitação, com novas formações no sul da Inglaterra. Isso ocorreu como esperado, mas 1984 também trouxe muita surpresa. Círculos isolados e formações apareceram aos poucos por toda parte e, naturalmente, também nos locais costumeiros (Cley Hill, Warminster, Cheesefoot Head etc). Nesses locais, as vigílias regulares permitiram aos ufólogos calcular o momento aproximado em que eram criados (freqüentemente com erro de poucas horas apenas), embora não se pudesse ainda ver a formação dos círculos quando ocorriam em nem quem era o responsável por isso. Mas já era um progresso! O círculo que teve maior destaque foi aquele encontrado na região de Alfriston, no condado de Sussex. O jornal londrino Daily Mail chegou a publicar uma foto tirada por Sir Dennis Healey, parlamentar do Partido Trabalhista e ministro do Exterior, que mora no lugar e deu declarações favoráveis à hipótese ufológica (o que levou os jornalistas a chamarem o fenômeno ironicamente de “o cometa de Healey”). Mas a foto de Healey, que mostrava algo que foi apresentado como marca de aterrissagem de uma nave gigante, foi revelada como um outro falso círculo realizado por um veterano gozador local.
Neste momento das acaloradas discussões, a revista Flying Saucer Review tomava mais posições a favor da teoria de Delgado, sob o ponto de vista ufológico, ironizando freqüentemente a hipótese meteorológica de Terence Meaden e atacando com veemência a BUFORA, que o apoiava. A revista chegou a publicar cartas favoráveis à interpretações exóticas acerca da existência de correlações matemáticas significativas entre as dimensões dos círculos e os significados simbólicos dos mesmos. Isso tudo só ajudou para tumultuar o estudo do fenômeno. Mesmo assim, 1985 foi um ano tranqüilo: foram descobertas somente seis séries de círculos, a maior parte constituída de formações quíntuplas (encontradas em todos os costumeiros lugares de Cley Hill, Westbury e Winchester). Findom, no condado de Sussex, também teve seu círculo, descrito pelos agricultores como tendo sido formado após terem visto uma espécie de neblina elevar-se como um penacho de uma plantação, exatamente do que viria a ser centro do círculo recém descoberto. Enquanto os ufólogos do BUFORA interpretavam este fato no plano meteorológico, os jornalistas não hesitaram em publicar que se tratava de fumaça de descarga química de combustão deixada por uma nave alienígena que acabara de decolar. Quanto a Pat Delgado, estava ainda debatendo-se entre duas hipóteses, forças telúricas eletromagnéticas e naves alienígenas, quando um consultor da Flying Saucer Review lhe sugeriu que poderia tratar-se de uma espécie de “poitergeist planetário” ou algo parecido – é muita imaginação! Nesse momento, a BUFORA, criticada por uma imprensa que insistia em centralizar suas notícias nos aspectos e personagens mais excêntricos da questão, publicou um pequeno livro sobre o mistério dos círculos, no qual esclareceu porque os ufólogos declaravam a hipótese ufológica mas não a sustentavam com evidências definitivas.
1986, Um Ano Decisivo – O primeiro círculo de 1986 também foi descoberto por Pat Delgado, que fazia visitas regulares aos lugares onde haviam sido encontrados os círculos anteriores. Ao amanhecer do dia 5 de julho, Delgado e outro ufólogo que havia passado a noite em vigília, em Cheesefoot Head, encontraram um círculo de cerca de 20 metros de diâmetro. Seguramente, este novo círculo não estava naquele local na noite anterior, pois o pessoal em vigília não observou absolutamente nada de anormal das 22h00 de 5 de julho até 3h40 do dia seguinte. O fenômeno deve ter ocorrido em algum momento compreendido entre tais horários, mas ninguém viu luz, som, vento ou qualquer outra coisa anormal – e esse é o padrão de formação dos círculos: nada que os denuncie. Mas o fato mais interessante não era a descoberta de mais um círculo isolado, mas sim o achado de um círculo anelado, ou seja, uma área circular de plantas achatadas no sentido rotatório e circundada por um anel externo de plantas dobradas. O mais impressionante é que, entre o círculo e o anel externo, havia um anel de plantas intactas, simplesmente intocadas! Além disso, para desorientar ainda mais os pesquisadores, enquanto as plantas no círculo (interno) estavam dobradas em espiral e no sentido horário, aquelas do anel (externo) estavam dobradas no sentido anti-horário. Essa era não só uma confirmação inequívoca da origem não natural dos círculos, mas também uma progressão inteligente e organizada do fenômeno em si: dos círculos isolados às formações de três, quatro, cinco ou mais círculos, até este novo tipo de formação, com círculos e anéis amassados em sentidos diferentes. O que pensar a respeito?
Esta formação espetacular estava situada em uma depressão conhecida como Devils Punchbow (Copo do Diabo) e é claramente visível da Rodovia Estatal 272, que passa próxima. Mas as surpresas não terminaram. No dia seguinte (domingo, 6 de julho), às 19h45, menos de uma hora depois que Paul Fui ler e Terence Meaden haviam terminado sua vistoria do círculo descoberto por Delgado, um jornalista levado ao local para fazer a cobertura do evento acidentalmente encontrou um segundo círculo, vizinho ao primeiro. Este novo círculo era menor, mas idêntico ao primeiro e também com um anel externo. Como o terreno havia sido vasculhado totalmente há pouquíssimo tempo, sendo que nada fora encontrado, os pesquisadores especularam que talvez este segundo círculo tivesse se formado há menos de uma hora e em plena luz do dia, à vista de uma estrada movimentada! Não se precisava de mais nada para que os círculos fossem alçados novamente ao centro das atenções da imprensa inglesa e européia. Jornais de vários países publicaram a foto dos dois c&
iacute;rculos anelados em primeira página, junto às declarações de Pat Delgado de que os dois anéis eram muito uniformes e perfeitos para serem produtos de uma fraude. “A causa só podia ser algum campo de força eletromagnética invisível e desconhecida declarou Delgado. Mas, em posição contrária, os pesquisadores do BUFORA estavam mais céticos e prudentes, porque algumas das características dos círculos pareciam suspeitas. Os relevos da foto mostravam que faltava aos círculos a típica estrutura espiraliforme que os caracterizam, e que as plantas estavam ceifadas e não amassadas. Outro fato único indicava que o sentido rotatório do anel externo era o mesmo do círculo interno. Além disso, um motorista relatou mais tarde que havia passado ao longo da estrada entre 18h30 e 18h45, notando um estranho veículo vermelho estacionado nas bordas da plantação, abaixo do Copo do Diabo (onde não existem estradas secundárias ou outros acessos).
A prudência revelou-se uma arma na pesquisa ufológica e brindou o BUFORA com razão: em julho de 1987, quatro camponeses admitiram ter produzido a segunda formação surgida em Cheesefoot Head em 1986. Os quatro se achavam trabalhando na região e ficaram sabendo do fenômeno, indo até o local para vê-lo; lá, pensaram em divertir-se um pouco às custas dos ufólogos, arrastando-se de joelhos para dobrar as plantas e depois rolando no chão para produzir o círculo. Para criar o anel externo, um deles caminhou em círculos segurando pela mão um outro, que se deslocava ao longo do perímetro. A coisa mais absurda é que era um domingo à tarde, com carros que continuavam a passar pela estrada vizinha, e ninguém viu nada!
Nos dias sucessivos, foram descobertos novos círculos por toda a parte. No total, em 1986 foram encontrados nove formações de círculos, mas a coisa mais bizarra foi o achado da inscrição com a frase “Wearenotalone” – “não estamos sós”, em inglês, porém escrita sem os espaços entre as palavras. Esta inscrição foi feita em uma plantação em Devils Punchbowl, em setembro daquele ano, com letras de 12 m de altura. Evidentemente, tratava-se de uma gozação de algum outro fazendeiro, mesmo que Delgado tivesse qualquer dúvida a respeito e insistisse numa mensagem cósmica…
Os Últimos Anos – Em 1987, entretanto, a atenção dos meios de comunicação foi limitada somente ao âmbito regional, mesmo que, ao final do verão daquele ano, os pesquisadores e outros interessados tivessem descoberto mais círculos e formações misteriosas do que em qualquer ano anterior. No total, foram achados 30 novos fenômenos em 14 localidades diferentes, ao ponto da enésima formação quíntupla materializar-se em Cheesefoot Head e ter uma geometria diferente: pela primeira vez foi visto um círculo com duplo anel em torno. Entre outras coisas interessantes daquele ano, assinalamos o retorno à tona da hipótese ufológica de Pat Delgado, desgastada em 1986 graças aos fazendeiros do Copo do Diabo. Agora, entretanto, sua teoria era mais abrangente e não excluía várias outras hipóteses adjacentes e mais ou menos sérias (algumas levantadas pelos jornais locais). Entre as mais originais delas estavam o afundamento de camadas arqueológicas subterrâneas, os testes de aeromodelos que voam em círculos e efetuados sobre as plantações etc (realmente, tentou-se de tudo). Em 1987 também tivemos as confissões de quatro autores de falsos círculos no sul do país e um caso de contato imediato com um UFO em Cheesefoot Head. Um outro protagonista da controvérsia que começou a se interessar pelos círculos em 1985 e que logo se uniu a Delgado era Colin Andrews, um engenheiro eletrotécnico e ufólogo. No ano em curso, os dois fundaram um grupo de pesquisa do fenômeno chamado Circles Phenomenon Research Group (CPRG). Por outro lado, entre 1987 e 1988, a principal atividade do BUFORA relativa aos círculos foi a preparação e execução de um projeto de pesquisa conduzido em cooperação com a TORRO, do Dr. Meaden, para recolher diretamente dos agricultores as informações sobre o número e a freqüência de surgimento dos círculos, além de suas opiniões sobre a natureza do fenômeno.
Em nossa pesquisa foi selecionada uma amostra de 380 lotes ou propriedades no condado de Hampshire e a todos os seus donos foi enviado um questionário. Das 134 respostas recebidas, somente 90 se referiam a campos de cereais e ao fenômeno. Assim, com base nas declarações dadas, foi possível estimar-se que a freqüência média do surgimento anual dos círculos é de um em cada 35.000 hectares; por conseguinte, a cada ano, na Inglaterra, se formavam pelo menos 400 novos círculos. De 19 casos de círculos informados por carta ao BUFORA, somente dois haviam recebido alguma publicidade antes da sondagem por especialistas; dos sete tipos de formações relatadas, apenas duas eram desconhecidas dos estudiosos. Entre as três hipóteses propostas peio questionário como possível causa do fenômeno, 29 fazendeiros optaram pela sugestão de que os círculos eram montados (falsos), 19 optaram por causas meteorológicas e apenas 3 assinalaram crer serem UFOs os responsáveis (isso entre as respostas válidas, pois 65% das cartas não continham resposta à esta pergunta). O grupo de Andrews e Delgado, ao contrário, prosseguiu a atividade de monitoramento de toda a área com fotos aéreas dos novos círculos que continuaram a aparecer, com a intenção de publicar um livro sobre o tema. Por sua vez, o Dr. Terence Meaden elaborou uma complexa teoria meteorológica para explicar o fenômeno, apresentada em junho no Congresso de Meteorologia de Oxford e amplamente divulgada pelos jornais (a tese também foi publicada na forma de livro). Em 1988, como uma outra e nova característica eram conduzidos os debates sobre os círculos, as duas facções de estudiosos, que até aquele momento eram bastante amigáveis, transformaram as discussões em algo bem menos pacífico e mais vulgar. E como nada melhor do que uma boa polêmica para atrair a atenção da mídia, os ecos dessa discussão foram logo aos jornais, prejudicando de novo a pesquisa.
No que se refere ao fenômeno em si, um dos fatos mais interessantes de 1988 foi que nada menos do que 13 círculos novos surgiram nos campos próximo a Silbury Hill, região vizinha ao célebre monumento megalítico de Avebury, no condado de Wiltshire. Tamb&ea
cute;m em 1988 foram vistos novos tipos de formação, mas o primeiro círculo daquele ano somente foi descoberto em 29 de junho e não no sul, mas no norte da Inglaterra, no condado de Leicestershire! A descoberta inusitada coube a alguns instrutores de vôo e se tratava de um círculo com um anel em volta, ao longo do qual se encontravam três círculos satélites dispostos em um triângulo eqüilátero. Enquanto os pesquisadores locais do BUFORA exprimiam algum ceticismo e prudência acerca da teoria ufológica para explicar os círculos, prontamente levantada pelos jornais locais, Delgado e Andrews chegaram com seus instrumentos e declararam ter detectado altos níveis de radioatividade nas marcas do solo, achando significativa a proximidade deles à uma antiga estrada abandonada e falando de campos de alta energia correlacionadas com os leys (hipotéticas linhas retas que ligam locais arqueológicos, em correspondência a linhas de força de campos geomagnéticas). Segundo Delgado, desta vez a origem dos círculos foi atribuída a uma força desconhecida, talvez manipulada por uma inteligência alienígena.
A Questão Ecológica – No que concerne ao Circles Phenomenon Research Group, o crescimento no número de círculos recentemente ocorreu estimulado pelo argumento ecológico, muito em moda nessa época. Em março de 1989, o grupo de Andrews e Delgado havia requisitado ao Ministério para o Ambiente, da Inglaterra, um financiamento de nada menos que 50 mil libras esterlinas para equipar uma unidade de monitoramento dos círculos. O Ministério naturalmente rejeitou o pedido e o CPRG, desesperado, anunciou publicamente que recorreria aos japoneses, com base em sua novíssima hipótese de que os círculos agora seriam causados pelo famoso buraco na camada de ozônio e em seus possíveis efeitos ambientais e climáticos. Em resumo, onde faliram os UFOs, os campos de força telúrica invisível, as linhas leys e o poltergeist planetário (além dos redemoinhos, é claro), poderia funcionar o efeito estufa! Pode até ser plausível mas, por hora, o problema é que todas as vezes que as antigas teorias se tornam obsoletas, esta fascinante controvérsia sobre os círculos gera uma corrida de experts em busca de novas (e apressadas) respostas, o que termina em uma nova série de idéias cada vez mais bizarras e insustentáveis. Em nossa opinião, precisamos observar e analisar a situação com objetividade e tirar proveito das evidências, buscando a racionalidade e uma resposta científica, sem termos medo de ficar ao lado do bom senso. O fenômeno dos círculos nas plantações é de longe o mistério mais fascinante com o qual os ufólogos envolveram-se nos últimos dez anos.
Os círculos são excepcionalmente bonitos e, à primeira vista, parecem absolutamente artificiais. Sua aparição repentina, sua geometria e a complexidade das formações dão imediatamente a sensação de que são o produto de uma inteligência. Mas ainda assim temos que agir com cautela. Se estivéssemos examinando os flocos de neve, por outro lado, também poderíamos ter a mesma impressão que temos quando analisamos os círculos, pois ambos apresentam características geométricas complexas e aparentemente artificiais. Assim, com cautela, vamos estudar o assunto e observar seu desenvolvimento.
Para fins de melhor conhecimento da questão, apresentaremos neste artigo as características dos círculos subdividindo-os em três grupos, conforme se observa a área marcada, a geometria e o local. Novas estruturas sempre são descobertas a cada ano e os dados a seguir se referem aos círculos descobertos e analisados até o fim do verão de 1988 (Editor: uma atualização relativa ao verão de 1989 figura num box desta matéria, e uma atualização relativa período de 1990 a 1992 será publicada em nova edição). Vejamos, primeiramente, as características da área marcada pelos círculos:
(1) Precisão da área: em todas as formações as zonas marcadas são definidas muito precisamente, isto é: não há graduações entre as plantas afetadas e as não afetadas, mais sim uma mudança nítida. Esta característica, entre outras, exclui que a causa possa ser o deslocamento de ar causado pelas pás de um helicóptero, por exemplo, porque o achatamento decorrente seria radial e em todas as direções, e não cessaria bruscamente, como foi verificado experimentalmente.
(2) Achatamento rotatório: a planta fica dobrada no sentido nitidamente rotatório ou espiraliforme, em torno de um centro que normalmente está deslocado em relação ao centro geométrico do círculo. Às vezes existem dois centros diferentes e à sua volta o círculo possui duas ou mais coroas circulares concêntricas, curvadas em direções opostas.
(3) Direção de rotação: não parece haver nenhum predomínio pelo sentido horário ou pelo anti-horário. Por exemplo, dos 66 círculos visitados em 1987 pelo Dr. Meaden, 30 estavam curvados no sentido horário e 36 no sentido anti-horário. Dos 91 círculos inspecionados em 1988, 56 mostravam espirais no sentido horário e 35 no sentido anti-horário. Nas formações complexas também não parece haver regra quanto ao sentido de rotação dos círculos satélites, nem entre eles e nem em relação ao círculo central. Por exemplo, a formação quíntupla de Neckhampton de 1988 tinha o círculo central e os três satélites curvados no sentido horário, enquanto o quarto satélite era anti-horário. Por outro lado, diversas formações evidenciaram zonas de rotação contrária no interior do próprio círculo. Em todos os casos de círculos circundados por anéis, o anel externo tinha sentido contrário ao do círculo central, e no caso de mais de um anel externo concêntricos, eles são de sentidos contrários. Em alguns casos exist
e um anel externo sutilíssimo e que passa através dos satélites, quase invisível se não fossem as fotos aéreas.
(4) Reagrupamento dos caules em feixes: um exame detalhado revela que os grupos de caules das plantas foram comprimidos em feixes e formam as rotas concêntricas, como se fossem formados pelo movimento em espiral de um gigantesco pente com dentes dispostos à distâncias não regulares. Não foi encontrado nenhum modo de reproduzir este efeito artificialmente, o que se constitui numa incógnita até agora.
(5) Existência de camadas sobrepostas: um exame minucioso também revela que freqüentemente as plantas são sobradas em camadas distintas e sobrepostas umas às outras, que tendem a apontar em diferentes direções. Como exemplo, temos uma formação descoberta em 1987, em Pepperbox Hill, que possuía três camadas diferentes e com um ângulo de divergência de 160 graus entre uma e outra. Este é um dos principais argumentos contrários à possibilidade de se tratar de uma fraude porque, até agora, é impossível imitar este efeito.
(6) Ausência de danos às plantas internas: surpreendentemente, não se observa quase nenhum dano às plantas. Os talos somente são dobrados exatamente acima do solo e o resto do caule é dobrado suavemente ou, mais comumente, achatado contra o solo, como se tosse amassado por cima. As espigas e os talos das plantas ficam quase sempre absolutamente intactos.
(7) Ausência de danos às plantas externas: é importante notar que as plantas em toda a volta do círculo nunca são alcançadas pelo que os causa e que não há nenhuma indicação de intervenção humana próxima ou dentro dos círculos (por exemplo, marcas de pegadas, de pneus etc). Fotos tiradas imediatamente após a descoberta dos fenômenos não mostram nenhum rastro entre os círculos ou o característico traçado linear deixado pelos tratores durante a semeadura. Os círculos que surgem fora destas linhas não possuem nenhum rastro que os ligue, como poderia se esperar se alguém caminhasse nos campos à noite, se fosse uma fraude. Nota-se que mesmo em plena luz do dia, caminhando-se me meio aos cereais maduros e prontos para a colheita, deixa-se marcas evidentes e denunciadoras de pegadas, passos etc, especialmente se as plantas são muito espessas. Mesmo quando os círculos apareceram durante uma forte chuva, não eram visíveis pegadas no terreno encharcado após a descoberta.
(8) Tipo de cultura: ainda que a maior parte das formações seja descoberta em plantações de cereais maduros e prontos para a colheita (em particular o trigo, a aveia e a cevada), podemos encontrar círculos em qualquer tipo de cultura arável, pois os caules de tais plantas são suficientemente rígidos para deformarem-se de modo duradouro. A coleção de círculos do Dr. Meaden compreende culturas de trigo, cevada, centeio, tabaco, mostarda, rapé, feijão, soja, erva medicinal, espinafre, beterraba, milho, arroz e há círculos até em areia, poeira e neve! Foram descobertos círculos também em plantas maiores, mas estes logo são apagados pelo vento. Em outras partes do mundo foram achados círculos até nas savanas e lagoas (como em Tully, na Austrália), mas nem sempre é evidente se o fenômeno é o mesmo o de Tully, por exemplo, é um caso isolado de mais de 20 anos.
Geometria dos Círculos – Os círculos têm uma tamanha variedade de aspectos e apossam-se de culturas e vegetações as mais diversas, o que implica na existência de um fenômeno que normalmente passaria despercebido por desavisados, exceto quando se localiza em um campo de cereais maduros ou em outras culturas que podem registrar de modo permanente a sua presença. Como dissemos, novas e fantásticas estruturas estão sempre sendo descobertas a cada ano e os dados de que dispomos nos permitem analisar círculos até certo ponto. Vejamos, a seguir, as características da geometria dos círculos:
(1) Forma dos círculos: não obstante o nome, nem sempre os círculos são perfeitos, mas sim são elipses ou ovais, e a maior parte das formações mostra uma notável excentricidade ou desvio do centro do fenômeno alguns graus em direção à sua periferia (normalmente a relação entre o diâmetro máximo e o mínimo é de 0,9). Esta característica parece excluir como causa uma montagem realizada mediante uma estaca fincada na terra e uma corda ou corrente presa a ela, onde se faz girar em círculo para produzi-lo, o que resultaria num círculo perfeito (sem excentricidades). Mas este não é o caso e os círculos nos levam a crer que sejam de fato produzidos por alguma inteligência superior.
(2) Dimensões: foram descobertos círculos de todas as dimensões, desde um metro até mais de 20 metros de diâmetro. As formações mais complexas medem até 45 metros de diâmetro, enquanto os círculos isolados normalmente têm entre 10 e 20 metros.
(3) Variedade de tipos de formações: pesquisas sempre mais amplas no período de 8 anos permitiram a descoberta de quase vinte tipos de formações, sem levar em conta a variedade de dimensões, a relação entre as dimensões dos vários círculos componentes de formações complexas e a direção de rotação (ou a existência de áreas internas de rotação contrária). É difícil estabelecer quantos tipos de formações existem efetivamente, porque as vezes elas surgem às margens das plantações e a existência de alguns satélites externos somente pode ser estimada. A cada verão são descobertas novas formações, como já foi dito, e das respostas obtidas na pesquisa do BU-FORA citada a pouco, descobriu-se dois tipos de formações anteriormente desconhecidos (uma quádrupla regular e uma tripla triangular), entre 11 formações catalogadas. Retrospectivamente, parece evidente que estes novos tipos são produzidos há anos, sem que ninguém os assinalasse. Daí concluímos que, por um lado, poderia perfeitamente haver outros tipos de formações a serem descobertos e, por outro, que o fenômeno dos círculos nas plantações é provavelmente mais comum do que se pensava inicialmente, não obstante ser essencialmente raro.
(4) Imperfeições: contrariamente à opinião popular, existem
diferenças mensuráveis nas dimensões dos círculos isolados (por exemplo, os satélites externos das formações quíntuplas não são todos exatamente do mesmo diâmetro) e não é precisa nem mesmo a posição de qualquer um de seus componentes (num outro exemplo, os círculos satélites das formações quíntuplas não são exatamente dispostos em 90 graus em relação uns aos outros).
(5) Horário de surgimento: muitas das formações dos círculos parecem surgir durante o horário noturno, sendo que a maior parte delas é descoberta por camponeses somente na manhã seguinte, onde nada havia na tarde anterior. São pouquíssimos os casos nos quais é possível demonstrar-se que o surgimento dos círculos ocorreu em pleno dia, mesmo que em muitos casos, obviamente, não se disponha de nenhuma hora exata.
Localização dos Círculos – Continuando nossa dissertação sobre as características básicas e padrões dos círculos, baseados em nossas pesquisas de campo e junto dos fazendeiros que têm suas propriedades no sul da Inglaterra afetadas pelo fenômeno dos círculos, vamos agora descrever a localização dos mesmos:
(1) Características topográficas: mesmo surgindo em uma ampla variedade de lugares, as formações de círculos surgem freqüentemente em dois locais específicos da Inglaterra meridional: o Copo do Diabo em Cheesefoot Head (próximo a Winchester), e o White Horse Hill (a Colina do Cavalo Branco) em Wiltshire (próximo a Westbury). Ambos os lugares são caracterizados por fortes declives e desníveis de terreno: a colina de Cheesefoot Head, por exemplo, é cercada por acentuados declives de até 50 metros ao longo de todo o lado sul, enquanto que o campo de White Horse Hill está na base de uma encosta íngreme de 75 metros, às margens da Planície de Salisbury (uma zona de acesso proibido e reservada para exercícios militares).
(2) Proximidade a pontos de referência: ambos os lugares são grandes pontos de atrações turísticas, com uma boa vista para o campo à volta, amplos estacionamentos e uma rede de trilhas para trekking. Em Cheesefoot Head, a Rodovia Estatal 272 passa ao longo da margem sul deste anfiteatro natural. Quando o verão traz novos círculos, os motoristas param para observar, amedrontados, as estranhas formações no enorme campo abaixo deles. Tanto Cheesefoot quanto Westbury são locais de antigas tradições e de toponímias ligadas ao culto ao diabo, o que sugere que eventos insólitos surgem nesses lugares desde os tempos antigos. Por outro lado, esta característica sugere também a possibilidade de que alguns círculos sejam efetivamente falsos, estimulados pelo interesse que os meios de comunicação mostram todo verão pelos círculos nesses dois lugares.
(3) Casuística internacional: relatos de círculos semelhantes (mas não necessariamente idênticos) foram colhidos em diversos outros países, tais como os Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina, Nova Zelândia, Austrália, Japão, Suíça, Áustria e França. No congresso do grupo ufológico holandês NOBOVO, em 1982, o ufólogo Frits van der Elst apresentou um estudo sobre 31 casos de “ninhos de UFOs” (círculos) em todo o mundo. O fenômeno parece bastante difundido no planeta, mesmo que recomendemos extrema cautela em atribuir todos esses casos à mesma causa dos círculos ingleses. Temos que analisar uma possível hipótese sobre o porquê deste efeito ter começado a manifestar-se assim tão maciçamente somente a partir de 1980, o que não tem nada a ver com mudanças nos planos de invasão alienígena, caso eles existam, mas sim com eventuais novas técnicas agrícolas que poderiam ter facilitado a formação das marcas circulares nas plantações, por exemplo.
(4) O Corredor de Wessex: não é verdade, como acham alguns, que os círculos aparecem somente em uma parte específica da Inglaterra, especialmente ao longo do chamado Corredor de Wessex (a região pertence aos condados de Wiltshire e Hampshire). Existem casos documentados de fenômenos absolutamente idênticos, espalhados por lugares muito distantes. O Corredor, segundo nos parece, é produto dos seguintes fatores: (a) alta concentração de plantações de cereais no sul da Inglaterra; (b) alta concentração de estudiosos na pesquisa dos círculos no condado de Wessex; e (c) proximidade da imprensa nacional londrina à localidade mais noticiada de Wessex, como demonstra a total ausência de atenção, por parte da mídia, pelos círculos surgidos em 1988 em Leicestershire, não obstante a ampla publicidade que foi dada à notícia pela imprensa local. Examinando um mapa da distribuição de todos os círculos notificados na Grã-Bretanha, pode-se ver claramente que o Corredor de Wessex é um conceito artificial, produzido por estes fatores e, por outro lado, pela necessidade de se criar uma lenda vendável aos amantes do mistério, a todo custo.
(5) Os casos mais antigos: pesquisas feitas por Colin Andrews a Pat Delgado descobriram casos de formações circulares que remontam aos anos 40, pelo menos, enquanto Terence Meaden encontrou descrições de círculos em uma plantação de feijão em Kent, em 1918, e em uma plantação de aveia de Aberystwyth (Gales), em 1936. Resta o problema do por que, se trata-se realmente de fenômenos naturais, são raras as descrições do fenômeno nos séculos passados ou nos anos intermediários. Vejamos, entretanto, a figura lendária e folclórica inglesa do Diabo Ceifeiro, datada de 1678 e dando-nos uma idéia de que algo mais antigo (e temido por nossos antepassados) já ocorria há séculos.
(6) Percentual dos casos relatados: baseados na pesquisa do BUFORA, encontramos que somente 10% das formações circulares são relatadas por alguém – e um percentual ainda menor &e