“Nós poderíamos ter origem alienígena”, disseram os cientistas que enviaram formas de vidas microscópicas fossilizados para o espaço e retornaram no interior de um meteorito artificial. Os pesquisadores anexaram uma rocha do tamanho de uma bola de baseball no lado de fora da nave espacial Fóton M3 da Agência Espacial Européia (ESA) para testar se o material biológico poderia sobreviver a uma jornada completa.
Esculpida em pedra da ilhas Orkney, no norte da Escócia, a rocha continha micróbios fossilizados e sinais moleculares de micróbios. A nave não tripulada foi lançada de foguete do Cosmodrome de Baikonur, no Cazaquistão, carregando 43 experimentos. Ela pousou no mesmo local do lançamento no dia 26 de setembro, após orbitar em volta do planeta por 12 dias.
“No pedaço de rocha que recuperamos, alguns compostos biológicos sobreviveram”, disse o líder do projeto, John Parnell, da Universidade de Aberdeen, na Escócia. “Achados preliminares sugeriam ser possível que organismos simples pudessem chegar via meteoritos”, e acrescentou que a pesquisa também sugere que micróbios vivos poderiam ter sobrevivido em uma rocha um pouco maior.
“Este estudo dos materiais orgânicos é completamente novo”, disse Parnell. Os testes anteriores de meteorito experimental examinaram somente o grau em que a rocha derrete ao entrar na atmosfera. O novo experimento é parte do programa espacial europeu chamado de Stone, que testa os efeitos da reentrada em meteoritos artificiais.
Sobrevivência dos micróbios
Uma rocha medindo sete centímetros de comprimento foi fixada no lado de fora da Fóton M3. “Isso foi protegido quando foi ao espaço, mas foi exposto quando retornou”, explicou Parnell. A rocha tem propriedades similares de um tipo de meteorito conhecido como condritos carbônicos. Estes meteoritos contêm água e compostos carbônicos, ambos essenciais à vida. “Nós queríamos ver se uma rocha que era rica em carbono e água poderia sofrer uma grande perda de massa”, acrescentou Parnell. “Certamente esse era o caso. Cerca de três quartos da massa da nossa amostra desapareceu”.
Os micróbios vivos provavelmente não poderiam ter sobrevivido em um meteorito deste tamanho porque alcançaria temperaturas de aproximadamente 392 graus Fahrenheit (200°C), diz o líder do projeto. Mas “se a nossa rocha fosse maior, vamos dizer, 20 centímetros (cerca de 8 polegadas) de comprimento, então temos quase certeza que a temperatura não penetraria no centro, então se qualquer coisa estivesse vivendo ali, poderia ter sobrevivido”.
Em uma rocha bem maior, no entanto, poderia ser completamente derretido e vaporizado no impacto, de acordo com Parnell. “Há uma espécie de janela de oportunidade em termos de tamanho, entre ser pequeno demais e grande demais”, acrescenta ele. Os micróbios são conhecidos por viverem no interior das rochas, que foram encontradas vários quilômetros abaixo da crosta terrestre, observa Parnell.
Origem marciana?
A teoria que organismos interplanetários semearam a vida em vários planetas, como a Terra, é conhecida como panspermia. Se a ela explica a origem da vida na Terra, os astrobiologistas acreditam que Marte é a mais provável origem dos organismos. Por exemplo, os estudos sugerem que cerca de 5% dos meteoritos de Marte eventualmente acabam chegando à Terra. “Esta jornada pode levar até 15 milhões de anos, mas há uns poucos que farão isso rapidamente. Esses poucos farão a jornada em aproximadamente um ano. E serão aqueles que poderiam levar algo interessante com eles”, observa Parnell. “A superfície de Marte é bem inóspita, por causa da seca e da pouca umidade, mas poderia conceber uma subcamada de vida que poderia existir em Marte”, acrescenta.
No experimento, os micróbios foram secos no interior de vários meteoritos artificiais. “Estes materiais biológicos não sobreviveram, mas poderiam estar preservados, ou os traços preservados”, disse o cientista do programa Stone Charles Cockell da Universidade Aberta do Reino Unido. “As rochas ainda estão em análise”, acrescenta. “Nós sabemos que a vida pode ser feita de continente para continente, mas e de planeta a planeta?”, indaga Cockell. “Claro que no momento nós não sabemos de vida em outro planeta, mas este experimento é um teste intrigante de uma versão interplanetária de uma velha questão ecológica”.
David Morrison é o cientista sênior no Instituto de Astrobiologia da NASA, em Moffett Field, Califórnia. “O projeto de Parnell dá credibilidade para a idéia de que meteoritos do espaço exterior podem dar carona a micróbios”, disse ele em um e-mail para o National Geographic News. Se o intercâmbio de vida nunca ocorreu seguindo os impactos dos meteoritos é uma questão mais complexa, mas “nós poderíamos ser mais abertos para a possibilidade de que há vida microbial em Marte que compartilha um ancestral comum com a vida na Terra”, diz ele. “Pode não ser parecido, mas não se pode excluir a possibilidade de que nós, no fundo, somos todos marcianos”.