O Pantanal é palco de acontecimentos ufológicos há séculos, em especial ao longo de seus inúmeros rios, como o Paraguai — o maior deles —, que eram os canais naturais por onde se escoavam as expedições que desbravaram a vasta região, uma vez que não havia estradas e o transporte a cavalo nem sempre era possível na planície inundada. Um caso antigo e extremamente impressionante ocorreu em 26 de novembro de 1846 e foi publicado na Gazeta Official do Império — e pode ser o relato oficial mais remoto de uma manifestação ufológica que se tem no país.
O incidente envolveu a canhoneira Dezoito de Julho, que seguia de Cuiabá para a cidade de Assunção, no Paraguai, acompanhada da embarcação Vinte e Três de Fevereiro, tendo no comando o capitão de fragata Augusto João Manuel Leverger, mais tarde alçado à condição de almirante. Quase chegando à capital paraguaia, a tripulação da canhoneira observou um fenômeno incomum nos céus, que Leverger descreveu de maneira detalhada na edição número 74 da Gazeta. O fato extraordinário, no entanto, foi dado por ele como meteorológico, uma vez que não se tinha, na época, idéia da presença alienígena na Terra na forma de discos voadores, naves ou sondas.
Pontos cardeais
Leverger mais tarde viria a se tornar barão do Império e teve seu nome usado no batismo de uma importante cidade do Pantanal, Santo Antonio de Leverger, a 30 km de Cuiabá, capital do Mato Grosso. Ao se examinar seu relato na Gazeta, a seguir, nota-se que, como navegador, o barão expressou muitas das posições celestes em pontos cardeais e as medidas visuais que fez do fenômeno em graus, e explica a razão: “Receoso de perder alguma circunstância do fenômeno, não recorri ao instrumento para medir as dimensões”. Vamos à narrativa:
“Observei esta noite um fenômeno como nunca antes vira. Às 05h57, estando o céu perfeitamente limpo, calmo e o termômetro indicando 60o F [O equivalente a 15o C], um globo luminoso com instantânea rapidez descreveu uma curva de como 30 graus no rumo NNO [Norte-noroeste]. A direção fazia com o horizonte ângulos de aproximadamente 75 e 105 graus o agudo aberto pelo lado oeste. Deixou subsistir uma faixa de luz de 5 ou 6 graus de comprimento e 30 a 35 graus de largura, na qual se distinguiam três corpos cujos brilhos eram muito mais vivos que o da faixa e igualavam em intensidade, se não excedia, o da Lua cheia em tempo claro.
Estavam superpostos e separados uns dos outros. O do meio tinha aparência quase circular. O inferior parecia um segmento de círculo de 120 graus com os raios extremos quebrados, e a forma que apresentava o de cima era de um quadrilátero irregular. A maior dimensão dos discos seria de 20 a 25 graus. Enfim, acima deles via-se uma listra de luz muito fraca em forma de ziguezague de como 3 graus de largura e 5 ou 6 graus de comprimento. A altura angular da faixa grande sobre o horizonte parecia de 8 graus. Estando receoso de perder alguma circunstância do fenômeno, não recorri ao instrumento para medir essas dimensões.
Foi tudo abaixando com não maior velocidade aparente do que os astros no seu ocaso, porém os globos luminosos mudaram de aspecto, tomando uma forma elíptica cada vez mais achatada e embaciando até parecerem pequenas nuvens. A faixa grande inclinou-se para o N [Norte] até ficar quase horizontal, mas o ziguezague sempre conservou a mesma direção. Depois de 25 minutos, tudo desapareceu e não houve o mais leve sinal de perturbação na atmosfera. Na cidade de Assunção, conversei com o ministro do Brasil e diversas outras pessoas que também testemunharam esta, para nós todos, singular aparição”.
Multiplicidade de objetos
Nota-se no minucioso relato que o fenômeno luminoso se assemelhava muito aos casos de UFOs reais ocorridos atualmente, apresentando características que excluem a possibilidade de serem fenômenos atmosféricos ou meteorológicos, assim assumido por Leverger por não ter tido alternativa — mas ainda assim, em seu relato, ele deixa claro sua enorme surpresa com o que observou. Uma das impossibilidades de o fenômeno ter origem atmosférica ou meteorológica está na multiplicidade de formas luminosas vistas, em número de três, inclusive em formato discóide.
Outro dado que aponta a origem artificial do fenômeno é o fato de ter realizado uma curva. E tal como no caso anterior, isso não ocorre a manifestações atmosféricas, meteorológicas ou astronômicas — um capitão de fragata da então Armada Brasileira, junto com seus oficiais, também não cometeria engano tão simplório. Portanto, tudo leva a concluir como sendo não natural a origem do fenômeno, no que ele se alinha com muitos outros que temos na história do Brasil e de outras nações, de décadas e séculos atrás, apontando que nosso território já era visitado por outras espécies cósmicas desde os tempos mais remotos.